segunda-feira, 19 de setembro de 2011

As orações não podem ser decoradas, têm que sair do coração

Por que perder tempo repetindo 
palavras decoradas, se podemos 
conversar abertamente com 
nosso Pai dizendo
palavras que saem do profundo 
do nosso coração?
    Mt 6:7 - E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos.
    Os gentios[1] de antigamente tinham o ingênuo costume de repetir insistentemente “frases de efeito” além de também fazerem sacrifícios de auto-mutilação achando que assim receberiam algo de suas divindades (1ª Rs 18:26-29). Imagina só: frases decoradas sendo pronunciadas por várias vezes seguidas, penitências[2] impostas de acordo com cada necessidade, reverências[3] e clamores praticados diante de imagens de escultura. Isso te lembra algo nos dias atuais? Embora essas práticas sejam condenadas por Deus, esses costumes pagãos[4] prevalecem atualmente não somente entre povos sem o conhecimento do Evangelho -como os hindus e os indígenas, por exemplo-, mas também entre muitos dos que professam a fé cristã. É muito comum, quando a pessoa comete um erro que considera grave ou quer alcançar alguma bênção, procurar um padre e ser orientada por ele a rezar[5] tantas “ave-marias”, não sei quantos “pais nossos” e inúmeras outras orações já previamente preparadas para cada ocasião. Mas a oração não é uma terapia[6] e nem tampouco um modo de comover o Senhor através do sofrimento pelo sacrifício de repetir várias vezes as mesmas frases, ou de andar quilômetros com uma cruz nas costas e subir as escadas de uma igreja de joelhos, por exemplo. Para sermos ouvidos por Ele devemos ter intenções sinceras em nosso coração. Não é o respeito as tradições religiosas ou as confissões positivas que saem de nossa boca que o convencerão a nos abençoar (Lc 18:13,14).
Muitos caminham em
vão achando que estão
no caminho certo por
seguirem líderes que não
as ensinam a ter uma
verdadeira intimidade
com Deus.
    Já que comecei a falar da penitência na oração como sacrifício, não posso deixar de dizer uma coisa de extrema importância: os sacrifícios não são exigidos por Deus (Dt 23:21,22; Ec 5:1,4,5; 1ª Sm 15:22), e eles só devem ser praticados voluntariamente e com equilíbrio, humildade e sabedoria (Dt 23:23; Mt 6:16-18). Antes de prosseguir, preciso ressaltar o cuidado que se deve ter para não confundir vãs repetições com perseverança[7] na oração. Pois a Palavra de Deus nos manda orar sem cessar (1ª Ts 5:17). Orar sem cessar significa ter uma vida de constante oração, a qual nos mantém em contato e comunhão com Deus. Vãs repetições são o ato de repetir palavras como que por instinto, muitas vezes sem nem mesmo saber o significado ou a procedência delas.
Um dos maiores problemas do
cenário evangélico atual é que
muitos dos que têm o poder da
Palavra, o usam para ensinar os
fiéis a serem meros "papagaios
espirituais", e assim os controlam
segundo a sua vontade.
    Mas será que são só os católicos ou os praticantes de religiões não-cristãs que se utilizam de vãs repetições em seus momentos de adoração? Pois em nosso próprio meio -nós, os evangélicos pentecostais- o que tem predominado ultimamente são as apelativas e constrangedoras frases de efeito. Estou me referindo a frases do tipo: “Olhe para o irmão que está do seu lado e repita comigo: ‘Você é mais que vencedor!’; ‘Profetizo prosperidade em sua vida!’; ‘Dá glória a Deus porque crente que não faz barulho tem defeito de fabricação!’; ‘Faça sua oferta do sacrifício porque sem fé é impossível agradar a Deus!’”. Sabe por que está acontecendo isso? Por parte do povo é falta de Bíblia (Os 4:6; Pr 1:30-32) e por parte desses tais pregadores é abuso de “autoridade” (Jr 2:8). Pois quem conhece e respeita as Sagradas Escrituras sabe muito bem que mais que vencedores são aqueles que obedecem a Palavra (Rm 8:35-37); as profecias não podem ser produzidas por vontade de homem algum (2ª Pe 1:20,21); não adianta honrar a Deus com os lábios se o seu coração estiver longe dEle (Mc 7:5-9); O Senhor está atento ao ofertante e não ao valor de sua oferta (Mc 12:41-44). Responda com sinceridade: de que adianta declarar que alguém é vencedor sem saber se ele está espiritualmente de acordo com os mandamentos e dentro dos propósitos divinos? Como podemos profetizar prosperidade ou qualquer outra coisa sem que Deus nos mande profetizar? Será que quando glorificamos a Deus em voz alta por termos sido constrangidos a isso é agradável ao Senhor? Pode uma pessoa com o coração magoado, cheia de ira e levando uma vida em desacordo com as santas escrituras ser abençoada somente por sua contribuição financeira, sendo que ela somente contribui por interesse? Essas frases de efeito, mesmo que ditas sem maldade, não contribuem plenamente para a edificação da alma do ouvinte, não colaboram para a melhora de sua vida cotidiana, não exaltam ao nome do Senhor e nem impulsionam a obra de Deus ao crescimento. Elas são utilizadas para mexer com o lado emocional do público e fazê-lo se alegrar, pular, gritar, chorar e obedecer o elemento que está armado com o microfone nas mãos. Esboçar tais emoções nem sempre significam sentir a presença de Deus, pois essas mesmas reações os ímpios também expressam num estádio de futebol, num capítulo da novela, diante de uma notícia que causa revolta, no término de um relacionamento amoroso, durante uma festa, enfim, em qualquer situação, pois são reações próprias do ser humano causadas pela adrenalina[8] estimulada pelo seu intelecto através de mensagens exteriores absolvidas pelos seus sentidos naturais (visão, olfato, paladar, audição e tato). É claro que essas atitudes também podem expressar nossas emoções quando sentimos a presença de Deus, mas não podemos nos esquecer do seguinte detalhe: nem todo barulho é sinônimo de poder, porque ele pode estar apenas sendo causado pela habilidade persuasiva[9] do orador. E seus objetivos em tais atitudes são quase sempre os mesmos: agradar a maioria, obter status[10], conquistar aplausos e, principalmente, obter retorno financeiro: e isso independentemente de eles estarem agindo com maldade ou por ingenuidade. Porém, esses tais pregadores deveriam repensar e ter mais cuidado com suas atitudes porque com Jeová não se brinca e ai daquele que desmerecer os verdadeiros anunciadores do Evangelho querendo gananciosamente satisfazer seus próprios interesses (At 5:34-38[11]).
Não importa quais palavras
usemos, os ouvidos de Deus
estarão sempre prontos a ouvir
as palavras que saem do nosso
coração.
    Outra questão interessante ainda dentro desse assunto são as prolongadas orações feitas por alguns irmãos que acham que se orarem por poucos minutos ou apenas durante alguns segundos não serão atendidos por Deus. É preciso entendermos uma coisa: para Ele agir, basta uma palavra apenas (Mt 8:5-8[12] [13])! É claro que não se pode negar que há bênçãos que demoram e as vezes precisamos orar durante meses ou anos para alcançá-las, mas o importante é saber que cada oração, individualmente, não precisa ser cronometrada, pois esse fator não é determinante para o sucesso ou o fracasso de nosso clamor.
    Realmente, de acordo com
Devemos lutar contra qualquer
tipo de idolatria, começando com
as que estão inseridas em nosso
meio.
a Palavra, não é pelo muito falar que alguém será ouvido. Repetir frases não significa ter fé e devoção ao Todo-Poderoso, muito pelo contrário, isso é demonstração de idolatria
[14] e falta de conhecimento, e essas coisas despertam a sua ira. Em nosso país, desde que nascemos, somos ensinados a seguir a tradição do papagaiaísmo, ou seja: não é preciso raciocinar, basta repetir o que aprendeu. Precisamos ter cuidado com isso e eliminar essas práticas de nossos rituais de adoração e clamor. Digo isso me referindo ao próprio meio evangélico. Mas será que existe isso em nosso meio? Existe sim! Quer um exemplo? Há crentes sempre que iniciam uma oração têm que recitar[15] o Pai Nosso, sendo que essa oração ensinada por Jesus não é para ser repetida, mas sim servir de modelo sobre como devemos orar. Quando repetida, ela se torna nada mais nada menos do que uma simples reza. Não posso dizer que esses crentes estejam pecando por isso, porém somente são abençoados pela misericórdia de Deus, e o que está lhes faltando é buscar mais sabedoria porque não basta crescer no poder espiritual, adquirir dons e ser tremendamente usado nas mãos do Senhor, é preciso crescer também no conhecimento (2ª Pe 3:18).



[1]Gentio: Qualquer povo fora de Israel. Quem segue o paganismo. Quem não é civilizado. Grande quantidade de gente.
[2]Penitência: Arrependimento de haver ofendido a Deus. Pena imposta pelo confessor. Um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Qualquer sacrifício para expiação de pecados (jejuns, orações etc.). Castigo. Incômodo, tormento.
[3]Reverência: Respeito com temor, veneração, consideração; honra.
[4]Pagão: Relativo ao paganismo ou politeísmo. Adepto do paganismo. Diz-se de toda religião ou pessoa que não seja cristã nem judaica. Maometano, em relação aos cristãos, e herético, em relação aos católicos. Animal xucro, ainda não montado, ou nos primeiros galopes da doma. O que segue uma religião nativa, não cristã nem judaica, caracterizada pelo politeísmo e pela superstição. Pessoa não batizada, ou que não segue o catolicismo.
[5]Reza: Ação ou efeito de rezar. Oração ou série de orações decoradas e repetidas várias vezes, recitadas por dever, ou por livre vontade e devoção, em família ou na igreja. Conjunto de orações recitadas durante o velório, de permeio com fórmulas supersticiosas, em sufrágio da alma do falecido.
[6]Terapia: É a parte da medicina que estuda e põe em prática os meios adequados para aliviar ou curar os doentes.
[7]Perseverança: Permanência num estado ou numa atividade, mesmo em caso de oposição ou fracasso (Ef 6:18; Mc 13:13; Rm 2:7).
[8]Adrenalina: Princípio ativo e hormônio principal elaborado pela parte medular das glândulas supra-renais e libertado pela excitação das fibras nervosas simpáticas pós-ganglionares. É um potente vasoconstritor e hipertensor; adnefrina, epinefrina.
[9]Persuadir: Capacidade de convencer. Levar ou induzir a fazer, a aceitar ou a crer.
[10]Status: Posição do indivíduo no grupo  determinada pelas relações com todos os outros membros através de competição consciente. Posição legal de um indivíduo. Condição, situação.
[11]Fariseus: [Hebr.] Separados. Judeus devotos ao Pentateuco. Participavam das reuniões legislativas da sinagoga. Formavam um grupo de fanáticos e hipócritas (o que não era o caso de todos, pois haviam exceções, como era o caso de Gamaliel que defendeu os apóstolos que estavam presos por pregarem a Palavra (At 5:34-38)) que se opuseram duramente contra Jesus Cristo. Segundo a história, nessa época, eles eram aproximadamente 6 mil pessoas.
[12]Centurião: Chefe de uma centúria (grupo de cem homens) na milícia romana.
[13]Criado: Servo. Empregado que faz o serviço doméstico. Alguns eram contratados e outros já nasciam dentro da casa do patrão e eram tratados como membros da  família.
[14]Idolatria: Adoração de Ídolos. Deus proíbe a adoração de qualquer imagem, seja de um deus falso ou do Deus verdadeiro (Êx 20:3-6). As nações que existiam ao redor de Israel eram idólatras, e Israel muitas vezes caiu nesse pecado (Jr 10:3-5; Am 5:26-27). Entre outras, eram adoradas as imagens de Baal, Astarote e Moloque e o Poste-ídolo.
[15]Recitar: Dizer ou ler uma composição literária, em prosa ou em verso em voz alta e declamatória.

Jonas Martins Olímpio

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