terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O que é Transformação? O que Preciso Mudar para Agradar a Deus?

A transformação agradável a
Deus vai muito além da
aparência, pois ela depende de
uma completa mudança
interior.
    Apesar de ser esse um enorme desafio para pessoas de todas as idades, para um jovem - devido ao fato de estar numa fase de grandes descobertas e muita vulnerabilidade às influências -, se converter ao Evangelho ou, como dizem por aí, passar a ser crente, representa muito mais do que uma simples opção religiosa, pois requer dele uma radical mudança de vida (Sl 1:1,2). Como, praticamente em tudo na vida, o começo é difícil, não pense que a decisão de frequentar uma igreja e obedecer a doutrina por ela pregada será diferente. O choque que envolve todos os seus costumes é inevitável porque se você está mesmo disposto a servir a Deus e entendeu que para isso foi necessário se converter, deve também entender que converter significa mudar, e se a questão é agradar ao Senhor, essa mudança significa uma diferença no modo de viver a partir de agora. Mas, em que ponto começa essa transformação? De acordo com a Bíblia, em nossa própria mente, ou seja: é preciso haver mudança em nossa forma de pensar para que compreendamos a necessidade de “nascermos de novo”; somente assim seremos herdeiros das grandes promessas de Deus.

Não se conformando com esse mundo (Rm 12:2)
    No sentido original, em grego, se conformar significa moldar-se de acordo com o padrão de alguém. Espiritualmente falando, expressa o perigo que corre o cristão em relação às influências mundanas. Quando existe uma verdadeira conversão, automaticamente, a pessoa sente um desejo e uma necessidade de mudança. Sua decisão de seguir o Evangelho é o reconhecimento de que seu antigo modo de viver, de acordo com os costumes desse mundo, não lhe é saudável tanto a nível material como pessoal. Esse é o seu sinal de inconformismo com a situação, o qual deve se refletir dentro da casa de Deus, levando a pessoa a não se contentar que coisas desagradáveis ao Senhor sejam inseridas no culto prestado a Ele, o que envolve também seu próprio modo pessoal de adorar e viver. Os jovens são diariamente bombardeados por más influências tanto fora quanto dentro da igreja, e somente quando isso passa a incomodá-los é que eles podem ter a certeza de que realmente estão se desapegando das coisas mundanas (1ª Jo 2:14-17[1]; Cl 3:1-4).

Se transformando pela renovação do entendimento
    O não-conformismo com a situação gerada pelo pecado é o primeiro sinal de que sua vida está sendo transformada; a entrega de tudo ao Senhor lhe proporciona uma mudança de pensamento: uma outra visão do mundo e de si próprio. Essa busca por mudança interior te leva à uma mudança exterior que resulta numa maior compreensão em relação aos seus pais, irmãos, amigos, professores e tudo mais que faça parte de seu convívio. Quem passa por essa renovação de entendimento reclama menos, aprende a manter o autocontrole, não sofre tanto com a ansiedade, aprende a lidar com o stress, não se entrega às decepções e nem se ilude facilmente com seus sentimentos, pois tais coisas se originam e são controladas pela mente. Essa mudança de entendimento é o resultado da fé, a confiança em Deus, o que faz com que a pessoa descanse por saber que é Ele quem está cuidando dela (Gl 5:22; Rm 8:28; 1ª Co 10:12,13).

Experimentando a boa, agradável e perfeita vontade de Deus
    Experimentar, ou conhecer, a boa, agradável e perfeita vontade de Deus significa viver tudo aquilo que Ele tem para nós, o qual é bom, agradável e perfeito; no entanto, devemos cuidar para que o que estamos fazendo seja também bom, agradável e perfeito aos seus olhos. Alcançar essa experiência e obter esse conhecimento é a consequência positiva do inconformismo aos padrões mundanos e da transformação do seu entendimento; então, estar no centro de sua vontade é uma bênção condicionada a esses fatores. Assim sendo, para saber se nossa mudança - tanto interior quanto exterior - está de acordo com a vontade de Deus, é necessário analisar se nossos atos, palavras e pensamentos produzem efeitos positivos proporcionando uma vida saudável em todos os sentidos e revelando a santidade ensinada nas Escrituras Sagradas; essa é a combinação de benignidade, agradabilidade e perfeição. Em um mundo em que a juventude, para ser considerada normal, tem que aplaudir e praticar tudo o que é mal, desagradável e imperfeito aos olhos do Senhor, tem você conseguido fazer a vontade dEle (1ª Pe 1:13-16[2] [3] [4])?

Ocupando a mente com coisas em que há virtude e louvor (Fp 4:8[5] [6])
    Com tantos convites atrativos para o pecado, é muito difícil, principalmente para os jovens, manter a mente ocupada com coisas virtuosas, que são aquelas realmente dignas de algum louvor. De acordo com a Bíblia, isso exige um comprometimento com a verdade, a honestidade, a justiça, a pureza, o amor e a decência. Nossos pensamentos refletem em nosso comportamento, e essas são as características de alguém que realmente tem uma vida transformada cujo objetivo é fazer a vontade de Deus. Agora, entendamos isso na prática: a tendência natural do ser humano é a satisfação do seu ego e do seu corpo, pois ambos pedem isso; pela lógica, se existem esses desejos já inseridos em nós, poderíamos considerar que não somos culpados e nos entregarmos a tais desejos. No entanto, não podemos jamais nos esquecer que servir ao Senhor consiste no sacrifício da renúncia, a qual deve ser aplicada sempre nos momentos de maior tentação. Isso significa que, para não desagradar a Deus, a cada momento, nossa mente e nosso coração devem estar cheios de coisas boas para não agirmos de acordo com a carne. Não se esqueça: só podemos colocar pra fora aquilo que realmente temos dentro de nós  (Lc 6:43-45[7] [8]).

Nascendo de novo (Jo 3:3)
    A expressão “nascer de novo” traz a clara ideia de recomeço, ou seja: servir ao Senhor significa começar uma nova vida; mudar totalmente a sua rotina, os seus costumes, alterando seus hábitos - mudando, incluindo ou retirando - de forma que todas as suas atitudes, palavras e até pensamentos sejam agradáveis a Ele. Nascer de novo consiste em se auto examinar identificando suas falhas, ter disposição para incluir em sua vida “sacrifícios” para andar em obediência e retirar dela coisas que lhe pareçam benéficas, mas que possam interferir em sua comunhão espiritual. Nascer de novo é começar do zero, aceitando a oportunidade da salvação lhe concedida gratuitamente, bastando para isso cumprir suas condições: fé, obediência e santidade (Jo 3:16-19[9]; 1ª Pe 1:22,23).

Vivendo sem murmurações e nem contendas (Fp 2:14[10] [11])
    Reclamar e gerar confusão: duas coisas quase impossíveis de se evitar para a maioria dos cristãos, principalmente quando se vive em meio à adversidades e confrontos; a juventude atual, tendo uma vida tão interativa, sabe muito bem como é isso. E por que essas coisas incomodam tanto a Deus? Como bem sabemos, reclamar expressa insatisfação e, como servos do Senhor, devemos compreender que Ele está no controle de nossa vida e tem um propósito em tudo, até em nosso sofrimento; assim sendo, se reclamamos é porque não confiamos e se não confiamos é porque não aceitamos sua vontade soberana sobre nós, então não estamos agindo como servos. Quanto aos confrontos - seja contra irmãos ou contra ímpios -, essa é a prova de que não amadurecemos em relação ao que o Evangelho nos ensina: amar, perdoar e saber conviver com as diferenças; dessa forma, mais uma vez, não estamos agindo como servos. Suportar com calma as contrariedades da vida é o que demonstra que estamos frutificando espiritualmente (Hb 12:14).

Irrepreensíveis e sinceros no meio de uma geração corrompida e perversa (Fp 2:15)
    A corrupção que nos cerca quase que nos torna merecedores de medalhas e troféus quando não nos rendemos a elas; no entanto, o que precisamos compreender é que manter-se indigno de repreensão é uma obrigação daquele carrega o nome de cristão, considerando ainda que, nesse sentido, para vergonha nossa, muitos ímpios são mais cristãos do que alguns que professam o cristianismo. Ser irrepreensível significa não dar motivos para que alguém te acuse, sabendo que se isso acontecer, os acusadores estejam simplesmente mentindo a seu respeito; consciência tranquila é tudo na vida de um crente. “Assombrar” os incrédulos com sua honestidade mesmo em um tempo em que o certo é considerado errado e vice-versa, mostrando-lhes que a corrupção e a perversidade desse mundo não te contagiou, é uma forma de lhes mostrar que a transformação é sim totalmente possível. E isso serve não somente para defender a reputação de sua nova vida diante deles, mas também para evangeliza-los, dando-lhes exemplo de que podem sim alcançar uma vida melhor e também o perdão divino. Resplandecer como astro no mundo, nada mais é do que fazer a diferença conseguindo mostrar por meio de atitudes  que se converter ao Evangelho produz mais do que o costume de frequentar uma igreja ou usar roupas diferentes; essa conversão gera uma nova pessoa (Mt 5:16).

    Transformação é mudança. E uma mudança, para ser agradável a Deus, tem que provocar uma melhora tanto a nível interior quanto exterior. No que se refere ao lado religioso, que também não deixa de ser importante, é sim inevitável um choque que pode até mesmo leva-lo a querer desistir, pois isso vai envolver conceitos doutrinários ministeriais que poderão te exigir mudanças em seus hábitos culturais, estéticos, sociais, emocionais e até físicos: Sabe aquelas músicas de conteúdo impuro, aquela roupinha que revela um pouquinho mais do que deveria, aquelas baladas com amigos não muito santinhos, aquele namoro sem compromisso e sem proibições, aquele cigarrinho e aquela cervejinha... enfim, várias coisas boas que, bem lá no fundo, você sabe que te prejudicam? Então, líderes sérios te ensinarão que isso precisa ser mudado ou até mesmo excluído de sua vida. Porém, nenhuma dessas mudanças será conquistada, ou surtirá efeito positivo, se não for direcionada espiritualmente. Quando você se entregar totalmente, vai perceber que essa direção espiritual te levou à uma comunhão tão grande com o Espírito Santo que Ele te fará se sentir bem ou mal de acordo com suas atitudes (Gl 5:16,17).



[1]Concupiscência: Forte e continuado desejo de fazer ou de ter o que Deus não quer que façamos ou tenhamos (Rm 7:8). Desejos carnais.
[2]Cingir: Amarrar ao redor da cintura (Êx 29:5; Jo 13:4). Prender no cinto (Sl 45:3). Conceder (Sl 18:39). Cercar (Sl 30:11). Ter sempre consigo (Ef 6:14). Aprontar-se para o trabalho ou para a luta (1ª Pe 1:13).
[3]Sóbrio: Moderado; controlado (1ª Ts 5:8). Popularmente refere-se a alguém consciente em suas atitudes.
[4]Santo: (Latim: sanctu) Separado. Que obteve no Céu a recompensa prometida aos que observam os ensinamentos evangélicos; bem-aventurado, eleito. Que vive conforme a lei de Deus; que inspira benevolência e piedade; bondoso; que cumpre com todo o escrúpulo, com a maior exatidão, os seus deveres religiosos e morais; virtuoso. Com o caráter de santidade; dotado de santidade. Termo usado na Bíblia em referência à Igreja e seus membros (1ª Co 1:2; 6:2;; 2ª Co 1:1; Ef 1:4; Fp 4:21,22). Que se refere à religião ou ao rito sagrado. Consagrado ao culto, à divindade; sagrado. Digno de respeito e veneração pelo seu caráter, talento e virtudes. Que é digno de respeito; quem o desrespeita comete um ato de profanação. Que não faz mal a ninguém; ingênuo, inocente, simples. Benéfico, profícuo, útil.
[5]Virtude: Hábito de praticar o bem, o que é justo; excelência moral; probidade, retidão. Boa qualidade moral. O conjunto de todas as boas qualidades morais. Austeridade no viver. Força moral; valor, valentia, coragem.
[6]Louvor: Ato de louvar. Aplauso, elogio, encômio. Glorificação. Expressão usada para se referir às músicas feitas para adorar a Deus.
[7]Vindimar: Colher uvas.
[8]Abrolho: Espinho (Mt 7:16).
[9]Unigênito: Único gerado. Filho único.
[10]Murmuração: Ato de murmurar. Censurar ou reclamar.
[11]Contenda: Briga. Confusão; desentendimento.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Como Defender a Fé Num Ambiente Secular?

Tanto para jovens como para
adultos, defender a fé num
ambiente secular consiste em
 ter convicção que está seguindo
o caminho certo e firmeza para
enfrentar as oposições
determinando-se a agradar a
Deus acima de tudo e de todos.
    Tanto em casa quanto na rua, na escola ou no trabalho é necessário conviver e interagir com familiares, parentes, conhecidos, colegas, amigos e também pessoas estranhas que professam algum outro tipo de fé ou fé nenhuma. Em muitos casos, quando os mesmos provocam algum tipo de conflito, não dá simplesmente para ignorá-los porque se trata de pais, irmãos, professores e chefes, ou seja: pessoas a quem você deve uma atenção a mais. O que fazer nesses casos? Como não perder a paz com eles e muito menos a comunhão com Deus? A resposta está na maneira como você encara esse tipo de situação. Em vez de vê-los como inimigos, deve começar a enxergar a cada um deles como pessoas necessitadas de ajuda e a cada afronta como uma oportunidade de evangeliza-los.
 Você tem certeza que conhece e sabe viver no mundo que existe a sua volta (Mt 10:16)? Quando persistimos na decisão de servir a Deus não fazendo questão de esconder isso (Mc 8:37), o inimigo se sente incomodado de tal forma que impulsiona seus instrumentos a nos atacarem; é por essa razão que não devemos reagir como que lutando carnalmente, mas sim espiritualmente (Ef 6:12-14[1] [2] [3]). Ser um jovem crente numa sociedade tão secularizada[4], mais do que uma simples opção, é um grande desafio. Se até mesmo para pessoas de mais idade - inclusive obreiros - as vezes é difícil defender uma postura cristã, quanto mais para os mais novos, principalmente os novos convertidos.
    Mas, e quando eles insistem no confronto? Para responder a essa pergunta, analisaremos os quatro tipos mais comuns de confrontos gerados pelos incrédulos quando persistimos em defender nossa fé mantendo uma conduta que contraria os princípios mundanos. Esses confrontos geralmente consistem em zombaria, propostas indecentes, ameaças e falsas acusações.

Zombaria: Essa é uma das primeiras reações de alguns “amigos” - principalmente na escola e entre os mais chegados em seus meios de convivência - quando percebem sua determinação em mudar de vida para agradar a Deus. Geralmente, sem dó nem piedade, te bombardeiam com piadinhas do tipo: “Virou santinho agora depois de tudo que já fez?”; “Perdeu a liberdade de curtir, então vai isolar os amigos, né?”; “Sexo então, nem pensar. Só depois do casamento, né babaca?”; “Quer dizer que você resolveu ir na igreja pra dar dinheiro para o pastor?”. Você já notou que embora falem num tom de brincadeira, eles demonstram estar carregados de ódio quando atacam nossa fé?
    Diante dessas piadas bobas e preconceituosas, de fato, nosso instinto natural de defesa nos leva ao desejo de responder com um soco na cara do indivíduo, ou, pelo menos, com uma resposta mil vezes mais ofensiva (Ef 4:17,18,26,27); mas, tendo sido regenerados pelo Espírito Santo, devemos ter autocontrole para, como a Bíblia ensina, responder com mansidão (1ª Pe 3:15). Essa resposta mansa consiste em amor e paciência para com o agressor, entendendo que ele não tem o que você tem em seu interior e por isso não consegue te compreender (1ª Co 2:9-15[5]). Pois não é fácil, para alguém que vive na impiedade, entender o que significa perdão e transformação; como também saber que a verdadeira liberdade é não ser escravo de coisas que lhe prejudicam;  e ainda aceitar que a busca por um verdadeiro amor conjugal e a valorização da família valem muito mais do que perigosos prazeres momentâneos; e tampouco imaginar que, da mesma forma que ele desperdiça seu dinheiro com futilidades, você tem o direito de, por gratidão ao Senhor, empregar parte dos teus ganhos para ajudar na manutenção e no crescimento da sua Obra aqui na terra. Mas não espere grandes resultados com esses argumentos, pois, muitas vezes, a melhor resposta mesmo é o silêncio (Mt 27:11-14) e, se preciso for, o afastamento (Mt 16:4). Porém, ainda assim, preserve o seu amor por ele incluindo-o em suas orações (Mt 5:43-48[6]), esperando qualquer oportunidade de ajuda-lo para assim lhe provar o contrário do que ele pensa a seu respeito (1ª Pe 3:16-18).

Propostas indecentes: Outra estratégia maligna para nos tirar do foco de seguir ao Mestre - na verdade, uma das mais usadas - é a tentativa de nos seduzir ao pecado. Muitos discordam, mas o inimigo conhece sim os nossos pontos fracos, pois ele bem sabe quais eram nossas atividades antes de conhecermos a Cristo e, na esperança de que não estejamos realmente libertos, é por meio delas que tentará nos fisgar. É muito comum, principalmente se você está naquela busca fervorosa por libertação e por dons espirituais, começar a receber oportunidades interessantes que sejam aparentemente irrecusáveis. São elogios exagerados, propostas de amor, sexo fácil, estímulo ao consumo de bebidas alcoólicas ou mesmo de drogas e, ainda, até a chance de obter dinheiro fácil por algum meio corrupto ou, mesmo que por um meio lícito, sendo de uma maneira que possa te afastar de Deus.
    A primeira reação diante dessas supostas bênçãos já deve é ser executada preventivamente, ou seja, antes que elas aconteçam: comunhão com Deus por meio da oração para discernir entre as propostas boas e as más (1ª Ts 5:21,22; Hb 5:14). A segunda reação é estar preparado para dizer “não”; e esse “não” só consegue sair de seus lábios se em seu coração houver verdadeiramente amor a Deus e em sua mente existir a consciência de que as consequências negativas da aceitação ao pecado serão incomparavelmente maiores do que as positivas, as quais são momentâneas (Mt 16:24,25). Diante disso, é também necessário considerar que quando o Senhor não nos permite ter algo aparentemente bom é porque Ele sabe que aquilo não é realmente bom e, além do mais, tem algo melhor para nós, o que poderá nos satisfazer tanto de maneira material como, principalmente, espiritual (Mt 16:24-27).

Ameaças: Essa também é uma prática comum por parte dos que não aceitam sua conversão e obediência ao Evangelho. Em vários segmentos da sociedade - ainda que disfarçadamente -, algumas pessoas te fazem sentir-se ameaçado de alguma maneira: não são raros os casos de cristãos ameaçados de demissão ou outras retaliações por não se submeterem a algum esquema corrupto das empresas em que trabalham; outros que são excluídos de grupos de atividades em escolas e faculdades por não compartilharem de ideias profanas; e até mesmo alguns que chegaram a ser expulsos de casa por não negarem sua fé.
    Em situações como essas, o que deve prevalecer em nosso interior é aquela inevitável pergunta: “O que vale mais pra mim?”. A resposta até que é bem simples, mas a sua prática não; pois há casos em que, conforme ensinam as Escrituras Sagradas, é necessário negar a tudo, inclusive a si próprio (Mc 7:13,14; 9:43,44), o que inclui também a própria família. Lidar com ameaças sem se deixar ser feito refém pelo Diabo e lhe dizer “abro mão de tudo, mas não vou permitir que nada me separe do amor de Cristo (Rm 8:35-39[7])” é uma atitude típica apenas de quem tem convicção de sua fé e também a plena certeza de que ela vale a pena. Mas qual é a pena mesmo? A reprovação, o ódio, o desprezo e algumas perdas; então é nesse momento que lembramos: “Jesus renunciou a muito mais do que isso por mim. Vale a pena sim!”.

Falsas acusações: Qual é o cristão que nunca foi vítima de uma falsa acusação? Já percebeu também que isso acontece com mais intensidade quando você está decidido não só a crer, mas também a servir ao Senhor com dedicação e fidelidade? Essa tática geralmente é usada depois que as gozações, as tentações e a inibição falharam. Mais uma vez, como sempre, é o infeliz lá embaixo, preocupado com o perigo que você representa aos seus propósitos malignos, usando seus instrumentos para tentar te parar por meio de mentiras (Mt 8:44). Mesmo em alguns casos, quando estamos errados, é horrível a sensação de sermos apontados por causa dos nossos erros, imagine então ser acusado de algo que não cometeu. Esse tipo de frustração provoca uma mistura de decepção, raiva, dor e medo, o que causa a perigosa reação primária de desânimo, desejo de vingança, tristeza e preocupação com as consequências. Essa mistura de sentimentos negativos é normal porque, afinal, somos seres humanos, mas como podemos lidar com isso sem perder nossa comunhão espiritual?
    Diante de calúnias, em meio às inevitáveis reações primárias, a primeira atitude de um verdadeiro cristão tem que ser exatamente se lembrar que ele é um cristão. E como um cristão deve reagir nessas situações? As Escrituras Sagradas nos ensinam o equilíbrio da mansidão (Tg 3:13-18), seguido pela sabedoria de uma boa resposta (Cl 4:5,6[8]), a qual, as vezes, também significa permanecer em silêncio, pois nem sempre os argumentos são suficientes para calar os inimigos ou convencer os enganados por eles (Jo 19:9-12[9] [10]). A segunda atitude do autêntico cristão - geralmente momentos depois, já com mais calma - consiste em transformar as negativas reações primárias em positivas. Mas isso é realmente possível? Se você confia mesmo em Deus e está disposto a não perder sua comunhão com Ele, é totalmente possível sim! Primeiro passo: ter sabedoria para transformar o desânimo causado pela decepção em motivação para superar a injustiça (1ª Co 10:13); segundo passo: ter amor para compreender que o caluniador é uma vítima de sentimentos malignos para transformar o desejo de vingança causado pela raiva em razão para ajudar aquela pessoa (Lc 6:28-31; Rm 12:12-14); terceiro passo: buscar forças para superar a dor da tristeza, transformando-a em alegria por saber que maiores são as riquezas espirituais do que as vitórias momentâneas dessa vida (2ª Co 4:17,18); quarto passo: confiar em Deus chegando ao ponto de o medo causado pela preocupação ser substituído pela paz que é proporcionada aos que creem e vivem segundo a sua infalível justiça (1ª Pe 3:11-14). Seguindo essas recomendações - ainda que não necessariamente nessa ordem -, não há falsa acusação que possa derrubar um servo de Deus.

    A Bíblia relata o exemplo de Neemias[11]: um servo fiel que passou por todas essas experiências (Ne 4:1-3[12] [13] [14]; 6:1,2[15] [16]; 6:6,7) e venceu por saber lidar com cada situação agindo com sabedoria (Ne 4:4,5[17] [18]; 6:2; 6:12-14[19]; 4:17-20; 6:3). Seguindo o exemplo de pessoas como ele, aprendemos que defender a fé não é simplesmente, ou exatamente, defender o conteúdo bíblico diante dos ímpios ou de cristãos hereges, mas defender a si próprio não sendo influenciado pelas práticas mundanas. Não há como estarmos preparados para que se cumpram os propósitos divinos em nossa vida se não estivermos firmes na resistência aos males que nos atacam constantemente (Tg 4:7; 1ª Pe 5:8,9). Nossa pregação vai muito além das palavras e dependem muito da nossa conduta. O lema principal de um cristão é influenciar e não ser influenciado; tendo isso em mente, o seu nível de maturidade - que não depende da idade e nem do tempo de ministério -, será cada vez mais evidente, o qual lhe proporcionará respeito, não somente entre os cristãos, mas inclusive entre os ímpios até mesmo nos piores ambientes seculares que você tiver que frequentar. No demais, nosso cuidado consiste em selecionar nossas amizades (Sl 1:1; 1ª Co 15:33,34; Pr 9:6,10[20]; 13:20,21) não nos isolando das pessoas, mas vigiando em nossas atitudes (1ª Co 10:12; Mc 14:38; 1ª Ts 5:17; 1ª Co 10:32).



[1]Principado: Dignidade de príncipe. Território cujo governo pertence a um príncipe ou a uma princesa. Mencionado na Bíblia também em referência a espíritos, sejam eles bons ou maus (1ª Co 15:24; Ef 1:21; 3:10; 6:12; Cl 1:16; 2:10,15).
[2]Potestade: Potência, força, poder. A divindade suprema, segundo a religião. Potentado.
[3]Hoste: Tropa, exército beligerante, corpo de exército. Bando, chusma, multidão.
[4]Secular: Pertencente ou relativo a século. Que se observa ou se faz de século a século. Em sentido religioso, se refere àquilo que
[5]Discernir: Saber a diferença; perceber o verdadeiro significado de algo ou a intenção de alguém com clareza.
[6]Publicano: Cobrador de impostos do governo romano. Termo pejorativo que define homens que negociam desonestamente.
[7]Reputado: Considerado; avaliado. Tido por.
[8]Remir: Aproveitar; fazer uso de uma oportunidade. Libertar mediante o pagamento de um preço.
[9]Pilatos: Pôncio Pilatos foi prefeito da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36 d.C.. Foi o juiz que condenou Jesus a morrer na cruz, mesmo contra sua vontade, pois não havia achado culpa nEle. Apesar de nesse episódio ele não parecer muito hostil, foi, na verdade, um homem cruel e sanguinário; segundo a história, Pilatos trucidou um grande número de samaritanos, os quais, consequentemente, protestaram ao seu superior, Vitelio, legado provincial da Síria, o qual destituiu Pilatos e o enviou a Roma a desculpar-se com o Imperador. Ele cometeu suicídio por volta do ano 37DC.
[10]César: Nome de uma família romana, da qual Caio Júlio César foi o membro mais famoso. Com o tempo, "César" se tornou o título oficial dos imperadores romanos (Lc 20.25). No Novo Testamento são mencionados quatro césares: Augusto, Tibério, Cláudio e Nero.
[11]Neemias: Significa "Javé Conforta". Judeu, copeiro de Artaxerxes. Liderou um grupo que voltou do Cativeiro Babilônico para Jerusalém, onde foi governador e realizou reformas. Foi um homem de muita habilidade e coragem. É considerado um grande exemplo de liderança; uma de suas obras mais marcantes foi a reconstrução dos muros de Jerusalém sob forte oposição de Sambalate e Tobias. É o provável autor de um livro histórico do Antigo Testamento que leva o seu nome.
[12]Sambalate: O seu nome na língua babilônia é "Sin-Uballit" que significa "Que Sim lhe dê vida" (Sim, na Babilônia, era considerado o deus da lua). Provavelmente nasceu em Bete-Horom, por isso era chamado de hornita. Ele foi o líder dos opositores de Neemias porque se sentia politicamente ameaçado com seu trabalho de edificação dos muros em Jerusalém. Seus filhos, Delaías e Selemias, tinham nomes judeus e sua filha se casou com o filho de um sumo sacerdote, o que dá a entender que ele possa ter feito as pazes com Neemias ou com seu povo.
[13]Samaria: Significa "Torre de Guarda”. Monte situado 12 km a nordeste de Siquém (Am 6:1). Capital do reino do Norte, construída nesse monte por Onri (1º Rs 16:24; Jr 23:13; Os 7:1-7; 8:5-6; Am 4:1). Seu nome atual é Sebastieh. Região central da Terra Santa, abrangendo as tribos de Efraim e Manassés do Oeste. Ao norte ficava a Galiléia; a leste, o Jordão; ao sul, a Judéia; e, a oeste, o Mediterrâneo (2º Rs 17:24-26; At 1:8).
[14]Tobias: Um amonita que foi um dos principais opositores à Neemias na reconstrução de Jerusalém. Era um provável oficial de alto escalão do governo persa. Ele e seus filhos se casaram com mulheres judias. Embora tenha sido recebido no Templo pelo sumo sacerdote Eliasibe, foi expulso por Neemias.
[15]Gesém: Chamado na Bíblia de arábio, acredita-se que foi um governador edomitas ou persa. Juntamente com Sambalate e Tobias, foi um dos principais opositores de Neemias na reconstrução de Jerusalém.
[16]Ono: Citado no livro de Neemias (Ne 6:2), esse vale ficava a mais ou menos 32 quilômetros de Jerusalém.
[17]Opróbrio: Desonra; vergonha.
[18]Despojo: O que que se tirou do inimigo depois de vencê-lo (Sl 119:162; Lc 11:22).
[19]Noadias: Em hebraico significa "Encontro com Javé". A Bíblia relata a existência de duas pessoas com esse nome: 1) Um levita, filho de Binui, que pesou os utensílios de ouro e prata pertencentes ao templo que foram trazidos de volta da Babilônia (Ed 8:33).  2) Uma profetiza que uniu-se a Sambalate e Tobias na sua tentativa de intimidar Neemias (Ne 6:14).
[20]Blandícia: Blandície. Afago, carinho, brandura. Palavras doces e convincentes.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Relação entre Revelação e Interpretação

A Bíblia é o livro mais traduzido e
produzido em toda a história da
humanidade. Ela á a grande
responsável pela propagação do
cristianismo com a divulgação
do Evangelho.
2ª Pedro 1:19-21 - “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração, 20sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; 21porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”

    A pregação da Palavra de Deus vai muito além do seu ensinamento histórico ou da exposição de regras para a Igreja; ela inclui a revelação da vontade de Deus para os dias atuais tanto de forma individual quanto coletiva. A Bíblia não é um mero livro de história ou um manual legalista. Seu efeito na mente e na vida do leitor e do ouvinte não tem explicação natural, porque sua ação é sobrenaturalmente controlada pelo Espírito Santo (1ª Co 2:11-14; Hb 4:12), pois é Ele quem abre o entendimento do homem (1ª Jo 2:27), o aproxima de Deus (Rm 8:26), o convence do pecado (Jo 16:7,8), o capacita (1ª Co 12:4,7,11), o faz lembrar de tudo quanto ele aprendeu (Jo 14:26) e o impulsiona a falar (Mc 13:11). Quando o ministro da Palavra está realmente direcionado pelo Espírito Santo, a mensagem que ele transmite vai de encontro à necessidade de cada espectador do público presente, servindo de orientação em sua vida pessoal, sendo por ele entendido de acordo com sua fé e recepção a ela, considerando-a como uma autêntica profecia vinda diretamente de Deus. Essa revelação é tão maravilhosa que, por exemplo, um mesmo versículo pregado várias vezes pode transmitir várias mensagens diferentes sem perder o seu sentido original; somente a Bíblia Sagrada tem esse poder. Mas é claro que a ação sobrenatural do Espírito Santo não exclui do homem a responsabilidade de uma interpretação racional do texto, porque uma passagem bíblica mal explicada resulta em muito mais do que um mal ensinamento: ela pode confundir o ouvinte em relação à sua aplicação em sua vida pessoal.

    Em busca de uma revelação por meio da Palavra, muitas pessoas têm por costume o ato de abrir a Bíblia e ler “aonde cair” considerando aquele versículo - ou versículos próximos - como uma mensagem divina em resposta direta à sua situação no momento. Quanto a isso, é óbvio que não se pode ignorar que Deus fala de várias maneiras e, de acordo com a fé da pessoa, possa sim vir a lhe responder dessa forma; no entanto, jamais se poderia recomendar essa prática porque muitos a exerceriam - como já a exercem - sem nenhuma espiritualidade como se a Bíblia fosse simplesmente um livro mágico e a sua consulta como uma simples leitura de algo tão falso e banal quanto o signo, por exemplo. Em momentos de necessidade, ou de simples desejo de meditação, o melhor mesmo é orar e procurar ler nas Escrituras Sagradas algum texto que lhe venha a sua memória e mexa com o seu coração que, sem dúvida nenhuma, Deus falará contigo da mesma forma.

    A multiforme[1] maneira de Deus se dirigir ao homem vai além da nossa ética[2] ou costumes. Embora Ele se agrade - e exija - que haja decência e ordem no que se refere às coisas sagradas, o Senhor muitas vezes toma atitudes surpreendentes em sua comunicação conosco. A Bíblia registra vários fatos que comprovam isso: enquanto com Noé, Abraão, Moisés e com outros profetas Ele falava audivelmente, em algumas situações específicas, para falar com José, Ele se manifestava por meio de sonhos (Gn 37:5,9a); para falar com Jeremias, Ele o levou à uma olaria (Jr 18:2,6) e em outra ocasião usou uma vara de amendoeira e uma panela (Jr 1:11-14); para falar sobre a rebeldia de Israel, Ele permitiu a morte da esposa do profeta Ezequiel (Ez 24:15-24); para falar sobre a importância de se ter fé, Jesus secou uma figueira (Mt 21:19-21); enfim, várias são as formas de Deus falar com o homem.

    Assim sendo, sabemos que nos dias atuais não tem sido diferente, pois nem sempre Ele fala pelos meios naturalmente esperados como, por exemplo, simplesmente pela Palavra pregada ou ensinada, ou usando alguém claramente através do dom de profecia. Há momentos que sentimos sua “voz” nos despertando por meio de uma paz, uma alegria ou um incômodo ou uma tristeza em nosso coração mediante a uma atitude que estejamos planejando ou algum ato que já estejamos cometendo; essa é a ação do Espírito Santo nos orientando. Muitos podem não crer dessa forma, mas a pregação da Palavra é sim um meio de Deus nos orientar de modo individual, pois além do ensinamento que ela nos traz sobre a vontade divina, por mais pessoas que haja num ambiente, podemos entende-la de uma maneira com que identifiquemos sua mensagem com nossa situação particular. Imagine um homem pensando em investir em algum negócio para melhorar sua situação financeira, mas sem saber no quê; de repente, ele ouve um pastor pregando no texto de Marcos 9:50, cujo início diz “bom é o sal” e, no mesmo momento, somente com essa primeira parte, em meio a centenas de ouvintes, apenas ele entende dessa forma e resolve investir em sal e em pouco tempo se torna um grande empresário nessa área; esse testemunho é verídico e há vários outros semelhantes. Para qualquer crítico que analise ao pé-da-letra é óbvio que, pela mensagem em si falar sobre conduta cristã, essa interpretação está totalmente fora de contexto; no entanto, deve-se considerar que sendo o Criador soberano tem sim Ele poder sobre a mente e o sentimento de suas criaturas, assim podendo faze-las compreender sua vontade de alguma maneira, ainda que de forma inusitada. Consideremos ainda que não foi o pregador que interpretou o texto dessa forma - pois isso seria de fato uma heresia -, mas o próprio ouvinte que foi levado pelo Espírito Santo a assim absorver a mensagem.

    Tanto na pregação da Palavra, quanto na profecia entregue por terceiros, como audivelmente de forma direta em seus ouvidos ou em sua mente, o crente espiritual consegue discernir - mesmo que não seja de forma sobrenatural - se é Deus ou não quem está falando. Pois, além da fé ou das coincidências contidas na mensagem, o cristão que tem sabedoria, por saber que o Senhor é onisciente[3], silenciosamente, fala com Ele em seu pensamento e lhe pede um sinal que venha a confirmar ou desmenti-la, podendo inclusive lhe fazer entender sua origem: divina, diabólica ou humana. Um crente realmente espiritual não é enganado por qualquer discurso ou circunstância (At 5:3,9), porque ele sabe que qualquer pregador ou “profeta”, como também ele próprio, está sujeito a equívocos ou mesmo à corrupção e, por essa razão, prioriza o conhecimento das Escrituras, cujo conteúdo não possui engano ou erro algum; sua interpretação apenas depende da fidelidade de quem a lê e a expressa.

    Interpretar corretamente a Bíblia envolve amor, temor[4] e seriedade, como também boa vontade no esforço pela busca ao conhecimento. O temor a Deus é o princípio do conhecimento e da sabedoria; os loucos desprezam a sabedoria (Pr 9:10); os que o temem alcançam conhecimento sobre as coisas espirituais, como também prudência sobre sua conduta (Pr 15:33); quem o reverencia verdadeiramente se mantém humilde e conquista honra (Pr 1:7). Tudo isso significa que manusear e interpretar o Livro Sagrado exige mais do que todos os elementos desenvolvidos pelas faculdades humanas nos quais estão incluídos a hermenêutica e a oratória; pois, embora sejam eles de extrema necessidade, sem o temor ao Dono da sabedoria, seu conteúdo se torna oculto aos seus olhos (Mt 11:25; Mt 13:10-15; Is 6:9,10). Deve-se ter em mente que transmitir uma mensagem em nome de Deus é muito mais do que dizer que acredita nisso ou naquilo, mas sim saber que está usando o nome do Todo-Poderoso dizendo palavras que o ouvinte está recebendo como promessas do Mesmo. Já imaginou ser cobrado por Ele por ter falado em seu nome coisas que Ele não mandou (Jr 14:14-16; 23:21,25,26,30-32; Mt 7:21-23)? Muitas vezes - praticamente em todas - o melhor mesmo é simplesmente ler e explicar os textos sagrados deixando sua revelação por conta do Espírito Santo em cada coração em particular.

    Ainda no que se refere à interpretação das Escrituras Sagradas, como bem sabemos, elas não são meros relatos históricos ou um livro de regras, mas relatos da história do relacionamento de Deus com o ser humano que nos ensina regras de conduta que agradam a Ele. Não se trata também de um livro mágico que, como uma bússola, aponta a “direção para o norte” simplesmente pelo fato de ter sido consultada ou que “traz sorte” apenas pelo fato de estar aberta no Salmo 23 ou 91 - um costume idólatra e de expressão supersticiosa praticada até por alguns crentes -. O conteúdo da Bíblia Sagrada transmite conhecimento e orientação pessoal àquele que o lê crendo com uma fé verdadeira e um coração puro, totalmente disposto não somente a entende-lo, mas, principalmente, a obedece-lo.

    A função de um pregador ou ensinador cristão é fazer com que seu público - tanto coletivo como individual - atinja os seguintes objetivos: compreender a história; saber que o Deus da história não mudou; Entender que embora não tenha mudado, o Deus da história pode agir com o mesmo poder em sua vida, mas sem repetir a história dos personagens bíblicos; nem todos os fatos ocorridos nos textos bíblicos são doutrina para a Igreja - porque geralmente relatam apenas costumes de época -, mas sim são exemplos de conduta as quais devemos seguir; doutrina é um conjunto de regras que expressam a vontade divina de um modo generalizado e é definida de acordo com os costumes de cada denominação ministerial; comparar tudo o que ouvir com o conteúdo das Escrituras ali exposto, pois os líderes cristãos são homens sujeitos a falhas; buscar discernimento espiritual por meio da oração para poder identificar essas possíveis falhas; saber que sentir a presença de Deus não se resume em reações emocionais ou físicas, mas principalmente num despertamento do entendimento de forma que seu sentimento se torne mais temeroso à revelação bíblica; despertar um senso crítico e moderado e não uma fé cega e irracional; provocar o desejo da aplicação do conteúdo da mensagem em sua vida pessoal. Quando há essa relação entre revelação e interpretação, o objetivo da ministração da Palavra foi devidamente cumprido.




[1]Multiforme: Muitas formas. Que tem rica variedade; multíplice. Que tem muitas formas ou aspectos. Que se manifesta de várias maneiras; multímodo.
[2]Ética: Conjunto de princípios morais que se devem observar; é o que indica as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros da sociedade. Bom senso.
[3]Onisciente: Quem tem onisciência (perfeito conhecimento sobre todas as coisas). Virtude atribuída apenas a Deus.
[4]Temor: Medo. Respeito. Reverência.