“Digo-vos que não sabeis o que
acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um
pouco e depois se desvanece[1].”; Esse alerta registrado em Tiago 4:14 resume a realidade da morte[2] de forma bem clara e objetiva, levando-nos a refletir sobre
nossa fragilidade e a brevidade de nosso tempo sobre essa terra. Diante de todas as dúvidas, nascemos e
crescemos alimentando apenas uma certeza: podemos morrer a qualquer momento! Sendo
ela o maior motivo de medo entre os seres humanos, por nós, cristãos, é
encarada com muito mais seriedade ainda; isso porque sabemos que ela representa
não apenas o fim da vida terrena, mas o início de uma vida no plano espiritual,
o que pode ser muito bom... ou não. Nas Escrituras Sagradas, de forma direta ou
indireta, a morte é citada mais de mil vezes. Mas antes de analisarmos
biblicamente o que é a morte, vejamos o que ela significa sob o ponto de vista
secular[3]. De acordo com os mais renomados dicionários da língua portuguesa,
resumidamente, a palavra morte é definida como “fim ou cessação da vida animal ou vegetal”. Embora cause pavor, ao
mesmo tempo ela fascina e desperta a curiosidade de muitos, razão essa pela
qual esse assunto é bastante explorado. Para a maioria das pessoas, nada existe
além da sepultura, mas o que a Bíblia diz sobre isso? Sendo o ser humano
composto de corpo, alma e espírito (1ª Ts 5:23) - o que a Teologia define como tricotomia[4] -, o que acontece com esses três elementos após a morte? Para
entender isso melhor, lembremo-nos do seguinte: fomos criados segundo a imagem
de Deus (Gn 1:26,27), o qual
possui uma tríplice personalidade - a
Trindade[5] -: o Pai (a alma), o
Filho (o corpo) e o Espírito Santo (o espírito).
O corpo
Essa é a parte material do ser. É o que lhe
permite funções físicas, as quais dependem do funcionamento de todo o organismo
e membros que o compõem. A Bíblia afirma que ele foi formado da terra pelas
próprias mãos de Deus, o qual lhe deu fôlego de vida soprando suas narinas (Gn 2:7,22[6]; 3:20[7]). A ciência reconhece que a composição básica do corpo humano é
43,5% de cálcio, 4,3% de sódio, 10,2% de potássio, 7,1% de enxofre, 1,4% de
magnésio, 29,1% de fósforo e 0,1% de ferro, além de pequenas porcentagens de
iodo, manganês, cilício e cobre entre outros minerais. Isso significa que não
há como negar que somos realmente feitos do pó da terra. As Escrituras afirmam
ainda que o corpo será transformado para a eternidade (1ª Co 15:51-54; 1ª Jo 3:2) e que é pelo
que fazemos por meio dele que seremos julgados (2ª Co 5:10). Segundo os especialistas nas ciências que estudam o assunto,
o corpo do ser humano, quando morre, passa por vários processos; e não há nada
que contenha mais vida do que um cadáver[8], porque durante todo o estágio de putrefação ele se torna
hospedeiro de vários parasitas que o consomem, assim executando sua
decomposição, a qual já se inicia em poucos minutos após o óbito[9]. Os sinais determinantes da ausência de vida são a perda total
da respiração e dos movimentos e a cessação do batimento cardíaco e da
pulsação; e suas características mais notáveis se tornam visíveis em alguns
minutos: queda de temperatura, endurecimento e uma coloração roxa e acinzentada;
com o passar das horas, o cheiro vai se tornando cada vez mais desagradável. No
ato do falecimento, quando cessa a respiração, as células param de receber
oxigênio, mas ainda ficam vivas por alguns minutos gerando dióxido de carbono,
um ácido que se acumula e se rompe dentro das células, digerindo-as de dentro
para fora. Isso gera fluídos ricos em nutrientes que passam a alimentar fungos
e bactérias que conforme consomem a matéria humana, produzem uma quantidade
aproximada de quatrocentos produtos químicos e gases como freon, benzeno, enxofre
e uma molécula chamada tetracloreto de carbono. Todo esse processo leva semanas
e, até chegar a esse ponto, quase já não existe mais carne, pois as larvas e os
insetos deixam apenas os ossos para trás. Com o passar do tempo - o que leva em
média dois anos -, a proteína dos ossos também é decomposta e o que sobra é um
mineral ósseo conhecido como hidroxiapatita, o que o leva a se transformar em
pó. Assim vemos, sob comprovação científica, como a Palavra de Deus se cumpre
fielmente (Ec 3:20). É interessante ressaltar ainda
que a mistura desses elementos na terra formam uma substância que gera
fertilidade no solo, ou seja: a partir deles brotam plantas, as quais sustentam
vidas alimentando outros seres. Se quando estamos vivos nos alimentamos de vegetais
e animais, depois de mortos também os sustentamos. A justiça divina nos impõe
um ciclo de vida que nos torna alimentadores daqueles que nos alimentam.
A alma
Essa é a parte não-material do corpo. É o
seu estado de consciência e sentimentos, seu intelecto. A palavra “alma”,
muitas vezes na Bíblia, aparece com o significado de “vida”, “pessoa” (Gn 12:15; 46:26,27; Nm 9:13; At 27:37) e, em alguns
casos, substitui o pronome pessoal como, por exemplo, no Salmo 22:20a
em que Davi diz “livra a minha alma
da espada”, clamando a Deus por um livramento à sua própria vida. Em Gênesis
2:7 está escrito que quando Deus deu o fôlego de vida, o homem se tornou alma vivente; isso significa que
dando-lhe um corpo e condições de respirar, Ele simplesmente deu vida física à
uma vida que poderia existir apenas sobrenaturalmente. Assim, podemos
compreender que, após a morte do corpo, a alma - o estado de consciência - permanece de fato consciente tendo ele
sido salvo ou não, conforme mostra o próprio Senhor Jesus em sua narração da
parábola do rico e Lázaro registrada em Lucas 16:19-31. A Bíblia revela ainda
que os mortos apenas não tem ciência do que acontece na terra, ou seja: fora do
ambiente em que eles estão (Ec 9:4,5).
O espírito
Assim como a alma, ele igualmente é uma
parte não-material do corpo. Sendo também ligado à parte racional e emotiva do
homem, sua função tende mais ao seu lado espiritual, ou seja: seu nível
comunhão com Deus. Sendo por muitos confundido com a alma, suas características
se assemelham às dela. A diferença está no fato de, no que se refere ao
intelecto, ele não ser superficial, pois está diretamente ligado à sabedoria
como uma ligação sobrenatural ao Espírito do Criador (Jo 3:6; Rm 8:1,2,13; 1ª Co 6:17; Ez 36:26,27). Na língua portuguesa, entre tantos sinônimos, ele aparece
também significando estado de ânimo ou comportamento - espírito de luta, espírito de trabalho, espírito de paz, espírito de
porco, etc. -, ou seja: expressa ação, estando assim acima do simples
estado de conhecimento. É nosso espírito - e não nossa alma - que recebe as
revelações de Deus, seja em profecia ou na interpretação durante a ministração
da Palavra, por exemplo; da mesma forma, vivemos no espírito e oramos e
adoramos em espírito e não em alma. Agora, voltando ao foco do nosso assunto
que é o que acontece com espírito após a morte, a Bíblia diz que ele torna para
Deus (Ec 12:7).
Pessoas que tiveram experiências
sobrenaturais em relação à morte, conhecidas como EQM[10], as relatam de diferentes formas. As descrições mais comuns
são:
·
Medo e incerteza sobre o
que está acontecendo.
·
Sentimento de paz
interior.
·
Sensação de flutuar acima
do corpo físico.
·
Impressão de estar em um
outro corpo.
·
Visão privilegiada, em
360º, do ambiente ou fora dele.
·
Visão de pessoas -
geralmente já mortas - a sua volta.
·
Visão de seres
espirituais.
·
Sensação de que o tempo
está passando mais rápido ou mais devagar.
·
Aumento da sensibilidade
dos sentidos naturais.
·
Passagem por um túnel
iluminado.
Tais relatos, como outros, costumam ser
contraditórios e muito confusos. A medicina costuma classifica-los como
alterações psicológicas, enquanto que vários segmentos religiosos os definem
como experiências espirituais ou sobrenaturais. No meio evangélico há vários
casos de pessoas que afirmam terem ido ao céu ou ao inferno após a morte e
terem posteriormente recebido ordem para voltar e contar o que viram, assim
alcançando a ressurreição do corpo físico. Muitas dessas situações já estão
comprovadas como fraudes ou equívocos enquanto outras, sendo recebidas como
verdades, não possuem provas que nos deem clareza de sua autenticidade, até
mesmo por não existir base bíblica para isso. A ressurreição sim é algo
biblicamente comprovado e não existe nela nada que afirme que esse - e outros
milagres - tenham sido cessados nos tempos apostólicos (Mt 10:7,8); no entanto, os relatos
sobrenaturais dos que passaram por esse processo ficam por conta da fé e do discernimento
espiritual.
Como
se estivéssemos preparados apenas para viver, o simples fato de pensar na morte
nos aterroriza, principalmente por imaginarmos o quanto ela pode ser dolorosa e
agonizante. Embora não tivesse medo da morte em si, mas até o próprio Jesus
sofreu em seus momentos finais antes e durante a crucificação (Mt 26:37-39; 27:46). E não é sem razão, pois raras
são as mortes repentinas. Mas, se não sobrevivermos até o arrebatamento da
Igreja é inevitável passarmos por ela; então, o que importa é que estejamos
preparados para isso (At 20:24). De tudo o que sabemos ou possamos aprender sobre a morte, o
mais importante é: o verdadeiro cristão não pode e nem deve ter medo dela (Sl 23:4)! A vitória maior de um servo de
Deus é concretizada quando ele deixa esse corpo físico (Fp 1:21); o fim da sua jornada na terra
é o que lhe permite alcançar a maior de todas as bênçãos que um ser humano pode
obter (2ª Tm 4:6-8). Esse corpo e tudo o que
conquistamos por meio dele são meras vaidades (Ec 2:10,11,16; Lc
12:20,21), você está preparado para viver fora dele (1ª Co 2:9)?
[1]Desvanecer: Desaparecer.
[2]Morte: O fim da vida natural, que resultou da Queda em pecado (Gn 2:17; Rm
5:12). É a separação entre o espírito ou a alma e o corpo (Ec 12:7). Para os
salvos, a morte é a passagem para a vida eterna com Cristo (2ª Co 5:1; Fp
1:23).
[3]Secular: Pertencente ou relativo a século. Que se observa ou se faz de século a
século. Em sentido religioso, se refere àquilo que não é espiritual ou às
pessoas mais ligadas às coisas relacionadas ao mundo do que às espirituais.
[4]Tricotomia: Significa "aquilo que é dividido em três". Termo teológico
referente à interpretação de que o homem é composto de três matérias: corpo,
alma e espírito.
[5]Trindade: A união das três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - formando um só
Deus. Deus é ao mesmo tempo uno e trino (Mt 3:13-17; 28:19; 2º Co 13:13).
[6]Adão: Significa "Terra, Solo". O primeiro homem criado por Deus (Gn
1:27-5:5). É uma figura de Cristo, que é o segundo Adão (Rm 5:14-19; 1ª Co
15:22). Nome genérico do ser humano, incluindo o homem e a mulher (Gn 5:1,2).
[7]Eva: Significa "Vida". A primeira mulher, esposa de Adão e mãe da humanidade
(Gn 3:20). Junto com Adão foi enganada por Satanás, começando assim o pecado no
mundo (Gn cap. 3). Adão e Eva tiveram filhos e filhas (Gn 5:4), mas na Bíblia
são mencionados apenas os nomes de três: Caim, Abel e Sete (Gn 4:1,2).
[8]Cadáver: Corpo humano
ou animal após a morte. Termo originado do latim "cadere" que
significa "cair". Alguns pesquisadores acreditam que seja a
abreviação da frase em latim "caro data vermibus" que significa
"carne dada aos vermes". Defunto (do latim "defungor" que
significa "cumprir"; o termo "vita defungi" significa
"completar o tempo de vida").
[9]Óbito: Falecimento; morte de alguém. Passamento. Do latim "obitus", literalmente
“ido”, particípio passado de "obire", “ir”, que se forma de
"ob", “para fora, afastando-se”, mais "ire", “ir”.
[10]EQM: Experiência de Quase Morte.
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