quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Relação entre Revelação e Interpretação

A Bíblia é o livro mais traduzido e
produzido em toda a história da
humanidade. Ela á a grande
responsável pela propagação do
cristianismo com a divulgação
do Evangelho.
2ª Pedro 1:19-21 - “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração, 20sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; 21porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”

    A pregação da Palavra de Deus vai muito além do seu ensinamento histórico ou da exposição de regras para a Igreja; ela inclui a revelação da vontade de Deus para os dias atuais tanto de forma individual quanto coletiva. A Bíblia não é um mero livro de história ou um manual legalista. Seu efeito na mente e na vida do leitor e do ouvinte não tem explicação natural, porque sua ação é sobrenaturalmente controlada pelo Espírito Santo (1ª Co 2:11-14; Hb 4:12), pois é Ele quem abre o entendimento do homem (1ª Jo 2:27), o aproxima de Deus (Rm 8:26), o convence do pecado (Jo 16:7,8), o capacita (1ª Co 12:4,7,11), o faz lembrar de tudo quanto ele aprendeu (Jo 14:26) e o impulsiona a falar (Mc 13:11). Quando o ministro da Palavra está realmente direcionado pelo Espírito Santo, a mensagem que ele transmite vai de encontro à necessidade de cada espectador do público presente, servindo de orientação em sua vida pessoal, sendo por ele entendido de acordo com sua fé e recepção a ela, considerando-a como uma autêntica profecia vinda diretamente de Deus. Essa revelação é tão maravilhosa que, por exemplo, um mesmo versículo pregado várias vezes pode transmitir várias mensagens diferentes sem perder o seu sentido original; somente a Bíblia Sagrada tem esse poder. Mas é claro que a ação sobrenatural do Espírito Santo não exclui do homem a responsabilidade de uma interpretação racional do texto, porque uma passagem bíblica mal explicada resulta em muito mais do que um mal ensinamento: ela pode confundir o ouvinte em relação à sua aplicação em sua vida pessoal.

    Em busca de uma revelação por meio da Palavra, muitas pessoas têm por costume o ato de abrir a Bíblia e ler “aonde cair” considerando aquele versículo - ou versículos próximos - como uma mensagem divina em resposta direta à sua situação no momento. Quanto a isso, é óbvio que não se pode ignorar que Deus fala de várias maneiras e, de acordo com a fé da pessoa, possa sim vir a lhe responder dessa forma; no entanto, jamais se poderia recomendar essa prática porque muitos a exerceriam - como já a exercem - sem nenhuma espiritualidade como se a Bíblia fosse simplesmente um livro mágico e a sua consulta como uma simples leitura de algo tão falso e banal quanto o signo, por exemplo. Em momentos de necessidade, ou de simples desejo de meditação, o melhor mesmo é orar e procurar ler nas Escrituras Sagradas algum texto que lhe venha a sua memória e mexa com o seu coração que, sem dúvida nenhuma, Deus falará contigo da mesma forma.

    A multiforme[1] maneira de Deus se dirigir ao homem vai além da nossa ética[2] ou costumes. Embora Ele se agrade - e exija - que haja decência e ordem no que se refere às coisas sagradas, o Senhor muitas vezes toma atitudes surpreendentes em sua comunicação conosco. A Bíblia registra vários fatos que comprovam isso: enquanto com Noé, Abraão, Moisés e com outros profetas Ele falava audivelmente, em algumas situações específicas, para falar com José, Ele se manifestava por meio de sonhos (Gn 37:5,9a); para falar com Jeremias, Ele o levou à uma olaria (Jr 18:2,6) e em outra ocasião usou uma vara de amendoeira e uma panela (Jr 1:11-14); para falar sobre a rebeldia de Israel, Ele permitiu a morte da esposa do profeta Ezequiel (Ez 24:15-24); para falar sobre a importância de se ter fé, Jesus secou uma figueira (Mt 21:19-21); enfim, várias são as formas de Deus falar com o homem.

    Assim sendo, sabemos que nos dias atuais não tem sido diferente, pois nem sempre Ele fala pelos meios naturalmente esperados como, por exemplo, simplesmente pela Palavra pregada ou ensinada, ou usando alguém claramente através do dom de profecia. Há momentos que sentimos sua “voz” nos despertando por meio de uma paz, uma alegria ou um incômodo ou uma tristeza em nosso coração mediante a uma atitude que estejamos planejando ou algum ato que já estejamos cometendo; essa é a ação do Espírito Santo nos orientando. Muitos podem não crer dessa forma, mas a pregação da Palavra é sim um meio de Deus nos orientar de modo individual, pois além do ensinamento que ela nos traz sobre a vontade divina, por mais pessoas que haja num ambiente, podemos entende-la de uma maneira com que identifiquemos sua mensagem com nossa situação particular. Imagine um homem pensando em investir em algum negócio para melhorar sua situação financeira, mas sem saber no quê; de repente, ele ouve um pastor pregando no texto de Marcos 9:50, cujo início diz “bom é o sal” e, no mesmo momento, somente com essa primeira parte, em meio a centenas de ouvintes, apenas ele entende dessa forma e resolve investir em sal e em pouco tempo se torna um grande empresário nessa área; esse testemunho é verídico e há vários outros semelhantes. Para qualquer crítico que analise ao pé-da-letra é óbvio que, pela mensagem em si falar sobre conduta cristã, essa interpretação está totalmente fora de contexto; no entanto, deve-se considerar que sendo o Criador soberano tem sim Ele poder sobre a mente e o sentimento de suas criaturas, assim podendo faze-las compreender sua vontade de alguma maneira, ainda que de forma inusitada. Consideremos ainda que não foi o pregador que interpretou o texto dessa forma - pois isso seria de fato uma heresia -, mas o próprio ouvinte que foi levado pelo Espírito Santo a assim absorver a mensagem.

    Tanto na pregação da Palavra, quanto na profecia entregue por terceiros, como audivelmente de forma direta em seus ouvidos ou em sua mente, o crente espiritual consegue discernir - mesmo que não seja de forma sobrenatural - se é Deus ou não quem está falando. Pois, além da fé ou das coincidências contidas na mensagem, o cristão que tem sabedoria, por saber que o Senhor é onisciente[3], silenciosamente, fala com Ele em seu pensamento e lhe pede um sinal que venha a confirmar ou desmenti-la, podendo inclusive lhe fazer entender sua origem: divina, diabólica ou humana. Um crente realmente espiritual não é enganado por qualquer discurso ou circunstância (At 5:3,9), porque ele sabe que qualquer pregador ou “profeta”, como também ele próprio, está sujeito a equívocos ou mesmo à corrupção e, por essa razão, prioriza o conhecimento das Escrituras, cujo conteúdo não possui engano ou erro algum; sua interpretação apenas depende da fidelidade de quem a lê e a expressa.

    Interpretar corretamente a Bíblia envolve amor, temor[4] e seriedade, como também boa vontade no esforço pela busca ao conhecimento. O temor a Deus é o princípio do conhecimento e da sabedoria; os loucos desprezam a sabedoria (Pr 9:10); os que o temem alcançam conhecimento sobre as coisas espirituais, como também prudência sobre sua conduta (Pr 15:33); quem o reverencia verdadeiramente se mantém humilde e conquista honra (Pr 1:7). Tudo isso significa que manusear e interpretar o Livro Sagrado exige mais do que todos os elementos desenvolvidos pelas faculdades humanas nos quais estão incluídos a hermenêutica e a oratória; pois, embora sejam eles de extrema necessidade, sem o temor ao Dono da sabedoria, seu conteúdo se torna oculto aos seus olhos (Mt 11:25; Mt 13:10-15; Is 6:9,10). Deve-se ter em mente que transmitir uma mensagem em nome de Deus é muito mais do que dizer que acredita nisso ou naquilo, mas sim saber que está usando o nome do Todo-Poderoso dizendo palavras que o ouvinte está recebendo como promessas do Mesmo. Já imaginou ser cobrado por Ele por ter falado em seu nome coisas que Ele não mandou (Jr 14:14-16; 23:21,25,26,30-32; Mt 7:21-23)? Muitas vezes - praticamente em todas - o melhor mesmo é simplesmente ler e explicar os textos sagrados deixando sua revelação por conta do Espírito Santo em cada coração em particular.

    Ainda no que se refere à interpretação das Escrituras Sagradas, como bem sabemos, elas não são meros relatos históricos ou um livro de regras, mas relatos da história do relacionamento de Deus com o ser humano que nos ensina regras de conduta que agradam a Ele. Não se trata também de um livro mágico que, como uma bússola, aponta a “direção para o norte” simplesmente pelo fato de ter sido consultada ou que “traz sorte” apenas pelo fato de estar aberta no Salmo 23 ou 91 - um costume idólatra e de expressão supersticiosa praticada até por alguns crentes -. O conteúdo da Bíblia Sagrada transmite conhecimento e orientação pessoal àquele que o lê crendo com uma fé verdadeira e um coração puro, totalmente disposto não somente a entende-lo, mas, principalmente, a obedece-lo.

    A função de um pregador ou ensinador cristão é fazer com que seu público - tanto coletivo como individual - atinja os seguintes objetivos: compreender a história; saber que o Deus da história não mudou; Entender que embora não tenha mudado, o Deus da história pode agir com o mesmo poder em sua vida, mas sem repetir a história dos personagens bíblicos; nem todos os fatos ocorridos nos textos bíblicos são doutrina para a Igreja - porque geralmente relatam apenas costumes de época -, mas sim são exemplos de conduta as quais devemos seguir; doutrina é um conjunto de regras que expressam a vontade divina de um modo generalizado e é definida de acordo com os costumes de cada denominação ministerial; comparar tudo o que ouvir com o conteúdo das Escrituras ali exposto, pois os líderes cristãos são homens sujeitos a falhas; buscar discernimento espiritual por meio da oração para poder identificar essas possíveis falhas; saber que sentir a presença de Deus não se resume em reações emocionais ou físicas, mas principalmente num despertamento do entendimento de forma que seu sentimento se torne mais temeroso à revelação bíblica; despertar um senso crítico e moderado e não uma fé cega e irracional; provocar o desejo da aplicação do conteúdo da mensagem em sua vida pessoal. Quando há essa relação entre revelação e interpretação, o objetivo da ministração da Palavra foi devidamente cumprido.




[1]Multiforme: Muitas formas. Que tem rica variedade; multíplice. Que tem muitas formas ou aspectos. Que se manifesta de várias maneiras; multímodo.
[2]Ética: Conjunto de princípios morais que se devem observar; é o que indica as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros da sociedade. Bom senso.
[3]Onisciente: Quem tem onisciência (perfeito conhecimento sobre todas as coisas). Virtude atribuída apenas a Deus.
[4]Temor: Medo. Respeito. Reverência.

Um comentário:

  1. Que Deus continue te abençoando. Agradeço pelo convite. Estarei verificando logo que for possível.
    Fica na paz!

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