Texto
Bíblico
Neemias 6:1-3 - Sucedeu que,
ouvindo Sambalate[1], Tobias[2], Gesém[3], o árabe, e o
resto dos nossos inimigos, que eu tinha edificado o muro, e que nele já não
havia brecha alguma, ainda que até este tempo não tinha posto as portas nos
portais, 2Sambalate e Gesém mandaram dizer-me: Vem, e
congreguemo-nos[4] juntamente nas
aldeias, no vale de Ono[5]. Porém
intentavam fazer-me mal. 3E enviei-lhes mensageiros a dizer: Faço
uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra,
enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco?
História
Jerusalém. Ano 445aC. O cativeiro da Babilônia[6] já havia
se findado e, aos poucos, os judeus eram enviados em grupos de volta à sua
terra. Neemias[7], um
copeiro do rei Artaxerxes[8], sendo um
judeu temente a Deus e tremendamente apegado ao seu povo, recebeu tristes
notícias sobre a situação de Jerusalém e, depois de orar e jejuar, sendo
autorizado pelo rei, foi conferir de perto. Chegando lá, o que viu foi uma cena
terrível: o que havia sobrado do muro estava aos pedaços, das portas restaram indícios
de madeira e metal queimados, entulhos estavam espalhados por todas as partes
de modo que ele nem conseguia passar com o animal sobre o qual estava montado, o
povo estava em grande pobreza e sua identidade cultural, social e religiosa
estavam sob forte influência dos seus colonizadores. A situação era gravíssima,
pois um muro representava a segurança e a importância de uma cidade; e ele,
como um fiel servo de Deus, sentiu-se na obrigação de tomar uma atitude. Mas o
que fazer diante de um cenário tão caótico? Primeiramente, pedir a orientação
do Senhor e, a partir daí, elaborar um projeto de reconstrução, reunir o povo,
calcular os gastos, arrecadar o que fosse necessário, organizar tudo e dar
início aos trabalhos. Fazendo isso, quando tudo estava em andamento, surgiu um
grande obstáculo: os inimigos da obra: Tobias, Sambalate e companhia Ltda. Mas
quem eram eles? Esses eram homens que ocupavam cargos importantes no governo e
se sentiam ameaçados pela reconstrução dos muros, pois temiam que isso
possibilitasse uma rebelião dos judeus, fato esse que lhes traria grandes
prejuízos, pois Jerusalém era uma grande cidade. Esse é o perfeito retrato dos
habituais inimigos da Obra que enfrentamos ainda nos dias de hoje: eles podem
estar tanto fora quanto dentro da igreja, seus motivos são sempre a ganância
material e a busca pelo status, seu alvo são aqueles que estão trabalhando pela
edificação da Igreja e seus meios sempre visam a destruição dos que se opuserem
aos seus planos malignos. Como devemos reagir perante eles? Neemias nos dá um perfeito
exemplo de como deve agir um verdadeiro servo de Deus: “Faço uma grande obra,
de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a
deixasse, e fosse ter convosco?”. Qual é o grau do seu envolvimento com
a Obra? É apenas um membro dela ou está comprometido com ela?
Mensagem
Qual é a sua prioridade? Diante da provocação você para
de trabalhar e dá atenção ao inimigo, ou você ignora suas palavras e continua
com sua atenção voltada para Jesus?
As
estratégias dos inimigos:
Zombaria: Os inimigos usaram palavras ofensivas à honra, na
tentativa de provocar o ego dos judeus (Ne 4:1-3). Muitas
vezes somos afrontados pelos ímpios porque servimos a Deus ou até mesmo por
crentes quando não concordam com nossa dedicação à Obra; porém, a justiça
divina contempla todo sofrimento e age no momento certo (Sl 1:4-6).
Falsas propostas: Vendo a determinação de Neemias, prepararam uma
armadilha e se fingiram de amigos (Ne 6:2). O inimigo
nem sempre se apresenta furioso e armado, por isso devemos estar sempre alertas
a tudo o que nos é oferecido (Pr 26:24-26).
Mentiras: Diante da persistência, os
inimigos apelaram para a falsa acusação (Nm 6:6,7). As
calúnias inventadas a nosso respeito somente nos derrubam se dermos ouvidos ao
inimigo, pois quando resistimos somos justificados e honrados pelo Senhor (Mt 5:10-12).
A
resistência aos inimigos:
Busca da orientação divina: A primeira reação de Neemias foi orar;
ele “desabafou” com Deus todas as suas amarguras (Ne 4:4,5[9]). Quem
busca a orientação de Deus, não somente consegue encontrar as respostas certas
como também recebe paz em seu coração, pois começa a entender que seu
verdadeiro inimigo é espiritual e não carnal (Ef 6:10-13[10] [11] [12]).
Discernimento entre a verdade e a mentira: Nas tentativas de
aproximação, que na verdade eram ciladas, podemos notar o discernimento
espiritual de Neemias que não acreditou nos argumentos apresentados (Ne 6:2); nem
mesmo os “profetas” conseguiu enganá-lo (Ne 6:12-14) e,
prudentemente, já havia orientado o povo a vigiar enquanto trabalhava (Ne 4:17-20). Como
servos de Deus, não podemos aceitar o fato de sermos enganados diante de
qualquer argumento, pois temos que saber discernir entre a verdade e a mentira
(At 5:1-3) considerando o fato de que o
discernimento é um dom espiritual (1ª Co 12:7,10; 2:14,15) e, pelo
meio do qual, nem mesmo os que usam o nome de Deus podem conseguir nos enganar
(1ª Jo 4:1).
Resposta firme aos opositores: Quando
foi convidado para uma reunião com Tobias e Sambalate, percebendo que se
tratava de um impedimento à obra, não tentou se desculpar e muito menos atendeu
ao chamado, ele simplesmente disse que o que ele estava fazendo era muito mais
importante (Ne 6:3). Quais são as respostas que estamos
dando àqueles que tentam nos afastar das coisas de Deus (1ª Tm 4:1,2[13]; Rm 16:17,18[14])?
O
resultado da resistência:
A conclusão do muro: O resultado da persistência, da coragem e da
fidelidade a Deus foi excelente: eles conseguiram concluir o muro em cinquenta
e dois dias (Ne 6:15[15]). A
conquista do objetivo é certa, mas apenas para aqueles que não desistem. Não há
como evitarmos a existência dos opositores, mas quem garante o sucesso da Obra
é aquEle que ordenou que a fizéssemos (Mt 10:22; Gl
6:9).
A exaltação do nome de Deus: O término da construção não somente
alegrou aos judeus, mas também honrou a Jeová diante de seus próprios inimigos
como também dos gentios (Ne 6:16); pois o
serviço sacerdotal foi restabelecido (Ne 7:1,2); e o povo
voltou a adorar livremente (Ne 8:1,6), podendo
inclusive ofertar (Ne 10:37), assim
alcançando um verdadeiro avivamento tendo sua fé fortificada (Ne 9:38). Qual é o
objetivo que te leva a fazer parte da Obra do Senhor? Todos os trabalhos os
quais tivermos oportunidade para fazer devem ser executados com amor e
dedicação, lembrando-nos que trabalhamos para Deus e não para os homens (Cl 3:17; Ec
9:10).
O resgate da dignidade do povo: Com
a edificação dos muros passou a haver um controle sobre os habitantes de
Jerusalém que lhes permitiu registrar suas genealogias (Ne 7:5); os que não pertenciam
ao povo foram apartados, dando-lhes mais liberdade para se prostrarem diante de
Deus (Ne 9:2)
e assim puderam também voltar a zelar pela pureza do seu povo não estando mais
sujeitos às mais diversas influências dos povos estrangeiros (Ne 10:29,30). Você
tem se preocupado em manter-se puro vivendo nesse mundo tão corrompido pelo
pecado? O verdadeiro crente preocupa-se muito em fazer a diferença em qualquer
lugar que esteja (Jo 17:14-17).
Conclusão
Sobrevivendo em tempos de supervalorização material numa situação em que
o próprio Evangelho é encarado por muitos simplesmente como um bom negócio de
grandes proporções financeiras, o verdadeiro cristão, que é aquele que não se
rende aos “Tobias” e “Sambalate” que estão à sua volta, precisa se inspirar em
homens como Neemias e no próprio Senhor Jesus Cristo para não se corromper e
nem desistir de sua missão. Reconstruir muros já não é uma tarefa muito fácil,
e com inimigos tentando impedir se torna quase impossível. No entanto, o que
aprendemos aqui é que quando nos colocamos em oração pedindo a Deus que seja
Ele o idealizador e executor de nossos projetos não há como a edificação não
ser concluída. É assim que percebemos que os maiores obstáculos não são os
opositores, mas sim nós mesmos quando não temos fé e confiança no próprio
chamado. Neemias não precisou se expor entrando em brigas ou mesmo discutindo;
sempre respondeu com mansidão e firmeza, e Deus cuidou de tudo por ele. Essa
deve ser a reação de um verdadeiro cristão; o mundo precisa ver esse exemplo em
nós. E, por essa razão, não devemos perder tempo em nosso ministério olhando e
dando ouvidos às pessoas que não concordam ou não acreditam no que fazemos,
porque se nós temos a certeza de que foi o Rei quem nos chamou e está nos
capacitando, estamos mais do que autorizados a cavar os alicerces e prosseguir
com o trabalho. Falando nisso, você já conversou com o Dono da Obra hoje (Ne 13:31b)?
[1]Sambalate: O seu nome na língua babilônia é
"Sin-Uballit" que significa "Que Sim lhe dê vida" (Sim, na
Babilônia, era considerado o deus da lua). Provavelmente nasceu em Bete-Horom,
por isso era chamado de horonita. Ele foi o líder dos opositores de Neemias
porque se sentia politicamente ameaçado com seu trabalho de edificação dos
muros em Jerusalém. Seus filhos, Delaías e Selemias, tinham nomes judeus e sua
filha se casou com o filho de um sumo sacerdote, o que dá a entender que ele
possa ter feito as pazes com Neemias ou com seu povo.
[2]Tobias: Um amonita que foi um dos principais opositores à Neemias na reconstrução
de Jerusalém. Era um provável oficial de alto escalão do governo persa. Ele e
seus filhos se casaram com mulheres judias. Embora tenha sido recebido no
Templo pelo sumo sacerdote Eliasibe, foi expulso por Neemias.
[3]Gesém: Chamado na Bíblia de arábio,
acredita-se que foi um governador edomitas ou persa. Juntamente com Sambalate e
Tobias, foi um dos principais opositores de Neemias na reconstrução de
Jerusalém.
[4]Congregar: Reunir;
juntar. Se reunir ou se juntar com outras pessoas.
[5]Ono: Citado no livro de Neemias (Ne 6:2), esse vale ficava a, mais ou menos,
32 quilômetros de Jerusalém.
[6]Cativeiro da Babilônia: Também chamado de Exílio
ou Cativeiro da Babilônia, é o nome geralmente usado para designar a deportação
em massa e exílio dos judeus do antigo Reino de Judá para a Babilônia por
Nabucodonosor II. Este período histórico foi marcado pela atividade dos
profetas do Antigo Testamento, Jeremias, Ezequiel e Daniel. A primeira
deportação teve início em 598 aC.. Jerusalém é sitiada e o jovem Joaquim, Rei
de Judá, rende-se voluntariamente. O Templo de Jerusalém é parcialmente
saqueado e uma grande parte da nobreza, os oficiais militares e artífices,
inclusive o Rei, são levados para o Exílio em Babilônia. Zedequias, tio do Rei
Joaquim, é nomeado por Nabucodonosor II como rei vassalo. Precisamente 11 anos
depois, em resultado de nova revolta no Reino de Judá, ocorre a segunda
deportação em 587 aC. e a consequente destruição de Jerusalém e seu Templo.
Governando os poucos judeus remanescentes na terra de Judá - os mais pobres -
ficou Gedalias nomeado por Nabucodonosor II. Dois meses depois, Gedalias é
assassinado e os poucos habitantes que restavam fogem para o Egito com medo de
represálias, deixando a terra de Judá (ex-Reino de Judá) efetivamente sem
habitantes e suas cidades em ruínas. É certo que o período de cativeiro
"em Babilônia" terminou no primeiro ano de reinado de Ciro II (538
aC./537 aC.) após a conquista persa da cidade de Babilônia (539 aC.). Em
consequência do Decreto de Ciro, os judeus exilados foram autorizados a
regressar à terra de Judá, em particular a Jerusalém, para reconstruir o
Templo. Esse cativeiro durou 70 anos.
[7]Neemias: Significa "Javé Conforta". Judeu, copeiro de Artaxerxes.
Liderou um grupo que voltou do Cativeiro Babilônico para Jerusalém, onde foi
governador e realizou reformas. Foi um homem de muita habilidade e coragem. É
considerado um grande exemplo de liderança; uma de suas obras mais marcantes
foi a reconstrução dos muros de Jerusalém sob forte oposição de Sambalate e
Tobias. É o provável autor de um livro histórico do Antigo Testamento que leva
o seu nome.
[8]Artaxerxes: Significa
"Rei Poderoso" ou "Grande Guerreiro". É um nome próprio ou
título (como César e Faraó) de três reis da Pérsia, dois dos quais são
mencionados na Bíblia. 1) Artaxerxes I, apelidado de "Longímano" (mão
longa), reinou de 464 a 424 aC. e proibiu a reconstrução do templo e de
Jerusalém (Ed 4:7-23; 6:14). 2) Artaxerxes II, reinou de 404 a 358 aC. Ele deu
a Esdras e Neemias autoridade e também mantimentos, ouro e prata para o Templo
(Ed cap. 7; Ne 2:1-9; 13:6).
[9]Opróbrio: Desonra; vergonha.
[10]Principado: Dignidade de príncipe. Território cujo governo pertence a um príncipe
ou a uma princesa. Mencionado na Bíblia também em referência a espíritos, sejam
eles bons ou maus (1ª Co 15:24; Ef 1:21; 3:10; 6:12; Cl 1:16; 2:10,15).
[11]Potestade: Potência, força, poder. A divindade suprema, segundo a religião.
Potentado.
[12]Hoste: Tropa, exército beligerante, corpo de exército. Bando, chusma,
multidão.
[13]Cauterizado: Que sofreu aplicação de cautério (ferro quente, cáustico ou outro
agente que queima e converte em escara (ferida de queimadura), ou destrói os
tecidos a que é aplicado). Morto ou destruído por ação de ferro em brasa.
Simboliza uma mente destruída (1º Tm 4:2).
[14]Lisonja: Bajulação. Agradar alguém por interesse.
[15]Elul: No calendário judaico, esse é o
mês correspondente ao período de agosto e setembro.
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