domingo, 14 de agosto de 2016

O Arrependimento da Rejeição ao Chamado

Jonas 2:1-10

O arrependimento se manifesta
trazendo angústia, a qual
proporciona um profundo
desejo de corrigir o erro
cometido; esse sentimento de
amargura é o que leva o servo
de Deus a procurar se
aproximar dEle por meio da
oração.
1 - Orando nas entranhas do peixe (2:1)
    A escuridão e um cheiro insuportável certamente dominavam o ambiente; as acomodações eram extremamente desconfortáveis e só o que se ouvia era o imenso barulho de água pelo lado de fora: o cenário “perfeito” para uma oração. Seu roteiro de viagem estava drasticamente alterado e, na condição de profeta, com certeza Jonas se perguntava “como foi mesmo que eu vim parar aqui?”. No entanto, não importa como tenha sido sua sensação de arrependimento, ela deve ter sido acompanhada pelo lamento de não ter feito o que era certo e, nesse momento, o que restava era orar para corrigir o tempo que foi gasto planejando uma viagem indevida, aplicando seu dinheiro pagando por aquela passagem e dormindo num momento em que poderia estar realmente orando.
    Quantas vezes esperamos que a escuridão e o mal cheiro da podridão de nossos próprios erros nos assolem, atormentando-nos com o barulho dos perigos lá fora, para então clamarmos ao Senhor que intervenha com sua misericórdia? Se orássemos mais antes das consequências, nos momentos de tormenta nossas orações seriam mais de gratidão do que por livramento (Sl 55:22; Mt 6:33). Um de nossos piores males é encarar a oração como um “disk-emergência” e não como uma conversa cotidiana entre Pai e filho. Quando entendermos isso poderemos ser livrados com antecedência ou, simplesmente, ter mais forças para suportar o desconforto das entranhas do peixe (2ª Co 12:7-9).

2 - Mantendo a fé em meio à angústia (2:2)
    O início de sua oração demonstra o tamanho de sua confiança no Todo-Poderoso. Ele podia ter suas falhas e defeitos, mas não há registro bíblico de que em algum momento ele tenha negado sua fé. O profeta ainda estava nas entranhas do peixe, mas tinha certeza da resposta divina. Em seu relato, ele descrevia aquele lugar como o inferno, só que mesmo naquele “inferno”, gritando em meio ao desespero, ele pôde ouvir a voz do Senhor. Aqui Jonas mostra que a confiança da resposta é a certeza da concretização do milagre. Ele havia pecado através da prática da desobediência, mas sabia que seu arrependimento poderia alcançar o perdão.
    Qual tem sido o conteúdo de suas orações? Com que certeza de resposta você tem orado? Geralmente, em momentos de angústia, diante de Deus temos duas reações: não oramos ou oramos sem fé. Porém, ainda que tenha errado, o crente que procura manter sua comunhão com Deus, independentemente do “inferno” em que esteja vivendo, sabe que seu grito - seu clamor - será ouvido e atendido por Ele (Lc 18:13,14), e crê também que qualquer acusação de pecado é apagada pelo poder do perdão (1ª Jo 2:1,2,12[1]).

3 - Reconhecendo a soberania divina (2:3)
    Ele sabia porque estava lá; essa afirmação deixa isso bem claro: “tu me lançaste no profundo no coração dos mares”. Dessa forma, ele reconhecia a soberania divina sobre a sua vida. Na sequência, cita ainda as correntes das águas que o cercavam e as ondas e as vagas[2] que passavam por cima dele. Essa narração da assustadora situação em que se encontrava, acompanhada do termo “tu me lançaste”, mostra a consequência de seu pecado e o peso das mãos de Deus que embora o estivesse livrando, fez isso de forma repreensiva.
    A melhor coisa, mesmo que a situação não esteja muito boa, é sabermos que o soberano Jeová está no total controle de nossa vida. De fato, muitas vezes, as águas nos cercam e suas ondas e correntes parecem que vão nos submergir; no entanto, não devemos nos esquecer que a razão de nossas queixas está em nossas próprias falhas (Lm 3:39) e que se Ele nos corrige é porque nos ama (Hb 12:5-8). Assim sendo, se a tua vida continua sendo preservada é porque ainda há um propósito a ser cumprido; apenas se acalme, continue clamando e espere o momento de se dispor a aceitar a nova oportunidade que te será concedida para cumprir sua missão.

4 - Preservando a esperança viva em meio à incerteza da vida (2:4)
    O profeta se encontrava nas profundezas do oceano, mas tinha uma convicção: mesmo lançado de diante dos olhos do Senhor, tornaria a ver seu santo templo. Isso significa que mesmo naquela situação aparentemente irreversível, ele tinha a esperança de uma oportunidade de sobrevivência, na qual ele tornaria a servir ao Senhor novamente. Essa dura experiência o levou a refletir e sentir a necessidade de fazer melhor tudo aquilo que ele havia negligenciado antes.
    Normalmente temos uma grande dificuldade em compreender e aceitar quando o Senhor nos permite cair nas “profundezas do oceano”; pois é muito mais fácil questionar a situação do que dizer “fui eu que errei, por isso estou aqui!”. Mas, a grande prova de arrependimento é quando nos sentimos lançados fora da presença do Senhor e lamentamos por isso, desejando, a todo custo, que seja mudada essa situação (Sl 51:9,10). As quedas, muitas vezes, não são para matar, mas para nos fazer enxergar que estávamos no caminho errado, concedendo-nos uma oportunidade de reverter nossos erros (Sl 37:23-25).

5 - Descrevendo a caótica situação à sua volta (2:5)
    Para chegar ao ponto de as águas envolverem seu corpo e até as algas[3] se enrolarem em sua cabeça, significa que ele já havia chegado ao fundo do mar. Muito provavelmente esse peixe se alimentava de algas e, no momento em que as engolia, seu ventre se enchia também de água; situação essa que, certamente, aumentava muito seu desconforto ali dentro.
    As consequências de nossos erros, muitas vezes, chegam a um nível tão insuportável que nos sentimos sufocados pelos problemas que enfrentamos. Quando percebemos que o peixe que nos engoliu está abrindo a boca, nos enchemos de esperança achando que vai nos lançar para fora, mas é apenas mais água e algas entrando por cima de nós, mostrando que estamos no fundo, bem longe da superfície. Nesse momento, quando nos sentimos cercados e enrolados pelos alimentos que sustentam nossos opressores, só o que nos resta é meditar na situação em que caímos; tal reflexão pode nos levar ao arrependimento e à um grande desejo de mudança (Sl 51:7-9[4]).

6 - Vivendo uma experiência de dependência total de Deus (2:6)
    Jonas não podia ver, mas podia sentir que estava na extremidade mais baixa da terra, conseguindo até compreender que passava pelas bases das montanhas, lugar esse em que o homem nunca havia estado antes. Sua angústia o fez sentir-se preso nas profundezas como se houvesse ali uma tranca. No entanto, sua esperança estava viva: ele permanecia crendo que o Senhor o livraria da perdição.
    As aflições podem nos levar à beira do desespero, fazendo-nos até mesmo sentir como se não mais houvesse saída; porém, elas têm seu lado positivo: aumentam nossa fé, produzindo em nós experiência (Rm 5:1-4). Descer aos fundamentos dos montes e se ver cercado pelos ferrolhos da terra não são uma experiência para a morte, mas sim uma prova de dependência em relação ao Todo-Poderoso (Sl 124:1-8; Rm 8:37).

7 - Reconhecendo que não há outra saída a não ser confiar no Senhor (2:7)
    O profeta estava de fato com suas forças desfalecendo, ou seja: sua morte se aproximava. Mas sua mente estava firmada no Senhor, isso o mantinha vivo. Ele orava. Suas orações restabeleceram sua comunhão com o Pai; ele podia sentir sua presença mesmo em meio à agonia física. Ele poderia ter se entregado achando que não haveria mais jeito e simplesmente esperar pela morte lenta e dolorosa que se seguia, mas não, pois ele sabia que, embora tivesse pecado, não estava abandonado.
    A saída pode até não ser visível, mas quando cremos que ela existe, nem mesmo o risco de morte é obstáculo para que desistamos da vitória. No entanto, existe um segredo e ele é essencial: a comunhão com Deus; por meio dela obtemos confiança, a qual expressa fé, e isso é agradável a Deus (Hb 11:6) e resulta em sua resposta (Mt 9:27-30). Porém, é ainda necessário ter em mente que não é apenas em momentos de aperto que devemos nos lembrar do Senhor, pois a comunhão constante pode evitar muitos males (1ª Ts 5:17,18; Lc 21:36).

8 - Pregando para si mesmo em meio à crise (2:8)
    Aqui ele parece analisar sua própria vida, refletindo sobre coisas desnecessárias que já haviam feito parte dela. Em algumas versões bíblicas, essas vaidades são interpretadas como a prática da idolatria, dizendo que quem as pratica está abandonando a misericórdia do verdadeiro Deus. Mais uma vez, isso mostra que ele compreendia que sua razão de estar ali era mesmo a desobediência. Nessa reflexão, ele ensinava a si mesmo o valor de se aproveitar as oportunidades diante do Todo-Poderoso.
    O que pode estar ocupando o lugar de Deus em nossa vida? Sempre dizemos que estamos libertos da idolatria e das vaidades de nossa vida, mas o que é idolatria e vaidade? Idolatria e vaidade vão além de imagens de escultura e do cuidado excessivo com o próprio corpo. Ambos os males são representados por coisas que não conseguimos deixar embora saibamos que não sejam edificantes e apenas nos satisfaçam temporariamente, se contrapondo ao que Jesus ensinou sobre renúncia (Mt 16:24-26). Pregue para si mesmo como para um pecador e analise se a Palavra fala contigo; essa autoanálise espiritual pode fazer a diferença para te arrancar das entranhas desse peixe. Não deixe que nada te afaste da misericórdia divina (Hb 2:1-3).

9 - O ardente desejo de fazer aquilo que devia ter feito antes (2:9)
    Ele sentiu a necessidade de oferecer algo ao Senhor. Mas o que oferecer naquela tão miserável situação? Talvez mal tenha lhe restado pedaços de suas roupas. A Bíblia não relata com exatidão, mas nos permite entender que ele ofereceu louvor[5] em forma de cântico dizendo “do Senhor vem a salvação”. Talvez ele não tenha cantado naquele momento, mas de alguma forma expressou esse ato de gratidão à Jeová, e comprometeu-se ainda a pagar um voto[6] a Ele como forma de sacrifício.
    Não deveria ser assim, mas, muitas vezes, é quando nos vemos submersos na angústia que reconhecemos a necessidade de gratidão e um grande desejo de oferecer algo ao Senhor. Mas o que oferecer quando não temos mais nada? Uma coisa é certa, sempre temos algo, pois oferta[7] não se resume em finanças. Seja um louvor por meio de cântico ou de alguma expressão de adoração ou até a utilização de algum dom ou habilidade que tenhamos em prol de sua Obra, isso já representa a entrega de uma oferta, um sacrifício (Sl 116:12-14). Se não podemos fazer algo no momento, até podemos oferecer um voto, mas não nos esqueçamos que isso é um compromisso diante de Deus e não pode deixar de ser pago (Dt 23:21-23), pois Ele não se agrada de sacrifícios de tolos (Ec 5:1-7).

10 - A prova do amor e da soberania de Deus, livrando e levando-o aonde Ele queria que fosse (2:10)
    Deus tudo contemplava naquela situação toda e, diante daquela oração, conduziu o peixe à terra e o ordenou que vomitasse a Jonas. Aqui podemos observar duas de suas características inquestionáveis: amor e soberania. Ele poderia ter entregue aquele profeta desobediente à morte e usado outro, ou simplesmente também ter desconsiderado a salvação dos ninivitas, pois os mesmos eram terríveis pecadores, mas, ao mesmo tempo que livrou Jonas da morte e levou a ele próprio ao cumprimento dessa missão, mostrou ainda que nenhuma circunstância o faria desistir de cumprir seu propósito de salvação com quem quer que fosse.
    Seja em relação aos que escolheu para fazer sua Obra (Jr 1:5), ou aos que precisam ouvir sua palavra (Jo 12:47-49), Deus tem um plano em cada vida e proporcionará meios para cumpri-lo porque Ele é fiel e não pode negar a si mesmo (Nm 23:19; 2ª Tm 2:13). Porém, a infidelidade é viva dentro de nós (Rm 7:15-20), a qual nos torna sujeitos à desobediência, deixando-nos vulneráveis a perder o que nos está destinado (1ª Co 10:12; Mt 26:41). Por essa razão, cuidemos para que naquele Grande Dia não sejamos cobrados por termos desonrado ao que o Senhor entregou em nossas mãos, sejam dons espirituais (Mt 25:24-30; 7:21-23[8]) ou a própria salvação (Hb 3:17-19).



[1]Propiciação: Ato realizado para aplacar a ira de Deus, de modo a ser satisfeita a sua santidade e a sua justiça, tendo como resultado o perdão do pecado e a restauração do pecador à comunhão com Deus. No Antigo Testamento a propiciação era realizada por meio dos Sacrifícios, os quais se tornaram desnecessários com a vinda de Cristo, que se ofereceu como sacrifício em lugar dos pecadores (Êx 32.30; Rm 3.25; 1ª Jo 2.2).
[2]Vaga: Onda.
[3]Alga: Planta que vive no fundo ou à tona de águas salgadas ou doces. As algas servem de alimentos para alguns tipos de peixe.
[4]Hissopo: Denominação comum às ervas ou subarbustos perenes do gênero Hyssopus, da família das labiadas, originárias do sul da Europa e da costa do Mediterrâneo ao centro da Ásia, com flores espiraladas em espigas bracteadas. Erva (Hyssopus officinalis) medicinal labiada, originária do sul da Europa, de folhas violáceas, altamente aromáticas e estimulantes, usada na fabricação de perfumes e licores. Planta que na purificação era usada para borrifar líquidos (Êx 12:22).
[5]Louvor: Ato de louvar. Aplauso, elogio, encômio. Glorificação. Expressão usada para se referir às músicas feitas para adorar a Deus.
[6]Voto: Promessa feita a Deus (Ec 5:4; At 18:18). Pedido a Deus (3ª Jo 1:2).
[7]Oferta: Ato de oferecer; oferecimento. Oblação, oferenda. Retribuição de certos atos litúrgicos. Dádiva. Promessa.
[8]Talento: O talento de ouro ou prata era a unidade de moeda romana para grandes quantidades de dinheiro. Ele foi introduzido na Grécia Antiga e depois adaptado para o sistema monetário romano. Um talento era igual a 60 minas, que, por sua vez eram equivalentes a 100 dracmas. Sabendo que uma dracma era igual a 4,5 a 6 gramas de ouro ou prata, um talento significava entre 27 a 36 quilos de metal. Estudiosos calculam que um talento hoje valeria no mínimo 1300 dólares (cerca de dois mil reais). Espiritualmente, os talentos representam os dons que o Espírito Santo nos concede e, na linguagem popular expressa as habilidades especiais de uma pessoa; era um termo muito usado pelos romanos para elogiar uma pessoa de valor.

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