terça-feira, 13 de novembro de 2018

Parábola do Credor Incompassivo

O perdão, assim como as demais
bênçãos que recebemos de
Deus, servem não para mostrar
o quanto somos justos e
merecedores daquilo que Ele
nos dá, mas sim se temos ou não
o caráter santo de um verdadeiro
cristão que tenha negado a si
mesmo e tomado a sua cruz para
poder segui-lo.
Mateus 18:23-34

Mateus 18:23 - "Por isso, o Reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;"
    Uma pergunta meio que ingênua de Pedro foi o que motivou Jesus a contar essa parábola: "Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?"; a resposta do Mestre foi bem objetiva: "Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete". Devemos lembrar que na numerologia bíblica o número sete representa perfeição e plenitude, o que significa que o perdão deve ser perfeito e pleno, ou seja, verdadeiro e por completo; multiplicar o sete por setenta parece um exagero, mas representa a misericórdia ilimitada que devemos ter com nosso próximo. Logo no início da parábola Ele cita um rei fazendo prestação de contas com seus servos, isso se refere o Grande Julgamento em que o Senhor vai requerer de nós aquilo que nos devemos, e isso inclui como tratamos os irmãos, os familiares, os amigos e até os inimigos.

Mateus 18:24 - "e, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos."
    Dez mil talentos, numa conta superficial e de resultado aproximado, considerando que um talento valeria cerca de mil dólares, hoje seria em torno de dez milhões de dólares; para qualquer pessoa seria simplesmente impossível pagar. Esse valor aparentemente exagerado na ilustração de Jesus foi exposto propositalmente para nos ensinar que a dívida que temos para com Ele é impossível de ser paga por nós e, assim sendo, somente mesmo o perdão por misericórdia é que pode nos livrar dessa dívida que nos levaria à inevitável condenação. Tudo o que fazemos de errado é um débito a mais em nosso cartão de crédito espiritual e, quando a fatura chegar, perceberemos que nossas boas ações ou intenções não tem poder para diminuir os juros dessa dívida; e o pior ainda é que descobriremos que no nosso cofrinho da religiosidade e da boa aparência não temos um saldo que chegue nem perto desse valor. Então, somente o que resta é apelar pelo perdão do Rei para não termos a condenação como herança de nossa imprudência.

Mateus 18:25 - ", não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher, e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse."
    Pela Lei, a pessoa poderia ser entregue como escrava para o pagamento de uma dívida, e isso poderia ainda incluir sua família. A imprudência do pecado, e até mesmo das dívidas impensadas, podem nos tornar escravos e causar também sofrimentos aos que fazem parte de nosso convívio. Não ter com o que pagar ou não saber lidar com um problema gera consequências negativamente incalculáveis, as quais envolvem questões financeiras, morais, psicológicas, físicas e também espirituais; tudo isso junto, de maneira praticamente inevitável, provoca a desestruturação da família. Esse homem, provavelmente, ao pedir um valor tão alto de empréstimo aos tesoureiros do reino, certamente, só pensou em sua dificuldade ou vontade no momento, mas não analisou o que poderia acontecer no futuro. Tal despreocupação momentânea causou o risco de punição tanto a ele como também à sua família. Em suas decisões você costuma pensar apenas em si próprio ou tem a dignidade de se lembrar que possui uma família?

Mateus 18:26 - "Então, aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei."
    Mesmo estando totalmente errado e sendo uma pessoa imprudente, esse homem nos dá uma lição sobre a importância do arrependimento e a busca do perdão. Jesus o identifica como servo, isso lembra nossa situação diante do Rei, somos simplesmente servos e devemos nos portar de acordo com nossa condição sabendo nos colocar devidamente perante seu trono. Somos prestadores de serviço e não donos do Reino; Ele se prostrou, isso é sinal de humildade, a qual representa o nosso  dever de reconhecimento da superioridade de Quem está acima de nós. Um súdito jamais poderia fazer qualquer gesto que insinuasse grandeza ou mesmo igualdade perante o rei; Reverência, isso significa respeito, é a demonstração fundamental de que sabemos que não somos merecedores de estar aonde estamos. Ocupar lugar de destaque no ministério não nos torna melhores ou superiores, mas apenas portadores de uma maior responsabilidade. Ele implorou por sua generosidade, prometendo que lhe pagaria. Essa é uma atitude que nos leva a entender que o clamor pela misericórdia seguido pela disposição de corrigir o erro ou pelo menos mudar de atitude é essencial para se alcançar o favor divino.

Mateus 18:27 - "Então, o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida."
    Mesmo sendo humano e estando diante de um devedor totalmente errado na situação, aquele rei se compadeceu e, sabendo que o servo, mesmo tendo prometido que lhe pagaria, jamais teria de fato condições de lhe pagar, generosamente perdoou, soltando-lhe e perdoando sua dívida. Nosso clamor surte resultado diante do Rei. Mesmo conhecendo nossa condição de criaturas frágeis diante das tentações do pecado, Ele nos concede nova oportunidade quando nos humilhamos aos seus pés. Ele sabe que não temos condições de pagar nossa imensa dívida e também de nossa tendência a voltar a errar, mas seu amor é maior que nossos instintos pecaminosos e Ele zera nossos débitos para que possamos tentar uma nova vida. Não é o nosso merecimento que o convence, mas a sua própria misericórdia nos presenteia com uma nova chance.

Mateus 18:28 - "Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem dinheiros e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves."
    Aqui já podemos ver a hipocrisia no coração do homem. Após ser perdoado e se ver absolutamente livre pelas ruas sem mais nada dever, ele encontra alguém que lhe devia o valor irrisório de cem dinheiros, ou cem denários - algo que hoje seria em torno de vinte dólares -, porém, surpreendentemente, sua reação e atitude foram as piores possíveis: ele foi incompassivo, incompreensivo, ofensivo e agressivo; totalmente o contrário do rei que acabara de lhe perdoar e que tinha razões suficientes para ter agido de forma truculenta. "Paga-me o que deves!", essa é uma expressão que, geralmente, embora seja dita por alguém que tenha por direito receber algo, apenas expõe o egoísmo e a falta de amor e perdão em relação a alguém que lhe cometeu alguma falta. O problema, ma verdade, não está na cobrança em si, mas na forma como ele a fez lançando mão dele e o sufocando, ou seja, de forma desrespeitosa e violenta. Como estamos tratando nossos devedores mesmo sabendo que fomos perdoados não merecendo perdão?

Mateus 18:29 - "Então, o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei."
    Mediante a narração dessa cena paramos para pensar em quanto, muitas vezes, o ser humano é ignorante, insensato, cruel e hipócrita, porque se esquece com facilidade seus erros, seu passado, suas raízes e das boas atitudes alheias que já foram tomadas em relação a ele em momentos de dificuldade e aflição. Talvez você esteja aí pensando: "Ainda bem que eu não ajo dessa forma!", mas você consegue imaginar quantas vezes negou ajuda a alguém necessitado? Hoje mesmo você pode ter feito isso de várias formas: é aquele "bom dia" que você não respondeu, aquela Palavra que te veio ao coração e você não falou, aquela pessoa para quem você disse que ia orar e não orou, aquele pedido de desculpas que você não aceitou, aquele erro que você presenciou e não corrigiu, aquele ferido que você viu caído e não socorreu e também aquele devedor de quem você poderia ter perdoado a dívida e não perdoou. Se não vigiarmos, estamos negando pedidos de ajuda o tempo todo e, ao mesmo tempo, "louvando" a Deus sorridentemente achando que Ele está aplaudindo nossas atitudes.

Mateus 18:30 - "Ele, porém, não quis; antes, foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida."
    Essa negativa a um pedido de prorrogação do prazo para o pagamento da dívida, seguida da entrega à prisão vai muito além dos direitos civis, os quais ele podia usufruir livremente. Direitos legais não podem sobressair às nossas obrigações espirituais e morais; como pessoas justas e, acima de tudo, servos do Rei, devemos muitas vezes abrir mão de alguns direitos. Dar a outra face, deixar a capa e caminhar mais uma milha são preceitos que, ainda que figurados, ainda não foram e nunca serão abolidos do autêntico Evangelho; tudo é lícito, mas nem tudo convém; se o teu irmão se escandaliza pelo que você come, então não coma. Tais princípios permanecem em vigor, pois caracterizam a verdadeira Lei do Reino do qual somos súditos. Em outras palavras, muito se prega e mais ainda se cobra sobre o amor, mas quando se trata de vive-lo, muitos perdem suas máscaras revelando-se na práticas como inimigos da cruz de Cristo. Quantos você já encerrou na prisão hoje por achar que justiça se resume no seu próprio bem-estar?

Mateus 18:31 - "Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara."
    O interessante é que ele estava sendo observado, e certamente sabia disso; mas não se importava por achar que o povo consideraria justa aquela atitude. Muitas vezes, enganamos a nós mesmos com nossos falidos conceitos de justiça. Quem presenciou aquela barbárie logo tratou de comunicar o ocorrido ao rei. Como cristãos, que imagem estamos passando aos que nos observam? As pessoas não querem saber se a situação é humanamente justa ou não, o que elas esperam mesmo é ver alguma diferença em nós. O Evangelho que pregamos e os testemunhos do perdão divino que contamos devem se completar com as atitudes que tomamos, não em relação àqueles que são bons para conosco, mas para com aqueles que nos devem, nos ferem, nos maltratam de alguma forma ou simplesmente têm algo contra nós. Nosso testemunho prático pode tanto ganhar como também matar almas, e ainda salvar ou condenar a nós mesmos.

Mateus 18:32 - "Então, o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste."
    Agora, lá vai ele de novo diante do rei. A posição do monarca era firme e não aceitava justificativas; ele próprio formulou a acusação chamando-o de malvado e lembrando do perdão que o mesmo havia suplicado e alcançado. É interessante frisar que mesmo assim ele o chamou de servo - servo malvado -; isso nos faz refletir que mesmo os que erram ainda podem ser chamados de servos do Rei, mas isso não significa que eles serão justificados, pois muitos naquele Dia vão dizer "Senhor, em seu nome, fiz isso, fiz aquilo", mas resposta que terão é "Apartai-vos de mim vós que praticais a iniquidade". O segredo não é ser servo, mas sim ser servo fiel; e o servo fiel perdoa, pois jamais esquece ou desconsidera o fato de que ele também já necessitou - e ainda pode necessitar - de perdão. Que testemunho o Rei daria agora de você se te levassem para acusá-lo diante dEle?

Mateus 18:33 - "Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?"
    O rei não se contentou em apenas dar o veredito final. Por seu justo caráter viu ele a necessidade de explicar o porquê de sua decisão, onde estava o erro do servo que se tornou réu. Ele mostrou que sua atitude anterior de perdoar a dívida de dez mil talentos deveria ter sido tomada como exemplo por ele. Quem narra essa parábola é aquEle mesmo que disse "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração"; mansidão e humildade não são das lições mais fáceis e agradáveis na Escola do Grande Mestre, mas se errar o resultado da equação "setenta vezes sete" não tem como passar na prova final e vai ficar retido num lugar nada agradável onde não tem recuperação. Você já parou pra pensar que muitos infortúnios que você passa podem ser resultados do veredito do Rei que não está muito contente com suas atitudes em relação ao próximo?

Mateus 18:34 - "E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. 
    Indignado. Assim se resumiu o estado do rei que cumpriu seu papel na execução da justiça. A ordem é que ele fosse entregue aos atormentadores até que pagasse tudo o que devia; será que ele suportou o tormento e conseguiu pagar a dívida? Espiritualmente, podemos interpretar essa sentença em dois sentidos: Primeiro, o Senhor permite que o inimigo nos cause vários tipos de tormento, levando-nos a sofrer ainda em vida para "pagarmos" por nossos erros e assim também reconhecermos nossos pecados e nos arrependermos deles; Segundo, Ele permite ao inimigo ceifar nossa vida levando-nos ao lugar de tormento eterno como castigo pelos nossos pecados devido ao fato de não termos nos arrependido deles, mas lá, por mais que soframos, o pagamento jamais vai resultar em liberdade. Então é melhor "pagarmos" para sermos livres do que pagarmos eternamente as consequências de uma vida de desobediência ao Rei. Como Ele ensina no versículo seguinte, perder a chance de ser perdoado é uma consequência por não perdoar as ofensas que se recebe: "Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas".

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