Lucas 18:9-14
Lucas 18:9 - "E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros:"
Confiar em si mesmo: essa é a definição para quem confia em si mesmo, crê que é justo e despreza os outros. O foco do assunto do Mestre nessa parábola é a hipocrisia. A confiança em si próprio leva o homem a revelar seu caráter incrédulo; é como se Deus não agisse em sua vida por misericórdia, mas sim por resposta aos seus méritos. Crer que é justo por si só e não pela ação do Espírito Santo é outro fator que leva o homem a cometer o pecado da soberba. Da mesma forma, desprezar os outros por reparar em algumas falhas alheias é se colocar numa posição de superioridade como se somente os demais errassem. Uma das formas pelas quais podemos revelar o pior do que temos em nosso caráter é através da oração, pois a forma como oramos também demonstra se isso fazemos para nos aproximar de Deus ou para tentar convencer os outros de que estamos próximos de Deus.
Lucas 18:10 - "Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano."
As orações no templo eram praticadas diariamente, as nove e as quinze horas (hora terceira e hora nona), pelos judeus da época. Os fariseus eram uma classe de pessoas conhecidas por serem separadas dos demais povos e até mesmo de muitos judeus, pois eles observavam à risca - pelo menos na aparência - os preceitos da Lei e discriminavam os que não procediam da mesma maneira. já os publicanos eram mal vistos porque, apesar de serem judeus, eram cobradores de impostos a serviço do governo romano; cobrar impostos para os colonizadores era considerado um ato de traição à nação dos hebreus, além do mais, muitos deles abusavam desse cargo de confiança cobrando mais do que o devido e se enriquecendo ilicitamente. Eram dois homens totalmente diferentes um do outro: um visto como digno de respeito por sua devoção religiosa e outro que podia praticamente ser chamado de ladrão.
Lucas 18:11 - "O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano."
O fariseu orava de pé; nessa observação Jesus não estava condenando quem ora de pé, mas sim o motivo pelo qual ele fazia isso: queria ser visto orando; para a preservação de sua imagem de santidade, ele precisava disso. Ele orava em voz alta, o que também não é um ato condenável por si só, mas se o objetivo for apenas que os demais te ouçam orando, torna-se também um ato de hipocrisia. E o agravante maior está no conteúdo de sua oração: agradecia por não ser como os outros, ou seja, se considerava superior. Por ter viso o publicano ali, sentiu-se motivado a dizer - quem saber por indireta, isso é moda para alguns "crentes" - que não era roubador, injusto e nem adúltero. E, é claro, fez questão de dizer que não era igual àquele publicano, porque era assim que ele o via e o julgava. Como estamos tratando nossos irmãos? Será que não estamos procedendo dessa mesma maneira em nossas orações e até nas pregações?
Lucas 18:12 - "Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo."
Exaltar a si próprio é outra característica de pessoas soberbas; elas se gloriam por suas boas atitudes como se essas os tornassem superiores, sendo que na verdade são apenas o cumprimento de sua obrigação como bom cidadãos ou servos de Deus, nada mais que isso. Jejuar não precisa necessariamente ser um ato secreto, mas não deve ser usado como uma razão de engrandecimento por quem o pratica; do mesmo modo, entregar dízimos ou ofertas nada mais é do que um ato de amor e gratidão pela Obra de Deus, e não uma compra de santidade, bênçãos ou algo semelhante. Nossas ações espirituais ou ministeriais são para nossa edificação pessoal e não para a nossa promoção diante do público, e tampouco para desmerecer aqueles que isso não fazem ou que julgamos não fazer simplesmente porque não demonstram.
Lucas 18:13 - "O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!"
O publicano, muito provavelmente, deve até ter ouvido a "oração" do publicano, mas isso não tirou seu foco da presença de Deus; ele não usou tais ataques ou indiretas para se escandalizar, sair do templo, e culpar o "irmão" por seu afastamento; pelo contrário, ele se aproximou ainda mais do Senhor. Confessou suas falhas e foi bem simples e objetivo: "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!" Confessar seus pecados e pedir misericórdia a Deus; essa é a atitude mais agradável diante dEle, pois com esse gesto admitimos o que somos: frágeis e incapacitados de nos regenerar por nós mesmos. Esse é o reconhecimento da dependência total de Deus. Como temos reagido diante da presunção e dos ataques alheios? Ainda que errem naquilo em que nos julguem, que tais críticas não sirvam para nos derrubar, mas para nos fazer rever certas atitudes e buscar forças nos braços do Pai.
Lucas 18:14 - "Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado."
O injusto se considera bom o suficiente e melhor que os demais, enquanto que o justo reconhece suas dificuldades e procura pela misericórdia do alto para poder prosseguir. Quem tem algo para mostrar, não precisa se esforçar para isso, pois a exaltação vem de Deus e é Ele que, de algum meio, se encarrega de nos honrar. A justificação não está na presunção que expõe nossos atos, mas no zelo em oculto, cujas consequências positivas são expostas em público por aquEle que tudo vê. Não precisamos ter preocupação quanto ao que temos ou não temos, pois o que é nosso está seguro, seja isso em relação a coisas materiais ou simplesmente status, pois a honra provém daquEle que nos chamou, e Ele não se agrada nem um pouco de quando tentamos honrar a nós mesmos, principalmente se isso implica em inferiorizar alguém.
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