Antes de meditar biblicamente sobre o ciúme[1],
é necessário relatar que estudiosos no assunto o classificam em vários tipos;
porém, aqui, apenas os classificarei em duas formas: o benigno e o maligno. Mas
pode haver ciúme benigno? É claro que pode! Tanto que esse sentimento é uma das
características do Espírito Santo (Tg 4:4,5). O
ciúme benigno é aquele que surge de forma natural e não causa danos; esse é até
necessário, pois é impossível amar sem desenvolver nem um pouco desse
sentimento, o qual, além de amor, expressa valorização e cuidado, fortalecendo
o relacionamento por mostrar ao cônjuge - tanto
o homem quanto a mulher - que não é indiferente em relação a ele, também levando-o
a se sentir protegido por notar que a pessoa, de forma sábia - moderada e discretamente[2]
-, prioriza o relacionamento fazendo-o se sentir amado e não sufocado. Já o
ciúme maligno é aquele que demonstra desconfiança e, muitas vezes, mesmo sem
provas que o justifiquem, causa tormento na mente da pessoa que tanto pode
sofrer sozinha chegando até à depressão[3],
como também se tornar um tormento na vida do cônjuge, levando, muitas vezes, à
agressão física e até ao homicídio, o que explica - apesar de não justificar - tantas ocorrências de crimes passionais[4].
Esse segundo tipo, espiritualmente falando, embora aparente ser um simples
estado emocional, é de origem maligna, pois, além de a medicina não apresentar
cura, suas consequências são danos na vida espiritual, sentimental, familiar,
física e até financeira. Sendo assim, só pode ser combatido com armas
espirituais.
Quando possessivo[5]
e fora de controle, espiritualmente ele é definido como uma obra da carne como
é descrito em Gálatas 5:19-21[6] [7] [8]
incluído numa imensa lista de coisas condenáveis por Deus, as quais, aqueles
que as praticam, se não as abandonarem, não têm direito à salvação. Dessa forma
podemos perceber o quanto esse sentimento é perigoso, pois as obras da carne
são originadas pela nossa tendência pecaminosa (Gl 5:17),
a qual é operada por Satanás quando lhe damos alguma brecha para ele agir em
nossa vida (1ª Pe 5:8). Por isso, devemos
prudentemente lutar contra isso andando em Espírito (Gl
5:16; Tg 4:7). Mas como conseguir andar em Espírito quando um sentimento
está machucando o coração? Quando a situação está nesse nível, precisamos
apertar o “botão de alerta vermelho” espiritual, ou seja: parar, identificar o
problema e providenciar a “manutenção” o mais breve possível, pois se insistir
em prosseguir do jeito que está, a “máquina” com certeza vai quebrar e o
prejuízo será muito grande. Isso significa que não se deve alimentar esse
ciúme, mas sim encará-lo como um terrível mal e combate-lo de todas as formas
até eliminá-lo de vez. Para isso, basta colocar em prática algumas regrinhas
básicas do padrão moral de acordo com os princípios bíblicos. Vejamos algumas
delas:
1.
Se você confia em Deus e ora por seu
cônjuge, deve confiar que Ele não te permitiria continuar enganado caso
estivesse sendo traído.
2.
Não se deixe levar por aparências, pois
nem todos os que se aproximam da pessoa que você ama estão interessados nela. Controle
suas reações porque ninguém gosta de se sentir controlado como se fosse um
objeto que pertencesse a alguém.
3.
Caso ache que tenha razão para
suspeitar de algo, investigue com cuidado e sem que ela perceba e, caso se
confirme algo errado, peça direção a Deus, mantenha a calma e tome as devidas
providências, de preferência, sob a orientação de alguém responsável e
experiente no assunto.
4.
Se o problema for a postura chamativa
dela em seu comportamento como, por exemplo, roupas curtas e apertadas e
atenção exagerada a alguém, chame-a para uma conversa sincera, mas seja moderado
em suas palavras e cuidadoso em suas atitudes.
5.
Procure sempre saber quais são as
maiores carências do seu cônjuge e tente satisfazê-las; sua segurança é maior
quando você se sente confiante naquilo que lhe está oferecendo.
Vejamos agora também o outro lado da moeda: se você for a “vítima” da pessoa
ciumenta, antes de qualquer decisão radical, precisa saber que é necessário
levar em conta alguns fatores, tais como:
1.
Se a pessoa sente ciúmes, é porque você
tem muita importância para ela; por isso, em vez de se sentir ofendido ou
sufocado, sinta-se valorizado.
2.
Caso a atitude do seu cônjuge seja
mesmo injusta e exagerada, aja com sabedoria mostrando-lhe que não há razões
para tal conduta. Caso o mesmo persista em se comportar de forma inconveniente,
uma boa conversa acompanhada pelo convite de buscarem a Deus juntos pelo
relacionamento pode, e vai, ajudar muito.
3.
Para preservar seu casamento e sua paz
dentro do lar vale qualquer esforço. Identifique as reclamações do seu parceiro
e, no que for possível, mude seu comportamento: isso inclui sua forma de
relacionamento com outras e até sua maneira de se vestir.
4.
No caso do ciúme chegar a ser doentio a
ponto de tornar-se perigoso, nunca dê o troco na mesma moeda e nem o trate como
um doente ou um criminoso, mas, sob uma intensa busca de solução diante de
Deus, mostre-lhe o quanto o ama, fazendo-o perceber sua grande luta pela
preservação do relacionamento.
5.
Lembre-se que uma pessoa ciumenta é
extremamente sentimental, por isso, maltratá-la ou abandoná-la a levaria a um
tão grande sofrimento que colocaria em risco a sua saúde e até a sua própria
vida. Por essa razão, ajude-a. Além do mais, ao se casar, você assumiu um sério
compromisso diante de Deus, no qual também está incluída a obrigação de cuidar
do cônjuge nos momentos difíceis.
Resumindo, o maior remédio contra o ciúme é
a transparência na relação. Simples detalhes como o acesso à senha de redes
sociais e, toda vez que for sair, perguntar se essa roupa que você está usando
é do seu agrado, fazem grande diferença para a manutenção de um casamento
saudável. Pois é preciso passar e ter confiança na pessoa a quem Deus permitiu
ou colocou para fazer parte da sua vida. Se não tiver mais condições de
controlar esse sentimento, converse com sua esposa ou seu esposo, proponha
orarem juntos e, se preciso for, busque orientação espiritual de servos de Deus
confiáveis e aptos para isso e, caso aja mesmo necessidade, procure por ajuda
médica. É preciso levar isso muito a sério porque essa é uma das maiores causas
de atos de violência, divórcios e transtornos mentais de gravíssimas consequências.
É necessário se considerar também que isso nem sempre é sinônimo de amor, pois,
muitas vezes, é apenas a explosão da ira proporcionada pelo ego humano, tendo
sido originada pelo simples sentimento de posse, o qual o faz não aceitar parecer
inferior diante de uma sensação de perda. Não importando a causa, sendo ela
justa ou não, ciúme exagerado pode provocar problemas, e aonde reinam os
problemas, certamente não existe amor puro e sincero; pois o verdadeiro amor é
aquele que acredita, confia, dá liberdade, não sente medo de perder, ajuda,
compartilha, proporciona conforto e, também, não se deixa dominar negativamente
por sentimentos de ciúmes (1ª Co 13:4).
[1]Ciúme: Inquietação mental causada por
suspeita ou receio de rivalidade no amor ou em outra aspiração. Vigilância
ansiosa ou suspeitosa nascida dessa inquietação. Ressentimento invejoso contra
um rival ou suposto rival mais eficiente ou mais bem-sucedido, ou contra o
possessor de uma vantagem material ou intelectual cobiçada.
[2]Discreto: Que sabe guardar segredo;
reservado. Atento, circunspecto, prudente. Modesto, recatado. Moderado, sem
alarde. Que não ofende o recato ou a modéstia de outrem.
[3]Depressão: Existem dois tipos de depressão:
a depressão mental e a depressão nervosa. A depressão mental é uma perturbação
que atinge e mente e é caracterizada pela ansiedade e pela melancolia; e a
depressão nervosa é um estado patológico de sofrimento psíquico assinalada pelo
abatimento do sentimento de valor pessoal, por pessimismo e por desinteresse em
relação à vida. Ambos os tipos também se caracterizam pela irritação e, geralmente,
são causados pelo stress, podendo causar problemas cardíacos que podem levar
até mesmo à morte. A depressão provoca as seguintes reações no corpo humano:
diminuição do calibre dos vasos sanguíneos, elevando a pressão arterial; maior
produção de fatores coagulantes, permitindo a formação de coágulos que entopem
as artérias; desequilíbrio nas atividades do endotélio estreitando os vasos e
produzindo compostos inflamatórios; emissão de sinais que elevam a frequência
cardíaca; redução no sistema de defesa, deixando o corpo vulnerável à várias
doenças.
[4]Passional: Relativo a paixão. Motivado pela
paixão.
[5]Possessivo: Que indica posse. Relativo a
posse. Essa é uma expressão referente a pessoas que sentem-se donas de algo ou
de alguém.
[6]Porfia: Contenda de
palavras; discussão.
[7]Emulação: Competição. Sentimento que leva a igualar ou a superar alguém.
[8]Dissensão: Divergência de
opiniões, de interesses, de sentimentos; disputas; desinteligências;
desavenças; dissentimento.
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