domingo, 17 de janeiro de 2021

Como “Quebrar” Maldições?

         

Existe alguma receita pronta para quebrar maldição ou qualquer 
outro tipo de mal? Se você estiver pensando em rituais ou
amuletos de sorte como, por exemplo, objetos ungidos, a 
resposta é "não"! Mas se estiver disposto a mudar totalmente
seu modo de viver sendo obediente à Palavra de Deus, pode ter 
certeza de que não há mal que resista!
            De acordo com o “conhecimento bíblico” que tem sido propagado em muitas portas abertas nos dias atuais com nome de igreja, a resposta para essa pergunta é quase que automática: campanha de sete dias usando um tema bíblico fora do contexto, voto com oferta financeira, Bíblia aberta no Salmo 23 ou 91, uso de objetos ungidos pelo pastor, não falar contra o pecado porque Jesus é amor, cantar louvores para expulsar espíritos malignos e, entre outras coisas mais, “profetizar” palavras positivas para afastar o capeta. Se essa é sua visão espiritual, meu amigo, sinto muito em dizer, mas você é apenas um supersticioso disfarçado de cristão. Isso mesmo! Não são rituais que serão atendidos por Deus - se assim fosse, estaríamos sob a “letra da Lei[1]” até hoje -, mas a maravilhosa Graça[2] por meio do nosso arrependimento e transformação. Quer entender melhor? Então vamos para a Bíblia!

Em 2ª Coríntios 5:17 está escrito o seguinte: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”; tal afirmação abrange todas as áreas na vida de um cristão, inclusive fatores relacionados à maldições, o que pode ser maldição lançada por alguém no passado contra a pessoa diretamente ou sobre sua família, fazendo com que alguns a sua volta, ou ele mesmo, esteja preso à problemas diversos ou específicos, consequências do ambiente em que vive ou da maneira que foi ensinado a agir, por não estar espiritualmente vivendo conforme a vontade de Deus.

“Estar em Cristo” é um fator condicional, mas o que significa isso? Isso nada mais é do que reconhecer que Jesus Cristo é o Salvador da tua alma, assim sendo, Ele é o teu Senhor, o teu Dono. Quem reconhece o senhorio - a autoridade­ - de alguém, se dispõe a obedecê-lo. A pessoa que está em Cristo procura agradá-lo em todas as suas atitudes e não apenas em momentos de adoração num ambiente de religiosidade; ela procura conhecer Sua Palavra porque é nela que estão contidos seus mandamentos e busca se manter espiritualmente ligada à Ele, entendendo que, apesar de viver nesse mundo, sua vida aqui é passageira e o mais importante é preservar a vida eterna (Fp 3:20,21). Não há maldição que resista a isso!

“Ser nova criatura” é um processo de transformação que começa interiormente e atinge todo o exterior da pessoa; não há como não perceber quando alguém muda totalmente suas atitudes buscando ser alguém melhor para si mesmo e também para o próximo. Você próprio sabe se é uma nova criatura quando não consegue mais dizer aquelas mentirinhas de costume, passa a ter vergonha de atitudes imorais, começa a repudiar atos de covardia e chega a sentir um certo medo de ações desonestas que antes pareciam normais; resumindo, você não aceita mais aquilo que você sabe que Deus não aceita. Sua mentalidade, sentimentos e atitudes simplesmente mudam (Rm 12:2). Não há maldição que resista a isso!

“As coisas velhas já terem passado” é um grande desafio para o cristão, pois isso implica em não ser mais dominado por sentimentos como ressentimentos do passado, porque existe um processo maligno que costuma abranger todo o período de vida de um indivíduo: quando a pessoa está espiritualmente vulnerável os traumas do passado ocupam uma grande parte de seus pensamentos a levando a viver com tristeza, ódio e medo; tais estados fazem com que sua vida no presente seja dominada por constantes situações de stress, as quais resultam em conflitos em seus ambientes de convivência; em decorrência desses desacertos várias conquistas são frustradas levando a mesma a um grande estado de ansiedade pelo futuro, geralmente, num misto de esperança de êxito e certeza de fracasso. Tudo isso são ingredientes da venenosa receita da indesejada, temerosa e perigosa depressão[3] - devo ressaltar que não estou afirmando que todos que se encontrem em depressão estejam sob ação maligna -. De fato, lidar com questões tão complexas que te causem dor não é tão simples assim, no entanto, saber não supervalorizar coisas negativas do passado pode sim tornar o presente mais fácil e o futuro melhor. Carregue o pensamento de que todo o sofrimento é momentâneo, mas, para quem não desistir, a vitória será eterna (2ª Co 4:17,18). Não há maldição que resista a isso!

“Tudo se fazer novo” se refere aos efeitos das mudanças na vida de quem verdadeiramente se entregou a Cristo. Embora muitos problemas continuem acontecendo em sua vida, a grande diferença é que você não se encontra mais dominado por eles; você não está mais acuado num canto entregue ao desânimo ou ao desespero, pois aprendeu a lidar com as adversidades e transformá-las em degraus para chegar aos seus objetivos, ou seja, o que antes era derrota, agora é experiência, e com experiência não existem impossibilidades que abalem sua fé, pois até mesmo a morte é encarada como uma grande vitória (Fp 1:21). Não há maldição que resista a isso!

Sabe o que mantém muitos escravizados se julgando vítimas de maldição? É o fato de não se disporem a aprender Bíblia porque dizem que Teologia é conhecimento do homem, mas, por outro lado, qualquer homem que inventa alguma heresia eles obedecem cegamente acreditando que aquilo seja a sua verdadeira salvação. Colocam sobre os obreiros da igreja a responsabilidade de orarem pela vida deles, mas não se dispõem a buscar ao Senhor de forma devida aceitando que precisam de uma grande transformação em sua vida. Quer “quebrar” maldição? Comece quebrando o pecado, o qual se manifesta no menores detalhes dentro do seu coração: aquilo que “não tem problema não porque Jesus conhece meu coração” é o que pode estar me afundando cada vez mais. Vigilância e oração são o princípio básico que muitas vezes não te ensinam na “campanha da vitória”, porque se ensinarem isso terão que ensinar também que não é correto usar a fraqueza da carne como desculpa - Ops! Eu quis dizer “justificativa” - para o pecado (Mt 26:41).

Finalizando sobre essa questão, o Senhor Jesus Cristo é nossa única defesa contra qualquer tipo de maldição (Rm 8:1), porque nossa carne sempre seguirá a tendência de nos manter presos àquilo que disseram que sempre seria o atraso de sua vida (Rm 8:2,3). É de extrema importância também guardar em nosso coração que, mesmo que alguém nos tenha feito mal por meio de palavras ou mesmo atitudes, jamais devemos reagir no mesmo espírito de maldade porque o pecado que cometeram contra nós não nos dá o direito de também pecarmos. A justiça está nas mãos do Senhor de forma individual; cada um dá o que tem e isso define o seu final (Mt 12:35-37). O homem pode ter te desejado ou proporcionado uma herança maligna, mas se você não se sujeitar a aceitá-la, sendo obediente às Escrituras Sagradas, herdará em abundância as bênçãos do Senhor (Rm 8:14,28,31,35,37). Apesar de terem inventado muitas coisas no moderno mundo Gospel, a oração, o jejum e a obediência à Palavra continuam sendo a receita infalível para quebrar qualquer coisa maligna, inclusive maldição. Que Deus abençoe sua vida poderosamente!

Pesquisas, Texto e Edição: Pb. Jonas M. Olímpio



[1]Lei: É um termo usado com frequência na Bíblia para definir um código de leis formado por mandamentos, ordens e proibições. Segundo as Escrituras hebraicas, a Lei foi dada por Deus através do profeta Moisés, tendo sido os Dez Mandamentos escritos em tábuas de pedra pelo próprio dedo de Deus no monte Sinai, a tábua dos dez mandamentos. Pode ser resumida nos Dez Mandamentos, que em língua hebraica são chamados simplesmente de "As Dez Palavras" ou "Os Dez Ditos". Os Dez Mandamentos regulamentam a relação do ser humano com Deus e com seu próximo. Para fins didáticos, o Código Mosaico pode ser dividido em Leis Morais, Leis Civis e Leis Religiosas (Leis Cerimoniais).

[2]Graça: Favor imerecido ou não merecido. O vocábulo Graça provém do latim gratia, que deriva de gratus (grato, agradecido) e que em sua primeira acepção designa a qualidade ou conjunto de qualidades que fazem agradável a pessoa que as têm. Teologicamente, refere-se ao período que se iniciou com a morte de Cristo na cruz, o qual pôs fim às rígidas imposições da Lei mosaica, colocando em vigor o Novo Testamento.

[3]Depressão: Existem dois tipos de depressão: a depressão mental e a depressão nervosa. A depressão mental é uma perturbação que atinge e mente e é caracterizada pela ansiedade e pela melancolia; e a depressão nervosa é um estado patológico de sofrimento psíquico assinalada pelo abatimento do sentimento de valor pessoal, por pessimismo e por desinteresse em relação à vida. Ambos os tipos também se caracterizam pela irritação e, geralmente, são causados pelo stress, podendo causar problemas cardíacos que podem levar até mesmo à morte. A depressão provoca as seguintes reações no corpo humano: diminuição do calibre dos vasos sanguíneos, elevando a pressão arterial; maior produção de fatores coagulantes, permitindo a formação de coágulos que entopem as artérias; desequilíbrio nas atividades do endotélio estreitando os vasos e produzindo compostos inflamatórios; emissão de sinais que elevam a frequência cardíaca; redução no sistema de defesa, deixando o corpo vulnerável à várias doenças.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Existe Autoridade nas Palavras para Amaldiçoar?

Até que ponto nossas palavras podem influenciar espiritualmente
na vida de alguém? Independentemente de nossas palavras
surtirem efeito ou não, a intenção do nosso coração em relação 
ao nosso próximo já basta para sermos justificados ou 
condenados diante de Deus.
            Independentemente de uma maldição proferida contra alguém incluir “herdeiros” ou não, uma grande pergunta que nunca se cala é: “Palavras de maldição ou simplesmente de teor negativo faladas por qualquer pessoa podem surtir efeito?”. Dentro de um contexto geral, seja no meio religioso ou não, estamos cercados por pessoas que vivem apavoradas, sempre repreendendo outras à sua volta quando escutam palavras de conteúdo negativo, quando estas são proferidas em momentos de raiva, medo, tristeza, incertezas ou mesmo por brincadeira. Muitos, inclusive de outras religiões, sempre alegam que palavras negativas atraem más energias e que palavras positivas proporcionam um “ambiente iluminado”; e, entre os cristãos, o que muito se ouve é o constante uso do nome de Jesus para repreender qualquer comentário que lhes pareça contrário, seguido do argumento que se deve “profetizar” coisas boas para que as bênçãos aconteçam. Então eu pergunto: “Não seriam as atitudes mais poderosas do que as palavras? Quem garante que dizer coisas boas ou ruins faz com que as mesmas aconteçam?”.

Antes de dar respostas à todas essas perguntas, vamos analisar biblicamente observando em que tipos de situação tais palavras surtiram efeito. Nossa grande preocupação em estudar tal assunto à luz das Escrituras Sagradas é o fato de que essas práticas têm dado origem à verdadeiras doutrinas em muitas igrejas, entre elas a conhecida “confissão positiva”. Como bem sabemos, toda forma de ensinamento apresentada como Evangelho deve ser devidamente julgada dentro dos parâmetros bíblicos, e se não houver base comprovada de acordo com a Palavra de Deus, deve ser rejeitada, combatida e retirada de nosso meio, não importa quem a esteja pregando (Gl 1:7-9[1]).

Números 22:6 -Vem, pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois mais poderoso é do que eu; talvez o poderei ferir e lançar fora da terra; porque eu sei que, a quem tu abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado”. Do capítulo 22 ao 24 do livro de números,  um acontecimento em especial nos chama muito a atenção. A Bíblia não fornece muitas informações sobre a origem de Balaão, mas, ao que parece, ele não era um profeta escolhido por Deus e sim um pagão[2] ou talvez um profeta israelita que tivesse se desviado do verdadeiro caminho do Senhor; suas atitudes ambiciosas nos levam a pensar assim. O fato de ele ter sido procurado por Balaque, um rei moabita e inimigo de Israel, mostra que ele tinha uma certa moral no exercício profético. O pedido desse rei era que o profeta amaldiçoasse os israelitas, pois o mesmo sabia de seus êxitos em batalhas contra outros povos e temia ter o mesmo fim que eles. Então ofereceu recompensas financeiras para que por meio de palavras de maldição viesse a impedir o avanço do povo de Deus. Porém, o Senhor de fato falava com Balaão e o ordenou que abençoasse a Israel. Diante de tais ocorrências, se nota que a autoridade nas palavras proferidas por homens tidos como “instrumentos de Deus” era reconhecidamente aceita entre os povos, e a questão era tão séria que ele foi divinamente impedido de amaldiçoar; mas teria Jeová feito isso por que as palavras desse homem teriam realmente validade? A resposta mais pertinente aqui é que Ele quis mostrar seu soberano poder sobre o homem, assim provando que o povo de Israel estava sob sua proteção e bênção, pois independentemente de um profeta - ou suposto profeta - amaldiçoar ou abençoar alguém, o ser humano jamais terá autoridade acima da vontade ou propósitos divinos. Balaão ainda é citado negativamente no Novo Testamento em situações que se referem a pecados ligados a ganância (2ª Pe 2:15; Jd 1:11; Ap 2:14).

2º Samuel 12:7,10,11 -Então disse Natã[3] a Davi: Tu és este homem. Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul; 10Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. 11Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. 12Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol.”. Muito comum, até mesmo nos dias atuais, é as pessoas atribuírem as profecias aos profetas, como se os mesmos profetizassem por vontade própria. No entanto, observando por toda a Bíblia, vemos que aqueles que têm o dom de profecia nada mais fazem do que dizer o que Deus os ordenou e, as vezes, para cumprir essa missão, enfrentam até situações difíceis como, por exemplo, no caso de Natã. Ele tinha uma grande amizade com o rei Davi, porém Davi havia pecado gravemente - tinha cometido adultério e homicídio - e o Senhor mandou Natã repreendê-lo; então, com muita sabedoria, ele fez uso de uma parábola[4] e assim conseguiu entrar abertamente naquele embaraçoso assunto (2º Sm 12:1-6). Uma das consequências dos pecados de Davi seria a violência e a constante desarmonia em sua família. Então isso significa que o profeta o amaldiçoou proferindo o castigo divino? De maneira nenhuma! O que ele fez foi avisar o que a desobediência gerou para os seus descendentes, e tudo realmente se cumpriu posteriormente (2º Sm 12:15,19; 13:28[5] [6]; 16:21,22[7] [8]; 18:14,15[9]); porém, Davi reconheceu que, de fato, havia errado terrivelmente (2º Sm 12:13,14).

Marcos 11:14 -E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto”. Essa lição de Jesus sobre os que vivem de aparência com suas “belas folhas”, mas, na verdade, não estão produzindo fruto algum, nos dão uma real visão sobre o poder das palavras para amaldiçoar. Não quero aqui enfatizar o motivo da maldição sobre a figueira, mas sim seu resultado imediato (Mc 11:20,21[10]); em seguida, Ele ensina que há autoridade nas palavras do homem, na mesma forma que para amaldiçoar, como também para abençoar (Mc 11:23,24); porém, a condição para isso é a fé (Mc 11:22), e a fé consiste na obediência e intimidade com o Senhor, e implica ainda em ser justo naquilo que diz, pois Deus não atenderá palavras lançadas por mera banalidade (Tg 4:3).

Atos 5:9 -Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti”. Teria Pedro amaldiçoado Ananias e Safira no momento em que descobriu sua mentira? Analisando todo o texto, podemos ver que o que lhes aconteceu foi simplesmente consequência por terem tentado enganar os homens de Deus, pois, a partir do momento que se faz algo contra a Igreja, a briga do indivíduo não é contra os irmãos e sim contra o próprio Deus (At 5:4; 9:4; 5:38,39).  Pedro nada mais fez do que relatar o que o Senhor o havia revelado e proferir a sentença que veio do Alto; pode-se dizer que foi uma legítima demonstração de discernimento espiritual seguida de um espantoso milagre que causou morte instantânea em ambos os pecadores; o fruto disso para a Igreja não foi o prazer da vingança contra quem mentia para eles, mas sim o grande temor que certamente lhes fortaleceu a fé e mostrou aos perseguidores que o Deus de Israel estava com os cristãos.

1ª Coríntios 5:5 -Seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus”. O que Paulo quis dizer com isso? Ele amaldiçoou esse jovem que estava em adultério? Interpretando o texto de forma racional conseguimos entender que tal afirmação nada tem a ver com maldição, pois o que ele fez foi simplesmente deixa-lo ir viver a ilusão do pecado, na esperança de que o mesmo, após enfrentar as consequências de seus erros, futuramente se arrependesse e voltasse ao caminho do Senhor. A maior preocupação dele, nessa situação, era em corrigir a Igreja que parecia consentir com o erro não repreendendo o pecador; dessa forma, ele nos ensina a importância da disciplina (1ª Tm 5:19,20; Mt 18:15-18) para não sermos coniventes com o pecado e nem vítimas passivas de injustiça entre os irmãos.

1ª Timóteo 1:20 -E entre esses foram Himeneu e Alexandre[11], os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar”. Da mesma forma aqui, ele ensina que não se deve tolerar o pecado, nem que isso esteja sendo praticado por obreiros ou líderes da Igreja. Ao tomar a atitude de deixar de lado dois irmãos que além de pecar causavam dissensão (2ª Tm 2:14-18[12]), estava ele poupando todos os demais de conviverem com situações ilícitas e correndo o risco de serem por esses contaminados e não amaldiçoando num momento de ira como pode parecer sem uma análise mais profunda. Contendas ministeriais são bastante comuns nos dias atuais e até inevitáveis; porém, devemos cuidar que as mesmas não nos tornem hereges e inimigos da cruz de Cristo (Fp 3:18-21).

De acordo com o que vimos nas Escrituras Sagradas nem tudo é maldição, pois muitas das declarações de homens cheios de autoridade espiritual, nada mais foram do que afirmações de sentenças dadas pelo próprio Deus sobre o pecado humano. Poderíamos ainda mencionar casos bem conhecidos como a maldição de Noé sobre Canaã ou de Eliseu sobre Geazi, mas nada diferente acrescentaríamos ao que já tem sido falado. De fato, existe sim poder dado ao homem para amaldiçoar e abençoar (Tg 3:5-10), mas é preciso lembrarmos sempre duas coisas: a primeira é que para se ter autoridade nas palavras é preciso muita comunhão com Deus e a segunda é que Ele está no controle de tudo e nada acontecerá sem a sua permissão.

Como vimos na Bíblia, cada fato teve sua razão específica diante de cada resultado. Assim, concluímos então que boa parte da crença atual no poder das palavras é, na realidade, mera superstição: crédito à fantasias e mitos. Medo de que palavras negativas atraiam coisas ruins, e esperança de que palavras positivas atraiam coisas boas não representam prudência e nem fé, ou seja, repreender o que te desagrada e “profetizar” o que te convém não surte efeito algum, porque o que de fato faz a diferença em nossa vida é a obediência, a qual também pode ser definida como santificação (Hb 12:14). Resumindo, o que de fato faz diferença são atitudes negativas ou positivas e, principalmente, a comunhão com Deus fazendo a vontade dEle; e fazer a vontade dEle consiste em amar, perdoar e desejar o bem mesmo daqueles que querem o nosso mal (Rm 12:14).

Pesquisas, Texto e Edição: Pb. Jonas M. Olímpio

[1]Anátema: Maldição, reprovação: lançar o anátema sobre alguém. Pessoa anatematizada, excomungada.

[2]Pagão: Relativo ao paganismo ou politeísmo. Adepto do paganismo. Diz-se de toda religião ou pessoa que não seja cristã nem judaica. Maometano, em relação aos cristãos, e herético, em relação aos católicos. Animal xucro, ainda não montado, ou nos primeiros galopes da doma. O que segue uma religião nativa, não cristã nem judaica, caracterizada pelo politeísmo e pela superstição. Pessoa não batizada.

[3]Natã: Em hebraico significa "Presente". Filho de Atai; foi um profeta que viveu durante o período do reinado de Davi e de Salomão em Israel.

[4]Parábola: Origináda do grego parabole, significa narrativa curta ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida também como fábula. Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir sempre uma razão moral que pode ser tanto implícita como explícita. Ao longo dos tempos vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por vias simbólicas ou indiretas. Narração figurativa na qual, por meio de comparação, o conjunto dos elementos evoca outras realidades, tanto fantásticas, quando reais. Eram as histórias geralmente extraídas da vida cotidiana utilizadas por Jesus Cristo para ensinar aos seus discípulos. Segundo Marcos 4:11-12, eram utilizadas por Jesus para que somente seus discípulos as entendessem plenamente. Este gênero já era utilizado por muitos dos antigos profetas. Na Bíblia, encontramos 50 parábolas; dessas, 40 foram contadas por Jesus.

[5]Absalão: Significa “Pai de Paz”. Terceiro filho de Davi. Tornou-se inimigo do pai tentando se apossar de seu trono. Foi morto por Joabe (2º Sm 13:1-18:33).

[6]Amnom: Significa “Fiel”. Filho primogênito de Davi. Praticou incesto e foi morto por Absalão (2º Sm 13:1-39).

[7]Aitofel: Foi conselheiro pessoal do rei Davi. O Talmude, supõe que ele seja o traidor mencionado por Davi no Salmo 55.

[8]Concubina: Na era dos patriarcas não é muito clara a diferença entre esposa e concubina, porque era comum a poligamia. Na verdade, a concubina, geralmente, era uma escrava.

[9]Joabe: Significa "Javé É Pai". Filho de Zeruia, meia-irmã de Davi (2º Sm 2:18). Foi comandante do exército de Davi (1º Cr 11:4-9) e conseguiu muitas vitórias (2º Sm cap. 10; 12:26). Tramou o assassinato de Urias (2º Sm cap. 11) e matou Absalão (2º Sm 18:9-15). Quando Davi já era velho, Joabe aliou-se com Adonias e foi morto por ordem de Salomão (1º Rs 1:1-8; 2:28-34).

[10]Pedro: Significa "Pedra". Apóstolo (Mc 3:13-19), também chamado de Simão e Cefas (Jo 1:42). Era pescador (Mc 1:16). Episódios de sua vida são mencionados em (Mc 1:16-18; Lc 5:1-11; 8:40-56; Mt 8:14-15; 14:28-33; 16:13-23; 17:1-13; 26:36-46,69-75; Lc 24:34; Jo 18:10-18,25-27; 21:1-23; At 1:13-5:42; 8:14-25; 10:1-11:18; 12:1-19; 15:1-11; 1ª Co 9:5; Gl 1:18; 2:6-14). Segundo a tradição, foi morto entre 64 e 67 dC., no tempo do imperador Nero. Foi autor de duas epístolas no Novo Testamento.

[11]Alexandre e Himeneu: A Bíblia não dá detalhes sobre ele, mas, segundo a história, ele teria se esforçado para prejudicar o apóstolo Paulo perante a justiça romana na cidade de Éfeso. Em 1ª Timóteo 1:19,29 ele é citado junto com Himeneu como alguém que rejeitou a fé e foi entregue a Satanás pelo apóstolo para aprender a não blasfemar. Em 2ª Timóteo 4:14,15, Paulo novamente menciona-o afirmando que ele lhe causou muitos males e aconselha Timóteo a ter cuidado com ele. Latoeiro é o nome da profissão de quem trabalha com metais: é o mesmo que funileiro; devido a sua função e a idolatria aos deuses pagãos existentes em Éfeso, certamente ele fazia imagens de escultura e, por essa razão, combateu os pregadores do Evangelho.

[12]Fileto: Significa "O Amado". Mencionado em 2ª Timóteo 2:17 juntamente com Himeneu, Paulo declara que o menciona como sendo um dos causadores de contenda e propagação de heresia na Igreja.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Maldição Hereditária Existe?

Pode um inocente nascer debaixo de maldição e estar
condenado a sofrer pelos erros de seus pais ou de alguém
próximo a ele? No conceito divino de justiça, obviamente,
isso não tem lógica, mas as maldades desse mundo maligno
impõem sérias consequências sobre a vida humana; mas até
que ponto Deus permite isso?
        Maldição hereditária é um dos temas mais falados e trabalhados atualmente no meio cristão; porém, antes de abordá-lo é necessário ressaltar que existem inúmeros mitos e superstições em torno desse assunto; mito é tudo aquilo que se refere a mentiras ou fantasias da mente, e quanto à superstição se trata de crenças baseadas em situações que se presume terem ocorrido devido à algum fato anterior. Mitos geralmente são inventados para assustar ou dominar a mente de alguém como, por exemplo, dizer a uma criança que se ela não obedecer vai ser levada pelo “velho do saco” e superstições mexem diretamente com a fé fazendo a pessoa crer, por exemplo, que determinado objeto ou palavras podem trazer sorte ou azar para sua vida. Não querendo ridicularizar tais costumes ou pensamentos, apenas quero criar um ambiente de raciocínio para abordar nosso assunto em questão.

As Escrituras Sagradas nos levam a conhecer três tipos de maldição: quando Deus pune alguém devido ao pecado (2º Sm 12:9-11); quando o homem, movido pela ira, profere palavras desejando mal a alguma pessoa (Nm 22:5,6); e quando pessoas que realmente agem usadas por espíritos malignos se prestam a fazer trabalhos para enganar e, de alguma forma, destruir vidas alheias (Lc 16:16-18). Em resposta a essas três situações, usamos como base o texto de 1ª João 5:18 que diz que aquele que é nascido de Deus não vive em pecado, porque aquEle que de Deus é gerado (Jesus Cristo) o protege e assim o maligno não lhe toca, ou seja, o inimigo não age se o Senhor não permitir (Lc 22:31,32[1]); e podemos também nos basear no relato do livro de Números 23:23 em que o próprio Deus declara que contra Jacó[2] (seu povo), nenhum encantamento - que seria feitiçaria, bruxaria, macumba, catiça, travamento, amarração, agouro, olho gordo, mal olhado, mandinga, praga jogada, coisa mandada, azaração ou qualquer outro nome de sua preferência - ou supostas adivinhações - que também podem ser maldições - não têm validade. Mas observe que em ambos os textos bíblicos existe o fator condicional expresso pelos termos que podem ser traduzidos como “não vive em pecado e “seu povo” que significam simplesmente que se trata de pessoas que fazem a vontade do Senhor, ou seja, são obedientes aos princípios ensinados em sua Palavra.

Como já vimos, maldição existe e causa efeito contra quem não está espiritualmente protegido, mas e a maldição hereditária? Pode alguém herdar o mal lançado contra outra pessoa? A crença na maldição hereditária, basicamente, expressa a ideia de que há pessoas que possam estar vivendo sob maldição porque algum antepassado, ou alguém ligado à ela, tenha sido amaldiçoado. Biblicamente falando, há alguma lógica nessa linha de interpretação? Para responder essas perguntas, vamos citar as passagens bíblicas mais mencionadas em relação ao assunto. Lembrando que não estamos questionando a existência da maldição, mas sim de sua hereditariedade.

Gênesis 3:15-19 - “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. 16E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição[3]; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. 17E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. 18Espinhos, e cardos[4] também, te produzirá; e comerás a erva do campo. 19No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”. A julgar por esse texto, receber maldição por herança, a nível coletivo - no caso, aqui envolve toda a humanidade - é algo inquestionável. O versículo 15 mostra que o próprio Deus colocou entre Satanás, juntamente com seus seguidores (a semente dele), e Cristo (a semente da mulher) uma contenda; assim como o inimigo usou a mulher para trazer o pecado ao mundo, Deus usaria a mulher para trazer ao mundo o Salvador da humanidade, o Qual lhe feriria a cabeça com sua vitória na cruz mesmo tendo seu “calcanhar ferido pela serpente” (Cl 2:14,15; Lc 23:32-38). Quanto à mulher – que ainda não era chamada de Eva - como punição passaria a ter dificuldades na gravidez  e no parto e, por ter assumido uma certa liderança, sendo ela quem “abriu a porta” para o marido pecar, a segunda parte de sua punição consistiu em “ter seu desejo voltado para seu marido”, ou seja, embora as traduções bíblicas sejam vagas nessa interpretação, podemos entender que a mulher teria desejo de estar com seu marido mesmo tendo sido colocada num estado de submissão em relação ele; por sua vez, Adão, que não foi diretamente enganado pela serpente, mas deu ouvido à mulher mesmo sabendo que não deveria comer daquele fruto (Gn 2:16,17), recebeu o castigo de ter dificultados seus trabalhos para levar o sustento à sua família. Concluindo: eles erraram, mas sobrou pra nós! Isso mesmo! As maldições foram proferidas em consequência de seus atos e atingiram toda a humanidade que, por herança, se encontra agora nessa tão caótica situação (Rm 5:12).

Gênesis 9:24-27 - “E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera. 25E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. 26E disse: Bendito seja o Senhor Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. 27Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.” Essa primeira menção sobre o vinho na Bíblia é um dos textos mais polêmicos em relação à questão da maldição hereditária. Noé se embebedou com vinho e, dentro de sua tenda, acabou tirando sua roupa, nesse momento chegou seu filho Cão e o viu nu e contou a seus irmãos (Gn 9:21-23); a Bíblia não relata nada mais do que isso, então não sabemos se, ao presenciar tal cena, Cão teve uma certa malícia, zombou dele, o repreendeu ou simplesmente teve a infelicidade de entrar no lugar errado na hora errada, somente o que as Escrituras relatam é sua triste consequência para seu filho mais novo Canaã que nada tinha a ver com o que Cão, seu pai, fez ou simplesmente viu; considerando-se que Cão tinha quatro filhos, porque justamente Canaã foi amaldiçoado? Alguns teólogos acreditam que Canaã tenha visto a nudez do avô e espalhou a notícia de forma desrespeitosa. Enfim, não nos convém ficar aqui tentando adivinhar o que ocorreu nesse embaraçoso episódio, mas sim relatar suas consequências ao povo cananeu tempos depois: os povos que descenderam de Canaã cresceram grandiosamente (Gn 10:15-20[5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13] [14] [15] [16] [17] [18] [19] [20] [21] [22]) e foram os mesmos que se opuseram aos israelitas desde sua peregrinação pelo deserto e sofreram as devidas consequências (Nm 14:43-45[23]; Dt 20:17,18; Js 5:1; 17:12,13[24]). Comprovações científicas recentes, por meio de DNA, comprovam que seus descendentes atuais são os libaneses e os iranianos, atualmente inimigos de Israel.

Números 14:18 - “O Senhor é longânimo, e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração[25].” Essa declaração de Moisés, repetindo o que Deus já havia falado antes (Êx 20:5; 34:6,7), e confirmou posteriormente (Dt 5:9), a respeito daqueles que desobedeciam a Deus dá uma ampla visão sobre a existência de maldição por herança. Mas estariam mesmo os descendentes daqueles que receberam tal punição presos às essas consequências mesmo não tendo eles culpa alguma dos pecados cometidos?

2º Reis 5:27 - “Portanto a lepra de Naamã[26] se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então saiu de diante dele leproso, branco como a neve.” Aqui nos deparamos com uma situação muito crítica: após Naamã ser curado da lepra, o mesmo quis recompensar o profeta Eliseu[27], o qual recusou tal “pagamento” pelo milagre. Tentando aproveitar-se da situação, seu servo Geazi[28] foi atrás de Naamã e inventou que Eliseu havia mudado de ideia e assim conseguiu enganá-lo levando para ele prata e roupas. Quando retornou, foi questionado pelo profeta e tentou mentir a ele, mas Deus já lhe havia revelado tudo, então o mesmo proferiu-lhe tal maldição, a qual também incluía seus descendentes. A Bíblia mostra que no mesmo momento ele ficou leproso, mas não relata se isso se cumpriu em sua descendência; porém, bem sabemos da autoridade das palavras proferidas por homens de Deus como Eliseu (2º Rs 4:3-6,16,17; 5:10,14).

Como vimo nesses textos do Antigo Testamento, é inegável que o próprio Deus, como também homens cheios de autoridade espiritual, tenham amaldiçoado pessoas desobedientes aos princípios das Sagradas Escrituras; porém, questionável é se parece justa a questão da hereditariedade de uma maldição, afinal, isso fere os princípios de justiça do caráter do Criador. Seria justo os filhos pagarem pelos erros dos pais ou uma nação - ou até a humanidade inteira - pagar pelas falhas de uma ou de algumas pessoas? Como explicar de forma equilibrada e aceitável tais textos bíblicos que parecem irrefutáveis diante da Teologia da maldição Hereditária?

1.      No caso do pecado original no Jardim do Éden, houve uma desobediência consciente de suas consequências. A grande responsabilidade estava nas mãos de um homem, o qual falhou miseravelmente em sua missão. Embora seja misericordioso, o Senhor não negaria a si mesmo tolerando tão grave ato de insubmissão de sua criatura; no entanto, ele poderia tê-los destruído e formado outro casal, mas não o fez, simplesmente alterou sua forma de viver e continuou cuidando deles. Quanto à seus filhos e todos os demais - inclusive nós hoje -, simplesmente nasceram debaixo de um decreto vindo em decorrência de um castigo, mas que não impede de fato que todos usufruam, ainda que de forma limitada, das bênção materiais e também, não lhes nega a possibilidade, sob condição de obediência a seus mandamentos, de alcançarem a salvação. Podemos então afirmar que não nascemos amaldiçoados, mas sim dentro de um mundo cheio de maldições provenientes do pecado, às quais nos faz sentir limitados em relação à bênçãos que deveriam ser plenas.

2.      Quanto ao ocorrido em relação à Noé e Cão, isso nos ensina o quanto Deus nos dá autoridade e como devemos zelar para sermos cuidadosos em relação à ela, pois num momento de fúria ele amaldiçoou uma geração inteira. Obviamente, não quero me prender a teorias, mas, por outro lado, o que podemos absorver desse episódio é que Deus, em sua presciência[29], conhecendo o caráter de Canaã, já sabia como seriam seus descendentes e, assim sendo, apenas permitiu as palavras de Noé como uma profecia sobre o futuro deles. Se Noé não os tivesse amaldiçoado, teria a história dos cananeus sido diferente?

3.      Em relação à Moisés e suas declarações sobre o fato de que Deus, apesar de sua paciência e misericórdia, visita a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração, o que podemos ver é o quanto um ato errado pode atingir aqueles que fazem, ou farão, parte de nossa vida. Porém, dentro dessa permissividade, não encontramos em toda a Escritura Sagrada, nenhum impedimento de que tais “herdeiros de maldição” possam abandonar as práticas pecaminosas daqueles que os ensinaram errado e assim viverem abençoados apesar de terem sido, pelas circunstâncias, destinados à maldição.

4.      Sobre a situação que envolve a maldição da lepra de Geazi, esse castigo gerado por sua ganância seguida de uma mentira não pode ser visto como algo injusto. Porém, o que mexe com nossa mente é o porquê de ele ter também amaldiçoado a descendência do rapaz e se tal maldição também se cumpriu. Lembremo-nos de que a Bíblia também relata sobre Acã[30], o qual , numa batalha, se apoderou de bens que não lhe pertenciam e ele acabou sendo apedrejado junto com toda a sua família (Js 7:22-25[31] [32]); tal fato nos leva a imaginar que seus familiares aprovaram seu erro e o ajudaram a encobrir o roubo dentro de sua tenda e por isso foram punidos juntamente com ele. Seria esse também o caso de Geazi? Isso nos faz pensa na grande responsabilidade que temos sobre todas as decisões e atitudes que tomamos, porque elas podem atingir nossa família e pessoas que fazem parte de nosso convívio.

Pelo que vimos nas referências bíblicas mais usadas para defender a teoria da maldição hereditária, o que houve foram punições por pecados seguidas de consequências para aqueles que faziam parte do convívio dos pecadores em questão, e não vimos nenhum impedimento para que se houvesse arrependimento e atitudes diferentes por parte dos que foram atingidos assim “quebrando” tais maldições.  Para entender melhor a ilógica de se herdar uma maldição, basta olhar sob o conceito de justiça divina, assim podemos compreender que não faz sentido nenhum, por exemplo, filhos pagarem por erros dos pais (Ez 18:1-23,30-32). É necessário ter em mente também que nem tudo é maldição (Jo 9:2,3), pois vivemos num mundo imperfeito com um corpo limitado e enquanto não estivermos em nosso Lar Celestial (Rm 8:18), continuamos sujeitos às adversidades desse mundo (Jo 16:33).

Desde o princípio, as Escrituras Sagradas nos deixam claro que viver bênçãos ou maldições é uma opção da própria pessoa e não culpa dos seus antepassados, pois a mesma tem livre-arbítrio para obedecer ou desobedecer a Palavra do Senhor (Dt 11:26-28; 30:19). Mas isso significa então que, por exemplo, pessoa que faz um trabalho maligno contra alguém incluindo também seus filhos inocentes, tal maldição não vai funcionar? Absolutamente isso é muito relativo, pois aí entra a permissividade de Deus, ou seja, não compreendemos seus propósitos, mas bem sabemos que em muitos casos Ele permite isso acontecer; no entanto, para aquele que está espiritualmente protegido, ou seja, na presença do Senhor, ainda que o mal venha a agir, isso não significa que seja seu fim (Jó 1:9-12); mesmo permitindo a ação do inimigo, Ele permanece no controle de nossa vida (Jó 2:4-6). Isso significa que ainda que um antepassado seu tenha vivido sob algum tipo de maldição e, de certa forma, você sinta as consequências disso, você total oportunidade de reverter essa situação espiritualmente, mesmo que sua família não tenha a mesma fé e permaneça na mesma situação. Jó orava por todos os seus filhos, mesmo assim eles morreram, mas Jó permaneceu firme e, juntamente com sua esposa que ficou ao seu lado, foi grandemente abençoado.

Assim, deixo claro que não se trata de negar a existência da maldição ou da maldade em si, mas de se compreender que há casos e casos e a permissão de Deus depende de seus diferentes propósitos na vida de cada um. Então pode se herdar uma maldição? Eu diria que herdamos as consequências de uma maldição e que por aprendermos a viver de uma determinada forma, sofremos da mesma maneira de quem foi amaldiçoado; por exemplo: quem nasce num ambiente que se pratica feitiçaria, roubos ou imoralidade, vai aprender a praticar feitiçaria, roubar ou ser imoral e, do mesmo jeito, quem nasce de pais com doenças contagiosas, muito provavelmente nascera doente; porém, em todos esses casos, a “quebra da maldição” consiste  numa mudança de pensamentos e atitudes e, com relação à uma enfermidade genética, buscar um tratamento ou mesmo crer que o Senhor faça um milagre.

E quanto àqueles casos curiosos de problemas semelhantes que acontecem com pessoas da mesma família? Nesse tipo de situação é importante observar que com nem todos dessa mesma família ocorrem esses mesmos problemas, e isso nos leva a entender que demônios agem contra aqueles que, por alguma razão, escolhem alguns indivíduos específicos como suas vítimas sequenciais para determinados propósitos malignos atuando com elas por meio de um mesmo modo de ação. Isso, muitas vezes, leva tais pessoas a acreditarem que por estarem sob essas maldições jamais serão felizes e acabam por se entregar à uma vida de maldade ou mesmo à depressão. Mas demônios possuem esse poder? Contra a vida de quem se sujeita a eles, querendo servi-los ou não, podemos afirmar categoricamente que sim (2ª Co 2:9-11[33])! Não devemos ignorar a atuação das forças malignas, mas o inimigo age com mais intensidade nas vidas onde encontra liberdade pra isso. E consideremos também que muitas vezes é mais questão de tratar o caráter do que forças malignas; e o tratamento do caráter, para se atingir uma plena vida espiritual, começa pela mudança de pensamento (Rm 12:2).

A proteção contra tudo isso é estar firme na presença de Deus (Rm 8:1), sabendo que cada um dará conta de si mesmo (Rm 14:12). Resumindo: a pessoa não nasce necessariamente amaldiçoada, mas sim sujeita às consequências da maldição em seu ambiente de convivência. E isso é válido tanto para maldições quanto para bênçãos. Diante de tudo isso, nos deparamos à velha pergunta que não quer se calar: sendo questão de ação maligna, consequências do meio em que se vive, ou mesmo um caráter que precise ser tratado, é correto e é válido se fazer campanhas ou cultos para quebra de maldição? Sejamos coerentes: com relação a ser correto, se a intenção é sincera não posso dizer que seja errado; mas com relação à ser válido, sejamos realistas: se não houver uma real transformação e um autêntico desejo de obedecer a Deus, tudo não passa de mero ritual (Mt 15:8,9), e ritual sem obediência não pode surtir o efeito desejado (Is 58:3-11).


Pesquisas, Texto e Edição: Pb. Jonas M. Olímpio



[1]Cirandar: Peneirar, padejar. Biblicamente significa “pôr à prova”.

[2]Jacó: Significa enganador. Filho de Isaque e Rebeca e irmão gêmeo de Esaú (Gn 25:21-26). A Esaú cabia o direito de Primogenitura por haver nascido primeiro, mas Jacó comprou esse direito por um guisado (Gn 25:29-34). Jacó enganou Isaque para que este o abençoasse (Gn 27:1-41). Ao fugir de Esaú, Jacó teve a visão da escada que tocava o céu (Gn 27:42-28:22). Casou-se com Léia e Raquel, as duas filhas de Labão (Gn 29:1-30). Foi pai de 12 filhos e uma filha. Em Peniel lutou com o anjo do Senhor, tendo recebido nessa ocasião o nome de Israel. Para fugir da fome, foi morar no Egito, onde morreu. Esse nome também era usado para identificar o povo de Israel (Nm 24:5). Pai de José, o marido de Maria (Mt 1:15-16).

[3]Conceição: Ação de conceber; concepção. Gravidez.

[4]Cardo: Nome comum a várias plantas espinhosas.

[5]Sidom: Cidade situada numa ilha entre Beirute e Tiro, na Fenícia, atual Líbano. Era um centro de fabricação de objetos de vidro, e o seu povo era dado à idolatria (Jz 10:6; 1º Rs 11:5; Is 23:2-4; Ez 28:20-23). Jesus visitou Sidom (Mc 7:24), mencionou Sidom (Mt 11:21) e teve contato com os sidônios (Mc 3:8; Lc 6:17). Local de origem de Jezabel, esposa do rei Acabe (1º Rs 16:31).

[6]Hete: Significa Aquele que Jeová fortaleceu. De acordo com Gênesis 10:15, esse é o segundo filho de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. Ele é antepassado dos Hititas, segunda das doze nações cananitas que descenderam dos seus filhos, que habitaram perto de Hebrom (Gênesis 23:3 e 7).

[7]Jebuseu: Morador de Jebus, um nome antigo de Jerusalém (2º Sm 5:6).

[8]Amorreu: Povo mal e guerreiro que morava nas montanhas de Canaã e que foi dominado por Josué (Gn 15:16; Js caps. 10-11).

[9]Girgaseu: Descendente de Gergashi, significa "Vivendo em Solo Arenoso", foi um dos filhos de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. Os girgaseus viveram ao leste do rio Jordão e do mar da Galileia, e foram uma das tribos cananitas na terra de Canaã.

[10]Heveu: Significa "Camponeses". Um dos sete povos que Josué derrotou por ocasião da conquista de Canaã (Js 24:11). Provavelmente o mesmo que horeus.

[11]Arqueu: Os arqueus são descendentes de Arqui, em hebraico significa "Meu Anúncio" ou "Roendo". Arqui foi um dos filhos de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. Habitaram nos arredores do Monte Líbano.

[12]Sineu: Os sineus são descendentes de Sin, também chamado de Seni ou Sinim, em hebraico significa "Pico", "Barro" ou "Lama". Foi um dos filhos de Canaã, filho de Cam, filho de Noé.

[13]Arvadeu: Os arvadeus são descendentes de Arvade ou Arodi, em hebraico significa "Quebrar Longe" ou "Vagabundo Agitado", ele foi um dos filhos de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. Povoaram a ilha fenícia de Arad, a alguma distância da costa do Líbano, e próxima a Trípoli.

[14]Zemareu: Os zemareus são descendentes de Zimodi, em hebraico significa "Roupas de Lã Duplas", foi um dos filhos de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. Viveram na cidade de Simyra, ou Sumra, na região a oeste do Monte Líbano.

[15]Hamateu: Os hamateus são descendentes de Hamate ou Chamoti. Hamate significa "Fortaleza" ou "Cercado de Ira". Foi um dos filhos de Canaã, filho de Cam, filho de Noé. Habitaram a antiga cidade de Hamate, atual cidade de Hama, na Síria.

[16]Gerar: Significa, em hebraico, "Noite" ou "lugar de Pernoite". Era a principal cidade dos filisteus na época de Abraão e de Isaque, estava localizada na fronteira sul da Filístia, não muito distante da cidade de Gaza.

[17]Gaza: Significa "Lugar Forte". Cidade dos filisteus que Josué incorporou na tribo de Judá. Era uma das cinco fortalezas dos filisteus, situada na parte meridional da Palestina (1 Sm 6.17), entre Ráfia e Ascalom, 96 km. ao sudoeste de Jerusalém. Hoje somente existem restos da sua primitiva grandeza. A moderna Guzzeh está numa elevação: as casas são construídas de pedra; é uma cidade palestina localizada na Faixa de Gaza (território palestino composto por uma estreita faixa de terra localizada na costa oriental do Mar Mediterrâneo, no Oriente Médio, que faz fronteira com o Egito no sudoeste (11 km) e com Israel no leste e no norte (51 km); o território tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 quilômetros quadrados).

[18]Sodoma: Significa "Lugar de Cal". Uma das cinco cidades do vale de Sidim, destruída por causa de sua pecaminosidade (Gn 13:10; Gn cap. 14; 18:16-19; cap. 29; Jd 1:7).

[19]Gomorra: Significa "Submersão". Cidade que ficava na planície ao sul do mar Morto. Foi destruída por causa da maldade dos seus moradores (Gn 19:24-28).

[20]Admá: Terra que faz parte da pentápole (conjunto de cinco cidades/regiões) do Vale de Sidim. Foi destruída juntamente com Sodoma, Gomorra e Zeboim.

[21]Zeboim: Foi uma antiga cidade do vale de Sidim da chamada Pentápole. Seu nome ocorre cinco vezes no Velho Testamento (Gn 10:19, 14:2-8, Dt 29:23, Os 11:8), e segundo as descrições estava na fronteira sul dos cananeus. Moisés, ao citá-la no Deuteronômio, alude à sua destruição junto de cidades vizinhas, enquanto Oseias a toma como exemplo de julgamento divino para com cidades malignas.

[22]Lasa: O limite meridional dos cananeus, perto de Sodoma e Gomorra (Gn 10:19). Tem sido identificado com Calirhoé, um sítio famoso pelas suas nascentes de água quente, perto da costa oriental do mar Morto.

[23]Horma: Significa "Consagrado" ou "Um Asilo". Era a cidade real dos cananeus, que foi conquistada por Josué (Nm 21:3), e cedida a Simeão. Chamava-se, em tempos primitivos, Zefate (Jz 1:17).

[24]Manassés: Significa "Causando Esquecimento". A Bíblia menciona quatro pessoas com esse nome. [l] O filho mais velho de José (Gn 41:51). A tribo de Manassés estabeleceu-se ao oriente do Jordão, possuindo o país de Basã, desde a ribeira de Jaboque para o norte - e a outra meia tribo de Manassés ficou ao ocidente do Jordão, e tinha as terras que ficavam entre Efraim, ao sul, e Issacar, ao norte (Js 17.10). [2] O 15º rei de Judá. Era filho de Ezequias e tinha doze anos de idade, quando iniciou o seu reinado, que durou o espaço de cinquenta e cinco anos. Ele prestou culto aos ídolos de Canaã - reedificou os altos que o seu pai tinha destruído - levantou altares a Baal - e fez a construção de poste-ídolo. [3] Pessoas que, nos dias de Esdras, tinham casado com mulheres estrangeiras (Ed 10.30,33). [4]. Em juízes 18:30 está relatado que ‘Jônatas, filho de Gérson, o filho de Manassés’ foi um dos sacerdotes consagrados ao culto daquela imagem, que para si os filhos de Deus levantaram.

[25]Geração: Sucessão de descendentes em linha reta: pais, filhos, netos, bisnetos, trinetos, tataranetos (Sl 112:2; Mt 1:17). Conjunto de pessoas vivas numa mesma época (Dt 32:5; Fp 2:15). 

[26]Naamã: Comandante do exército da Síria. Ele era leproso, mas foi curado por milagre (2º Rs cap. 5).

[27]Eliseu: Profeta sucessor de Elias no Reino do Norte de Israel. Filho de Safat e vivia em Abel-Meolá, no Vale do Jordão. Pertencia a uma abastada família que possuía 12 juntas de bois. É um dos profetas que mais tem milagres registrados na Bíblia e dentre eles estão listados. Sua história está registrada no segundo livro de Reis.

[28]Geazi: Significa "Vale da Visão". Servo de Eliseu. Quando o profeta curou da lepra o general Naamã, este lhe ofereceu um belo presente, que não foi aceito. Geazi, contudo, por palavras mentirosas obteve parte daquela oferta. Foi castigado por Eliseu, que o feriu de lepra a ele e à sua posteridade (2º Rs 5:15-27).

[29]Presciência: Ciência, saber ou conhecimento do futuro, de eventos futuros. Pressentimento; ação de pressentir, de suspeitar, de sentir antecipadamente. Conhecimento inato, instintivo e anterior à instrução formal, acadêmica. Teologicamente, se refere ao saber que Deus possui de tudo o que está por vir e certamente acontecerá.

[30]Acã: Significa “Perturbador”. Foi um dos soldados da tribo de Judá. Havia desrespeitado a palavra de Deus durante a batalha de Jericó (Js 6:18,19). Em vez de destruir as coisas proibidas e entregar os metais preciosos para o tesouro de Deus, ele levou algumas coisas para a tenda dele. Escondeu uma capa babilônica, um pouco mais de 2 kg de prata e cerca de 500 gramas de ouro. A consequência foi muito grave: além dos 36 homens mortos na batalha, ele e toda a sua família com todas suas posses foram destruídas.

[31]Josué: Significa "Javé É Salvação". Auxiliar e, depois, sucessor de Moisés (Êx 17:8-13; Dt 31:1-8). Josué comandou a travessia do rio Jordão (Js cap. 3) e tomou Jericó (Js cap. 6). Conquistou a terra de Canaã e a dividiu entre as tribos de Israel (Js caps. 8-21). Após abençoar o povo e renovar a Aliança com Deus, Josué morreu com a idade de 110 anos (Js cap. 24). É o autor de um livro que leva o seu nome.

[32]Vale de Acor: Significa "inquietação", "distúrbio". É o vale onde Acã e sua família foram apedrejados (Js 7:2-26).

[33]Ardil: Astúcia; má intenção.