Uma das
mais conhecidas doutrinas das Testemunhas de Jeová é a negação de que os
condenados vão para o inferno[1]. Tal afirmação têm sido, ao longo dos tempos, parte das
principais características que as identificam e diferem dos demais segmentos
religiosos, independentemente de serem cristãos ou não. Muitas pessoas - principalmente nós, evangélicos pentecostais
- questionam quais são seus fundamentos para contradizer as claras exposições
bíblicas que confirmam a existência do inferno como meio de condenação àqueles
que não se converterem e obedecerem a Cristo. Para esclarecer dúvidas que têm
causado muita confusão sendo o motivo da desconversão de alguns crentes
incautos[2] (Rm 16:17,18), analisaremos biblicamente.
As Testemunhas
de Jeová não somente negam que os não salvos irão para o inferno, como também
não admitem a existência do mesmo. Segundo sua crença, elas apenas interpretam
a palavra inferno em seu significado
original com sentido literal: sepultura
ou mundo dos mortos, assim afirmando
que, considerando-se que o corpo é sepultado, todos vão para o inferno, mas
isso não significaria tormento eterno para os condenados. Com relação aos
mortos não-salvos, creem eles que a eternidade no lago de fogo contrarie o amor
e a misericórdia de Deus (1ª Jo 4:8), e usando os argumentos bíblicos de que o homem foi tomado da
terra e para ela tornará (Gn 3:19; Sl 146:4) e que aquele que está morto será justificado do pecado (Rm 6:7), sustentam a teoria de
que os mortos não sofrem porque estão dormindo (Jo 11:11) e não podem ouvir, ver e nem pensar (Ec 9:5,10), assim tentando provar a
impossibilidade de existir um tão terrível lugar de castigo; seguindo essa
linha de raciocínio, creem que os que morrerem em pecado terão uma segunda
oportunidade de obedecer a Cristo e viverem eternamente no paraíso na terra. Para
elas, a parábola[3] de Jesus sobre o rico e
Lázaro (Lc 16:19-31) não poderia ser
interpretada literalmente, pois se trataria de uma simbologia que retrata o
início da Igreja Cristã, na qual Lázaro representaria os judeus pobres e o rico
seria a classe opressora que, com a existência do cristianismo, passaria a ser
desfavorecida por Deus diante dos pobres, sendo espiritualmente inferior a
eles; e quanto à expressão usada por Jesus “onde
o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:43-48), na Tradução do Novo
Mundo os versículos 44 e 46 simplesmente não existem - segundo seus seguidores, a Bíblia que usamos é que tem versículos a
mais -, e o 48 está traduzido da seguinte forma: “onde os vermes não morrem e o fogo não é apagado”, interpretando-o como
somente sendo uma referência ao vale de Hinom[4], que era uma lixeira fora dos muros de Jerusalém aonde o fogo
ficava permanentemente aceso queimando cadáveres de animais e de malfeitores.
Mas o que a Bíblia
realmente diz sobre o inferno? Em nossas versões normais essa palavra aparece
46 vezes, mas é preciso saber analisar o que esse termo significa ou representa
em cada uma das citações. Como as Escrituras nos revelam, após a morte, todos -
salvos ou não - estão com seu destino
nas mãos de Deus (Ec 12:7; Mt 10:28; Lc 23:46); porém, seu destino não é o mesmo, pois os salvos vão para o
Paraíso (Lc 23:42,43; 2ª Co 5:8; Fp 1:23) e os pecadores para o hades[5] (Pr 15:24; At 2:27,31). Mas é importante saber que o hades não é o destino final dos
pecadores, porque embora seja sim um lugar de sofrimento, ele é temporário e
também será lançado no lago de fogo (Ap 20:14). Isso significa que o inferno definitivo ainda não foi
inaugurado, pois seus primeiros moradores somente serão mandados para lá quando
Jesus Cristo voltar para julgar o AntiCristo[6] e o Falso Profeta[7], após a Grande Tribulação[8] (Ap 19:20[9]), lançando-os ali e, depois, o Diabo e seus anjos (Ap 20:10); assim como também, após
o Juízo Final[10], todos os ímpios (Ap 20:15;
21:8).
Se Deus é misericordioso, como pode permitir o sofrimento eterno de
alguém? Realmente, em 1ª João 4:8 está escrito que quem não ama não conhece
a Deus porque Deus é amor; porém, não se pode confundir o amor divino, como
também a misericórdia, com tolerância em relação àqueles que não se arrependem.
Ao longo de toda a história, podemos ver na própria Bíblia que Jeová permitiu a
morte de muitos que afrontaram a Ele ou ao seu povo, mas não fez isso com
prazer (Ez 18:32; 33:11), e sim para aplicar
duramente sua justiça contra os pecadores (Dt 32:35-38;
Rm 12:19; Hb 10:26-31). Sua misericórdia o leva
a dar ao homem diversas oportunidades, mas esse precisa saber aproveitá-las
para não ter que arcar com as consequências negativas dos seus atos (Rm 6:23a; 1ª Co 6:9,10[11] [12]), pois ao culpado Ele não terá por inocente (Êx 34:6,7; Nm 14:18). As Escrituras
revelam ainda que Ele é tardio em se irar (Na 1:3a), mas não diz que Ele não se ira. Se não fosse haver castigo
eterno para os pecadores, a pregação do Evangelho não se faria tão necessária;
afinal, quem não fosse salvo também não seria condenado. Estariam então nossos
queridos amigos Testemunhas de Jeová andando em vão de baixo de sol e chuva
para anunciar o Reino de Deus?
Existe consciência após a morte? As afirmações de Gênesis 3:19 e
Salmos 146:4 sobre a volta do homem ao pó da terra, se referem apenas ao seu
corpo físico e não à sua alma. E no que é mencionado em relação ao seu
pensamento, ou estado de consciência após a morte, o que também está registrado
em Eclesiastes 9:5,10, retrata apenas a situação dos falecidos em relação a sua
consciência e contato com o que acontece na terra, mas não exclui a realidade
de uma vida no mundo sobrenatural; as palavras de Salomão sobre os mortos não
saberem coisa nenhuma e o fato de para onde eles vão não haver obra, indústria
- ou projeto -, conhecimento e sabedoria e que sua memória ficou entregue ao
esquecimento, significa simplesmente que a sua vida carnal cessou aqui na
terra, e que lá não há o que possam fazer para mudar sua situação; no versículo
6 diz ainda que eles não têm mais parte alguma do que se faz debaixo do sol,
porque nem mesmo com seus sentimentos podem ter influência ou ligação à vida
terrena; poeticamente falando, é como se deles os vivos tivessem se esquecido.
Assim sendo, não há nada que afirme que não haja consciência e sentido físico
no mundo sobrenatural. Negar isso é apenas uma forma de tentar amenizar os
efeitos do pecado e, pior ainda, contradizer as Escrituras Sagradas quanto ao
que elas afirmam a respeito do lugar de tormento eterno. A morte não é um sono
literal em que os sentidos não estejam ativos; as palavras de Jesus em João
11:11 que diziam que Lázaro estava dormindo são apenas uma figura de linguagem
referente a morte muito comum na cultura dos judeus (Dt 31:16; Dn 12:2; 1ª Co 15:18-51).
“Aquele que está morto está justificado do pecado”. Isso significa que
todos podem ser salvos após a morte? Quanto a essa afirmação registrada na
Epístola aos Romanos 6:7, ao analisar seu contexto podemos perceber que o
apóstolo Paulo não está se referindo à morte literal do corpo, mas à nossa
morte para o pecado quando passamos a seguir a Cristo; ou seja: ele está
dizendo que a pessoa que morreu para o pecado está arrependida e não o pratica
mais, assim sendo está justificada - perdoada
- dos erros que cometeu no passado. Então não faz sentido usar esse versículo
como base para dizer que os que morreram no pecado terão uma oportunidade de
salvação após a ressurreição dos mortos. Sim, de fato, bem sabemos que a
salvação é pela fé e pela Graça (Ef 2:4-10); no entanto, a obediência também faz parte dos requisitos
necessários (Tg 2:24,26),
e a Bíblia ainda é absolutamente clara ao dizer que após a morte - morte
física nessa vida: com esse corpo - segue-se o juízo (Hb 9:27), ou seja, o julgamento (Mt 25:31-34,41), e não menciona nenhuma
possibilidade de mudança no veredicto divino (Ap
20:12). A fé não nos torna imunes a perder a graça da salvação (1ª Co 10:12) e a Graça é uma
oportunidade e não uma garantia de que seremos salvos (Hb 3:1,2,7,8,12-14)! Após a morte não
há possibilidade alguma de salvação (Jo 5:28,29)!
Qual é o significado da parábola sobre o
rico e Lázaro? Essa parábola narrada por
Jesus em Lucas 16:19-31 tem sido a causa de discussões entre os próprios
teólogos pentecostais, sendo que alguns afirmam que as versões bíblicas que, em
suas epígrafes[13], a classificam como parábola estariam erradas, pois se trataria
de uma história real. Uma resposta bem lógica à essa dúvida seria entender que
toda a situação nela descrita em relação à condenação e à salvação é sim real e
que apenas as figuras de Lázaro e do rico seriam fictícias; Jesus fez muito uso
desse tipo de ilustração em seu ministério terreno; assim sendo, é sim uma
parábola, porém, elaborada em um “cenário” real. Mas a questão maior não é
essa, pois o que realmente importa é que o ensinamento nela contido objetiva
mostrar o que existe no mundo sobrenatural, e é isso que as Testemunhas de
Jeová e as demais seitas que seguem a mesma linha de raciocínio se recusam a
entender. A esses, só tenho duas perguntas a fazer: Por que Jesus inventaria
uma história tão absurda? E se Ele estivesse apenas profetizando a futura superioridade
dos pobres convertidos ao cristianismo em relação aos ricos opressores, por que
aplicar o uso de um cenário tão complicado quanto o hades e o seio de Abraão[14] sabendo que isso causaria tanta confusão entre os “sabiólogos”
de plantão ao longo dos tempos? Deus é Deus de paz e não de confusão; sua
Palavra é clara, no entanto, estão privados de sua interpretação os que não o
seguem verdadeiramente, pois somente os espirituais entendem as coisas do
Espírito. Essa parábola nada mais é do que um relato do próprio Mestre
mostrando que existe sim um lugar de tormento, e a razão de tê-la contado está
clara no último versículo em que Ele mostra a importância de que se dê atenção
aos verdadeiros pregadores do Evangelho, crendo e obedecendo à Palavra pela fé,
porque depois dessa vida não haverá outra oportunidade; e, além do mais, ainda
que os profetas mortos retornassem para pregar sobre o castigo eterno, os
incrédulos não acreditariam neles (Lc 16:31).
O que Jesus quis dizer com a expressão “onde o seu bicho não morre e o fogo nunca é
apagado”? Não há o que se
questionar: essa é sim mais uma clara afirmação de Jesus sobre a existência do
tormento eterno. Essa não é uma simples referência ao vale de Hinom, pois se
Ele estava falando sobre pecados cometidos contra Deus e não sobre crimes, não
tinha porque sugerir aos pecadores que eles iriam queimar nessa lixeira
destinada a destruir corpos de criminosos. A expressão usada pode ser forte,
mas, totalmente realista quanto à vida futura. No original, em hebraico, está
empregado o termo geena - geena de
fogo -, o que se traduz como inferno.
Como esse termo era usado para se referir ao vale de Hinom, ele se tornou uma
expressão para definir como é o lugar de tormento eterno [vide nota número 4 abaixo do texto].
Negar a realidade do inferno, ou de um
lugar de tormento eterno, é dar aos pecadores não arrependidos a falsa
esperança de que não sofrerão na eternidade as consequências dos seus erros. É a
mesma filosofia que diz: “Tudo que aqui
se faz, aqui se paga!”; um engano maligno que expressa a ideia de que a
justiça está no mundo atual, e que a morte é o fim de tudo para os que não
serão salvos. Esse tipo de pensamento se explica na falsa ideia que muitos têm
a respeito da misericórdia de Deus, a qual, embora se exceda à nossa e seja
muito grande, é condicionada à nossa obediência e não pode ser confundida com tolerância,
e não contraria a sua justiça (Rm 9:14-18).
[1]Inferno: Lugar
e estado de castigo em que os perdidos estão eternamente separados de Deus (Mt
18:8-9; 25:46; Lc 16:19-31; 2ª Pe 2:4; Ap 20:14). Inferno, no Novo Testamento,
traduz as palavras hades e geena (Hinom). Mundo dos mortos.
[2]Incauto: Que
acredita facilmente; ingênuo.
[3]Parábola: Origináda do grego parabole, significa narrativa curta
ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida também como fábula.
Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir sempre uma
razão moral que pode ser tanto implícita como explícita. Ao longo dos tempos
vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por vias simbólicas ou
indiretas. Narração figurativa na qual, por meio de comparação, o conjunto
dos elementos evoca outras realidades, tanto fantásticas, quando reais. Eram as
histórias geralmente extraídas da vida cotidiana utilizadas por Jesus
Cristo para ensinar aos seus discípulos. Segundo Marcos 4:11-12, eram
utilizadas por Jesus para que somente seus discípulos as entendessem
plenamente. Este gênero já era utilizado por muitos dos antigos profetas.
Na Bíblia, encontramos 50 parábolas; dessas, 40 foram contadas por Jesus.
[4]Hinom: Vale situado a sudoeste de Jerusalém, entre a estrada que vai para Belém
e a que vai para o mar Morto. Estava na divisa entre Judá e Benjamim (Js 15:8).
Ali, antes da conquista de Canaã por Israel, numa elevação chamada Tofete, se
queimavam crianças no culto a Moloque (2º Rs 23:10). Mais tarde esse lugar
passou a ser usado para a queima do lixo; junto com o lixo ali depositado se
incluía cadáveres de criminosos, mendigos e animais. Em Isaías 66:24 há uma
breve descrição sobre esses corpos. O fogo permanecia aceso dia e noite; larvas
devoravam os restos orgânicos. Esse lugar era considerado como amaldiçoado.
Geena é a forma grega do hebraico ge-hinom, que quer dizer "vale de
Hinom". A palavra geena ocorre 12 vezes no Novo Testamento e é traduzida
por "inferno" (Mt 5:22).
[5]Hades: Lugar
dos maus; também traduzido como inferno (Mt 11:23;16:18; Lc 10:15; 16:23; At
2:27,31; Ap 1:18; 6:8; 20:13,14). Na mitologia grega, é o deus do mundo
inferior e dos mortos.
[6]AntiCristo: É uma
denominação comum no Novo Testamento para designar aqueles que se oponham a Jesus
Cristo, e também designa um personagem escatológico, que dominará o mundo após
o arrebatamento da Igreja. O termo anticristo ocorre apenas quatro vezes na
Bíblia, todas elas nas cartas do apóstolo João. As passagens são 1 João 2:18 ,
2:22 , 4:3 e 2 João 1:7, onde o termo anticristo é definido como um
"espírito de oposição" aos ensinamentos de Cristo. O Cristianismo
crê, no entanto, que este "espírito" seja uma personificação de um
"messias demoníaco" que virá nos últimos dias. Por essa razão, os
cristãos creem que este anticristo é descrito em outros textos, tais como o
livro de Daniel, as cartas de Paulo (como "o homem do pecado") e o
Apocalipse como a "Besta que domina o mundo".
[7]Falso Profeta: Sendo o
terceiro membro da trindade satânica, juntamente com o AntiCristo e Satanás, se
manifestará após o arrebatamento da Igreja, durante a fase conhecida como a
Grande Tribulação. Seu papel será, por meio de sinais milagrosos, levar o povo
a aceitar e adorar o AntiCristo. As Escrituras Sagradas nada revelam sobre sua
identidade. Os relatos bíblicos sobre ele se encontram em Apocalipse 16:13,
19,20 e 20:10.
[8]Grande Tribulação: Termo bíblico que
descreve o período aflitivo que precede o arrebatamento da Igreja e antecede o
Juízo Final. Após o arrebatamento, haverá um período de sete anos de
sofrimento: os primeiros três anos e meio são denominados de "A
Tribulação" e os outros três anos e meio de "A Grande
Tribulação", pois aí a perseguição será muito mais intensa contra os
cristãos que não negarem sua fé. Nesse período, o mundo inteiro estará sob o
domínio do Anticristo. Esse acontecimento foi mencionado pelo profeta Daniel no
capítulo 9 de seu livro; essa será a última das setenta semanas, a qual ele
relata no versículo 27.
[9]Besta: Animal de quatro patas, de grande porte; animal de carga (Is 46:1).
Biblicamente é linguagem figurada referente à uma criatura maligna que
representa a força bruta, a imoralidade e a oposição a Deus (Is 30:6; Ap
13:1-18).
[10]Juízo Final: O tempo em que Deus, ou
o Messias, julgará todas as pessoas, condenando os maus e salvando os justos
(Sl 1:5; Mt 10:15; At 24:25). Será o último grande evento após o arrebatamento
da Igreja; ocorrendo em seguida da grande batalha de Gogue e Magogue (Ap
20:7-9), ocasião em que os pecadores ressuscitarão para serem julgados (Is
26:19-21; Dn 12:2; Jo 5:28,29; Ap 20:12-15); será o grande julgamento do trono
branco (Ap 20:11-15).
[11]Devasso: Depravado, indecente, pervertido, imoral, degenerado, corrompido,
corrupto. Aquele que abusa da liberdade.
[12]Sodomita: Nascido ou habitante de Sodoma: cidade que foi destruída por Deus junto
com Gomorra devido à imoralidade sexual. Homossexual (1ª Tm 1:10).
[13] Epígrafe: Inscrição por cima. Sentença ou divisa posta no frontispício de um livro
ou capítulo, no começo de um discurso ou de uma composição poética; tema.
Inscrição colocada no ponto mais visível de um edifício.
[14]Seio de Abraão: Céu;
Paraíso. É um termo que a expressa a ideia de "estar próximo ao
peito", ou seja: junto, protegido, guardado.
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