A maior disputa que envolve a
doutrina da salvação é, de um lado, a existência de teólogos que dizem que ela
é predestinada e, de outro lado, os que dizem que ela é conquistada. Segundo a
teoria do primeiro grupo, cada pessoa já nasce com seu destino traçado por Deus
e nada que ela fizer pode mudar isso, e de acordo com a interpretação do
segundo grupo, o que a Bíblia fala sobre predestinação é coletivo e não
individual, e o homem é responsável por seu destino final. Com o objetivo de
esclarecer isso biblicamente, vou comentar aqui alguns dos textos bíblicos mais
usados em torno desse assunto.
Êxodo 9:12 - “Porém
o Senhor endureceu o coração de Faraó, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito
a Moisés.”
Numa rápida
leitura, sem conhecimento da história, parece ser injusta essa dura decisão de
endurecer o coração de Faraó, a qual se repete por mais duas vezes (Êx
10:20; 10:27); e isso tem sido um “prato cheio” para
alimentar os argumentos dos que defendem a soberania predeterminante de Deus.
Porém, numa análise minuciosa dos fatos, podemos entender que, embora houvesse
sim um propósito divino para o uso de Faraó para libertar seu povo da
escravidão no Egito, isso não significa que ele estivesse previamente destinado
à morte e a condenação. Nos capítulos anteriores podemos ver claramente que o
próprio Faraó - e não Deus - havia
endurecido seu coração por não querer libertar os israelitas (Êx
7:13; 7:22; 8:15; 8:19); o fato de ser usada a
expressão “como o Senhor tinha dito”
não é uma prova de que Ele tenha provocado esse endurecimento, mas significa
apenas que o previu por sua presciência[1]. Assim vemos que, além da libertação dos hebreus[2], o propósito de Jeová era mostrar à Faraó e aos egípcios
que não existe outro Deus além dEle; as dez pragas simbolizam falsos deuses que
eles veneravam. Faraó já havia ouvido falar sobre Deus e testemunhado o seu
poder através de Moisés; dessa maneira, quando ele teve seu coração endurecido
pelo Todo-Poderoso nas pragas finais, isso foi somente a aplicação da justiça
divina contra alguém que teve oportunidade e não se arrependeu. Seu fim foi
decretado por ele próprio como recompensa de seu pecado, ou seja, uma merecida
punição contra alguém que negou-se ao arrependimento por algumas vezes e, a
partir daí, não mais alcançou misericórdia (Rm 9:17,18); e isso não por vontade de Jeová, o qual teve
misericórdia até onde julgou justa tal oportunidade. E essa consequência também
se deu sobre aqueles que o seguiram e não se rebelaram contra ele.
Ser usado pelo
Senhor para um propósito bom ou ruim é algo que todos nós estamos sujeitos; mas
não é isso que decreta o destino de nossa alma e sim a maneira como reagimos a
isso (Mt
27:3-5; Lc 22:61,62). De igual modo, podemos sim ter
mais ou menos oportunidades de arrependimento do que algumas pessoas; isso é
fato incontestável que vemos no dia-a-dia, mas esse “nível de misericórdia
individual” - se assim podemos chamar - apenas revela o quanto, aqueles que
estão vivendo em pecado, se tornam cada vez mais responsáveis pelos seus erros
e justamente sujeitos a receberem seu salário pelas más obras que praticam (Rm
6:22,23).
Jeremias 1:5 - “Antes
que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e, antes que saísses da madre, te
santifiquei e às nações te dei por profeta.”
Esse é outro
ponto bastante argumentado pelos que creem na predestinação da salvação. Não é
raro ouvir alguém dizer que os salvos são escolhidos desde o ventre de sua mãe.
Porém, basta apenas uma atenção maior ao texto para se observar que essa
formação de Jeremias no ventre materno, seguida da santificação não se refere à
salvação, mas sim à sua missão como profeta. Não estou dizendo que Jeremias não
foi salvo, no entanto, não é esse texto que pode garantir isso.
Ser escolhido
por Deus para determinada obra não significa ter sido desde o princípio
separado para a salvação, pois muitos foram tremendamente usados por Ele, mas,
devido aos seus próprios erros, não herdarão o Reino dos Céus (Mt
7:21-23; 25:11,12). Inclusive, ser chamado não
garante nem mesmo que a pessoa lhe obedecerá cumprindo sua vontade (Jn
1:1-3; 4:1,9-11; Hb 11:38,39), o que também não significa
necessariamente que tenham sido salvos ou não.
Jeremias: 24:7 - “E
dar-lhes-ei coração para que me conheçam, porque eu sou o Senhor; e ser-me-ão
por povo, e eu lhes serei por Deus, porque se converterão a mim de todo o seu
coração.”
Assim como em
outras passagens (Ez 11:19,20; 36:26,27), esse texto
não expressa uma mudança de sentimentos e atitudes forçada por Deus, mas sim de
sua misericordiosa ação transformadora mediante o arrependimento do povo de
Israel: “se converterão a mim de todo o
seu coração”; o que define a diferença entre salvação e condenação (Jr
24:8-10; Ez 11:20,21; Ez 36:7,19; Ez 36:30-32). Em uma
nação tão grande havia pessoas boas e más, porém, na hora do castigo, pessoas
boas e pessoas más sofriam as consequências, da mesma forma que algumas pessoas
boas e algumas pessoas más eram poupadas. No intuito de salvar os inocentes e também
de resgatar os pecadores (Jr 24:1-6; Ez 11:15-18), a imensa
graça divina era - e é - estendida à
todos.
Mudar o coração
do homem não consiste numa obra forçada da parte de Deus, pois isso
contrariaria sua própria promessa de trata-lo segunda suas ações boas ou más (Dt
8:18,19); tal ato divino, na verdade, significa conceder ao
homem uma oportunidade de arrependimento, por meio da qual ele será condenado
ou justificado (Tt 2:11-14).
Lucas 14:23 - “E
disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e atalhos e força-os a entrar, para
que a minha casa se encha.”
Nessa parábola[3] onde o rei representa o próprio Deus, referindo-se sobre
a ordem dada para que evangelizemos, tem um sentido figurativo bastante amplo e
refere-se primeiramente à desobediência do povo de Israel, o qual
conscientemente recusou o chamado divino por meio da desobediência, e assim o
Senhor executou seu plano de salvação sobre os gentios. Mas a questão que quero
focar aqui é a expressão “força-os a entrar”.
Na verdade, o
termo hebraico aqui usado foi pâtsar (פָּצַר), o que
expressa constranger, instar ou rogar; mas foi equivocadamente escrito em grego como anagkazo, que significa forçar ou obrigar. Então, se trata simplesmente de um erro de tradução, pois
a ordem dada foi mesmo para que se convidasse de forma insistente as pessoas
para que entrassem.
João 6:37a - “Todo o
que o Pai me dá virá a mim”
Essa declaração
de Jesus tem confundido a mente de muitos, os quais não entendem em que sentido
Ele estava falando. Analisando superficialmente dá a impressão que Deus
escolheu alguns e os deu ao seu Filho, porém numa análise mais aprofundada
pode-se notar que não há nenhum ponto que indique favorecimento do Pai ao
eleger alguém, pois, por exemplo, um pouco adiante está escrito que todo aquele
que vê [que tem conhecimento ou que ouve falar sobre seu sacrifício de salvação]
o Filho e crê [que o obedece] nEle
tem a vida eterna (Jo 6:40). Mais à frente diz que ninguém
pode ir à Cristo sem ser levado pelo Pai (Jo 6:44), e reforça a ideia de que é necessário ouvir para crer
(Jo 6:45). Aqui podemos observar dois detalhes: primeiro, Jesus
estava defendendo sua identidade como Salvador diante de incrédulos que não o
reconheciam como o Messias (Jo 6:36,41,42,64) e, segundo,
que aqueles que o receberam podiam confiar que não seriam rejeitados pois Ele
estava incumbido de completar a Obra de Deus (Jo 6:28,29,38), sendo o Pão da Vida que os sustentaria espiritualmente
(Jo
6:30-35).
Concluindo, ser
dado por Deus à Jesus significa que Deus enviou sua Palavra acerca de seu Filho
e quem creu e recebeu não será lançado fora, ou seja, Deus nos concede
oportunidade permitindo-nos ouvir sua Palavra (Hb 1:1; 8:10-13), no entanto, obedecer ou não é responsabilidade de quem
ouve (Jo
5:38-43).
João 15: 16a - “Não me
escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e
deis fruto, e o vosso fruto permaneça”
O contexto
básico desse texto consiste em mostrar a soberania divina sobre a fragilidade
humana (Jo 15:4,5). De fato, se Ele nos criou e nos sustenta, não há como
dizer que optamos por isso, pois foi Ele quem nos deu vida (Jo 15:1). O problema é que muitos cristãos usam dessa afirmação
como base para dizer que a salvação é previamente decidida por Deus, mas o
próprio texto mostra o fator condicional, o qual coloca o próprio homem em
condição de decidir se obedece ou não a vontade divina, através de expressões
como: “se guardardes os meus mandamentos”
e “se fizerdes o que eu vos mando” (Jo
15:10,14).
A escolha do
Senhor a nível pessoal se refere a um chamado - vos nomeei - para o trabalho em sua Obra - vades e deis fruto - seguido de constante obediência - o vosso fruto permaneça -. Há chamados que
são para missões específicas, só que isso não inclui salvação, pois no que se
refere ao destino da alma, prevalece a responsabilidade pessoal quanto à
decisão de se manter ou não dentro da promessa do chamado coletivo feito à
Igreja (Jo
15:6,7) .
Atos 13:48b - “E
creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.”
Esse termo
“todos quantos estavam ordenados” não representa um grupo específico de pessoas
escolhidas para a salvação, mas sim todos aqueles que ouviram e aceitaram a
Palavra do Senhor, assim decidindo viver de acordo com a sua vontade. A prova
disso é que nesse mesmo texto, Paulo e Barnabé pregavam aos opositores do
Evangelho, dizendo: “visto que a rejeitais
[a Palavra de Deus], e não vos julgais dignos da Vida Eterna” (At
13:46); como podemos observar de forma clara, os judeus que se
opuseram ao cristianismo rejeitaram por si próprios tendo-se como indignos da
Vida Eterna, ou seja, não estavam predestinados à condenação, eles mesmos se
condenaram.
Da mesma forma,
os novos convertidos não receberam a Palavra da salvação de forma pessoal por
uma ordenação divina dispensada exclusivamente à eles, mas sim porque ela está
ordenada àqueles que ouvirem, crerem e obedecerem a ela (Jo
13:15; Rm 1:16; 10:9-12; Ap 22:17). Resumindo,
quando receberam a Palavra, os gentios em questão passaram a fazer parte
daqueles que estão ordenados a fazer parte da vida eterna, ou seja, passaram a
pertencer ao grupo em que cada indivíduo, se permanecer fiel até o fim
alcançará a salvação.
Romanos 8:28b - "Daqueles
que são chamados por seu decreto."
A grande
pergunta é: “Que decreto é esse?”; a resposta exige atenção ao sentido do
texto. Traduzindo, essa palavra significa propósito
ou plano. Esse versículo fala sobre
bênçãos destinadas àqueles que amam a Deus, o que significa que o amor ao
Todo-Poderoso é a condição para se recebe-las; em seguida, menciona também um
chamado, chamado esse que não expressa uma imposição e sim um convite. Em sua
continuação, o texto fala sobre predestinação, menciona novamente o chamado e
cita o termo “escolhidos” (Rm 8:29,30,33); tais
menções, no entanto, não confirmam um favoritismo quanto aos que serão salvos,
mas se trata, na verdade, de uma referência à Igreja e não de alguns membros em
particular. Não há nada aqui que prove o contrário.
Bênçãos de
Deus, sejam a nível material ou espiritual, primeiramente dependem do propósito
divino, ou seja, têm que estar de acordo com a vontade dEle; em segundo lugar,
o homem, para recebe-las precisa estar em obediência, o que implica, de acordo
com o texto, em amar a Deus: quem ama obedece. Isso significa que para sermos
vencedores dependemos dEle (Rm 8:31,37), e que
quando reconhecemos essa dependência, não permitimos que nada nos separe do seu
amor (Rm
8:38,39).
Romanos 9:13 - “Amei
Jacó e aborreci Esaú.”
O que mais se
ouve em relação a escolhas é: “Deus é Deus e faz como Ele quer!”; de fato, não
há como questionar esse argumento. Entretanto, faz-se necessário lembrar que
por ser Deus, não pode Ele negar seus princípios mais básicos que são a
santidade, a verdade e a justiça (Lv 19:2; Nm 23:19; Sl 92:15). Assim sendo, seu amor por Jacó e aborrecimento por
Esaú não pode de maneira alguma incorrer na condenação de um e salvação do
outro.
O que
entendemos aí é que Ele se refere a um propósito relacionado aos seus descendentes.
Antes mesmo de nascerem, houve uma promessa de Deus que disse o maior seria
servo do menor; ironia ou não, eles lutavam dentro do ventre assim
representando a existência de duas futuras nações rivais. O fato de um ser
maior que o outro já era uma simbologia de que um povo seria mais forte que o
outro (Gn
25:22-28). A expressão “amei” não representa propriamente o
sentimento de Deus a nível pessoal, mas sim em relação a essas nações que deles
sairiam, pois de Jacó saiu a linhagem dos fiéis (os israelitas) e de Esaú a
linhagem dos rebeldes (os edomitas[4]). Dessa forma, pode-se entender que o amor de Deus é em
relação às atitudes desses povos e não necessariamente de Jacó e Esaú como
pessoas. Por essa razão, não se deve confundir propósitos específicos com
destinação à eternidade.
Romanos 9:15,16:
“Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia. 16Assim,
pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se
compadece.”
Continuando a
mesma questão sobre Jacó e Esaú, aqui o apóstolo Paulo cita o que Deus já havia
falado à Moisés (Êx 33:19) e, em seguida, compara o homem
ao barro nas mãos do Oleiro para dizer que não há como se opor à soberania
divina (Rm
9:20,21). Em ambas afirmações, ele nada mais está fazendo do que
mostrar que a misericórdia tem um limite, e que para uns Ele pode conceder mais
oportunidades de arrependimento do que para outros; tal decisão diante de
pecadores obstinados é um direito dEle, porém isso não significa que tais
pecadores não tiveram chance alguma de arrependimento e consequente salvação.
Sim. O homem
resiste sim à vontade de Deus (At 7:51; Êx 32:9), mas não
prevalece (Rm 9:19), e por sua própria
desobediência - e não por determinação
divina - provocam a sua própria condenação (Rm 9:22), ou por arrependimento e obediência alcançam a Graça da
salvação (Rm 9:23). O propósito maior em tudo isso
é a abertura de uma chance de salvação aos gentios, os que não faziam parte da
promessa em si por não serem judeus (Rm 9:8-11,24-27); e isso é por meio da fé através da pregação da Palavra
e não por imposição (Rm 9:30-32). Concluindo
esse ponto, a expressão “não depende de quem quer, nem de quem corre, mas da
compaixão divina”, significa que não são os esforços humanos que nos fazem
merecedores da Vida Eterna, mas sim que isso depende da misericórdia do Senhor
da nossa vida, o qual conhece nosso interior e sabe se reconhecemos seu
sacrifício e se temos fé nEle ou não; com exceção disso, obra alguma, por
melhor que seja, poderá nos salvar.
Efésios 1:4a - “nos
elegeu nele antes da fundação do mundo”
Mais uma vez
estamos diante de um texto que fala em sentido coletivo e não individual. Essa
eleição se refere à Igreja e não a alguns crentes em particular. A situação em
questão trata de reconhecer que nós - Igreja
e não indivíduo - fomos escolhidos para fazer parte de um povo santo e
irrepreensíveis em suas atitudes (Ef 1:4b).
No versículo
seguinte, fala sobre o fato de os santos - os
crentes, a Igreja - terem sido predestinados como filhos adotivos por meio
de Jesus Cristo (Ef 1:5); novamente, não vemos aí
nenhuma prova de que a eleição para a salvação, ou para a condenação, seja uma
determinação divina feita a cada indivíduo sem razão de obediência ou pecado do
mesmo. Da mesma se forma se seguem as declarações seguintes (Ef
1:9,11), as quais apenas visam mostrar que somos salvos
mediante ao reconhecimento do sacrifício de Cristo, para a glória de Deus (Ef
6,7,10), por meio da pregação da Palavra (Ef
6:13,14).
Efésios 2:8 - “Pela
graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. 9Não
vem das obras, para que ninguém se glorie.”
Graça, fé e
obras; entender o significado dessas palavras tem sido um grande problema para
os que acham que nada precisam fazer em relação à sua própria vida espiritual
porque tudo já estaria determinado por Deus.
Não é preciso
muito para entender que Graça é um favor imerecido, algo nos dado sem que
tivéssemos merecimento ou capacidade para alcançar. No entanto, o fato de
ganharmos um presente não significa que venhamos a usá-lo e nem tampouco que
quem nos deu nos obrigue a isso (Dt 9:16; Sl 81:8; Pr 1:24-31; Jr
6:16,17; Jr 11:7,8; Ml 2:8; Ml 3:7; Mt 23:37). Quanto à
fé, sim, ela nos é gerada pelo Espírito Santo. Porém, ela não consiste apenas
em crer, mas também em obedecer. Dizer que acredita em Cristo não torna ninguém
um Cristão, mas o desejo de ter uma vida transformada nos moldes do
cristianismo, isso sim nos torna seus seguidores; e essa obra transformadora
provém de Deus, mas deseja-la e pedi-la à Ele é uma decisão nossa (Mc
8:34,35; Lc 14:27,33; Lc 13:23-27). Em relação
às obras, obviamente, nada podemos fazer, afinal, quem conseguiria pagar ao
Senhor ou comprar dEle a salvação? Diante de sua imensa grandeza, somos apenas
pequenas crianças iludidas vendo o pai pegar um pacote pesado e tentando
ajuda-lo segurando apenas na ponta da embalagem, cheios de orgulho achando que
realmente estamos ajudando, enquanto ele sorri balançando a cabeça
negativamente. O que somos nós diante de Deus? Mas a questão é que o Pai vai
nos alimentando e ensinando dia após dia, até que, pela Graça dEle, podemos
fazer alguma coisa. E aí sim, com a chegada da maturidade, decidimos se, por
meio dessa força e condição intelectual, seguiremos seus bons exemplos ou
seremos rebeldes, assim conquistando os benefícios das boas atitudes ou o
castigo pelas maldades (Mc 8:36,37; Fp 1:6; Rm 14:12; 2ª Co 5:10; Ap 20:12,13).
Como vimos, a
Graça do Senhor nos alcança e permanece à nossa disposição para que dela
usufruamos; porém, por seguirmos nossa natureza pecaminosa, podemos sim impedir
a nós mesmos de alcançar a própria salvação.
O
livre-arbítrio
O profeta Jonas
recebeu uma ordem direta de Deus e decidiu desobedece-la, mas quando as coisas
se apertaram e ele se viu no fundo do mar dentro de um peixe, reconheceu a
necessidade de arrependimento e clamou por misericórdia, alcançando-a (Jn 2:7); ele poderia ter desanimado e morrido. Certamente Jeová
poderia enviar qualquer outro em seu lugar e as consequências de seus atos
cairiam sobre ele; assim sendo, não há como pensar que ele foi obrigado a ir à
Nínive. Ele simplesmente optou por não morrer em pecado, pois a desobediência
traz consequências negativas.
Uma das provas
maiores da existência do livre-arbítrio humano está no estabelecimento da Lei,
onde a ordem, claramente, foi: “Escolhe pois a vida” (Dt
30:15-20). Ele colocou como proposta diante do povo a vida e o
bem em oposição à morte e o mal, aconselhando-o que fosse obediente à sua
Palavra como fator condicional para serem abençoados. Nessa ocasião, relatou
também que uma série de coisas negativas aconteceriam se eles não fossem
obedientes, fazendo uso da expressão “se o teu coração se desviar, e não
quiseres dar ouvidos”. O próprio Senhor Jesus se expressou dessa forma: “Se
alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é
de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7:17).
A perda da
salvação
Sempre nos
deparamos com aquele argumento de que salvação não se perde, mas a Bíblia
mostra o contrário: “Sejam riscados do livro da vida e não sejam
inscritos com os justos” (Sl 69:28). Outros textos também confirmam
isso; falando à Igreja de Sardes, por exemplo, o Senhor, referindo-se àquele
que vencesse aos pecados desse mundo,
disse que de maneira nenhuma riscaria seu nome do livro da vida (Ap 3:5). Ora, se existe a promessa de não riscar do livro da
vida o nome daquele que permanecer fiel, é porque existe de fato a
possibilidade de aquele que está com o nome lá, tê-lo retirado por sua
desobediência sem arrependimento (Ap 3:2,3).
A Graça
resistível
Falando sobre eleição, o apóstolo Pedro
manda que os eleitos fiquem cada vez mais firmes (2ª Pe 1:10,11). Mas como assim se já está tudo determinado e não se
pode resistir à Graça? Contraditória essa teoria da resistibilidade, não é mesmo?
Se fosse assim, não seria necessária a preocupação em exortar os incrédulos a
se converterem e os crentes a permanecerem crentes (1ª Ts 4:7,8; Tt 2:11-14; Hb 12:14; Ap 2:10); seria só deixar cada um
por si e tudo iria acontecer naturalmente. Mas a Bíblia nos alerta que é sim
possível errar o caminho (Is 35:8). As Escrituras sagradas
falam claramente sobre essa nossa responsabilidade espiritual: “que entesourem
para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a
vida eterna” (1ª Tm 6:19-21), pois a infidelidade de
nossa parte é o que pode nos afastar de Deus (Hb 3:12; Is 59:1,2,12,13).
O Livro Sagrado ensina também que a fé vem pelo ouvir (Rm 10:17), então não é por uma predestinação imposta. A ordem
do Senhor permanece até o fim dizendo que Ele está à porta, batendo (Ap 3:20) e não pronto para arromba-la e ainda manda os fiéis
guardarem o que têm para que sua coroa não seja roubada (Ap 3:11). E no seu final ainda diz: “e quem quiser
tome de graça da água da vida”(Ap
22:17); ou seja, é de graça sim,
mas tem que querer.
[1]Presciência: Conhecimento do futuro.
[2]Hebreu: Esse era um dos nomes dados ao povo de Israel. Esse nome vem da
raiz ‘a-vár’, que significa “passar, transitar, atravessar, cruzar”. Esse nome
denota viadantes, ou viajantes, aqueles que ‘passam adiante’. Isto porque os
israelitas por um tempo realmente levaram uma vida nômade.
[3]Parábola: Origináda do grego parabole, significa narrativa curta
ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida também como fábula.
Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir sempre uma
razão moral que pode ser tanto implícita como explícita. Ao longo dos tempos
vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por vias simbólicas ou
indiretas. Narração figurativa na qual, por meio de comparação, o conjunto
dos elementos evoca outras realidades, tanto fantásticas, quando reais. Eram as
histórias geralmente extraídas da vida cotidiana utilizadas por Jesus
Cristo para ensinar aos seus discípulos. Segundo Marcos 4:11-12, eram
utilizadas por Jesus para que somente seus discípulos as entendessem
plenamente. Este gênero já era utilizado por muitos dos antigos profetas.
Na Bíblia, encontramos 50 parábolas; dessas, 40 foram contadas por Jesus.
[4]Edomita: Nascido no povo de
Edom (um dos nomes de
Esaú, como lembrança de ter vendido o seu direito de primogenitura por um prato
de lentilhas (Gn 25:30). País dos descendentes de Esaú (Nm 20:18-21), que
ficava ao sul do mar Morto. Atualmente, esse território pertence
a Jordânia).
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