Votar ou não votar, não é essa a questão; afinal, votando ou não, você tem o dever de ser um bom cidadão e o direito de fazer valer aquilo que é obrigação do Estado. A questão maior que envolve os cristãos é qual deve ser sua postura, ou seja, o seu grau de envolvimento com o sistema político. |
“Sou de esquerda[1] porque o Evangelho é liberdade!”; “Sou de direita[2] porque a Bíblia é conservadora!”; “Sou governista porque a
Palavra ensina que devemos respeitar as autoridades!”; “Sou oposição porque
Cristo disse que esse mundo jaz no maligno!”; “Sou neutro porque sou cidadão
dos céus!”. Quem nunca ouviu e também nunca repetiu alguma - ou algumas -
dessas frases? O poder e a influência política estão cada vez mais presentes na
vida dos cristãos, tendo chegado ao ponto de interferir diretamente na Igreja...
Ou é a Igreja que está interferindo na política? Políticos nos púlpitos e
pastores nos palanques; indução de líderes ministeriais em relação aos votos
dos fiéis e participação aberta dos crentes na implantação de leis. No
exercício do sufrágio[3], até que ponto devemos ou podemos nos envolver nas questões do
Estado, considerando-se que, como cristãos, somos peregrinos[4] na terra (Sl 119:19)? Façamos então uma imparcial análise bíblica para chegarmos a
uma conclusão racional - e espiritual - sobre liberdade, conservadorismo,
obediência, oposição e neutralidade do cidadão evangélico em relação ao poder
público considerando também que a legitimidade da organização política é
reconhecida por Deus desde o início (Êx 20:1-17; Dt 16:18-20) e praticada por Jesus (Mt 22:17-21).
Uma das maiores preocupações em relação ao
cenário político é o desrespeito ou mesmo a destruição dos valores da família
tradicional, em nome de uma liberdade que desvaloriza totalmente tudo aquilo o
que os princípios cristãos ensinam. Dentro desse panorama, há também
evangélicos que que acreditam ser radicalismo religioso se opor a isso, pois o
avanço cultural e social pede mudança de postura e o cenário atual nada tem a
ver com a situação dos tempos bíblicos. Em partes, é mesmo necessário que se
compreenda a questão das mudanças em relação a tempos e lugares, porém, algo de
maior importância a se considerar é o fato de que Deus não mudou, o que
significa que, embora em situações diferentes, seus princípios não mudaram (Tg 1:16,17; Hb 13:8). O liberalismo excessivo propõe
o apoio às leis que defendam atos como, por exemplo, o aborto, o “casamento” de
pessoas do mesmo sexo e o feminismo. É errado isso? Se para você não houver
nada demais em interromper uma vida antes mesmo dela nascer (Êx 21:22,23; Sl 139:16; 1ª Co 3:16,17), assim também
como a união conjugal entre dois homens e duas mulheres (Gn 2:18-24; Lv 18:22; 20:13; Rm 1:26,27; 1ª Co 6:9-11; 1ª Tm 4:3), e ainda o domínio da mulher em questões que, por natureza,
competem ao homem (Gn 2:22,23; 1ª Tm 2:11-13; 1ª Co
11:8,9; Ef 5:22-24; Cl 3:18; Tt 2:3-5; 1ª Pe 3:1-5), então não há nada de errado não; é só extremismo religioso
mesmo (2ª Tm 4:3). Uma das características desse
grupo é o comunismo[5]; Cristo era comunista (Lc 12:14,15)? Você já parou pra pensar no que realmente consiste a
liberdade em Cristo (Rm 6:22,23)?
Outro grupo que muito preocupa é o que
defende radicalmente o conservadorismo. Estes são defensores intolerantes dos
direitos tradicionais que propõem a defesa dos valores - ou do que eles consideram como valores - tradicionais a todo custo.
Qual é o problema disso? Estes costumam defender medidas extremas como, por
exemplo, a pena de morte, a liberação de armas de fogo para a população e o
autoritarismo, isso além de não respeitarem grupos minoritários (homossexuais, presidiários, religiosos
não-cristãos, estrangeiros, etc.); e pensam que Direitos Humanos é defesa
de bandidos. Mas isso é problema? A Quem pertence o direito à vida (Gn 2:7; Ec 12:7)? E o que a Bíblia quer dizer
quando fala sobre perdoar os inimigos e a acepção de pessoas (Mt 5:43-47; Tg 2:8,9[6])? Sim! A Bíblia fala mesmo sobre a espada da lei que justamente
fere os que desobedecem, mas isso é uma carta branca para que julguemos e
determinemos a morte de alguém (Mt 26:52; Rm 13:1-6[7]; Rm 12:18-21)? Defendem também o
individualismo - o contrário do comunismo
-; Cristo era individualista (Lc 9:12-17)? O extremismo na defesa de direitos individuais demonstra, na
prática, ser tão perigoso quanto a criminalidade em si (Pr 28:16; Ez 22:12).
Outro problema muito sério do
cristão-cidadão em relação à política é a prática do governismo, ou seja, a
defesa do governo sem considerar se ele está governando de acordo com os
princípios que possam ser tolerados pelo cristianismo ou não. São pessoas do tipo:
“Não critique, não reclame, não questione, não fale porque rebelião é pecado!” De
fato, as Sagradas Escrituras nos ensinam que devemos ser obedientes às
autoridades (1ª Pe 2:13); porém, nos alertam também que
não podemos compactuar com aquilo que venha a ferir os princípios sagrados
determinados por Deus (Tg 1:27), dentre os
quais está incluída a luta contra a corrupção, o que envolve a defesa da
prática da honestidade (2ª Co 8:21; Fp 4:8; 1ª Pe 2:11,12), do combate à pobreza (At 6:1-3; 1ª Tm 6:17-19), da luta pela decência moral (Tt 2:7,8), da acessibilidade à educação (Pr 1:2-6), enfim, do exercício dos direitos iguais (Ec 5:9-11). Obedecer ao homem é
necessário, desde que suas leis não desrespeitem às leis divinas (At 5:28,29).
Outro perigo é o oposicionismo. Defender as
leis divinas não significa tentar se isolar como se não vivêssemos nesse mundo
(Jo 17:15,16); afinal, nossa “cidadania
cristã” (Fp 3:20) não nos torna seres
sobrenaturais, mas apenas pessoas comuns que creem e vivem o sobrenatural (Fp 3:21; Lc 10:17-20). O pensamento oposicionista
tende a tornar o cristão uma pessoa insociável[8] que vê o pecado - ou o Diabo - em tudo e não consegue
diferenciar entre o certo e o errado sem generalizar cada situação. É daí que
nascem várias teorias conspiratórias[9], as quais, quase que generalizadamente, se resumem em pregar a
existência do paganismo[10] em todas as ações dos governos ou pessoas e empresas ligadas à
ele. Mas, qual é o problema nisso? O grande problema nisso é que em vez de
simplesmente ajudar a alertar a população contra a corrupção governamental,
acaba é incitando o povo contra as autoridades por meio da criação de revolta e
pânico, podendo gerar protestos que por muitas vezes terminam em atos violentos:
verdadeiros atos de rebelião. Assim sendo, devemos então concordar com o
“domínio maligno do poder”? Obviamente que não! Porém, essa é uma luta que
começa no campo espiritual (Ef 6:11,12) e é travada a nível individual (Ef 6:13), pois se o mundo jaz no maligno (1ª Jo 5:19), o que podemos fazer é viver
cada um com sua fé buscando para si próprio uma vida tranquila em meio à tanta
turbulência (1ª Jo 5:8,9); é claro que temos que pregar a
paz, mas fazemos isso tendo consciência de que nem todos darão ouvidos à voz de
Deus (2ª Tm 3:1-5).
É também comum nos depararmos com o grupo “Tanto
fez, tanto faz! Minha participação não vai mudar nada mesmo!”. O neutralismo
demonstra, na prática, um conformismo com tudo, o qual faz a pessoa achar que
não pode ou não deve interferir em nada porque essa é a vontade de Deus; mas a
Bíblia ensina o contrário, né? Pois, mesmo não aprovando, Ele permite que o
homem faça escolhas (1º Sm 8:4-10,17-20). Não há, logicamente, a necessidade de nos engajarmos em
causas políticas e fazer disso a nossa razão de viver, mas isso também não
significa que devamos cruzar os braços e fingir que não estamos vendo nada. As
Escrituras são claras ao afirmar que a omissão é um pecado (Tg 4:17). Isso significa que enquanto
vivemos aqui somos parte desse mundo e devemos sim de alguma maneira tentar
torna-lo um lugar melhor para se viver. Afinal, quem é capaz de ficar num
ambiente sujo sem pelo menos pegar uma flanela e tirar nem que seja o pozinho
do lugar aonde está sentado? O envolvimento possui vários níveis ou dimensões,
mas é impossível a um ser humano em seu perfeito juízo não se envolver
socialmente, mesmo que seja contribuindo simplesmente com suas opiniões,
fazendo críticas ou comentários que, ao ser ver, sejam construtivas para a
melhoria do ambiente em que vive. Se envolver socialmente é também uma forma de
amar ao próximo (Lv 23:22). Certamente que confiar no homem não é tarefa fácil, mas
precisamos avaliar, discernir e julgar (1ª Ts 5:21; Mt 7:16,17).
Socialmente
falando, o cristão possui uma missão a cumprir, a qual não o permite excluir-se
politicamente. O que se deve é ter um grande cuidado para não tornar-se adepto
ao partidarismo[11], pois nosso compromisso não é com partido e nem com
seus representantes, mas com a verdade. Quando votamos ou nos candidatamos,
assumimos compromisso com toda a sociedade, mediante à prática dos valores
ensinados pela Palavra de Deus (Mt 5:16), cuidando para que
devidamente se exerça nossos direitos garantidos pelo Estado Laico[12]. Religião e política sempre caminharam lado a lado
desde o princípio, pois quando o povo israelita passou a peregrinar pelo
deserto, Ele estabeleceu regras de convívio social e, ao longo da história,
muitas são as passagens bíblicas que mostram profetas nos palácios orientando
os reis (2º Rs 3:10-12; Jr 37:3,4); o próprio Jesus expressou sua insatisfação sobre a
liderança política que o perseguia (Lc 13:31,32[13] [14]). É claro que isso também tem o seu lado negativo,
pois essa mistura também tem sido a razão de vários conflitos e morte, mas isso
é culpa do próprio ser humano ao usar o nome de Deus em sua ganância por poder.
Nesse caso há a necessidade de se usar a política para se combater os maus
políticos, e isso se dá por meio da prévia análise antes de ceder seu voto ou
apoio e filiação a determinado partido ou candidato. O mito de que todo
político é ladrão é falso, totalmente discriminatório, pois há sim ainda
pessoas bem intencionadas que não se deixaram contaminar pela podridão do
sistema. De fato é sim muito difícil saber quem é quem, mas como verdadeiros
crentes temos a obrigação de seguir a regra mais básica na escolha política:
discernimento espiritual e racional - oração
e análise bíblica dos projetos -. Outro ponto importante a se observar aí é
a questão perigo da transformação de púlpitos e palanques e vice-versa, pois
nessa mistura muitos se deixam enganar, e vários líderes ministeriais acabam
cometendo um erro gravíssimo: a imposição do voto de cabresto[15], assim transformando os fiéis em meros objetos para a
eleição de seus candidatos, classificando-os como rebeldes se assim não os
obedecerem; mas a Bíblia também fala sobre esse tipo de atitude (2ª Pe 2:3). Concluindo, não importa qual seja seu nível de envolvimento político,
mas faça isso com a consciência limpa estando ciente de que está fazendo - ou
tentando fazer - o que é melhor para a Igreja, a sociedade, a sua família e a
si próprio. Fazendo o bem ao próximo, o estamos fazendo ao próprio Deus (Mt 25:35-45). E o principal de tudo é: confiemos primeiramente em Deus e não no
homem (Nm 23:19; Sl 20:7).
[1]Esquerda: Politicamente
falando, esse termo foi criado durante a Revolução Francesa (1789 - 1799),
referindo-se ao lado do parlamento em que os políticos se sentavam. À esquerda
se sentavam aqueles que defendiam uma maior igualdade social: aqueles que
representavam as classes menos favorecidas.
[2]Direita: Politicamente falando, esse termo
foi criado durante a Revolução Francesa (1789 - 1799), referindo-se ao lado do
parlamento em que os políticos se sentavam. À direita se sentavam aqueles que
defendiam direitos mais favoráveis à elite social ou interesses individuais.
[3]Sufrágio: Processo de escolha por
votação; Eleição. Voto em uma eleição.
[4]Peregrino: Aquele que peregrina. O que
empreende longas viagens, ficando em vários lugares por determinado período de
tempo sem poder ser considerado morador dos mesmos.
[5]Comunismo: Do latim communis (comum,
universal), sua característica é uma ideologia política e socioeconômica, que
visa estabelecer uma sociedade igualitária em que não haja classes sociais
diferenciadas, que seja apátrida (sem nacionalidade), baseada na propriedade
comum dos meios de produção.
[6]Redarguido: Repreendido, replicado,
respondido.
[7]Magistrado: Autoridade pública.
[8]Insociável: O que foge ao convívio
social; misantropo, solitário, retraído. De difícil convivência; intratável,
incômodo, importuno.
[9]Teoria Conspiratória: Teoria da conspiração se refere à forma de se entender ou se explicar
qualquer coisa, tendo como "certeza" o fato de que sua origem é
secreta e parte de um plano conspiratório. Essas teorias são uma tentativa de
explicar algo que não tenha explicação, ou argumentar que a explicação
oficialmente declarada não condiz com a verdade.
[10]Paganismo: Conjunto dos não
batizados; gentilidade, gentilismo. Religião em que se cultuam muitos deuses;
etnicismo, gentilidade, gentilismo, politeísmo.
[11]Partidarismo: Fanatismo partidário;
facciosismo político. Aquele que defende a bandeira de um partido ou um
representante político em vez situações em particular.
[12]Laico: Secularidade; secular. Que não tem religião
definida; sem religião. É um conceito que denota a ausência de envolvimento
religioso em assuntos governamentais.
[13]Fariseus: Em hebraico significa “separados”. Judeus devotos ao Pentateuco. Participavam
das reuniões legislativas da sinagoga. Formavam um grupo de fanáticos e
hipócritas (o que não era o caso de todos, pois haviam exceções, como era o
caso de Gamaliel que defendeu os apóstolos que estavam presos por pregarem a
Palavra (At 5:34-38)) que se opuseram duramente contra Jesus Cristo. Segundo a
história, nessa época, eles eram aproximadamente 6 mil pessoas.
[14]Herodes: Nome comum de vários
reis Idumeus que governaram a Palestina de 37 a.C. até 70 dC. 1- Herodes,
o Grande (37 a 4 a.C.), construiu Cesaréia, reconstruiu o Templo e mandou matar
as criancinhas em Belém (Mt 2:1-18). Quando morreu, o seu reino foi dividido
entre os seus três filhos: Arquelau, Antipas e Filipe. 2- Arquelau
governou a Judéia, Samaria e Iduméia de 4 a.C. a 6 d.C. (Mt 2:22). 3- Herodes
Antipas governou a Galiléia e a Peréia de 4 a.C. a 39 d.C. Foi ele quem mandou
matar João Batista (Mt 14:1-12). Jesus o chamou de "raposa" (Lc
13:32). 4- Filipe, Tetrarca (rei que governava a quarta parte
de um reino) que governou bem, de 4 aC. a 34 d.C., a região que ficava a
nordeste do lago da Galiléia, isto é, Ituréia, Gaulanites, Batanéia, Traconites
e Auranites (Lc 3:1). 5-Herodes Agripa I governou, de 41 a 44 d.C.,
toda a Palestina, como havia feito Herodes, o Grande, seu avô. Esse Agripa
mandou matar Tiago (At 12:1-23). 6- Herodes Agripa II governou
o mesmo território que Filipe havia governado (50-70 d.C.). Paulo compareceu
perante esse Agripa (At 25:13-26:32).
[15]Voto de Cabresto: Sistema tradicional de controle de poder político através do abuso de
autoridade, compra de votos ou utilização da máquina pública. Prática muito
comum nos meios mais pobres. Nas igrejas, as vezes é praticado por alguns
pastores que coagem seus membros a votarem em determinados candidatos, alegando
que os que assim não fizerem estão em desobediência; dessa forma, chegam até
mesmo a proibir que fiéis que não tenham sido escolhidos pela administração
ministerial se candidatem a cargos políticos para não atrapalharem seus
representantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, seja ele crítico, elogioso, complementar ou simplesmente direcionado à esclarecer alguma dúvida.
Todos serão respondidos desde que estejam de acordo com o regulamento abaixo:
Não serão publicados comentários que contenham palavrões, ofensas, anúncios não autorizados, e/ou usuários anônimos.
Muito obrigado pela sua participação!
Obs.: Apenas respondemos quando percebemos que a pessoa realmente quer uma resposta, pois quando notamos que ela apenas quer arrumar confusão, simplesmente ignoramos.