sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Levantai a Arca do Pacto

Muitos projetos não progridem
porque está faltando coragem
para levantar a arca do pacto,
ou seja, atitude de colocar em
prática a obediência à Deus.
Procurar fazer tudo aquilo o
que o agrada é o primeiro
passo para ser conduzido
rumo à travessia do Jordão
em sua vida.
Josué 3:6 - "E falou Josué aos sacerdotes, dizendo: Levantai a arca do pacto e passai adiante deste povo. Levantaram, pois, a arca do pacto e foram andando adiante do povo."

Contexto
- Sendo o primeiro dos livros históricos, o livro de Josué foi escrito por ele próprio por volta do ano 1400aC.
- Os 656 versículos de seus 24 capítulos narram a missão de Josué após a morte de Moisés, a conquista de Canaã e a sua divisão entre as tribos.
- Josué assumiu a liderança do povo hebreu durante sua peregrinação pelo deserto, sua característica ficou marcada como sendo um homem fiel a Deus, corajoso e guerreiro. Ele também teve dificuldades e precisou de encorajamento como relatado em seu primeiro capítulo: "Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares".
- Embora fosse da tribo de Efraim e não de Levi, como líder, ele tinha também a missão de comandar os sacerdotes e garantir que as ordens Deus havia dado sobre o tabernáculo fossem perfeitamente cumpridas; uma delas era o cuidado com a arca, a qual continha as tábuas com os dez mandamentos, a vara que floresceu confirmando o sacerdócio de Arão e um pote com maná.

Mensagem
- Sitim, o Vale das Acácias, foi a última parada dos israelitas antes de entrarem na terra prometida; mas para chegarem até ela era preciso atravessarem o Jordão. Para isso, a ordem divina era que os levitas com a arca fossem na frente. O verdadeiro líder se preocupa em orientar seus liderados de forma clara e objetiva.
Josué 3:1-5 - "Levantou-se, pois, Josué de madrugada, e partiram de Sitim, e vieram até ao Jordão, ele e todos os filhos de Israel, e pousaram ali antes que passassem. 2E sucedeu, ao fim de três dias, que os príncipes passaram pelo meio do arraial 3e ordenaram ao povo, dizendo: Quando virdes a arca do concerto do Senhor, vosso Deus, e que os sacerdotes levitas a levam, parti vós também do vosso lugar e segui-a. 4Haja, contudo, distância entre vós e ela, como da medida de dois mil côvados; e não vos chegueis a ela, para que saibais o caminho pelo qual haveis de ir; porquanto por este caminho nunca passastes antes. 5Disse Josué também ao povo: Santificai-vos, porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós."

- Havia uma promessa de honra sobre a vida dele, mas seu cumprimento dependia de sua obediência às ordens divinas. O que temos feito com aquilo que o Senhor confiou a nós?
Josué 3:7-13 - "E o Senhor disse a Josué: Este dia começarei a engrandecer-te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que assim como fui com Moisés assim serei contigo. 8Tu, pois, ordenarás aos sacerdotes que levam a arca do concerto, dizendo: Quando vierdes até à borda das águas do Jordão, parareis no Jordão. 9Então, disse Josué aos filhos de Israel: Chegai-vos para cá e ouvi as palavras do Senhor, vosso Deus. 10Disse mais Josué: Nisto conhecereis que o Deus vivo está no meio de vós e que de todo lançará de diante de vós os cananeus, e os heteus, e os heveus, e os ferezeus, e os girgaseus, e os amorreus, e os jebuseus. 11Eis que a arca do concerto do Senhor de toda a terra passa o Jordão diante de vós. 12Tomai, pois, agora, doze homens das tribos de Israel, de cada tribo um homem; 13porque há de acontecer que, assim que as plantas dos pés dos sacerdotes que levam a arca do Senhor, o Senhor de toda a terra, repousem nas águas do Jordão, se separarão as águas do Jordão, e as águas que de cima descem pararão num montão."

- Não houve recusa por parte do povo em atender suas orientações, e tal obediência resultou no sucesso de seus objetivos. Honrar a liderança é o mesmo que honrar a Deus.
Josué 3:14-16 - "E aconteceu que, partindo o povo das suas tendas, para passar o Jordão, levavam os sacerdotes a arca do concerto diante do povo. 15E, quando os que levavam a arca chegaram até ao Jordão, e os pés dos sacerdotes que levavam a arca se molharam na borda das águas (porque o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da sega), 16pararam-se as águas que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adã, que está da banda de Sartã; e as que desciam ao mar das Campinas, que é o mar Salgado, faltavam de todo e separaram-se; então, passou o povo defronte de Jericó."

- Espiritualmente, para nós, levar a arca significa colocar a presença de Deus em primeiro lugar em nossa vida; buscar sua orientação antes de tomarmos qualquer atitude; e sermos gratos reconhecendo que o que temos, o que somos e o que fazemos é dEle, por Ele e para Ele. Onde você deixou a arca? Pegue-a, levante-a e prossiga!
Josué 3:17 - "Porém os sacerdotes que levavam a arca do concerto do Senhor pararam firmes em seco no meio do Jordão; e todo o Israel passou em seco, até que todo o povo acabou de passar o Jordão."

sábado, 22 de dezembro de 2018

União e Comunhão Com a Família de Cristo: Características de Um Eleito

O verdadeiro sentimento de
união e comunhão se traduz na
prática do amor: um sentimento
que não possui barreiras para
ser exercido. Um verdadeiro
eleito para o Reino de Deus
sabe que, em meio à qualquer
dificuldade, seu verdadeiro
inimigo é o pecado, o qual o
afasta de Deus e,
consequentemente, de sua
família espiritual.
2º João 1:13 - "Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita. Amém!"

Contexto
- Essa epístola foi escrita pelo apóstolo João entre 85 e 90dC; possivelmente ele estava livre em Éfeso e não preso em Patmos. 
- Sua destinatária é identificada apenas como a "senhora eleita" no primeiro versículo. 
Há quem diga que esse termo se refira à Igreja, mas as evidências textuais indicam que se trate de uma pessoa que tenha cedido sua casa para que os cristãos se reunissem. No versículo 5 ele também a chama de senhora.
- O conteúdo básico da carta visa tratar de questões doutrinárias concernentes a ter cuidado com falsos obreiros e na prática do amor ao próximo.

Mensagem
- Mesmo distante, o apóstolo João não deixava de interagir com os irmãos dos lugares por onde havia passado. Isso nos ensina que o amor vai além das barreiras da distância e do tempo, superando a própria morte.
2ª Pe 1:15 - "Mas também eu procurarei, em toda a ocasião, que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas."

- A expressão "os filhos de tua irmã", embora possa estar se referindo à parentes carnais da destinatária de sua epístola, nos ensina que a Igreja é uma grande família e, como tal, apesar de inevitáveis desentendimentos, deve sempre permanecer unida.
1ª Co 9:10 - "Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. 10Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer."

- "A eleita" é uma expressão bíblica muito usada em relação àqueles que se converteram ao cristianismo, referindo-se à sua condição de salvos em Cristo; porém, tal afirmação não nos garante como salvos somente pelo fato de professarmos nossa fé no cristianismo, pois muitos filhos abandonam sua casa e abrem mão de sua herança.
1ª Co 10:12 - "Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia."

- Ser eleito ou não-eleito não significa que Deus escolheu uns para a salvação e outros para a condenação, pois tal eleição se refere à Igreja generalizadamente como Corpo de Cristo, mas fazer parte dela ou não é uma opção individual por meio do livre-arbítrio. É importante lembrar que nem todos os eleitos para algo chegam a tomar posse da posição que lhes fora destinada.
Ap 3:20,21 - "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo. 21Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono."

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Está Tudo Pago

Imagine a anulação de um
documento de cobrança cujo
valor jamais conseguiríamos
pagar... Foi exatamente isso
que Jesus fez por nós ao
morrer na cruz. Seu sacrifício
perfeito substituiu nossas
falhas tentativas de
merecermos o perdão dos
pecados; em troca disso,
apenas o que Ele requer é fé e
obediência de nossa parte.
Colossenses 2:14 - "havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz."

Contexto
- Essa epístola foi escrita provavelmente no ano 61dC., pelo apóstolo Paulo.
- Colossos era uma cidade da Frígia (um distrito da Província da Ásia); ficava a 120 quilômetros de Éfeso. 
- Conforme demonstra Colossenses 1:7 e 4:17, a Igreja que havia ali, possivelmente era pastoreada por Epafras e Arquipo; dois frutos da evangelização de Paulo.
- Nos noventa e cinco versículos dos seus quatro capítulos, seus assuntos principais abordam os problemas do legalismo, a heresia do culto aos anjos e a vida social do cristão.

Mensagem
- Essa "cédula" era um documento que comprovava a existência de uma dívida, quem a possuía tinha direitos de cobrança sobre o devedor. Espiritualmente se refere à Lei Mosaica que com suas 613 ordenanças - 248 positivas e 365 negativas - condenavam o pecador. Agora não seriam mais os rituais que poderiam condenar ou justificar alguém.
Cl 2:8,9 - "Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; 9porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade."

"Riscar a cédula que nos era contrária" é um termo que se refere ao sacrifício de Cristo na cruz, o qual pagou em nosso lugar por uma dívida constituída pelo pecado, a qual não teríamos jamais condições de pagar. Sua morte na cruz nos deu uma oportunidade de não morrermos por nossos pecados, dando-nos, por meio de nosso arrependimento e mudança de vida, perdão e acesso à sua Graça.
Cl 2:13 - "E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,"

- O termo "a tirou do meio de nós" significa que se a Lei apontava para a condenação pelo fato de o homem não ter condição de se redimir sendo ele de natureza pecaminosa, a Graça "zerava sua conta" a partir do momento que ele aceitava o fato de que Cristo é o seu Salvador por ter feito o sacrifício perfeito em seu lugar.
Cl 3:1-4 - "Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. 2Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra; 3porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. 4Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória."

- Ao ter "cravado na cruz" representa o valor do seu sangue, o qual carimbou como "pago" toda a nossa dívida pecaminosa, vencendo Ele próprio o inimigo não desistindo de seus sacrifícios pelos pecadores. Assim, durante esse ato, expôs a derrota de Satanás e seus demônios, que sobre os tais a pessoa que recebe a Cristo abandonando o pecado não é mais escrava.
Cl 2:15 - "E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo."

sábado, 24 de novembro de 2018

Preservando a Fé em Meio à Habitação de Satanás

Muitas falsas doutrinas têm sido
introduzidas na igreja atual, e
aqueles que não se rendem a elas
acabam sendo apontados como
preconceituosos; porém, nunca
se esqueça que Deus somente
justificará aqueles que não se
renderem às armadilhas do
"evangelho" fácil e continuarem
pregando e vivendo a verdade a
todo custo.
Apocalipse 2:13 - "Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita."

Contexto
- Apocalipse - do grego αποκάλυψις, apokálypsis -, significa "revelação"; formada por "apo", tirado de, e "kalumna", véu; numa tradução livre significa "tirar o véu". Esse livro foi escrito pelo apóstolo João, o qual, enquanto se encontrava preso na Ilha de Patmos, entre 79 e 95dC., recebeu do Senhor revelações concernentes aos acontecimentos nos últimos dias da humanidade na terra.
- O versículo em questão se refere à mensagem enviada à Igreja em Pérgamo, uma igreja que enfrentava grandes problemas com falsos mestres e falsos profetas, nesse texto identificados como os que seguem a doutrina de Balaão e a doutrina dos nicolaítas.
- Balaão, conforme relatado dos capítulos 22 a 25 de Números, foi um profeta da cidade de Petor, na Mesopotâmia, que abençoou o povo de Israel, mas depois o levou ao pecado. 
- Os nicolaítas supostamente seriam discípulos de Nicolau de Antioquia. Nicolau pregava a libertinagem cristã e ignorava o corpo físico como o templo do Espírito, promovendo, assim, a prática de imoralidade sexual entre os cristãos. Defendiam a poligamia e comiam coisas sacrificadas à ídolos.

Mensagem
- O silêncio diante de práticas hereges, torna os crentes coniventes ao pecado dentro da igreja.
Ap 2:14,15 - "Mas umas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se prostituíssem. 15Assim, tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu aborreço."


- A conivência consciente em relação aos erros alheios também consiste em pecado.
Ap 2:16 - "Arrepende-te, pois; quando não, em breve virei a ti e contra eles batalharei com a espada da minha boca."


- As bênçãos materiais e espirituais, sobretudo a salvação, embora não sejam por mérito nosso, não deixam de ser uma resposta do Senhor sobre nossa fidelidade a Ele.
Ap 2:17 - "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe."


- Vivemos num mundo que jaz no maligno, completamente contaminado pelo pecado, mas não fazemos parte dele; por essa razão, nosso modo de vida como cristãos deve servir de exemplo até mesmo para aqueles que censuram o Evangelho.
1ª Pe 2:15-17 - "Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos; 16como livres e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. 17Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai o rei."

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Prestando Contas Diante do Juiz

Muitos vivem entregues à prática
do pecado e da injustiça
despreocupadamente como se
jamais tivessem que prestar
contas por seus atos, mas
chegará o Dia em que o Infalível
Juiz pesará os atos de cada um e,
mediante à Palavra pelo qual
todos já estamos alertados,
seremos absolvidos ou
condenados.
1ª Pedro 4:5 - "os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos;"

Contexto
- Essa epístola foi escrita por volta do ano 60dC., conforme relatado em 1ª Pedro 5:13, num lugar chamado Babilônia, pelo próprio apóstolo Pedro com o objetivo de alertar a igreja sobre os perigos que ameaçavam sua pureza espiritual.
- O cenário cristão estava em evidência devido ao seu crescimento, mas havia uma grande mistura de costumes devido à agregação dos gentios ao Evangelho e também pela influência da cultura à sua volta, inclusive por parte dos colonizadores romanos.
- Alertar sobre a repentina volta de Jesus era uma das preocupações do apóstolo.
- Dessa mesma forma ele também alertava sobre o risco iminente da morte antes do arrebatamento, conforme registrado em 1ª Pedro 1:24 onde compara a vida humana à fragilidade de uma erva.

Mensagem
- Esse "quais" é uma referência àqueles que vivem sem Deus assim como nós vivíamos antes da conversão e o "que está preparado para julgar os vivos e os mortos" se refere ao próprio Senhor Jesus Cristo no Juízo Final.
1ª Pe 4:1-4 - "Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento: que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado, 2para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus. 3Porque é bastante que, no tempo passado da vida, fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borracheiras, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias; 4e acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós,"

- Muitos que na época já estavam mortos haviam ouvido a pregação do Evangelho ainda em vida, não tendo assim como dizer que não conheciam a verdade. O risco constante de morte, como também a possibilidade do repentino arrebatamento, é a grande razão de nunca desfalecermos na vigilância espiritual.
1ªpe 4:6,7 - "porque, por isto, foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens, na carne, mas vivessem segundo Deus, em espírito. 7E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios e vigiai em oração."

- Não é somente o relacionamento com Deus, mas também o relacionamento com o próximo conta muito em nosso julgamento diante do Senhor.
1ª Pe 8,9 - "Mas, sobretudo, tende ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobrirá a multidão de pecados, 9sendo hospitaleiros uns para os outros, sem murmurações."

- Cada atitude que tomamos, ou deixamos de tomar, terá um relevante peso no Grande Tribunal.
2ª Co 5:10 - "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal."

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Parábola do Credor Incompassivo

O perdão, assim como as demais
bênçãos que recebemos de
Deus, servem não para mostrar
o quanto somos justos e
merecedores daquilo que Ele
nos dá, mas sim se temos ou não
o caráter santo de um verdadeiro
cristão que tenha negado a si
mesmo e tomado a sua cruz para
poder segui-lo.
Mateus 18:23-34

Mateus 18:23 - "Por isso, o Reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;"
    Uma pergunta meio que ingênua de Pedro foi o que motivou Jesus a contar essa parábola: "Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?"; a resposta do Mestre foi bem objetiva: "Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete". Devemos lembrar que na numerologia bíblica o número sete representa perfeição e plenitude, o que significa que o perdão deve ser perfeito e pleno, ou seja, verdadeiro e por completo; multiplicar o sete por setenta parece um exagero, mas representa a misericórdia ilimitada que devemos ter com nosso próximo. Logo no início da parábola Ele cita um rei fazendo prestação de contas com seus servos, isso se refere o Grande Julgamento em que o Senhor vai requerer de nós aquilo que nos devemos, e isso inclui como tratamos os irmãos, os familiares, os amigos e até os inimigos.

Mateus 18:24 - "e, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos."
    Dez mil talentos, numa conta superficial e de resultado aproximado, considerando que um talento valeria cerca de mil dólares, hoje seria em torno de dez milhões de dólares; para qualquer pessoa seria simplesmente impossível pagar. Esse valor aparentemente exagerado na ilustração de Jesus foi exposto propositalmente para nos ensinar que a dívida que temos para com Ele é impossível de ser paga por nós e, assim sendo, somente mesmo o perdão por misericórdia é que pode nos livrar dessa dívida que nos levaria à inevitável condenação. Tudo o que fazemos de errado é um débito a mais em nosso cartão de crédito espiritual e, quando a fatura chegar, perceberemos que nossas boas ações ou intenções não tem poder para diminuir os juros dessa dívida; e o pior ainda é que descobriremos que no nosso cofrinho da religiosidade e da boa aparência não temos um saldo que chegue nem perto desse valor. Então, somente o que resta é apelar pelo perdão do Rei para não termos a condenação como herança de nossa imprudência.

Mateus 18:25 - ", não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher, e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse."
    Pela Lei, a pessoa poderia ser entregue como escrava para o pagamento de uma dívida, e isso poderia ainda incluir sua família. A imprudência do pecado, e até mesmo das dívidas impensadas, podem nos tornar escravos e causar também sofrimentos aos que fazem parte de nosso convívio. Não ter com o que pagar ou não saber lidar com um problema gera consequências negativamente incalculáveis, as quais envolvem questões financeiras, morais, psicológicas, físicas e também espirituais; tudo isso junto, de maneira praticamente inevitável, provoca a desestruturação da família. Esse homem, provavelmente, ao pedir um valor tão alto de empréstimo aos tesoureiros do reino, certamente, só pensou em sua dificuldade ou vontade no momento, mas não analisou o que poderia acontecer no futuro. Tal despreocupação momentânea causou o risco de punição tanto a ele como também à sua família. Em suas decisões você costuma pensar apenas em si próprio ou tem a dignidade de se lembrar que possui uma família?

Mateus 18:26 - "Então, aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei."
    Mesmo estando totalmente errado e sendo uma pessoa imprudente, esse homem nos dá uma lição sobre a importância do arrependimento e a busca do perdão. Jesus o identifica como servo, isso lembra nossa situação diante do Rei, somos simplesmente servos e devemos nos portar de acordo com nossa condição sabendo nos colocar devidamente perante seu trono. Somos prestadores de serviço e não donos do Reino; Ele se prostrou, isso é sinal de humildade, a qual representa o nosso  dever de reconhecimento da superioridade de Quem está acima de nós. Um súdito jamais poderia fazer qualquer gesto que insinuasse grandeza ou mesmo igualdade perante o rei; Reverência, isso significa respeito, é a demonstração fundamental de que sabemos que não somos merecedores de estar aonde estamos. Ocupar lugar de destaque no ministério não nos torna melhores ou superiores, mas apenas portadores de uma maior responsabilidade. Ele implorou por sua generosidade, prometendo que lhe pagaria. Essa é uma atitude que nos leva a entender que o clamor pela misericórdia seguido pela disposição de corrigir o erro ou pelo menos mudar de atitude é essencial para se alcançar o favor divino.

Mateus 18:27 - "Então, o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida."
    Mesmo sendo humano e estando diante de um devedor totalmente errado na situação, aquele rei se compadeceu e, sabendo que o servo, mesmo tendo prometido que lhe pagaria, jamais teria de fato condições de lhe pagar, generosamente perdoou, soltando-lhe e perdoando sua dívida. Nosso clamor surte resultado diante do Rei. Mesmo conhecendo nossa condição de criaturas frágeis diante das tentações do pecado, Ele nos concede nova oportunidade quando nos humilhamos aos seus pés. Ele sabe que não temos condições de pagar nossa imensa dívida e também de nossa tendência a voltar a errar, mas seu amor é maior que nossos instintos pecaminosos e Ele zera nossos débitos para que possamos tentar uma nova vida. Não é o nosso merecimento que o convence, mas a sua própria misericórdia nos presenteia com uma nova chance.

Mateus 18:28 - "Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem dinheiros e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves."
    Aqui já podemos ver a hipocrisia no coração do homem. Após ser perdoado e se ver absolutamente livre pelas ruas sem mais nada dever, ele encontra alguém que lhe devia o valor irrisório de cem dinheiros, ou cem denários - algo que hoje seria em torno de vinte dólares -, porém, surpreendentemente, sua reação e atitude foram as piores possíveis: ele foi incompassivo, incompreensivo, ofensivo e agressivo; totalmente o contrário do rei que acabara de lhe perdoar e que tinha razões suficientes para ter agido de forma truculenta. "Paga-me o que deves!", essa é uma expressão que, geralmente, embora seja dita por alguém que tenha por direito receber algo, apenas expõe o egoísmo e a falta de amor e perdão em relação a alguém que lhe cometeu alguma falta. O problema, ma verdade, não está na cobrança em si, mas na forma como ele a fez lançando mão dele e o sufocando, ou seja, de forma desrespeitosa e violenta. Como estamos tratando nossos devedores mesmo sabendo que fomos perdoados não merecendo perdão?

Mateus 18:29 - "Então, o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei."
    Mediante a narração dessa cena paramos para pensar em quanto, muitas vezes, o ser humano é ignorante, insensato, cruel e hipócrita, porque se esquece com facilidade seus erros, seu passado, suas raízes e das boas atitudes alheias que já foram tomadas em relação a ele em momentos de dificuldade e aflição. Talvez você esteja aí pensando: "Ainda bem que eu não ajo dessa forma!", mas você consegue imaginar quantas vezes negou ajuda a alguém necessitado? Hoje mesmo você pode ter feito isso de várias formas: é aquele "bom dia" que você não respondeu, aquela Palavra que te veio ao coração e você não falou, aquela pessoa para quem você disse que ia orar e não orou, aquele pedido de desculpas que você não aceitou, aquele erro que você presenciou e não corrigiu, aquele ferido que você viu caído e não socorreu e também aquele devedor de quem você poderia ter perdoado a dívida e não perdoou. Se não vigiarmos, estamos negando pedidos de ajuda o tempo todo e, ao mesmo tempo, "louvando" a Deus sorridentemente achando que Ele está aplaudindo nossas atitudes.

Mateus 18:30 - "Ele, porém, não quis; antes, foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida."
    Essa negativa a um pedido de prorrogação do prazo para o pagamento da dívida, seguida da entrega à prisão vai muito além dos direitos civis, os quais ele podia usufruir livremente. Direitos legais não podem sobressair às nossas obrigações espirituais e morais; como pessoas justas e, acima de tudo, servos do Rei, devemos muitas vezes abrir mão de alguns direitos. Dar a outra face, deixar a capa e caminhar mais uma milha são preceitos que, ainda que figurados, ainda não foram e nunca serão abolidos do autêntico Evangelho; tudo é lícito, mas nem tudo convém; se o teu irmão se escandaliza pelo que você come, então não coma. Tais princípios permanecem em vigor, pois caracterizam a verdadeira Lei do Reino do qual somos súditos. Em outras palavras, muito se prega e mais ainda se cobra sobre o amor, mas quando se trata de vive-lo, muitos perdem suas máscaras revelando-se na práticas como inimigos da cruz de Cristo. Quantos você já encerrou na prisão hoje por achar que justiça se resume no seu próprio bem-estar?

Mateus 18:31 - "Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara."
    O interessante é que ele estava sendo observado, e certamente sabia disso; mas não se importava por achar que o povo consideraria justa aquela atitude. Muitas vezes, enganamos a nós mesmos com nossos falidos conceitos de justiça. Quem presenciou aquela barbárie logo tratou de comunicar o ocorrido ao rei. Como cristãos, que imagem estamos passando aos que nos observam? As pessoas não querem saber se a situação é humanamente justa ou não, o que elas esperam mesmo é ver alguma diferença em nós. O Evangelho que pregamos e os testemunhos do perdão divino que contamos devem se completar com as atitudes que tomamos, não em relação àqueles que são bons para conosco, mas para com aqueles que nos devem, nos ferem, nos maltratam de alguma forma ou simplesmente têm algo contra nós. Nosso testemunho prático pode tanto ganhar como também matar almas, e ainda salvar ou condenar a nós mesmos.

Mateus 18:32 - "Então, o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste."
    Agora, lá vai ele de novo diante do rei. A posição do monarca era firme e não aceitava justificativas; ele próprio formulou a acusação chamando-o de malvado e lembrando do perdão que o mesmo havia suplicado e alcançado. É interessante frisar que mesmo assim ele o chamou de servo - servo malvado -; isso nos faz refletir que mesmo os que erram ainda podem ser chamados de servos do Rei, mas isso não significa que eles serão justificados, pois muitos naquele Dia vão dizer "Senhor, em seu nome, fiz isso, fiz aquilo", mas resposta que terão é "Apartai-vos de mim vós que praticais a iniquidade". O segredo não é ser servo, mas sim ser servo fiel; e o servo fiel perdoa, pois jamais esquece ou desconsidera o fato de que ele também já necessitou - e ainda pode necessitar - de perdão. Que testemunho o Rei daria agora de você se te levassem para acusá-lo diante dEle?

Mateus 18:33 - "Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?"
    O rei não se contentou em apenas dar o veredito final. Por seu justo caráter viu ele a necessidade de explicar o porquê de sua decisão, onde estava o erro do servo que se tornou réu. Ele mostrou que sua atitude anterior de perdoar a dívida de dez mil talentos deveria ter sido tomada como exemplo por ele. Quem narra essa parábola é aquEle mesmo que disse "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração"; mansidão e humildade não são das lições mais fáceis e agradáveis na Escola do Grande Mestre, mas se errar o resultado da equação "setenta vezes sete" não tem como passar na prova final e vai ficar retido num lugar nada agradável onde não tem recuperação. Você já parou pra pensar que muitos infortúnios que você passa podem ser resultados do veredito do Rei que não está muito contente com suas atitudes em relação ao próximo?

Mateus 18:34 - "E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. 
    Indignado. Assim se resumiu o estado do rei que cumpriu seu papel na execução da justiça. A ordem é que ele fosse entregue aos atormentadores até que pagasse tudo o que devia; será que ele suportou o tormento e conseguiu pagar a dívida? Espiritualmente, podemos interpretar essa sentença em dois sentidos: Primeiro, o Senhor permite que o inimigo nos cause vários tipos de tormento, levando-nos a sofrer ainda em vida para "pagarmos" por nossos erros e assim também reconhecermos nossos pecados e nos arrependermos deles; Segundo, Ele permite ao inimigo ceifar nossa vida levando-nos ao lugar de tormento eterno como castigo pelos nossos pecados devido ao fato de não termos nos arrependido deles, mas lá, por mais que soframos, o pagamento jamais vai resultar em liberdade. Então é melhor "pagarmos" para sermos livres do que pagarmos eternamente as consequências de uma vida de desobediência ao Rei. Como Ele ensina no versículo seguinte, perder a chance de ser perdoado é uma consequência por não perdoar as ofensas que se recebe: "Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas".

sábado, 10 de novembro de 2018

Parábola do Fariseu e o Publicano

Dádivas espirituais não são
bijuterias para serem expostas
em vitrines, pois nossa vida
com Deus é algo muito íntimo
e, quanto à exaltação, se não
vier dEle, não passa de
presunção maligna. A
justificação está na humildade.
Lucas 18:9-14

Lucas 18:9 - "E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros:"
    Confiar em si mesmo: essa é a definição para quem confia em si mesmo, crê que é justo e despreza os outros. O foco do assunto do Mestre nessa parábola é a hipocrisia. A confiança em si próprio leva o homem a revelar seu caráter incrédulo; é como se Deus não agisse em sua vida por misericórdia, mas sim por resposta aos seus méritos. Crer que é justo por si só e não pela ação do Espírito Santo é outro fator que leva o homem a cometer o pecado da soberba. Da mesma forma, desprezar os outros por reparar em algumas falhas alheias é se colocar numa posição de superioridade como se somente os demais errassem. Uma das formas pelas quais podemos revelar o pior do que temos em nosso caráter é através da oração, pois a forma como oramos também demonstra se isso fazemos para nos aproximar de Deus ou para tentar convencer os outros de que estamos próximos de Deus.

Lucas 18:10 - "Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano."
    As orações no templo eram praticadas diariamente, as nove e as quinze horas (hora terceira e hora nona), pelos judeus da época. Os fariseus eram uma classe de pessoas conhecidas por serem separadas dos demais povos e até mesmo de muitos judeus, pois eles observavam à risca - pelo menos na aparência - os preceitos da Lei e discriminavam os que não procediam da mesma maneira. já os publicanos eram mal vistos porque, apesar de serem judeus, eram cobradores de impostos a serviço do governo romano; cobrar impostos para os colonizadores era considerado um ato de traição à nação dos hebreus, além do mais, muitos deles abusavam desse cargo de confiança cobrando mais do que o devido e se enriquecendo ilicitamente. Eram dois homens totalmente diferentes um do outro: um visto como digno de respeito por sua devoção religiosa e outro que podia praticamente ser chamado de ladrão.

Lucas 18:11 - "O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano."
    O fariseu orava de pé; nessa observação Jesus não estava condenando quem ora de pé, mas sim o motivo pelo qual ele fazia isso: queria ser visto orando; para a preservação de sua imagem de santidade, ele precisava disso. Ele orava em voz alta, o que também não é um ato condenável por si só, mas se o objetivo for apenas que os demais te ouçam orando, torna-se também um ato de hipocrisia. E o agravante maior está no conteúdo de sua oração: agradecia por não ser como os outros, ou seja, se considerava superior. Por ter viso o publicano ali, sentiu-se motivado a dizer - quem saber por indireta, isso é moda para alguns "crentes" - que não era roubador, injusto e nem adúltero. E, é claro, fez questão de dizer que não era igual àquele publicano, porque era assim que ele o via e o julgava. Como estamos tratando nossos irmãos? Será que não estamos procedendo dessa mesma maneira em nossas orações e até nas pregações?

Lucas 18:12 - "Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo."
    Exaltar a si próprio é outra característica de pessoas soberbas; elas se gloriam por suas boas atitudes como se essas os tornassem superiores, sendo que na verdade são apenas o cumprimento de sua obrigação como bom cidadãos ou servos de Deus, nada mais que isso. Jejuar não precisa necessariamente ser um ato secreto, mas não deve ser usado como uma razão de engrandecimento por quem o pratica; do mesmo modo, entregar dízimos ou ofertas nada mais é do que um ato de amor e gratidão pela Obra de Deus, e não uma compra de santidade, bênçãos ou algo semelhante. Nossas ações espirituais ou ministeriais são para nossa edificação pessoal e não para a nossa promoção diante do público, e tampouco para desmerecer aqueles que isso não fazem ou que julgamos não fazer simplesmente porque não demonstram.

Lucas 18:13 - "O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!"
    O publicano, muito provavelmente, deve até ter ouvido a "oração" do publicano, mas isso não tirou seu foco da presença de Deus; ele não usou tais ataques ou indiretas para se escandalizar, sair do templo, e culpar o "irmão" por seu afastamento; pelo contrário, ele se aproximou ainda mais do Senhor. Confessou suas falhas e foi bem simples e objetivo: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" Confessar seus pecados e pedir misericórdia a Deus; essa é a atitude mais agradável diante dEle, pois com esse gesto admitimos o que somos: frágeis e incapacitados de nos regenerar por nós mesmos. Esse é o reconhecimento da dependência total de Deus. Como temos reagido diante da presunção e dos ataques alheios? Ainda que errem naquilo em que nos julguem, que tais críticas não sirvam para nos derrubar, mas para nos fazer rever certas atitudes e buscar forças nos braços do Pai.

Lucas 18:14 - "Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado."
    O injusto se considera bom o suficiente e melhor que os demais, enquanto que o justo reconhece suas dificuldades e procura pela misericórdia do alto para poder prosseguir. Quem tem algo para mostrar, não precisa se esforçar para isso, pois a exaltação vem de Deus e é Ele que, de algum meio, se encarrega de nos honrar. A justificação não está na presunção que expõe nossos atos, mas no zelo em oculto, cujas consequências positivas são expostas em público por aquEle que tudo vê. Não precisamos ter preocupação quanto ao que temos ou não temos, pois o que é nosso está seguro, seja isso em relação a coisas materiais ou simplesmente status, pois a honra provém daquEle  que nos chamou, e Ele não se agrada nem um pouco de quando tentamos honrar a nós mesmos, principalmente se isso implica em inferiorizar alguém.

Parábolas da Ovelha, da Dracma e do Filho Perdido

O Bom Pastor não reclama do
peso da ovelha, apenas se alegra
por te-la encontrado e a põe em
seus ombros; O Verdadeiro
Trabalhador não menospreza a
menor das moedas perdidas
porque sabe o quanto ela lhe
custou; o Pai do filho pródigo
não o rejeita porque seu amor
não se esgota por causa de seus
erros. Será que, como cristãos,
temos conseguido viver esses
exemplos buscando pelos
perdidos e nos alegrando
por encontrá-los?
Lucas 15:3-12

Lucas 15:3 - "E ele lhes propôs esta parábola, dizendo:"
    As parábolas da ovelha e da dracma perdida e também do filho pródigo estão inseridas em um mesmo contexto, possuindo também uma mesma mensagem. O que levou Jesus a contá-las foi a persistente murmuração dos escribas e fariseus que incansavelmente implicavam com o fato de Ele receber e comer com pecadores. Através do conteúdo das mesmas podemos perceber que seu objetivo era lhes mostrar que Ele não estava se misturando aos que praticavam pecados por apoiar suas atitudes, mas sim com o objetivo de lhes pregar a Palavra, dando a eles oportunidade para a salvação. Seus críticos eram religiosos assíduos seguidores da Lei que acreditavam que por seguirem fielmente os rituais prescritos nos mandamentos eram merecedores do céu, porém não atentavam ao fato de que suas atitudes de aparência não condiziam com seu coração pecaminoso que estava longe de Deus e, principalmente, a misericórdia pelos necessitados de uma mudança de vida também não existia neles.

Lucas 15:4 - "Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la?"
    Logo em primeiro plano Ele já ataca diretamente a hipocrisia deles. Essa pergunta era para faze-los refletir sobre suas atitudes como seres humanos e servos de Deus, pois estavam supervalorizando os que seguiam os dogmas religiosos como se nunca tivessem pecado e menosprezando os demais como se não houvesse mais solução para eles. Com isso Jesus queria que eles pensassem sobre o valor de cada um, pois para o Senhor todos são vistos como ovelhas, inclusive os que estão desgarrados. Com isso, Ele atingia em cheio um dos pontos que mais era ensinado na Lei e pregado por esses homens: o amor; muito se falava a respeito desse sentimento, mas não se aplicava na prática o que era aprendido porque o que eles mais amavam de fato era suas posições de status e sua fama como homens de Deus. Para não se contentar com noventa e nove ovelhas e ir atrás de uma perdida como se fosse única, é necessário muito amor por ela e respeito por seu Dono.

Lucas 15:5 - "E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo;"
    Como bem sabemos, o pastor teria que dar conta de cada uma delas, pois ele estaria apenas cuidando de algo que não lhe pertencia; além do mais, mesmo que lhe pertencesse, ele saberia o valor que ela tem e não se conformaria em ficar acomodado imaginando o quanto ela estaria sofrendo sozinha e abandonada num ambiente hostil, a mercê dos predadores e demais infortúnios. Achar uma ovelha perdida requer disposição, coragem e condições, porque não basta procurar, é preciso traze-la de volta. Uma ovelha adulta pesa mais de quarenta quilos e, estando perdida, possivelmente não estaria em condições de seguir o caminho de volta andando, então se faz necessário carregá-la nos ombros por vários metros ou mesmo quilômetros até o aprisco. Porém, todo esse esforço que desgasta o pastor lhe é recompensado pela alegria de ter cumprido sua missão colocando aquela pobre criatura indefesa num local seguro onde poderá ser cuidada.

Lucas 15:6 - "e, chegando à sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida."
    Você se alegra com o cumprimento de sua missão ou o faz por pura obrigação, encarando seu ministério como uma forma de alcançar a salvação ou evitar castigo? Saiba que tudo o que fazemos, devemos fazer simplesmente por amor, e que as demais coisas que possam sobrevir sobre nós são simplesmente consequências, mas não a razão para fazermos ou não fazermos algo. Um dos papéis de um líder é ter esse "espírito de convocação de alegria" aos demais, levando a Igreja a compreender o valor de uma alma. Jesus se alegrava em ter os pecadores à mesa porque eles o estavam ouvindo, e queria Ele que os amigos e vizinhos - escribas e fariseus - de igual modo se alegrassem por saber que aquelas pessoas que eles consideravam perdidas estavam prestes a mudar de vida. Se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram, esse é um dos conceitos mais básicos na pregação do autêntico Evangelho.

Lucas 15:7 - "Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento."
    Essa "alegria no céu" compreende todo o complexo de estado de sentimento espiritual no que se refere ao resgate de uma alma. O Pai se alegra porque seu desejo é que todos os homens sejam salvos; o Filho se alegra porque vê o quanto valeu a pena cada gota de seu sangue derramado na cruz; o Espírito se alegra porque encontrou um novo coração para fazer morada; os três juntos se alegram porque mais uma presa foi resgatada das unhas do adversário e assim o Reino dos Céus está se expandindo pela terra. Como o próprio Senhor disse, os sãos não precisam de médicos, mas sim os doentes; dessa forma compreendemos que nosso foco não tem que ser totalmente ou somente voltado para dentro das quatro paredes do templo, mas para fora delas que é onde estão os verdadeiros necessitados.

Lucas 15:8 - "Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?"
    De igual modo, a parábola da moeda perdida vem fortalecer o objetivo de sua mensagem; imagina o desconforto de se perder dinheiro, você já passou por isso? Um dracma era equivalente ao pagamento da diária de um trabalhador; imagine um dia inteiro de suor e cansaço perdidos, isso não é algo que se deixe pra lá, a pessoa vai empregar todos os seus esforços para reaver esse valor. Dentro dessa linha de raciocínio, Ele nos induz a compreender o valor de uma alma. Isso significa que quando menosprezamos alguém que se perde estamos menosprezando o trabalho e o preço que foi pago por ela: a morte de um inocente na cruz. Devemos considerar a cada um como um bem e jamais nos conformarmos com uma vida que desce à sepultura sem encontrar o caminho para fora da escuridão do abismo. Acender a candeia é buscar luz para procurar os perdidos, varrer a casa é não perder cada oportunidade que surge para falar do amor de Deus, busca com diligência é trabalhar cuidadosamente cada vida que se aproxima. 

Lucas 15:9 - "E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida."
    Mais uma vez Ele lembra da "convocação dos amigos e vizinhos à alegria". Como membro do Corpo de Cristo, qual é sua reação diante de uma alma que se converte ou se reconcilia? Infelizmente, muitos que se dizem cristãos, olham com desconfiança e reagem de acordo com o passado da pessoa, como se a mesma não merecesse uma oportunidade de mudança. Será que esses mesmos foram chamados sendo merecedores de estarem aonde estão? Eram eles dignos da misericórdia e do amor de Deus? O que nos difere ou nos torna melhores que criminosos, ateus, homossexuais ou prostitutas? Na prática, o que temos mesmo são pecados diferentes que também foram perdoados por misericórdia e amor divino, e o fato de termos sido recolhidos numa comunidade evangélica não nos deu um definitivo alvará de soltura do inferno, pois a Bíblia adverte que aquele que está de pé deve ter cuidado para não cair, ou seja, apenas recebemos uma oportunidade a qual também podemos perder a qualquer momento; essa era uma consciência que os escribas e fariseus definitivamente não tinham. Não despreze uma simples moeda! Ela vale muito mais do que você imagina.

Lucas 15:10 - "Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende."
    O que você tem feito no intuito de buscar as valorosas almas perdidas? Não se importar com isso significa ser indiferente ao tormento eterno que elas terão no inferno. Se os anjos do céu se alegram, quem somos nós para sermos indiferentes ao arrependimento de um pecador? O maior investimento de toda a história da humanidade foi feito pelo próprio Criador dela: Ele a amou de uma maneira tão grande e inexplicável deu seu único Filho para que todo aquele que nEle cresse não perecesse, mas tivesse a vida eterna. Preço de sangue; ver o resultado positivo desse inimaginável investimento proporciona sentimentos de alegria nos próprios seres celestiais, pois eles bem sabem o que isso significa. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus e, obviamente, que alegria poderia ter Ele em ver a condenação de sua criação nas chamas da eternidade? Porém, essa escolha é nossa por meio de nossas próprias atitudes. Nesse momento, qual é o sentimento do próprio Espírito Santo com os teus atos, palavras e pensamentos?

Lucas 15:11 - "E disse: Um certo homem tinha dois filhos."
    Para complementar sua mensagem corretiva aos críticos à pregação de arrependimento e oportunidade de salvação aos pecadores, agora Ele conta aquela que se tornou uma das mais conhecidas de suas parábolas: a história do filho pródigo. Pródigo, resumidamente, é um termo que expressa a atitude de uma pessoa que não se preocupa com o planejamento do amanhã e desperdiça o que tem em busca de prazeres momentâneos. Várias mensagens podem ser extraídas dessa narrativa, mas seu objetivo principal era mostrar aos escribas e fariseus que Deus mantém seus braços abertos para receber aqueles que se arrependem de seus erros. A figura de um filho que saía de casa, gastava tudo o que tinha e passava a ter uma vida de sofrimento depois, não deveria ser algo muito incomum na época, então não seria muito difícil para eles entenderem isso. Os dois filhos representam o pecador arrependido e o crente religioso que julga seu próximo como não merecedor de uma outra chance. Será que as vezes não agimos assim?

Lucas 15:12 - "E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda."
    O mais novo pedir a herança antes da morte do pai já era um desrespeito por dois motivos: por questão de primogenitura ele ultrapassou os direitos do mais velhos, e por estar o pai ainda vivo e ele ainda solteiro, ele demonstrava que não queria mais viver sob suas ordens. Tais sentimentos de desprezo pelos direitos alheios ou desrespeito por valores morais são as causas mais comuns para o afastamento de muitos da Igreja. No entanto, analisando toda a parábola, o pai não repreendeu ou sequer questionou o filho por sua atitude, apenas o recebeu com imensa alegria e, a exemplo das duas parábolas anteriores, chamou outras pessoas para se alegrarem com ele. Resumindo, a porta da Casa permanece aberta, mas é necessário que se retorne antes que ela se feche. Você consegue se alegrar com a volta de seu irmão ainda que ele não tenha agido com sensatez?

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Nosso Maior Chamado é Para a Transformação

Criou-se o costume de dizer "fui
chamado para isso, fui
chamado para aquilo
", mas a
maioria se esquece do maior de
todos os chamados: a
transformação; a partir dela 
é 
que os demais chamados se 
desenvolvem, pois obediência
consiste em transformação e
quem é transformado honra seu
compromisso com o chamado
para a Obra.
1ª Pedro 1:14 - "como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância;"

Contexto
- Essa epístola foi escrita por volta do ano 60dC., pelo próprio apóstolo Pedro; 
- Seu nome, em hebraico, pode ser traduzido como Fragmento de Rocha (a grande rocha é Cristo, nós somos apenas fragmentos).
- Seus destinatários eram os cristãos que viviam nas províncias romanas da Ásia menor. 
- Conforme está escrito em 1ª pedro 5:13, quando escreveu, ele estava num lugar chamado Babilônia (a Bíblia não revela que Babilônia seria essa e nem a situação do apóstolo).
- Seu principal conteúdo fala sobre esperança da salvação, santificação, a Pedra de Esquina, conduta conjugal, humildade, vigilância e resistência ao Diabo.

Mensagem
- Nos versículos anteriores, pode-se notar uma preocupação do apóstolo em relação à conduta dos novos crentes no que se refere ao zelo pela salvação.
1ª Pe 1:3-5,10,11 - "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, 4para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós 5que, mediante a fé, estais guardados na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar no último tempo, 10Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, 11indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir."

- Numa época em que muitos enfatizam seu chamado, poucos atentam para o mais importante de todos os chamados, a obediência; ela deve ser o foco de quem se dispõe a servir a Deus. 
Mt 26:39,42 - "E, indo um pouco adiante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. 42E, indo segunda vez, orou, dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade."

- Pessoas verdadeiramente transformadas pelo Evangelho não se conformam com a situação desse mundo. 
Rm 12:1,2 - "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus."

- Transformação é a marca registrada de quem realmente tem o Senhor reinando em seu coração. 
2ª Co 5:17 - "Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo."

- Ser santo - separado - não é uma opção, mas sim uma obrigação para quem se julga cristão.
1ª Pe 1:15,16 - "mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, 16porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo."

- Santificação não é um estado periódico, mas sim uma ação permanente na vida do crente nessa terra. Você foi chamado pra isso.
1ª Pe 1:17 - "E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação,"

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Parábola da Viúva e o Juiz

O objetivo da parábola da viúva
e o juiz iniquo não é comparar
Deus a um homem pecador,
mas sim nos ensinar que, por
meio da persistência,
demonstramos fé agradando a
Ele e assim alcançando
misericórdia.
Lucas 18:1-8

Lucas 18:1 - "E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer,"
    Sendo considerada por muitos estudiosos como uma parábola de difícil interpretação, essa história contada por Jesus tem um encaixe perfeito no cenário evangélico atual em que predomina o determinismo profético disfarçado de fé. Num tempo em que a oração como clamor tem sido substituída por expressões de autoridade que "decretam bênçãos", pregar e ensinar textos como esses tornou-se uma necessidade urgente. A perseverança em oração é o segredo de qualquer conquista ou conforto em possíveis derrotas. A oração é o veículo que nos transporta do mundo natural para o sobrenatural, levando-nos diante do trono de Deus. É por meio dela que necessidades e agradecimentos são expostos diante dEle; não que Ele precise de nossa verbalização para sabe-los, pois é onisciente, mas nós precisamos falar com Ele para senti-lo próximo a nós.

Lucas 18:2 - "dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava homem algum."
    Nos tempos de Jesus, pelo que se pode entender dos conceitos históricos, o governo romano mantinha um magistrado a seu serviço para julgar problemas sociais e outro a serviço religioso que defendia questões de interesse apenas dos judeus. No caso em questão, o juiz que tratava a causa possivelmente social dessa viúva era romano e não judeu, e por essa razão não tinha temor a Deus e nem se preocupava em garantir retamente o direito das pessoas. Isso nos mostra que corrupção entre os poderosos não é exclusividade da atualidade. Os juizes da época possuíam grande poder, o equivalente a um representante político dos dias atuais. Mas nem todos honravam o compromisso que lhes era confiado e tampouco alguma consideração por aquele povo; muitos do magistrado estavam ali apenas interessados no que ganhavam no exercício da função.

Lucas 18:3 - "Havia também naquela mesma cidade uma certa viúva e ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário."
    Imagina a situação daquela viúva, sabendo que teria que enfrentar uma pessoa tão difícil de se lidar, a qual tinha o poder nas mãos para resolver o problema dela ou prejudicá-la de vez. É interessante destacar o fato de que, naquela época, quase todos os casamentos eram arranjados pelos pais quando a mulher era ainda adolescente e, devido a isso, elas se casavam muito novas com homens geralmente bem mais velhos, o que fazia com que eles morressem, deixando-as viúvas ainda muito novas. Por costume da própria cultura, poucas eram bem instruídas e aptas para serem inseridas no mercado de trabalho e, por essa razão, dependiam totalmente dos maridos; assim sendo, quando eles morriam elas dependiam dos bens que eles haviam deixado. Não havendo herança, elas se tornavam totalmente desamparadas. Como é de se imaginar, havia muita disputa em torno de algum bem deixado por homens que poderiam ter dívidas ou até mesmo outras famílias e, certamente, elas ficavam a mercê de muitas injustiças. Dessa forma, se fazia necessário, por vezes, que algumas delas procurassem seus direitos diante dos magistrados.

Lucas 18:4 - "E, por algum tempo, não quis; mas, depois, disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens,"
    Esse "por algum tempo" aqui relatado expressa que nem tudo é para sempre. O "não quis" demonstra que não há incapacidade em Deus, mas tudo depende do seu querer. É óbvio que numa parábola nem tudo tem um significado literal, pois nesse presente caso, Jesus está usando a figura de um juiz incrédulo e corrupto para representar o próprio Deus; no entanto, seu objetivo é nos ensinar que a soberania divina está acima dos poderes humanos e dos próprios homens; pois nenhuma circunstância e nem ninguém teria influência sobre a decisão daquele juiz. Mas, nesse ponto da história, vemos ele já reconsiderando sua decisão mesmo não se vendo na obrigação de voltar atrás em seu propósito de não atende-la. Deus está acima de nossos "deuses" e de nossas vontades ou até mesmo necessidades; tudo o que alcançamos é puramente por misericórdia dEle.

Lucas 18:5 - "todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte e me importune muito."
    O juiz dessa parábola resolveu atendê-la, não porque considerou que ela merecesse ou tampouco porque ele próprio tinha a vontade de satisfazê-la, mas sim porque sua insistência em bater à sua porta o incomodava. Quem sabe, estaria ele resistindo a esse pedido para ver se realmente essa causa era tão importante para ela; pois muitos são os que colocam ações de questões não prioritárias diante do poder público, mas desistem devido a demora, dando assim a entender que as mesmas não eram de suma importância. O molestamento por parte dessa mulher representa nossa persistência em pedir ao Senhor por algo sem desistir, mesmo diante da demora em sermos atendidos. Persistência é sinônimo de fé, e sem fé é impossível agradar a Deus. A Bíblia nos ensina a bater até que a porta se abra; a pedir até que nos seja dado.

Lucas 18:6 - "E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz."
    Aqui o Senhor manda que prestemos atenção ao que um juiz desonesto disse, e suas palavras foram: "como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte e me importune muito"; ou seja, ela foi atendida porque o incomodou, ela não aceitou um "não" como resposta, e para não ter que suportá-la mais com aquela petição, ele a atendeu. Essa ilustração feita pelo próprio Senhor Jesus parece nos induzir à uma espécie de atrevimento em nosso clamor diante do verdadeiro Juiz, afirmação essa que daria uma certa base para a aplicação da Teoria da Prosperidade, porém aqui não se trata de colocar Deus numa situação em que Ele se sinta obrigado a nos atender, mas sim de mostrarmos o quanto confiamos nEle e acreditamos no seu poder para nos socorrer, a ponto de persistirmos até Ele nos atender. A razão disso foi mostrar que se mesmo um homem corrupto se sensibilizou com a mulher devido a sua insistência, quanto mais Deus vendo nossas necessidades.

Lucas 18:7 - "E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?"
    O que vemos aqui não é simplesmente um homem ímpio que resolveu ajudar uma pobre mulher somente pelo fato de estar incomodado com a presença dela em seu recinto; mais do que o incômodo, o que o fez mudar de postura foi se sensibilizar diante do sofrimento de uma pessoa que não desistiu mesmo após várias negativas ou mesmo o silêncio dele. Se um pecador pode se comover diante de alguém que clama, quanto mais Deus que é, além de justo, cheio de misericórdia. Seu amor é incompreensível e incomparável para conosco, e seus ouvidos se inclinam para ouvir aqueles que o servem e, a todo momento, o buscam de várias formas crendo que ouvirão sua voz e verão suas mãos estendidas, tanto para abençoá-los quanto para abraçá-los em momentos de necessidade de um consolo em seu coração. A expressão "tardio para com eles" não significa que Ele demora, mas que, ao nosso ver mediante o sofrimento, sua resposta deveria ser mais rápida.

Lucas 18:8 - "Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?"
    Observe que depois de dizer "ainda que tardio para com eles", Ele usa o termo "depressa, lhes fará justiça", essa é a comprovação de que o tempo que parece demorado para o homem é rápido para Deus; resumindo, o tempo dEle não é o nosso, pois Ele sabe qual é momento certo para tudo, nós é que não sabemos esperar. Mas a grande pergunta desse texto é: "Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?". Essa pergunta tem sentido tanto escatológico e coletivo quanto atual e pessoal, pois mexe com nosso estado espiritual, do qual depende nossa vida cotidiana e também futura. Quando clamamos por justiça olhando para Ele como o grande Juiz, o que Ele vê em nós? Importunadores que apenas serão ouvidos pela sua misericórdia ou seguidores dignos que, mesmo cheios de falhas, procuram viver retamente sendo justos cidadãos nessa "cidade"?