terça-feira, 24 de julho de 2018

Santidade ao Senhor


Esboço Resumido - Escola Bíblica Dominical (Lições Bíblicas - Adultos - CPAD)

Como servir a Deus sem se separar
das coisas que desagradam a Ele?
Ser santo nada mais é do que ser
separado, ou seja, se abster de tudo
o que possa nos levar a viver
escravizados pelo pecado.
Lição 5 - SANTIDADE AO SENHOR

Texto Áureo
Levítico 20:26 - “E ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus.”

Verdade Prática
A santidade é a marca distintiva do povo de Deus; sem ela, nosso testemunho é ineficaz.

Leitura Bíblica em Classe
Levítico 20:1-10 - “Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: 2Também dirás aos filhos de Israel: Qualquer que, dos filhos de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam em Israel, der da sua semente a Moloque[1], certamente morrerá; o povo da terra o apedrejará com pedras. 3E eu porei a minha face contra esse homem e o extirparei do meio do seu povo, porquanto deu da sua semente a Moloque, para contaminar o meu santuário e profanar o meu santo nome. 4E, se o povo da terra de alguma maneira esconder os olhos daquele homem que houver dado da sua semente a Moloque e o não matar, 5então, eu porei a minha face contra aquele homem e contra a sua família e o extirparei do meio do seu povo, com todos os que se prostituem após ele, prostituindo-se após Moloque. 6Quando uma alma se virar para os adivinhadores e encantadores, para se prostituir após eles, eu porei a minha face contra aquela alma e a extirparei do meio do seu povo. 7Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus. 8E guardai os meus estatutos e cumpri-os. Eu sou o Senhor que vos santifica. 9Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá: amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue é sobre ele. 10Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera.”

Comentário
    O objetivo de Levítico, além de ensinar os sacerdotes e os demais levitas, era mostrar que eles deviam ser separados para o serviço sagrado e também separados de tudo que desagradasse ao Senhor. Santificação é o seu tema central; a santidade deveria preceder todo e qualquer ato de adoração e serviço espiritual. O capítulo 20 desse livro enfatiza a necessidade de que os israelitas se mantivessem longe da idolatria, assim como das práticas ligadas a ela, tais como as adivinhações e os encantamentos, ou seja, a feitiçaria; tal cuidado também envolvia o zelo pela família, tratando assuntos como a educação dos filhos e a proteção ao casamento.
    Santidade. Muitos, por estarem habituados ao pecado, chegam a repudiar essa palavra ou achar impossível alcança-la; no entanto, santificação é uma ordem de Deus. É importante enfatizar que ser santo não significa estar livre de pecar, mas sim procurar ter uma vida separada do mundanismo, assim evitando o pecado.

    O chamado de Israel começou por Abraão, avô de Jacó. A fé e a obediência desse gentio que vivia em Harã, foi o marco inicial da separação de um povo escolhido para ser santo. A fidelidade sempre foi um fator condicional para se herdar as bênçãos do Senhor. Porém, santificação não significa uma perfeição absoluta, mas sim a busca dela, e em meio a esse processo vários erros e suas devidas consequências fizeram parte de sua trajetória.
    Essa história se repete com a Igreja atual na vida de cada crente de forma individual. As falhas são inevitáveis, no entanto, não são desculpas para nos habituarmos ao pecado. Os crentes são biblicamente chamados de santos, ainda que sua situação espiritual, por vezes, esteja necessitando, em muitos, aspectos, ser aprimorada. (1ª Co 3:1).

    Santificação sempre foi um desafio. Os hebreus, desde sua saída do Egito, mesmo tendo testemunhado e vivido muitos milagres, em várias ocasiões pecaram murmurando e até se rebelando contra Deus. Mesmo depois de estabelecidos em sua terra, sacerdotes, juízes e reis, juntamente com o povo, pecaram praticando idolatria e inúmeras transgressões de ordem moral.
    Esse desafio para a Igreja não se tornou mais fácil e nem mais difícil. Vivemos numa realidade diferente da que era enfrentada pelos antigos judeus, mas a condição espiritual enfrenta a mesma oscilação entre altos e baixos. Porém, no que se refere à postura divina, nada mudou: a ordem é santificação; é importante ressaltar que não a obtemos sem a ajuda dEle (1ª Ts 5:23).

    Israel recebeu uma dura missão: ser espiritual e moralmente diferente dos povos pagãos que viviam à sua volta. Para isso, o testemunho pessoal possuía um grande peso, esse foi o caso da fama de Salomão diante da rainha de Sabá e alguns outros servos de Deus, incluindo muitos que viveram até escravizados em terras estrangeiras, mas mantiveram-se como exemplo de fidelidade à Deus perante os incrédulos; o profeta Daniel, com seus amigos, foi um deles.
    Santificação não é uma opção, é uma obrigação de todos os crentes. Viver os mandamentos resumidos no Evangelho de Cristo como a prática do amor, o que inclui manter a paz até mesmo com os inimigos, é a mais extrema prova de fogo que define o caráter de um verdadeiro cristão. As Sagradas Escrituras lembram ainda que sem santificação não há salvação (Hb 12:14).

    Os sacerdotes precisavam observar várias exigências para exercer seu ministério. Algumas delas eram se casar com uma mulher virgem, suas filhas também precisavam manter-se virgens até o casamento, e até no luto eles não poderiam se contaminar tendo contato com um morto, exceto se fosse alguém de sua família, não podendo também rasgar suas vestes e raspar sua barba e sua cabeça; eles sequer podiam ter alguma deficiência física.
    Sob os preceitos da Graça, mudou a aplicação em relação à Lei, mas não os princípios. Necessário é que cada cristão saiba manter-se separado de tudo que o leve a desagradar a Deus. Não somente os obreiros, mas os crentes de modo geral, precisam observar as doutrinas bíblicas, as quais ensinam que, por estarmos nós libertos do pecado, não temos o direito de alegarmos a fraqueza da carne como motivo para pecarmos voluntariamente (Rm 6:18,19).

    O sacerdote carregava sobre sua mitra um escrito dizendo “Santidade ao Senhor”; isso o identificava e o diferenciava dos demais. No entanto, sua diferença não poderia estar apenas na aparência exterior, mas também em seu ser interior. Sua santificação começava em seus pensamentos e em seus sentimentos.
    Muitos ignoram a aparência alegando que o que conta é o que temos por dentro; mas, quem é santo por dentro também transmite santidade por fora. Não é porque muitos mentem em sua aparência de santos que todos estejam mentindo. Sejamos santos por dentro e por fora porque a purificação de toda a imundícia tanto no sentido espiritual quanto no carnal é essencial no processo de santificação (2ª Co 7:1).

    A glória de Deus acompanhava Israel pelo deserto, fazendo com que todos notassem sua diferença em relação aos demais povos, dando-lhes respeito até mesmo diante dos inimigos. Só que embora houvesse a promessa de provisão e proteção, isso não lhes era uma garantia incondicional, mas dependia de sua obediência aos mandamentos.
    A glória divina paira sobre a Igreja por meio do Espírito Santo tornando-nos notavelmente diferentes diante do mundo, mas a graça que usufruímos também está condicionada em nossa obediência à sua Palavra. Tudo, inclusive a salvação, depende de nossa renúncia ao pecado cometido conscientemente (Tt 2:11,12).

    Nos tempos levíticos, no que se refere à família, uma das maiores preocupações era a influência pagã da idolatria a um falso deus chamado Moloque - que significa rei -, também chamado de Milcom e de Malcã, para o qual os amonitas ofereciam sacrifícios de crianças que eram queimadas. Esse ídolo tinha uma gigantesca estátua que possuía o corpo de um homem com cabeça de boi. Em seu ventre havia uma abertura com um forno onde eram jogadas as vítimas; enquanto queimavam, a cabeça da estátua ficava preta, assim, possivelmente, dando origem à uma antiga cantiga ensinada pelos escravos originários de Angola chamada “Boi da Cara Preta”. A palavra Moloque originou o termo moleque. De acordo com a crença deles, tais sacrifícios renovavam a força do sol. Fazia parte da missão dos sacerdotes exortar o povo a ficar longe da idolatria e jamais entregar seus filhos para serem sacrificados.
    Atualmente o espírito maligno de Moloque, de forma indireta, age sacrificando crianças e adolescentes não por meio da morte física, mas por meio do domínio da mente pelo uso dos meios de comunicação, inserindo nelas a tendência a comportamentos totalmente contrários aos ensinamentos cristãos (Ef 6:1-3).

    A preservação da família, no que se refere à fidelidade conjugal, era outro grande desafio no período sacerdotal. O adultério, independentemente de haver ou não influência de outros povos, sempre esteve presente entre os israelitas. O sexto mandamento deveria ser observado como os demais, só que as tentações da carne levavam muitos a transgredi-lo.
    O Novo Testamento reforça a ordem divina contra a prática do adultério. Em sua exortação à fidelidade conjugal, as Escrituras Sagradas apelam tanto ao homem como a mulher para a valorização do amor - sujeição e respeito - como a base de sustentação de um casamento (Ef 5:22,23,25).

    Era função dos levitas levar ao povo a mensagem de santificação; tal mensagem era tanto verbal quanto exemplar. Sacrifícios e orações faziam parte de sua rotina. Estavam lidando com um povo de forte tendência ao pecado, portanto, promover santificação era um desafio nada agradável ou fácil de se cumprir.
    Qual é a nossa maior missão hoje como embaixadores de Cristo? Pregar, ensinar e viver a santificação. Santidade é a mensagem de Deus desde o início, foi pregada e vivida por Cristo e dela depende a permanência do Espírito Santo em nós. Renunciar aos prazeres da carne em amor àquEle de quem anunciamos as Boas Novas, faz-se necessários se não quisermos por Ele ser reprovados (1ª Co 9:27).

    Santidade ao Senhor é a palavra-chave do livro de Levítico. Tanto os sacerdotes nos tempos do tabernáculo no deserto, como os que vieram após a construção dos templos sob os governos dos vários reis que se seguiram sobre os judeus, tiveram dificuldades em manter o povo em santificação perante o Senhor, e muitos dentre os próprios levitas falharam nesse objetivo. Porém, muitos permaneceram fiéis por compreenderem que não tinham o direito de satisfazerem a si próprios diante do privilégio que receberam de cuidar do serviço sagrado. Conforme está escrito em 2º Crônicas 29:5, eles tinham que santificar a si mesmos e também santificar a Casa do Senhor; eles tinham que tirar a imundície do santuário. 
    O desafio ministerial de hoje segue os mesmos princípios do sacerdócio levítico: santificação é nossa palavra-chave. O avivamento tão requerido pelos próprios cristãos atualmente não pode ser confundido com movimentos barulhentos e confusos, mas depende de um mover interior que se inicia com a Palavra, complementado pela oração, o qual resulta em transformação de vidas. Esse é o sacerdócio santo que devemos exercer: Santidade ao Senhor (1ª Ts 3:12,13)!

Pb. Jonas M. Olímpio



[1]Moloque: Significa rei. Deus supremo dos Amonitas, também chamado de Milcom e de Malcã. Seu culto, que incluía o sacrifício de crianças (Lv 20:2-5), foi incentivado por Salomão (1º Rs 11:5,7,33; 2º Rs 23:10,13).

quarta-feira, 18 de julho de 2018

A Função Social dos Sacerdotes


Esboço Resumido - Escola Bíblica Dominical (Lições Bíblicas - Adultos - CPAD)

Lição 4 - A FUNÇÃO SOCIAL DOS SACERDOTES

A lepra, assim como outras
doenças, era uma das maiores
preocupações na era levítica.
Os sacerdotes, por sua vez,
tinham que se expor ao risco
de contaminação para garantir
o bem-estar do povo.
Texto Áureo
Lucas 5:14 - “E ordenou-lhe que a ninguém o dissesse. Mas disse-lhe: Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés determinou, para que lhes sirva de testemunho.”

Verdade Prática
As funções do sacerdote iam além da liturgia; sua principal obrigação era zelar pela santidade e pureza do povo de Deus.

Leitura Bíblica em Classe
Levítico 13:1-6 - “Falou mais o Senhor a Moisés e a Arão, dizendo: 2O homem, quando na pele da sua carne houver inchação, ou pústula[1], ou empola[2] branca, que estiver na pele de sua carne como praga de lepra, então, será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, os sacerdotes. 3E o sacerdote examinará a praga na pele da carne; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, praga da lepra é; o sacerdote, vendo-o, o declarará imundo. 4Mas, se a empola na pele de sua carne for branca, e não parecer mais profunda do que a pele, e o pêlo não se tornou branco, então, o sacerdote encerrará o que tem a praga por sete dias. 5E, ao sétimo dia, o sacerdote o examinará; e eis que, se a praga, ao seu parecer, parou, e a praga na pele se não estendeu, então, o sacerdote o encerrará por outros sete dias. 6E o sacerdote, ao sétimo dia, o examinará outra vez; e eis que, se a praga se recolheu, e a praga na pele se não estendeu, então, o sacerdote o declarará limpo: apostema[3] é; e lavará as suas vestes e será limpo.”

Comentário
    O governo teocrático representado pelo sacerdócio ia muito além de sacrifícios, orações, ensinamentos e cânticos. O trabalho sacerdotal não se resumia à liturgia de culto no tabernáculo ou no templo, havia muito o que se fazer fora do ambiente sagrado. O livro de Levítico expõe suas atividades de verdadeiros “fiscais ou agentes de saúde” pelas ruas e casas da comunidade. Porém, tais trabalhos sociais não tinham simples objetivo de zelar pela saúde pública, pois sua finalidade era cuidar pelo cumprimento de pontos da Lei que exigiam que pragas consideradas imundas se alastrassem pelo povo; assim sendo, suas funções sociais eram realizadas por razões espirituais.
    Temos nós cuidado de nossa saúde como se ela realmente fosse algo de importância espiritual? Nosso corpo é templo Espírito Santo, estamos zelando devidamente da casa dEle? Pragas como a lepra simbolizam o pecado, mas pecar vai além de adulterar ou fazer outras coisas profanas com o corpo; descuidar dele também é uma desonra à confiança daquEle que nos confiou para cuidar desse tabernáculo terrestre.

    Numa época sem grandes avanços medicinais, doenças contagiosas como a lepra, e também outros males como sarampo, escarlatina e varíola, representavam um grande problema que colocava em risco até a sobrevivência da nação toda, pois uma grave epidemia poderia atingir a todos, até mesmo levando-os à extinção. Por isso a prevenção era o melhor remédio. A qualquer indício dessa doença a pessoa era imediatamente isolada até que se constatasse sua completa cura para que pudesse ser reintegrada à sociedade. Os sacerdotes tinham a missão de fazer essa inspeção e todo o processo até a purificação.
    Cuidar dos enfermos e principalmente curá-los sempre foi uma das principais atividades no ministério terreno de Jesus. O bem-estar do ser humano sempre esteve nos planos de Deus. Orar pela cura e também cuidar dos enfermos é uma das principais tarefas da igreja (Mt 10:8).

    Fora do Egito os israelitas não tinham mais acesso a médicos; embora ainda não houvesse cura para a lepra, eles tinham meios de tratar o doente e fazer os procedimentos para preservação dos demais para também não se contaminarem. Então, no deserto, restou aos sacerdotes cumprir essa função.
    A limpeza dos leprosos, assim como a cura dos demais enfermos, foi uma das ordens de Jesus aos seus discípulos. Interessante que essa determinação é completada enfatizando-se o anúncio do Evangelho. Isso mostra que nenhum trabalho, por mais que tenha sinais e milagres, é completo se não houver salvação de almas (Mt 11:5).

    Se Deus não fizesse um milagre, os sacerdotes não tinham recursos humanos para curar um leproso; só o que lhes restava era aguardar um período de tempo, inspecioná-lo novamente para poder declará-lo limpo ou impuro - ele tinha que saber bem essa diferença -, e assim se seguia até sua cura ou sua morte. Em caso de cura, era ele também responsável para, conforme narrado em Levítico 14, fazer o ritual de purificação recebendo dele, como oferta, duas aves vivas, pau de cedro, carmesim e hissopo.
    Como cristão você sabe “identificar uma lepra” e orientar “o leproso” para não contaminar os demais? Quando curava um leproso, Jesus lhe ordenava que se mostrasse ao sacerdote, oferecendo-lhe a oferta determinada por Moisés. Ele não fazia questão e nem queria ser apontado como aquEle que o curou, mas apenas dizia para que o leproso curado testemunhasse conforme necessário para se cumprir a Lei (Mt 8:4).

    Levítico 14:34-57 retrata bem a função do sacerdote como sanitarista. Ele tinha autoridade para esvaziar, inspecionar, interditar e, se preciso fosse, mandar demolir uma casa e enviar seus moradores para fora da cidade. Até as roupas das pessoas envolvidas precisavam ser analisadas por ele.
    Nosso sacerdócio cristão hoje consiste em identificar o pecado e orientar os demais a ter cuidado com ele. Obviamente não podemos mandar os pecadores persistentes para um isolamento e nem devemos ficar longe deles, porém devemos nos prevenir para não nos contaminarmos com seus pecados cometendo os mesmos erros que eles (Rm 16:17).

    Algumas manchas estranhas e fundas numa parede eram o suficiente para que o morador suspeitasse de lepra em sua casa e chamasse o sacerdote. Quando ele chegava, fazia a avaliação e se realmente constatasse a praga, tomava as medidas necessárias. Quatro qualidades precisava ter o sacerdote nessa situação: boa vontade para atender os necessitados, coragem para lidar com uma doença perigosa, discernimento para identificar a lepra e conhecimento para saber que atitude tomar.
    Saber chamar o “sacerdote” na hora que o lar sofre uma ameaça é uma obrigação de todo cristão. E saber responder com amor atendendo a esse chamado, tendo coragem, discernimento e sabedoria para agir é obrigação do sacerdote. Comunhão e boa vontade entre liderados e líderes são fatores fundamentais para que lares cristãos não desmoronem com as tempestades da vida (Mt 7:24-27).

    Até as vestes precisavam ser inspecionadas pelo sacerdote. Mofos e fungos deveriam ser analisados para constatar se não se tratava de lepra. A princípio, em caso de suspeita, a roupa passaria por um isolamento de sete dias, e se a praga persistisse, a mesma seria queimada.
    Vestes limpas representam proteção e dignidade. Espiritualmente, isso se obtém por meio da obediência à Palavra do Senhor. Para manter-se vestido e com vestes limpas é preciso um cuidado muito especial. Todo cuidado é pouco para aqueles que querem estar livres da contaminação lepra desse mundo (Ap 3:4).

    O sacerdote tinha poder de juiz. Sua autoridade social ia além de fiscalizar doenças contagiosas, ela tinha que estabelecer a ordem fazendo com que os preceitos da Lei concernentes à família e outras questões cotidianas fossem respeitados, e em caso de desobediência cabia a ele a decisão da sentença de acordo com o que estava estabelecido nos códigos legais de Israel.
    A Igreja atual não exerce autoridade no quadro político do país, no entanto, a liderança da mesma deve ter influência na formação moral de seus membros para que os mesmos sejam bons exemplos na sociedade como cristãos e cidadãos. Não se trata simplesmente de dizer o que é certo ou errado e apenas o que pode ou não pode, mas ensinar o povo a ter uma vida equilibrada de modo que em tudo glorifiquem o nome de Deus (1ª Co 10:31).

    Cabia ainda ao sacerdote garantir a cada um seu direito de moradia. Até mesmo a alimentação tinha suas regras estabelecidas para que os mais pobres não passassem fome. Outras situações como, por exemplo, questões ambientais para proteção da natureza deveriam também ser observadas. Em tudo isso eram eles também exemplos às demais nações.
    Cuidar do que temos é honrar ao Senhor diante do mundo. Que benefícios temos oferecido no espaço que ocupamos na sociedade? Respeitar o espaço alheio, ajudar os menos favorecidos e até mesmo preservar o meio ambiente são detalhes que pesam muito em nossa “pregação prática” como cidadãos do céu (1ª Co 10:32).

    A Lei era minuciosa e incluía detalhes como colocar um parapeito no telhado das casas, a responsabilização dos donos em relação aos perigos oferecidos por seus animais, cidades de refúgio para proteger aqueles que matavam sem intenção e, entre outras coisas, a proteção do feto e da mulher grávida. Tudo isso porque a vida é o bem maior na terra que o ser humano recebeu de Deus; algumas coisas poderiam parecer exageros ou difíceis de se cumprir, mas cada um deveria compreender que era para o bem de todos.
    Você obedece totalmente as leis visando o bem do seu próximo? Viver o cristianismo implica em observar suas próprias atitudes para ver se não está prejudicando alguém. Agradar ao Senhor consiste em, muitas vezes, abrir mão de seus próprios direito ou conforto para que alguém possa se sentir melhor. Simples atos de renúncia podem conquistar almas para o Reino de Deus (1ª Co 10:33).

    A função social envolvia as três classes do sacerdócio hebreu: o sumo sacerdote, os sacerdotes e os levitas. Todos estavam envolvidos e sabiam da honra e também do peso que estavam sobre eles. Sua conduta deveria ser irrepreensível, pois eram eles um espelho para os demais.
    A função social da Igreja hoje também a envolve como um todo: pastores, cooperadores e membros. Não basta a eles reunirem-se periodicamente para dar “glória a Deus” e “aleluia” juntos, é necessário que sua comunhão seja comprovada por meio de seu bom convívio social primeiramente entre si e depois dentro da sociedade secular. Você se sente digno de dizer que pode ser imitado por alguém (1ª Co 11:1)?



Jonas M. Olímpio





[1]Pústula: Tumor.
[2]Empola: Bolha.
[3]Apostema: Tumor.

Os Ministros do Culto Levítico


Esboço Resumido - Escola Bíblica Dominical (Lições Bíblicas - Adultos - CPAD)

Lição 3 - OS MINISTROS DO CULTO LEVÍTICO

O ministério levítico dava a esses
homens uma posição de destaque,
mas tal honra carregava um peso
muito grande, pois a exigência sobre
eles era extrema.
Texto Áureo
Números 3:45 - “Toma os levitas em lugar de todo primogênito entre os filhos de Israel e os animais dos levitas em lugar dos seus animais; porquanto os levitas serão meus. Eu sou o Senhor.”

Verdade Prática
O chamamento divino exige, de cada um de nós, amor, excelência e dedicação integral ao Senhor da Seara.

Leitura Bíblica em Classe
Levítico 8:1-13 - “Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: 2Toma a Arão, e a seus filhos com ele, e as vestes, e o azeite da unção, como também o novilho da expiação do pecado, e os dois carneiros, e o cesto dos pães asmos[1] 3e ajunta toda a congregação à porta da tenda da congregação. 4Fez, pois, Moisés como o Senhor lhe ordenara, e a congregação ajuntou-se à porta da tenda da congregação. 5Então, disse Moisés à congregação: Isto é o que o Senhor ordenou que se fizesse. 6E Moisés fez chegar a Arão e a seus filhos, e os lavou com água, 7e lhe vestiu a túnica, e cingiu-o com o cinto, e pôs sobre ele o manto; também pôs sobre ele o éfode[2], e cingiu-o com o cinto lavrado do éfode, e o apertou com ele. 8Depois, pôs-lhe o peitoral, pondo no peitoral o Urim e o Tumim; 9e pôs a mitra sobre a sua cabeça e na mitra, diante do seu rosto, pôs a lâmina de ouro, a coroa da santidade, como o Senhor ordenara a Moisés. 10Então, Moisés tomou o azeite da unção, e ungiu o tabernáculo e tudo o que havia nele, e o santificou; 11e dele espargiu sete vezes sobre o altar e ungiu o altar e todos os seus vasos, como também a pia e a sua base, para santificá-los. 12Depois, derramou do azeite da unção sobre a cabeça de Arão e ungiu-o, para santificá-lo. 13Também Moisés fez chegar os filhos de Arão, e vestiu-lhes as túnicas, e cingiu-os com o cinto, e apertou-lhes as tiaras, como o Senhor ordenara a Moisés.”

Comentário
    Como se deu a chamada dos filhos de Levi para o sacerdócio? Ministrar na época dos levitas não era uma escolha pessoal ou uma indicação por amizade; era preciso ser da tribo de Levi e ter condições e ensinamento para exercer esse ofício. Sem dedicação e renúncia era impossível exercer esse ministério.
    Nosso chamado hoje não é muito diferente do antigo sacerdócio, com exceção do fato que não precisamos pertencer a um povo específico para isso e nem matar animais sobre o altar. As semelhanças são grandes: espiritualmente pertencemos a um povo escolhido chamado Igreja; não devemos ser induzidos por amizades; nossa função é adorar e conduzir o povo à presença de Deus; somos sacerdotes espirituais que ministram sobre o sacrifício feito por um Sumo-Sacerdote e, para tal função, dedicação e renúncia são imprescindíveis.

    Levi, o terceiro filho de Jacó e Lia, cujo nome significa “Unido À”, entre os doze filhos dessa família teve o mais importante papel espiritual: seus descendentes receberam a nobre missão de cuidar das coisas sagradas diante do povo. Ele não era uma pessoa melhor que os demais, pois quando sua irmã Diná foi violentada por homens de Siquém, ele foi um dos que pegaram na espada para se vingar; quando José, seu irmão, foi vendido como escravo, ele também participou desse ato que a Bíblia classifica como inveja; conforme está descrito em Gênesis 49:5-7, antes de morrer, ao abençoar seus filhos, Jacó - Israel - relatou o seguinte: “Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu secreto conselho, não entre minha alma; com a sua congregação, minha glória não se ajunte (*não estarei presente quando fizerem planos, não tomarei parte nas suas reuniões); porque, no seu furor, mataram varões e, na sua teima, arrebataram bois (*por brincadeira aleijaram touros). Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; eu os dividirei em Jacó e os espalharei em Israel”.
    A personalidade inadequada de Levi nos ensina uma coisa: não é preciso ser perfeito para ser escolhido e separado para a Obra de Deus, pois Ele tem poder para transformar o caráter humano. O chamado divino não leva em consideração o passado, mas sim a possibilidade de mudança no futuro (At 9:10-16).

    Mesmo tendo apelado à violência se vingando daqueles que abusaram de sua irmã e também cometido outros atos indevidos que até seu pai reprovou, Levi demonstrava grande zelo por aquilo que julgava ser o certo. Com esse mesmo sentimento, seus descendentes combatiam com firmeza a idolatria antes mesmo de serem escolhidos para o ofício sacerdotal.
    Embora tenhamos falhas que por muitas vezes seja difícil de controlar, devemos procurar sempre contrariar nossa própria natureza pecaminosa e expor, tanto dentro como fora da igreja, atitudes positivas que falem ainda mais alto do que nossas palavras diante do público (Tg 2:11,12).

    O chamado de Levi tinha um motivo e um objetivo: o motivo de sua escolha era o fato de que, mesmo com suas falhas, havia nele um coração agradável ao Senhor; e seu objetivo era prestar os serviços sagrados enquanto o restante do povo poderia se ocupar com as demais obrigações.
    Nosso chamado ministerial tem os mesmos princípios que o levítico: somos falhos, mas o Senhor nos aperfeiçoa a cada momento para que nossos sacrifícios de adoração sejam agradáveis a Ele; e nos capacita para que conduzamos o povo até Ele e, ao mesmo tempo, Ele até o povo (Ef 4:11).

    Os levitas, em especial os sacerdotes, precisavam cumprir uma série de exigências, pois deles era a difícil missão de intermediar entre os homens e Deus. Da seriedade de seu trabalho dependia a espiritualidade do povo. Pela razão de oferecerem sacrifícios pelos pecados da nação, precisavam eles ter uma vida espiritual elevada.
    Nosso papel como ministros do Evangelho requer de nós uma vida espiritual exemplar. Nossa missão é o aperfeiçoamento dos santos, ou seja, o ensinamento e a condução da vida espiritual daqueles que, de alguma forma, estão sob nossos cuidados, os quais também nós devemos preparar para serem futuros obreiros: fazer discípulos (Ef 4:12).

    Em sua preparação, o futuro sacerdote recebia instruções em todas as áreas necessárias dentro da função que iria exercer. Ele precisava ter em mente que não era uma pessoa comum como a maioria, pois estava sendo separado para um serviço muito especial. Ele não receberia a unção se não estivesse apto para atender a carência espiritual do povo.
    A vocação ministerial exige de um cristão mais do que chamado, ela requer preparo. Não basta dizer “Deus me escolheu”, é preciso se dispor a aprender o teórico, desenvolvendo-o na prática, renunciando a si próprio por amor das vidas que dele necessitam, pois sua missão é edifica-las, instruí-las e conduzi-las espiritualmente (Ef 4:13).

    Havia um organizadíssimo sistema preparatório para o sacerdócio, o qual respeitava também uma linha de sucessão. Cada detalhe, inclusive nas vestes, tinha um significado. Mesmo sendo levitas, havia a exigência de que os sumos sacerdotes fossem descendentes de Arão. Com o tempo, essa sucessão parece ter sido deixada de passar de pais para filhos, porém continuou pertencendo à descendência da família de Arão.
    Uma escolha criteriosa no ministério é o que define a qualidade espiritual e administrativa de um trabalho a ser executado. Colocar a pessoa certa no lugar certo é o que define entre o sucesso e o fracasso de um projeto. Líderes preparados não se desviam facilmente do objetivo em foco e orientam seus liderados a terem a mesma firmeza (Ef 4:14).

    Os sacerdotes não estavam acima da Lei, pois eram os primeiros a terem que cumpri-la, e nem eram absolutamente perfeitos, porque muitos também erraram, inclusive cometendo até erros trágicos; exemplo disso foi a dificuldade de Eli na educação de seus filhos e dos administradores financeiros do templo conforme descreve o profeta Malaquias. No entanto, sua fragilidade humana não justificava seus erros, pois deles se esperava santidade, e a ausência dela resultava em consequências gravíssimas: Eli perdeu a vida e os maus administradores foram considerados por Deus como ladrões.
    O maior dos segredos para não se deixar cair na tentação de transgredir os mandamentos divinos está no amor que se deve ter no exercício do serviço sagrado: colocar o coração antes de colocar as mãos. Todo crescimento vem do Alto, por esse motivo, precisamos estar focados em Cristo, o qual deve ser nosso único e verdadeiro Alvo (Ef 4:15).

    A obrigação dos sacerdotes e dos demais levitas era se dedicar integralmente ao serviço sagrado; não tinham eles o direito de exercer qualquer outro ofício e nem mesmo possuir terra como herança juntamente com as outras tribos, pois viviam eles espalhados por toda a terra de israel. Dessa forma, tinha o restante do povo também o dever de sustenta-los.
    Viver do altar ou “viver da obra”, é um chamado inegável atribuído a muitos nos dias atuais. Embora muitos neguem a existência desse direito, ele é legítimo, pois não há como alguém se dedicar totalmente à Igreja ou qualquer trabalho ligado à ela se por ela não for sustentado. Mas é necessário observar dois detalhes aí: nem todos que dizem ter realmente tem esse chamado, e mesmo entre os que o tem nem todos o seguem fielmente. Para viver da Obra tem que viver para a Obra; isso significa não pertencer a si mesmo, mas entregar-se totalmente ao serviço do Reino (Gl 2:20).

    A santidade devia estar literalmente escrita sobre a testa dos sacerdotes: sobre sua cabeça havia uma mitra[3] com uma faixa de ouro sobre a qual estava escrito “Santidade ao Senhor”. Tal descrição servia para lhe lembrar suas obrigações espirituais e mostrar ao povo que estavam diante de alguém designado pelo próprio Deus para lhes oferecer e cobrar santidade.
    Hoje, apesar de não termos que “escrever santidade em nossa testa”, temos que passar essa imagem de santificação aos demais por meio de nossas boas atitudes. Não são estampas em camisetas e nem adesivos em carros que comprovam a espiritualidade de uma pessoa, não que isso seja proibido, mas a expressão maior da fé está em viver separado das coisas profanas desse mundo assim como requer o santo caráter divino (1ª Pe 1:15,16).

    Ser exemplo ao povo era essencial aos sacerdotes. Todos deveriam observá-los e toma-los como referência de comportamento e espiritualidade. Não somente suas palavras de ensinamento, mas suas ações serviam de orientação para que os israelitas se comportassem como filhos de Deus.
    Como somos vistos diante da Igreja e da sociedade? Mesmo que na maioria das vezes não percebamos, os que nos observam geralmente tomam duas atitudes: nos imitam ou nos rejeitam. Estarmos de pé ou caídos faz sim diferença na vida de alguém que nos identifique como cristãos. Você está firme em sua vocação (2ª Pe 1:10)?

    Levitas comuns e sacerdotes portavam uma honrosa e gloriosa missão: as coisas de Deus estavam em suas mãos. No entanto, o “status” não apagava o peso da responsabilidade, pois muito grandes eram as cobranças sobre eles. Além do mais, seu trabalho não se restringia ao tabernáculo ou ao templo, ele se expandia em várias áreas da sociedade.
    Exercer ministério vai muito além de ocupar uma cadeira e ser visto no palco sob holofotes e aplausos; o verdadeiro chamado começa fora das portas dos templos ou meios de convívios evangélicos, pois as almas a serem resgatadas estão nas ruas e em outros lugares não muito agradáveis. Abraçar o Evangelho consiste em agarrar espinhos crendo que eles serão transformados em frutos. Você tem feito isso com alegria (At 20:24)?

*Acréscimo explicativo na versão NTLH (Nova Tradução na linguagem de Hoje).

Jonas M. Olímpio



[1]Asmo: Também chamado de ázimo, é o alimento de massa preparado sem fermento. Não fermentado; não levedado.
[2]Éfode: Estola sacerdotal. Espécie de manto usado pelo sumo sacerdote. Era feito de linho fino, enfeitado com ouro e bordado e preso por um cinto (Êx 28:6-14; 39:2-7).
[3]Mitra: Faixa para a cabeça, diadema, cinta. Nome dado ao turbante usado pelo sumo sacerdote (Êx 28:4).

A Beleza e a Glória do Culto Levítico


Esboço Resumido - Escola Bíblica Dominical (Lições Bíblicas - Adultos - CPAD)

Lição 2 - A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO

A liturgia de culto levítica é uma
verdadeira lição de reverência na
adoração. Cada detalhe e cada gesto
nos ensinam o quanto devemos nos
colocar em nosso devido lugar como
meros seres frágeis totalmente
dependentes diante de um Deus que
é único e soberano.
Texto Áureo
Levítico 9:23 - “Então, entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois, saíram e abençoaram o povo; e a glória do Senhor apareceu a todo o povo.”

Verdade Prática
O verdadeiro culto divino não se impõe pelo ritualismo nem por sua pompa, mas pelo quebrantamento de coração e pela integridade de espírito. A glória de Deus não pode faltar.

Leitura Bíblica em Classe
Levítico 9:15-24 - “Depois, fez chegar a oferta do povo, e tomou o bode da expiação[1] do pecado, que era pelo povo, e o degolou, e o preparou por expiação do pecado, como o primeiro. 16Fez também chegar o holocausto e o preparou segundo o rito. 17E fez chegar a oferta de manjares, e a sua mão encheu dela, e a queimou sobre o altar, além do holocausto da manhã. 18Depois, degolou o boi e o carneiro em sacrifício pacífico, que era pelo povo; e os filhos de Arão entregaram-lhe o sangue, que espargiu sobre o altar, em redor, 19como também a gordura do boi e do carneiro, e a cauda, e o que cobre a fressura, e os rins, e o redenho do fígado. 20E puseram a gordura sobre o peito, e ele queimou a gordura sobre o altar; 21mas o peito e a espádua[2] direita Arão moveu por oferta de movimento perante o Senhor, como Moisés tinha ordenado. 22Depois, Arão levantou as mãos ao povo e o abençoou; e desceu, havendo feito a expiação do pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica. 23Então, entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois, saíram e abençoaram o povo; e a glória do Senhor apareceu a todo o povo. 24Porque o fogo saiu de diante do Senhor e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilou e caiu sobre as suas faces.”

Comentário
    Em que consistia o culto levítico? Como sabemos, ele era repleto de rituais, mas é importante ressaltar que não se tratava apenas de formalidades inseridas para enfeitar os eventos durante suas reuniões, mas cada ato e cada item nele envolvido tinha um significado especial.
    Quando se trata de cultuar, é necessário ter duas questões em mente: cuidado com o ritualismo excessivo e cuidado com a informalidade irreverente; formalidade é a palavra-chave quando se fala de adorar. No capítulo 9 de Levítico aprendemos que para se achegar a Deus é preciso oferecer algo; qualquer entrega tem que ser de acordo com as regras estabelecidas; o que entregamos tem que ter qualidade; o culto é algo é algo em conjunto e não individual; nada do que se oferece deve ser incompleto; não podemos negar aos nossos irmãos o que é direito deles; a função da liderança é abençoar o povo; a presença de Deus precisa ser notória no ambiente de culto; todo trabalho realmente dedicado ao Senhor precisa ter resposta dEle.

    A definição básica do culto levítico é o amor, por meio dele o que se oferecia ao Senhor era voluntário e exclusivo à Ele. Tais características resultavam em reverência, ou seja, um grande respeito àquEle a quem o culto era oferecido. Os sacerdotes e os demais levitas nada faziam por obrigação, mas com coração aberto, sentindo-se privilegiados e não forçados a isso.
    Na Igreja atual, antes de entrar em um templo e oferecer qualquer coisa ao Senhor é preciso olharmos para dentro de nós mesmos e nos questionarmos sobre o que realmente estamos fazendo ali. Necessário também é sabermos que nossa adoração é constante, pois entrar em um templo nada mais é do que se reunir demonstrando comunhão com os demais irmãos enquanto se faz uso de todos os elementos requeridos em um culto. Cultuar é uma ordem que abrange a todos e não a uma específica classe de crente de acordo com sua condição espiritual ou posição ministerial (Sl 100:1).

    Os grandes patriarcas mencionados na Bíblia cultuaram a Deus e ensinaram suas famílias a fazerem o mesmo. Eles construíam altares e exerciam a função de sacerdotes em suas casas. Adorar era uma necessidade e não uma questão de status; pois fazia parte de sua identidade como servos do Senhor, detalhe esse que os diferenciava dos demais povos.
    O que nos move a adorar - ou dizer que estamos adorando - é uma pergunta que deve incomodar constantemente nossa mente para que não venhamos a fazer nada apenas por cumprimento de uma religiosidade, mas verdadeiramente alegria proveniente de dentro do coração (Sl 100:2).

    Na era de Moisés, por meio dos mandamentos e demais preceitos, Deus não criou, Ele simplesmente oficializou os atos de adoração que já eram feitos, mostrando claramente o que e como Ele queria que fosse feito. Assim surgiu formalmente a liturgia e a teologia. Dessa forma foram também estabelecidas reuniões sagradas como, por exemplo, a Páscoa e o Dia da Expiação. Dessa forma, o ato de cultuar deixou de ser algo restrito à algumas pessoas em seus lares e passou a ser praticado por todo o povo.
    Cultuar é reconhecer a soberania do Senhor, se prostrar diante dEle e declarar nossa total dependência e nossa fragilidade diante de um Ser incomparavelmente superior. É um ato de agradecimento por parte de alguém totalmente desprovido de condições tentando agradar o seu Sustentador (Sl 100:3).

    Até o início do reinado de Davi, os cânticos ainda não faziam oficialmente parte do culto; manifestações musicais anteriores como os cânticos de Miriã e de Débora foram atos espontâneos e isolados que tiveram significado particular. Com Davi, o louvor por meio de cântico foi oficializado e organizado com coros e instrumentos musicais. Posteriormente, Salomão aprimorou a prática da musicalidade levando a mostrar ao mundo a capacidade do povo de Deus, tanto espiritual quanto culturalmente.
    A aplicação dos cânticos nos cultos na igreja se faz útil e extremamente necessária, porque a prática da música vai além do louvor a Deus; ela tanto ajuda a preparar o coração do ouvinte, tornando-o mais receptivo à pregação da Palavra, quanto também é usada pelo Espírito Santo para falar ao coração de alguém de modo particular e ainda - quando sua letra é realmente bibliocêntrica - serve de auxílio no ensino das Escrituras Sagradas. Considerando-se que a verdadeira função de um levita girava em torno dos trabalhos prestados no ambiente de culto e não em torno da música, não há uma razão lógica para se considerar os músicos atuais como levitas, pois mais justo seria aplicar esse termo, ainda que simbolicamente, aos diáconos. O louvor por meio de canções vai além de um ato de prazer, é um verdadeiro gesto de adoração (Sl 100:4).

    No período do cativeiro babilônico, os que haviam sido escravizados ficaram setenta anos impedidos de cultuar verdadeiramente. O Salmo 137 relata bem a agonia de quem se vê impedido de adorar ao Senhor: eles choravam lembrando de sua pátria, e penduraram suas harpas não querendo tocar e nem cantar, porque aqueles que os aprisionaram lhe pediam para ouvir seus cânticos não para adoração, mas sim para uma satisfação de entretenimento apenas. Somente com sua volta à Jerusalém, puderam ter novamente a sensação de exaltar livremente e com alegria o nome de Deus.
    Muitos não dão valor à liberdade de cultuar ao Senhor e somente quando se veem numa situação de cativeiro em sua vida, passam a valorizar cada oportunidade de estarem numa reunião espiritual, cantar hinos, testemunhar, orar, pregar e ouvir a Palavra juntamente com os demais irmãos. Não percamos cada momento desse tão maravilhoso privilégio que nos é dispensado gratuitamente de adorar ao Pai, exaltando sua tão grandiosa misericórdia sobre a nossa vida (Sl 100:5).

    Os sacrifícios, mais do que pedidos de perdão ou provisão, significavam gratidão. No Antigo Testamento presenciamos várias ocasiões em que o nome do Senhor foi exaltado por meio deles. Desde o início, para entrar no tabernáculo, era necessário ter algo para oferecer a Ele, representado a dependência do homem diante de sua soberania.
    Nos dias atuais o sacrifício não é de animais para nos remir de nossos pecados ou por qualquer outro motivo, pois diante de qualquer situação, o que devemos sacrificar diante dEle é um coração arrependido e pronto a nos levar a uma vida de renúncia, fazendo com que mostremos ao mundo a transformação que o Evangelho fez em nós (Rm 12:1).

    Os cânticos iam muito além da música, eles abrilhantavam o culto levando seus participantes a sentir a presença divina antes mesmo da ministração da Palavra. Muitos deles foram compostos por Davi, como também por outros autores, e estão registrados nos Salmos. A música sempre foi símbolo de alegria e pacificação da alma.
    Hoje em dia, infelizmente, não generalizando, muito do que chamam de louvor nada mais é do que barulho técnica e psicologicamente preparado para envolver o corpo e a mente das pessoas, levando-as apenas a exaltar os músicos que mais parecem estar competindo com suas belas vozes e domínio sobre os instrumentos do que realmente para elevar o clima do ambiente de maneira que todos sintam a presença do Senhor. O verdadeiro louvor precisa ser espiritual e sair de dentro do coração (Ef 5:18,19).

    Expor a Palavra de Deus durante o culto era uma necessidade, porque por meio dela é que o povo tinha condições de conhecer a vontade dEle para servir e obedecê-lo fielmente. Salomão deu um grande exemplo disso, assim como vários outros homens de Deus. Naquela época, a maioria não era alfabetizada, por essa razão a leitura era um privilégio de poucos, assim tornando a atenção à ministração algo imprescindível.
    A mesma necessidade da exposição da Palavra de Deus durante o culto é indiscutível nos dias atuais, pois mesmo tendo acesso às várias formas de literatura bíblica, nada substitui sua ministração sobre o altar. A função da pregação e do ensinamento é levar o crente ao crescimento por meio da aquisição da sabedoria, a qual se obtém através da correção mútua entre os membros do Corpo de Cristo (Cl 3:16).

    A oração era uma prática inseparável do culto. Assim como os sacrifícios, ela tinha uma função que ia além de um ato de petição ou simples formalização de pedidos de perdão, pois também servia para expressar gratidão a Ele. Também por meio dela, o sacerdote, na prática, falava com Deus e via sua resposta por meio de suas intervenções nas necessidades do povo.
    Orar é um ato fundamental para o andamento espiritual do culto e até mesmo da própria vida do crente. O nome do Senhor Jesus precisa ser primazia em nossas reuniões em ações. Orar não é apenas pedir; orar é dar a Ele graças por tudo, ou seja, admitir que Ele é o nosso sustentador (Cl 3:17).

    A Bíblia, também no Antigo Testamento, está repleta de exemplos da prática da leitura das Escrituras Sagradas. Esdras e Neemias retomaram esse costume após o cativeiro babilônico, pois assim já procediam os sacerdotes para ensinar o povo desde a implantação da Lei. Era esse também o costume dos chefes de família para ensinar seus filhos.
    Na Igreja atual, um obreiro sem um razoável conhecimento bíblico não é digno de ser chamado de obreiro. Por mais que se ore, jejue e faça o quer que seja alcançando resultados satisfatórios, se não houver domínio e aplicação fiel do conteúdo das Escrituras, seu culto não está completo e o seu próprio ministério pode estar sendo reprovado (2ª Tm 2:15).

    Conforme descrito em Números 6:22-26, a bênção completava o ato do culto. Ela confirmava a misericórdia de Jeová sobre aqueles que o obedecessem. Ela enfatizava o privilégio do povo de Israel como propriedade particular dEle, fazendo-o lembrar que o que este lhe ofereceu naquele momento de adoração, por Ele foi recebido e o que dEle foi falado na ministração, por Ele lhe seria feito.
    Da mesma sorte, a Igreja, como herdeira adotiva no plano de salvação, não deixa de ser agraciada pelas bênçãos divinas. E não poderia ser diferente em sua liturgia a existência da ministração da bênção, a qual lembra o amor divino, o sacrifício de Cristo e a ação do Espírito Santo sobre a nossa vida (2ª Co 13:13).

    Uma das finalidades do culto levítico era adorar ao único e verdadeiro Deus. Em suas reuniões era perceptível que eles tinham como prioridade demonstrar seu reconhecimento dEle como único e verdadeiro enquanto rejeitavam os falsos deuses adorados pelos povos pagãos. Cultuar era dizer “sim” a Jeová e “não” ao paganismo predominante nas nações a sua volta.
    Nosso culto precisa ser, à vista dos incrédulos, um ato de exaltação à Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, uma rejeição às práticas pecaminosas que o mundo oferece e idolatra. Nossa sujeição a Ele deve servir para mostrar aos ímpios que é do Alto que vem a nossa exaltação (1ª Pe 5:6).

    Cada detalhe no culto levítico visava expor a misericórdia divina sobre suas vidas. Tanto nas canções como na Palavra, o nome de Deus era exaltado por meio das lembranças que faziam de suas ações maravilhosas na vida dos seus antepassados. Tais testemunhos reforçavam sua fé e esperança no Criador.
    O que e com que objetivo temos oferecido em nossos cultos? Nossos louvores exaltam ao Senhor? Nossas pregações edificam o ouvinte? O que passamos aos demais em nossas diversas apresentações e discursos? Muitos, as vezes, fazem uso dos púlpitos para lamentar seus infortúnios ou exaltar sua super santidade, porém, a razão do uso do mesmo deve ser para falar das misericórdias e do poder divino, assim fazendo edificar a fé de nossos irmãos, mostrando o quanto Ele tem cuidado de nós (1ª Pe 5:7).

    Professar a fé, ou seja, afirmar e reafirmar a confiança em Deus era a marca registrada de um culto na época dos levitas. Sua liturgia era aplicada de modo a inserir e deixar gravado em cada mente a divindade, a soberania e a misericórdia divina. Não eram reuniões de petições por seus problemas cotidianos, mas sim verdadeiras ministrações de ensinamento sobre o quanto era essencial que não se esquecessem dEle tanto nos tempos bons quanto nos tempos ruins.
    Que fé professamos quando nos reunimos? Ou será que apenas nos juntamos para pedir uns aos outros que intercedam por nossa vitória nessa vida natural? Muitas coisas pertencentes apenas a esse mundo passageiro têm roubado o verdadeiro foco do culto atualmente, pois muitos ministérios se resumem apenas a organizações de campanhas, cujo ingênuo objetivo é transformar o homem em vencedor e Deus em seu servo (1ª Pe 5:8).

    A espera pelo Messias era, já naquela época, um dos objetivos de seus cultos. Eles o reverenciavam mesmo sem saber de fato quem Ele seria. Isso mostra uma característica de total espiritualidade em sua adoração, pois não exaltavam ao Senhor apenas pelo que Ele já havia feito ou estava fazendo, mas sim também pelo que Ele ainda faria, incluindo a salvação de suas almas.
    A volta de Cristo é o tema central de suas ministrações? Você tem pregado a resistência firme na fé diante das perseguições desse mundo? Por mais que saibamos que Ele concede bênçãos materiais, nosso principal conteúdo de mensagens deve visar a salvação da alma, pois tudo nesse mundo é passageiro, mas o espiritual, seja para a salvação ou para a condenação, é eterno (1ª Pe 5:9).

    Tristemente, embora eles observassem muito as exigências litúrgicas, falharam como adoradores. O próprio Senhor Jesus confirmou a profecia que dizia que aquele povo honrava a Deus com seus lábios, mas seu coração estava longe dEle. Com o tempo, o perigo maior de um culto se fez realidade entre eles: a adoração tornou-se apenas uma aparência ilusória de ações e palavras vazias; estava faltando o envolvimento do coração nos sacrifícios, no louvor e na Palavra.
    Zelar para que o culto não se transforme em gestos vazios - vazios de Deus e cheios do homem - é um dos maiores desafios para a Igreja hoje. Adorar em espírito e em verdade, ou seja, com um sentimento real proveniente do coração e com atitudes que demonstrem isso na prática, é o que o Senhor requer de nós. Quer resposta no seu altar? Sacrifique com seriedade antes (Jo 4:24).


Jonas M. Olímpio



[1]Bode de Expiação: Bode que era tocado para o deserto durante a cerimônia do Dia do Perdão. Ele era o sinal visível de que os pecados do povo tinham sido esquecidos e perdoados (Lv 16:5-28).
[2]Espádua: O ombro com a carne em volta; o quarto dianteiro (Nm 6:19).