sexta-feira, 30 de setembro de 2016

“Olho Por Olho e Dente Por Dente"


O conceito de justiça estabelecido
por pessoas tomadas pelo ódio e
por desejo de vingança se opõe
à doutrina cristã que prega o
amor, a mansidão e o perdão,
ensinando ainda que qualquer ser
humano, por pior que seja, pode
ser transformado. Lembra do
apóstolo Paulo?
Mateus 5:38 - “Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente.”
    Essa é a “base bíblica” de cristãos nervosinhos que procuram uma justificativa para expressar sua revolta diante de atos violentos, defendendo a prática da violência como justiça e também como forma de combate-la. Esse é mais um caso claríssimo de isolamento de versículo, e o pior é que não parece, na maioria dos casos, ser equívoco, mas maldade mesmo, porque muitos “aceitam” a Cristo por alguma necessidade pessoal, mas, declaradamente, não aceitam o Evangelho e sua doutrina: a Igreja tem que se adaptar a eles, e não eles se adaptarem à Igreja. Enfim, não importa o motivo, o importante mesmo é esclarecer a verdade.
    Mas a Lei não diz isso? Sim. Diz (Êx 21:23-25). Mas você vive pela Lei ou pela Graça (Tg 2:10,11)? Então, que tal observar o que Jesus disse sobre isso? Ao citar a expressão “olho por olho e dente por dente”, Ele continuou seu ensinamento dizendo para não reagirmos com violência (Mt 5:39) e sermos compreensivos (Mt 5:40-42), amando, bendizendo e orando pelos inimigos (Mt 5:44), tendo isso como condição para sermos chamados de filhos de Deus (Mt 5:45a); e disse isso frisando que odiar os inimigos era algo permitido na Antiga Lei (Mt 5:43). É ainda necessário lembrar que permissão não significa aprovação. O fato de Deus ter incluído na Lei punições como a pena de morte não quer dizer que Ele esteja de acordo; isso foi só pra regulamentar algo que já estava inserido na cultura do povo. Mesmo sendo soberano, Ele não agiu com autoritarismo impondo perdão aos que erravam, apenas estabeleceu regras para que inocentes não fossem injustiçados (Gn 4:15; Nm 35:30). Para a atualidade, diante dos ensinamentos de Jesus, vemos que os mandamentos se resumem no amor (Mc 12:29-31). Em seu sacrifício na cruz, Ele deu um exemplo prático disso ao perdoar um ladrão arrependido, levando-o consigo ao Paraíso (Lc 22:39-43). De fato, a criminalidade está cada vez pior e os cidadãos honestos cada vez mais oprimidos, mas, ainda assim, o perdão continua sendo uma obrigação para o cristão (Ef 6:11,12).

"Buscai Primeiro o Reino de Deus, e a Sua Justiça, e as Demais Coisas Vos Serão Acrescentadas"

A ansiedade de conquistas, muitas
vezes, leva o cristão a enxergar
Deus como um Papai Noel,
levando-o a interpretar as
Escrituras como um livro de
autoajuda que o coloca como um
merecedor de bênçãos por fazer o
"favor" de usar seus dons e não
como um ser diante do Juiz,
prestes a ser julgado.
Mateus 6:33 - “Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.”
    Esse versículo costuma ser alvo de dois erros de interpretação: o conceito de que se deve preocupar apenas com o lado espiritual e o pensamento de que Deus vai acrescentar todas as coisas que faltam na vida de quem é fiel. Esses dois equívocos são consequência da falta de atenção ao contexto e também de pouco conhecimento das Escrituras Sagradas, pois Deus jamais exigiu do homem que vivesse totalmente alheio às coisas materiais e também nunca prometeu que lhe daria tudo o que ele quisesse. Analisemos então as duas questões de acordo com o conteúdo do texto.
    Na primeira questão é necessário frisar que Jesus diz buscai primeiramente e não “somente” o Reino de Deus. Por não entenderem isso, há pessoas que acreditam que devam dedicar quase cem por cento de sua vida à ministério, assim deixando família, trabalho e o cuidado de sua própria saúde como coisas secundárias e sem importância, alegando que por serem cidadãos do céu devem viver prioritariamente para a Obra, ou até mesmo viver da Obra. Para compreender isso é preciso entender que apesar de sermos peregrinos na terra temos que viver nela porque ainda não estamos no Paraíso (Jo 17:15) e “viver da Obra” é um chamado que não inclui todos os crentes, pois precisamos sim trabalhar para sobreviver (Gn 3:19; 2ª Ts 3:10-12). Na segunda questão basta observar o que está escrito em alguns versículos anteriores: Ele diz todas essas coisas e não “as demais” coisas, referindo-se a coisas de primeira necessidade como alimento e vestimenta (Mt 6:25-32). Para concluir, vale ainda ressaltar que essa provisão é condicional, pois além de buscar o Reino de Deus, Ele manda também buscar a sua justiça, ou seja: além de procurar ter uma vida de busca espiritual é também necessário procurar ser justo, o que implica em ser obediente à sua Palavra (Sl 37:25).

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

"Sede Vós Pois Perfeitos, Como é Perfeito o Vosso Pai que Está nos Céus."

A perfeição não está na total
ausência de erros, mas na
intenção e na tentativa de
acertar sempre. De acordo com
o contexto bíblico, a perfeição
está diretamente relacionada ao
bom relacionamento com Deus
e com o próximo: a comunhão.
Mateus 5:48 - “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.”
    Considerando-se que ser perfeito significa não ter defeitos ou cometer erros, falar de perfeição com pessoas imperfeitas que vivem num mundo imperfeito tem causado dois tipos de problemas: uma santidade exagerada por parte de alguns e o descrédito na inspiração das Escrituras por parte de outros. Mas como explicar essa perfeição citada e exigida por Jesus sem ser “santarrão” e nem incrédulo? Analisemos então o contexto dessa passagem para melhor entendermos seu significado.
    Nessa ocasião, Jesus pregava sobre as bem-aventuranças - a felicidade maior dos crentes -, explicando também as renúncias necessárias e suas inevitáveis consequências (Mt 5:3-12); na sequência, Ele diz que devemos ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16), o que significa que precisamos ser diferentes daqueles que vivem no pecado; em seguida, fala sobre o cumprimento da Lei por completo e não parcialmente (Mt 5:17-20); logo após, enfatiza a necessidade do bom relacionamento para com o próximo (Mt 5:21-26); seguindo com exemplos de como resistir às tentações (Mt 5:27-32); explicando a importância da sinceridade diante de Deus e dos homens (Mt 5:33-37); falando claramente sobre o dever de evitar a prática da violência (Mt 5:38-42); complementando com uma lição sobre a prática do amor (Mt 5:43-47); finalmente; terminando com essa afirmação sobre perfeição, colocando-a como um resumo na conclusão final de tudo o que tinha dito. Espiritualmente falando, ser perfeito não significa necessariamente nunca errar, mas sim dar o melhor de si, tendo a consciência de que suas falhas são provenientes de suas limitações e não uma prática de pecados premeditados. Ser perfeito é tentar acertar ainda que não consiga obter cem por cento de êxito em suas obras. Deus conhece nossa capacidade e contempla a perfeição de um coração desejoso de fazer o melhor para o Reino e para o próximo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

“Por Causa de Vós, Repreenderei o Demônio Devorador”

Dizimar ou não dizimar? A questão
não é essa, pois independentemente
da validade litúrgica da oferta, o
que conta mesmo para Deus é a
sinceridade com que a oferecemos;
a grande questão aqui é que existe
erros de interpretação dos dois
lados, e só quem está ganhando
com isso é o devorador que
continua usando seus gafanhotos
para destruir a mente e a comunhão
de muitos crentes com seus irmãos
e com o próprio Deus.
Malaquias 3:11 - “E, por causa de vós, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.”
    Antes do lançamento da primeira pedra, já vou adiantar: esse é um texto em defesa da prática do dízimo na era atual sim; e antes que me chamem de ignorante, também quero dizer que sei que o tal devorador era uma referência aos gafanhotos que destruíam as plantações fazendo com que houvesse grande prejuízo nas colheitas. Mas não vou me prender aos válidos argumentos de que os dízimos já eram dados antes da Lei (Gn 14:18-20) e que por isso não podem ser considerados como uma determinação apenas para o Antigo Testamento, salientando ainda que Jesus - ao repreender aos fariseus que se vangloriavam por serem dizimistas, mas não praticavam a justiça, a misericórdia e a fé -, disse que fizessem uma coisa sem omitir a outra (Mt 23:23); mas nem vou insistir nisso, pois quando alguém está determinado a não aceitar algo, simplesmente não aceita mesmo!
    Apenas o que quero aqui é explicar à alguns dos meus amigos defensores do dízimo é que não existe nenhum demônio cujo nome seja “devorador”, e aos antidizimistas que, quer eles creiam ou não, existe sim uma ação demoníaca por trás dessa devoração. Como já disse, “devorador” não é o nome de um demônio, mas uma expressão usada para se referir aos insetos destruidores de vegetação. Porém, analisando atentamente o versículo, vemos que em muitas traduções é usado o pronome “ele” - ele não destruirá os frutos -, o que indica uma ação pessoal nessa destruição. Quem mais estaria interessado em causar destruição a não ser Satanás (Jo 10:10)? E esse texto, com a expressão “repreenderei” deixa claro que ele age sob a permissão divina. No tocante à obrigatoriedade do dízimo para a salvação, devo dizer que não faz sentido, pois ele está relacionado apenas à provisão material; não encontramos em todo esse capítulo nada que prove o contrário. Agora sim, que venham as pedradas!

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

“A Baleia Vomitou Jonas na Praia de Nínive”

Equívocos como esses são bastante
comuns e totalmente compreensíveis.
Porém, devem ser evitados, porque,
apesar de não determinarem
nenhuma doutrina, são erros de
interpretação que geram pregações
de mensagens cheias de "revelações"
questionáveis do tipo: "a baleia
pesava tantas toneladas
"; "os
ninivitas se curvaram quando o
viram sair do peixe
". Todo o cuidado
é pouco quando estamos expondo a
Palavra de Deus.
Jonas 2:10 - "Falou, pois, o Senhor ao peixe, e ele vomitou a Jonas na terra."
    Você consegue identificar dois erros no título desse texto? Se não consegue, precisa exercitar mais sua atenção ao conteúdo do que lê, ou simplesmente ler mais a Bíblia e confiar menos em tudo o que ouve. Baleia e praia de Nínive, essas são duas expressões não encontradas no livro do profeta Jonas. Então você pode questionar: “Mas Jesus não falou que ele foi engolido por uma baleia? E, sendo um animal marinho, como ela pode ter deixado ele em outro lugar que não fosse uma praia?”. Respondamos então a essas duas questões.
    Na primeira questão é necessário observar que por três vezes é mencionada a palavra peixe, sendo uma delas grande peixe, mas não deixa claro a espécie de peixe. Deve-se observar também que baleias não são peixes, mas sim animais marinhos pertencentes à classe dos mamíferos, classificados como cetáceos. Quanto ao fato de Jesus ter usado a palavra baleia (Mt 12:40), em primeiro lugar, algumas versões bíblicas usam também o termo grande peixe e, em segundo lugar, antigamente não se dava muita importância em classificar as espécies de animais. Concluindo, ele pode ter sido sim engolido por uma baleia ou por qualquer tipo de peixe; o importante não é saber isso, mas apenas não afirmar aquilo que a Bíblia não diz claramente. Na segunda questão, não há o que discutir: Nínive simplesmente não tem praia! E o pior: a praia mais próxima fica há aproximadamente 600 quilômetros de lá. O livro do profeta não relata como e nem quanto tempo ele levou viajando tão longe para então iniciar sua caminhada - caminho de um dia (Jn 3:4) - de cerca de 19 quilômetros por Nínive até chegar à sua área central. O fato de Nínive ser uma cidade de três dias de caminhada (Jn 3:3b) não significa que ele tenha percorrido toda ela a pé. Há muitas coisas que a Bíblia não revela em seus mínimos detalhes e, por isso, quaisquer conclusões a que cheguemos, mesmo baseados em dados históricos, são hipóteses sujeitas a erro.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

“A Palavra de Deus se Renova a Cada Dia”

A falta de atenção aos textos
bíblicos gera contradições e,
consequentemente, muita
confusão provocando até
mesmo falta de credibilidade
em relação àqueles que
pregam sem examinar
devidamente o Livro Sagrado.
Lm 3:22,23 - “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim. 23Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade.”
    Qual crente que quando “novo convertido” nunca revirou a Bíblia em busca desse “versículo” ou até mesmo o citou após ter ouvido várias vezes que a Palavra de Deus se renova a cada dia? Na verdade, essa é uma confusão bastante comum, mas de onde surgiu isso? Não sei. Na verdade, ninguém sabe. Pois é muito difícil imaginar como alguém, lendo o texto, pode confundir misericórdia com Palavra ou vice-versa. Aqui já nem é somente uma questão de análise de contexto, e sim um problema de falta de atenção mesmo.
    A Bíblia nos ensina que o Senhor é imutável (Tg 1:17; Hb 13:8) e que a sua Palavra permanece para sempre (1ª Pe 1:23-25; 1ª Jo 2:17). Ele não muda porque não pode negar a si mesmo (Nm 23:19; Tt 1:2,3; Hb 6:17,18; 2ª Tm 2:13). Então não há como ela mudar, principalmente chegando ao ponto de se renovar a cada dia. No que se refere à sua Palavra, seria o renovo do seu pacto promessas para conosco, o qual pode acontecer mediante ao arrependimento, reconciliação e transformação de nossa parte (Rm 12:1). Nós necessitamos de um renovo a cada dia (Rm 12:2) porque somos sujeitos a falhas e expostos à nossa natureza pecaminosa (Tg 5:15-18). E essa necessidade diária de mudança e aperfeiçoamento inclui a misericórdia divina, que é exatamente do que trata esse texto em que o profeta Jeremias lamentava o sofrimento de Jerusalém ao mesmo tempo em que agradecia ao Senhor, mostrando que mantinha firme sua esperança de restauração por acreditar firmemente em sua misericórdia, a qual se reflete em sua bondade (Lm 3:24-26). Por isso, quando ouvir alguém falar que a Palavra de Deus se renova a cada dia, apenas imagine duas coisas: ele é mais uma “vítima” da falta de atenção em torno desse versículo, ou nem leu a Bíblia por esses dias e está dando uma desculpa para pregar de novo algo que já pregou recentemente.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

"Ele Tomou Sobre Si as Nossas Enfermidades, e as Nossas Dores Levou Sobre Si"

Apesar da dispensação da Graça
proporcionar vários benefícios em
nossa vida terrena, o sacrifício de
Cristo na cruz tem um objetivo
muito maior do que o nosso
conforto físico ou material: seu
foco principal é a libertação e a
salvação da nossa alma.
    Esse é um dos versículos preferidos dos pregadores da saúde perfeita, os quais o usam para dizer que crente não pode sofrer e para atacar a fé e a santidade daqueles que não são curados; então isso quer dizer que eles próprios nunca ficam doentes? Bom... isso é uma outra história. Por outro lado, os cessacionistas - teólogos que defendem a teoria de que as curas milagrosas foram cessadas na era apostólica, não tendo mais validade para os dias atuais - afirmam que as enfermidades e dores aqui descritas não são físicas, mas sim espirituais; porém, uma declaração do próprio Senhor Jesus deixa claro que isso se refere sim à doenças físicas (Mt 8:16,17). Assim sendo, por que então muitos crentes sofreram e ainda sofrem com vários problemas de saúde?
    Todos os problemas de modo geral - não apenas os relacionados à saúde - são consequências do pecado original cometido lá no Jardim do Éden (Gn 3:16-19), sob o qual já nascemos com uma natureza pecaminosa, ou seja, com tendência a pecar. No entanto, não é o pecado ou a santidade, ou mesmo a fé que definem o nosso mal ou bem-estar - embora também possam influir -, mas, normalmente, as consequências do próprio modo de vida que levamos. O próprio Jesus afirmou que no mundo teríamos aflições (Jo 16:33), mostrando também que vivemos num mundo habitado pelo mal (Jo 17:14,15; 1ª Jo 5:19). Então, dizer que um crente enfermo está em pecado ou não tem fé, significa acusar alguns profetas e apóstolos de pecado ou falta de fé porque viveram e morreram doentes. O contexto desse versículo de Isaías apenas mostra o quanto o Messias sofreria para dar à humanidade - os que nEle crescem - uma oportunidade de libertação tanto espiritual quanto física, mas não é uma garantia de que não passaríamos por desconforto em nosso corpo humano.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

“Não Gasteis Dinheiro com Aquilo que Não é Pão”

Nos textos bíblicos nem tudo
pode ser interpretado de forma
literal como, por exemplo, nesse
caso em que gastar dinheiro
naquilo que não é pão representa
o afastamento espiritual de Israel,
e já apontava para Cristo e a sua
Igreja, referindo-se à atual era da
Graça.
Isaías 55:2 - “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura.”
    Há versículos bíblicos que quando interpretados isoladamente e ao pé-da-letra transformam crentes em verdadeiros fanáticos. Esse é um dos exemplos mais claros disso. Baseados nessa afirmação descrita no livro do profeta Isaías, alguns “extremistas” chegam a pensar que seu dinheiro só deve ser gasto na compra de alimentos, como se não precisassem de mais nada para viver. Para evitar tais exageros é preciso saber examinar as Escrituras da seguinte forma: em que situação, para quem e por que isso foi escrito? E, depois de respondidas essas perguntas, deve-se ainda se analisar se o texto possui alguma figura de linguagem. São esses os detalhes que observaremos nessa passagem bíblica agora.
    Nessa ocasião Deus estava usando o profeta Isaías para exortar o seu povo a valorizar mais sua vida espiritual deixando as demais coisas em segundo plano. Usar o consumismo como exemplo foi uma forma didática para que melhor eles compreendessem o quanto estavam desperdiçando a oportunidade de obter um melhor alimento para a alma. O primeiro versículo usa as expressões “vinde”, “comprai” e “comei”, que apesar de serem dirigidos à Israel, representam um convite já apontando para Cristo e a sua Igreja, a qual, de graça - porque o pagamento foi feito na cruz -, tem acesso à água, vinho e leite e também ao pão - citado no segundo versículo -, os quais representam a Graça salvadora revelada no Novo Testamento (Jo 4:10; Mt 9:17; 1ª Pe 2:2; Jo 6:35,48-51). Dessa maneira podemos concluir que não se trata de nenhuma mensagem divina condenando o consumo de bens materiais - apesar que o mesmo precise ser prudentemente controlado (Lc 14:28-30; 15:11-14) -, mas sim um alerta a que todos se voltem ao Senhor enquanto ainda podem encontrar perdão pelos seus pecados (Is 55:6-8).

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

“Jesus é a Rosa de Sarom”

Apesar de todos os elogios do
noivo, a sulamita não se sentia
especial, pois, sendo apenas uma
entre inúmeras flores, ela admitia
não ser melhor do que as outras.
Essa deve ser a nossa condição
como servos de Deus: mesmo
sabendo que Ele nos ama,
devemos entender que em nada
somos superiores aos demais.
Cantares 2:1 - “Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.”
    A interpretação desse versículo é uma das dúvidas mais polêmicas entre os estudiosos da Bíblia. Muitos afirmam convictamente que essa rosa é Jesus; porém, numa análise mais detalhada podemos perceber que não. O que causa essa confusão é a forma de escrita desse texto, o qual, na verdade, é um diálogo amoroso, composto por Salomão, entre o noivo e a sua amada que, alegoricamente, representa o relacionamento entre Jesus e a Igreja.
    Numa declaração de amor, o homem diz à sua amada várias palavras de carinho (Ct 1:9-11), mas ela, não se sentindo merecedora de tantos elogios, lhe responde falando sobre sua simplicidade, dizendo que é uma mulher comum como as outras; lendo o capítulo anterior vemos isso com mais clareza: Salomão é um tipo de Cristo e Sulamita, a Igreja. Analisando atentamente o poema pode-se notar que o primeiro verso do segundo capítulo é falado por ela e não por ele. E por que ela faz tal afirmação? Tanto a rosa de Sarom quanto o lírio dos vales eram flores bastante comuns que nada tinham de especial; Sarom é uma planície situada entre o Monte Carmelo e Jope, tendo uma área aproximada de 85 quilômetros de comprimento e 22 de largura coberta por lírios e flores exóticas. No segundo verso o noivo responde dizendo que ela é um lírio entre os espinhos; isso significa que embora ela pareça simples por existirem vários outros lírios, se comparada aos inúmeros espinhos que a cercam, ela é muito especial. Isso simboliza os convertidos em meio aos incrédulos, pois embora os espinhos sejam muitos, eles não são obstáculos para impedir o crescimento e nem a beleza das flores. Esse texto bíblico expressa o amor que os cristãos verdadeiros sentem pelo seu Salvador, declarando-o publicamente. O Noivo espera da sua amada uma sincera declaração amorosa, ou seja, uma verdadeira adoração (Jo 4:23,24), e faz questão de lembrar que embora seja simples e frágil, ela tem um grande valor para Ele que a ama incondicionalmente (Ef 5:25-27).

terça-feira, 6 de setembro de 2016

“Vós Sois Deuses”

Nossa autoridade espiritual é
dada e administrada pelo
Espírito Santo; nada do que
temos ou fazemos é mérito
nosso. Então, o fato de sermos
chamados de filhos de Deus ou
qualquer outro termo que
expresse uma situação de
privilégio, nada mais é do que
uma dádiva divina que não
anula nossa posição de servos
totalmente dependentes dEle.
Salmos 82:6 - "Eu disse: Vós sois deuses, e vós outros sois todos filhos do Altíssimo."
    Este salmo composto por Asafe tem sido mais uma arma usada pelos pregadores triunfalistas para dizer que o homem tem poderes ou direitos de determinar sua própria vontade, e sua citação feita pelo próprio Jesus (Jo 10:34) parece reforçar ainda mais essa teoria. No entanto, seu contexto - tanto no Salmo quanto no Evangelho - deixa claro que Ele fala sobre as injustiças cometidas pelos julgamentos humanos devido à sua incapacidade ou negligência. Porém, a grande pergunta é: se existe apenas um Deus verdadeiro (Jo 17:3) e Ele não divide sua glória com ninguém (Is 42:8), o que significa então a expressão “vós sois deuses”?
    Em hebraico, a palavra que foi aqui traduzida como “deuses” é “elohim”; ela, normalmente, se refere realmente a Deus. Mas, apesar disso, também é usada em relação ao homem como, por exemplo, no caso de Moisés (Êx 7:1,2); e isso não quer dizer que Moisés fosse um deus, mas que ali no Egito, perante o Faraó, ele era um representante de Deus: uma autoridade falando e agindo em seu nome; esse termo é também traduzido como “juízes” (Êx 21:6; 22:8,9,28). Da mesma forma, nesse salmo, a expressão “deuses” se refere aos magistrados e lhes cobra duramente por suas injustiças (Sl 82:2-4). Após dizer “vós sois deuses e filhos do Altíssimo”, o salmista afirma que todos morrerão como homens e cairão como qualquer dos príncipes, ou seja, cessarão seus dias como pessoas comuns. Não há nenhuma exaltação ao ser humano como se o mesmo possuísse algum poder especial além do que lhe é concedido por Jeová. Hoje, como membros da Igreja, a Bíblia nos classifica como embaixadores de Cristo (2ª Co 5:20; 8:23). Apenas o que nos é garantido é a autoridade concedida pelo Espírito Santo por meio dos dons espirituais (Mc 16:17-20; Jo 14:12-14), a qual é dada sob propósito divino (1ª Co 12:7) e sobre ela havemos de prestar contas (Mt 7:21-23). Concluindo, ser “deus” nada mais é do que ser filho dEle (Lc 10:19,22; Jo 1:12).

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

“Deus Concederá os Desejos do Teu Coração”

Ter concedido pelo Senhor o que
deseja o teu coração consiste em
ter um coração segundo o que
deseja o coração dEle; ou seja:
uma vida de total obediência à
sua Palavra.
Salmos 37:4 - "Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração."
    Essa é uma das promessas mais agradáveis das Escrituras Sagradas. De fato, essa Palavra é verdadeira, porém, o problema é o uso dessa frase de forma isolada. Sua má exposição ao público leva as pessoas a crerem que todos, de qualquer forma, terão seus desejos atendidos por Deus. O grande mal de muitos pregadores é falar de bênçãos sem deixar claro o seu fator condicional; embora as dádivas divinas não sejam dadas por nossos méritos, o Senhor procura sim fidelidade naqueles que professam o seu nome. Então, analisemos o conteúdo desse Salmo de Davi.
    Inicialmente é necessário fazer uma pergunta: “para quem é essa promessa?” Só encontraremos a resposta lendo todo o texto. Observando seus 40 versos descobrimos que tais bênçãos são privilégio de quem possui as seguintes virtudes: não se aborrece por causa dos malfeitores e nem tem inveja de quem pratica o pecado (Sl 37:1); confia em Deus e pratica o bem (Sl 37:3,40); se agrada das coisas do Senhor (Sl 37:4); coloca sua vida nas mãos dEle e nEle confia (Sl 37:5,34); não se entrega à ansiedade e nem se revolta com a prosperidade de quem não a merece (Sl 37:7); não pratica o mal levado pela ira (Sl 37:8,27); espera no Senhor (Sl 37:9); age com mansidão (Sl 37:11); vive em retidão (Sl 37:17); é honesto, tem compaixão do próximo e o ajuda (Sl 37:21,26,37); tem seus caminhos direcionados pelo Senhor (Sl 37:23); é justo (Sl 37:25,29,39); vive em santidade (Sl 37:28); ama a lei de Deus (Sl 37:31). Por outro lado, esse salmo também mostra quais são as consequências destinadas àqueles que persistem em viver em pecado. Assim sendo, aprendemos que ter para ter nossos desejos ou necessidades atendidas pelo Senhor, precisamos ter mais do que alegria como cristãos - como pregam alguns -, mas principalmente uma vida de total obediência à vontade divina, a qual está explicitamente exposta na Bíblia Sagrada. Se alegrar no Senhor é priorizar as coisas do Alto, provando que o ama sendo fiel à Ele (Jo 14:21-24).

“O Nome de Deus é Já”

Por mais complicada que seja a
língua portuguesa ou a própria
interpretação da Bíblia,
devemos sempre estar atentos
aos mínimos detalhes para que,
mesmo inconscientemente, não
sejamos propagadores de
heresias. É claro que quando o
erro é decorrente de um
equívoco de tradução não há
como culpar os leitores, porém,
ainda assim, é necessário
examinar o contexto e
também várias versões
bíblicas para ver se existe
concordância entre os termos.
Salmos 68:4 - “Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome; louvai aquele que vai sobre os céus, pois o seu nome é Jeová; exultai diante dele.”
    Essa é uma das mais discrepantes distorções bíblicas. E o pior é que, equivocadamente, está na própria Bíblia devido a um erro de tradução contido em algumas versões. A tradução correta de “JÁ” é “JAH”, uma abreviação de JAHWEH, significando JEOVÁ, o nome de Deus: uma derivação do tetragrama hebraico YHWH; considerando que nessa língua não havia vogais, não existia uma pronúncia definida. Nas mais recentes traduções esse erro está corrigido: o “já” foi traduzido por Jeová ou Senhor. Mas a Bíblia não é divinamente inspirada? Sim! Porém, seus tradutores são sujeitos a erro!
    O maior problema gerado por esse equívoco é que - tendo esse texto por base, o qual fala de livramento -, muitos o aplicam em mensagens “motivacionais” levando os ouvintes a crerem que Deus sempre age rapidamente. A não compreensão do caráter de Jeová, o qual não cede à vontades humanas em seu modo e tempo de ação (Sl 145:14-17), leva muitos a pensarem que estão no comando, enquanto Ele está a sua disposição para atendê-los. Então será que isso significa que Ele não se apressa em socorrer seus servos? As Escrituras mostram que Ele tem seu tempo de agir, pois não se precipita, não tarda e nem falha (2ª Pe 3:8,9). Isso significa que o Senhor sabe o que é necessário para nossa vida (Lc 12:29-31), Ele está no controle de todas as situações e age de acordo com seus propósitos (1ª Pe 5:6,7). É claro que há situações em que nos vemos aflitos e necessitados de uma rápida resposta com uma imediata solução, e a espera parece ser uma terrível tortura; porém, se confiarmos nEle, independente do tempo que leve para termos o problema resolvido, é a fé nEle que nos mantém de pé durante esse difícil período. Então não esqueçamos que o nome de Deus não é “já”, mas sim “Senhor”, e Senhor significa “Dono”; e isso quer dizer que, sendo o dono, é Ele quem dá as ordens e determina o tempo para todas as coisas (Ec 3:1).

sábado, 3 de setembro de 2016

“O Sofrimento de Jó Foi Causado por Seu Próprio Medo de Sofrer”

O medo nem sempre
é sinônimo de falta
de fé em Deus, pois
todos nós estamos
sujeitos às mais
diversas fraquezas,
inclusive à
preocupações em
relação a tudo o que
nos cerca; além do
mais, o medo não
exagerado é uma
demonstração de
prudência.
Jó 3:25 - “Por que o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu?”   
    Essas lamentações de Jó têm sido a causa de alguns intérpretes afirmarem que seu sofrimento foi causado por seu próprio medo de sofrer. Essa teoria, embora pareça fazer sentido, não possui base no contexto de sua história. Só para começar, logo no início, o próprio Deus não o acusa de nada e nem aponta motivos para castiga-lo; muito pelo contrário, após elogiá-lo, apenas permite que Satanás o toque (Jó 1:8), inclusive, numa segunda conversa com o inimigo, Ele ainda diz claramente: “[...] havendo-me tu incitado contra ele para o consumir sem causa”. O próprio Jó não compreendia o motivo dessa situação, pois, mesmo sendo um homem sujeito a falhas como todos nós, sabia que não havia cometido nenhum pecado tão grave a ponto de considerar aquilo como castigo (Jó 9:17; 10:7; 16:17; 23:11,12). Suas palavras de angústia mostram o quanto ele estava sofrendo; no entanto, apesar da murmuração - lembrando que murmurar é apenas o ato de expressar descontentamento com a dor­ -, ele não blasfemou e nem perdeu a confiança no Todo-Poderoso (Jó 2:9,10; 13:15; 19:25,26).
    A teoria do sofrimento causado pelo temor é o que leva muitos a crerem que todo sofrimento é castigo de pecado, ou seja: doenças, pobreza, desilusões amorosas, depressão e os demais problemas não podem ser simples provação ou o resultado de nossa própria negligência, e sim uma prova de que estamos em pecado; mas, embora nossas iniquidades também sejam sim punidas por Deus com consequências como essas (Rm 6:23a; Gl 6:7), bênçãos ou sofrimentos não sevem como termômetro para medir nossa vida espiritual (Mt 5:44b). Julgar o medo de Jó como uma falta de confiança em Deus leva muitas pessoas a acharem que seus piores pesadelos se concretizarão a menos que consigam tirá-los da cabeça. Isso, na verdade, em vez de gerar fé, tem provocado é a existência de uma geração de crentes supersticiosos que acham que pensamentos negativos ou positivos sejam fatores determinantes em relação ao seu futuro.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

“Deus Não Vê Como Vê o Homem"

Esconder o pecado apelando para
a própria Bíblia em busca de
justificativa só contribui para
aumentar o problema. O fato de
Deus não ver como vê o homem
não significa que Ele aprove
nossos erros, mas sim que Ele
nos conhece profundamente e
não deixará de fazer justiça caso
não nos arrependamos e
mudemos.
1º Sm 16:6,7 - "Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração."
    A expressão “Deus não vê como vê o homem” é uma resposta quase que automática quando questionamos as atitudes de alguém que está fazendo algo errado. É como se dissesse: “Deus sabe o porquê, compreende e aceita o meu erro! Você não pode me julgar!”. É uma forma de usar a Bíblia como defesa em justificativa ao pecado. Mas o contexto desse versículo está muito longe dessa pretensiosa aplicação. Quando Deus disse essas Palavras, estava repreendendo o profeta Samuel pelo seu equívoco em julgar pela aparência. Sua missão naquele momento, como sacerdote, era ungir um rei em substituição a Saul; no entanto, em sua visão humana, ao observar os filhos de Jessé, atentou primeiramente à Eliabe devido à sua altura. Porém, na verdade, o Senhor já havia escolhido a Davi, o qual, naquele momento, estava no campo.
    O fato de Deus não ver como vê o homem significa simplesmente que Ele conhece o que se passa na mente e no coração humano, e não serve como justificativa ao pecado, como alguns tentam fazer em muitos casos citando esse versículo. Muito pelo contrário, pois sua onisciência é a principal testemunha contra a nossa natureza pecaminosa (Lc 16:15; Jr 17:10). Mas Deus não é benigno e perdoador? Sim. Ele é benigno e perdoador! Mas isso depende de nosso arrependimento e intenção de mudança (At 3:19). Prevalecer no erro por achar que por Ele conhecer suas fraquezas não irá te condenar por elas, consiste em negar sua justiça (Na 1:3aporque tolerar não significa aprovar; a tolerância divina é apenas uma oportunidade de arrependimento, a qual um dia cessa (Ap 2:20-22). Em vez de afrontar quem nos corrige insinuando que tal pessoa não tenha visão espiritual, devemos assumir nossas falhas sem justificar a fraqueza da carne (Mt 26:41).