Jonas 4:4-11
A lição de Deus vai além de "puxões de orelha". Muitas vezes Ele permite a bênção e depois a tira para mostrar a nós mesmos que nossos interesses estão fora do verdadeiro foco. |
1 – Sendo questionado por Deus sobre suas atitudes (4:4)
“É
razoável esse teu sentimento?”; essa foi a grande pergunta que Deus lhe
fez. Em outras palavras, Ele quis dizer: “você acha justo esse seu
ressentimento?”, “você tem alguma razão para estar com toda essa ira?”. O que
mais impressiona nesse ponto da história não são as sábias perguntas reflexivas
de Jeová, mas sua paciência com um homem tão rebelde e teimoso que mesmo depois
de quase ter morrido por sua desobediência, ainda se recusava a compreender o
valor do perdão. Só mesmo Deus para entender e suportar o ser humano.
Deus tem te corrigido? Então considere-se
mais que feliz, pois somente aquele que Ele tem como filhos são signos de sua
correção (Hb 12:6-8). Porém, melhor mesmo é
viver em obediência e evitar motivos para correções. Uma coisa que provoca a
ira do Criador é a falta de misericórdia de suas criaturas, pois Ele as criou
para viver em harmonia na terra (Rm 12:17-20). A
falta de paz e perdão entre os homens ferem seu caráter santo e mostram o
quanto eles estão longe dEle (Tg 3:13-18). A
paciência divina é realmente para nós um motivo de segurança, no entanto, ela
tem limite e, não havendo arrependimento, sua justiça é implacável (Na 1:3a).
2 – Ignorando a realidade (4:5)
Apesar de ouvir a voz do Senhor, continuava
o profeta achando que algo aconteceria àquela cidade: saiu dela e fez uma
cabana, sentando-se sob ela e se colocando a observar qual seria de fato o
destino daquelas pessoas. É como se não acreditasse de forma alguma que Deus
fosse mesmo tão bondoso a ponto de não aplicar sua ira contra os pecados
outrora praticados por eles. O que queria Jonas? Sua missão já estava cumprida
e não havia mais nada o que fazer ali. Mas tão grande era a dureza de seu
coração que ele precisava ver de perto como se as palavras que já tinha ouvido
não lhe fossem suficientes. Dessa forma o que ele conseguiu foi atrair para si
a ira do Senhor.
Quando não aceitamos aquilo que sabemos que
foi Deus quem fez daquela forma, simplesmente estamos dizendo: “Senhor, tu não sabes o que está fazendo e eu
não admito isso!”. Como portadores de uma missão tão especial, não podemos
pensar que temos o direito de continuar sentados numa sombra aguardando a
destruição dos ímpios dizendo que é isso mesmo que eles merecem. O cristão não
deve olhar para o passado ou para o presente de seu próximo, ele apenas tem que
pregar esperançoso de que o mesmo se arrependa e abandone o pecado (Mt 9:11-13). Muitas vezes queremos pregar e orar pelos
“bonzinhos”, mas o que temos feito por aqueles que mais necessitam de ajuda por
menos que a mereçam (Lc 6:27-36)?
3 – Se alegrando com o próprio bem-estar (4:6)
Já que ele queria conforto enquanto
aguardava a execução da sentença final contra aqueles pecadores, o Senhor
resolveu colaborar com o santo profeta fazendo nascer uma planta - uma espécie
de aboboreira -; afinal, seu ungido era digno de usufruir do melhor dessa
terra. Nesse momento ele sentiu o refrigério e se alegrou extremante,
certamente, imaginando que Deus estava realmente com ele e que seus pensamentos
contra os ninivitas estavam certos.
Sabe aquelas bênçãos que Deus nos permite
ter, sejam elas a nível ministerial ou mesmo secular? Elas não significam nada!
Pois coisas boas e ruins acontecem aos justos e aos injustos (Mt 5:44,45); portanto, o bem e o mal permitidos por
Deus - considerando-se as exceções -
não expressam recompensa ou castigo. Ministrações bem-sucedidas podem
significar simplesmente a compaixão de Deus sobre os ouvintes e conforto
material somente um teste contra o próprio mensageiro mostrando o quanto ele é
egoísta. Quantas vezes fizemos algo pela Obra - tanto na Palavra como no louvor,
nas contribuições, na execução de serviços gerais ou mesmo na administração - apenas
visando nosso próprio bem-estar, sem nos importarmos realmente com o objetivo
verdadeiro que é levar vidas ao conhecimento da verdade por meio daquele
trabalho? A aboboreira pode até ter sido plantada por Deus, mas a cobrança
contra o egoísmo daqueles que permanecem embaixo dela também será feita por Ele
(Mt 24:48-51[1]).
4 – Recebendo um golpe em sua alegria egoísta (4:7)
No dia seguinte, quando tudo parecia bem, a
surpresa preparada para Jonas não foi nada agradável: o mesmo Deus que criou a
aboboreira também enviou um bicho que a feriu e ela secou. Era a hora da grande
lição. Ele precisava entender que ser israelita não significava ser superior
aos demais e que todos, mesmo não sendo merecedores, necessitavam de
misericórdia.
Não devemos esperar Deus enviar um bicho
para devorar nossa aboboreira; se queremos preservar alguma conquista, uma
mudança de atitude, a qual começa por dentro (Rm
12:1,2,11) é necessária e urgente! Há coisas que dependem de nós, mas
são consequências tanto das atitudes quanto das intenções em tudo aquilo que
fazemos (Rm 14:5,6).
5 – Sendo duramente corrigido por Deus (4:8)
E lá vem Jonas de novo com seu
sentimentalismo: “melhor me é morrer do
que viver!”; essa foi sua reação quando acordou de um desmaio causado por
um vento quente vindo do leste. Aqui ele passa a agir como um menino manhoso,
pois não se conformava em perder a bênção e receber o castigo. Mas a situação
era muito séria, porque ele desejou a morte com toda a sua alma, ou seja, de
todo o coração. Havia uma guerra dentro de si e seu oponente era o próprio
Deus.
A noite garante a sombra e tudo parece
calmo, mas é o dia que vai revelar a necessidade da sombra; será que as mãos do
Senhor permanecerão sobre nós ou fomos reprovados no teste (1ª Co 9:26,27; 2ª Co 13:5)? Aparecendo o sol,
descobriremos se a aboboreira que Deus plantou ainda está sobre a nossa cabana,
e é nesse momento que descobrimos se estamos sendo confortados ou corrigidos por
Ele. Muitos são os crentes que não suportam a correção e desistem do
cumprimento do chamado; e o pior de tudo isso é quando não percebem que sua
reprovação está vindo do Alto e atribuem seus fracassos à igreja, à situação
financeira ou à própria família. Essa guerra interna tem feito o coração de
muitos se entregar à morte espiritual provocando grandes quedas, pois não há
como permanecer de pé quando se combate contra o próprio Deus (At 5:38,39; 1ª Co 10:20-22).
6 – Questionando a Deus por não aceitar a correção (4:9)
Pela segunda vez o Senhor lhe questiona se
é justa a sua ira: a primeira havia sido pelo livramento dos ninivitas e agora
era por causa de uma planta. Sua resposta foi se auto justificar confirmando
sua razão de desejar a morte. Com essa atitude ele revelou três características
negativas: não aceitava correção devido ao orgulho, não conseguia perdoar e era
muito apegado a coisas materiais. Esses sentimentos meramente carnais eram o
que o levavam a não admitir estar errado e querer que sua razão prevalecesse a
todo custo.
Você aceita correção? Você compreende e
aceita o motivo de estar sendo corrigido ou bate o pé querendo ter razão de
todo jeito? É normal a correção nos entristecer no momento (Hb 12:11), mas se essa tristeza nos levar a aceitar a
morte, ou seja, o fracasso espiritual, isso significa que estamos fora do foco
em que deveríamos estar. Antes de justificarmos a nós mesmos, devemos analisar
se estamos realmente certos e verificar se não estamos caindo em pelo menos um
dos três pontos negativos que costumam predominar nesse tipo de situação: o
orgulho que leva à negação do erro, a incapacidade de perdoar e o apego às
coisas materiais. De nada adianta insistir com Deus quando sentimentos humanos
predominam dentro de nós (Tg 4:1-5).
7 – Sendo alertado pelo Senhor contra o seu egoísmo (4:10)
Agora Jeová revela à Jonas explicitamente
todo o seu egoísmo, apontando para sua falta de amor ao próximo e sua
supervalorização a si mesmo. Afinal, o que era aquela aboboreira senão uma
simples planta com a qual ele não teve trabalho algum e nem possuía grande
importância, pois teve apenas algumas horas de vida? Sua compaixão estava com
os valores invertidos.
Aonde está concentrado o seu sentimento?
Existe algo mais importante do que o propósito da missão que foi confiada a ti?
Seus valores revelam seu compromisso com a Obra (Mt
6:19,20; Cl 3:1-3). Uma das coisas que mais desagradam a Deus é o nosso exagerado
compromisso com nós mesmos, principalmente quando chegamos ao ponto desprezar a
dor do próximo (Gn 4:9-12; Rm 12:15,21).
8 – Uma lição divina sobre a necessidade do amor e da
misericórdia (4:11)
Encerrando sua lição ao profeta, Deus se
compara a ele mostrando a diferença entre ter compaixão ou amor por coisas banais
e por pessoas necessitadas. Aqui Ele deixa clara a questão que, embora fossem
pecadores, os ninivitas eram tão ignorantes a nível de não conhecerem os
detalhes mais básicos da vida. Dessa forma o Senhor revela seu caráter de
extrema bondade agindo compreensivamente, dando-lhes uma nova oportunidade. E
essa extrema bondade compreensiva estendia-se à Jonas, o qual Ele poderia ter
matado impiedosamente pelo simples fato de ter questionado sua soberana vontade
e liberdade de ação.
Lamentar as decisões divinas significa
reprovar sua justiça desmerecendo seu amor pelos perdidos. Muitas vezes, somos
tão intolerantes que não queremos saber o que levou alguém a errar e apenas
esperamos seu castigo. Porém, felizmente, Senhor não vê como nós (1ª Sm 16:7; Hb 4:13) e não considera a ignorância
humana (At 17:30). Se Ele reagisse sem
misericórdia conforme o pecado do homem, não haveria que se salvasse sobre a
face da terra (Rm 3:10-12). A imagem de muitos
cristãos hoje reflete o que aprendemos nos 48 versículos desse livro: falta de
misericórdia. Ainda assim, ele é citado pelo próprio Jesus Cristo como um sinal
para Israel (Mt 12:39,40). Por isso, nos atentemos
a todos os seus pontos, analisando o que devemos ou não devemos pôr em prática
através das lições do profeta Jonas (1ª Ts 5:21).
[1]Conservo: Companheiro de outros servos.
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