segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Arminiano, Eu? Quem Foi Armínio Mesmo?

Embora Jacob Armínio
sempre seja mais lembrado
devido aos seus ensinamentos
a respeito da salvação, uma
das maiores lições que ele nos
deixou foi seu exemplo de
coragem pela ousadia que
teve em defender as
Escrituras mesmo sabendo
das consequências que
enfrentaria por estar
confrontando os pensamentos
da maioria de sua época.
    Você é calvinista ou arminiano? Continuando no auxílio para que você mesmo responda a essa pergunta, antes de continuar, quero esclarecer que minha posição pessoal diante dessa questão não interfere no relacionamento com irmãos de ambos os lados, considerando que tanto em uma linha de pensamento quanto na outra, desde que haja obediência à Palavra de Deus, há salvação. Então, vejamos agora um pouco sobre Armínio. Tendo nascido em Oudewater, na Holanda, no dia 10 de outubro de 1.560, e falecido em Leiden no dia 19 de outubro de 1.609, esse renomado teólogo cristão nos deixou um material de incalculável valor no que se refere à interpretação da doutrina bíblica da salvação. Tendo ele, a princípio, sido seguidor e defensor do calvinismo, com o passar do tempo, sob influência de outros teólogos e uma análise da Bíblia sob um diferente ponto de vista, e também por não concordar com a condenação de hereges à morte, passou a refutar vários pontos ensinados pelos seguidores de Calvino. A partir daí -, acusado de heresia, enfrentou grande perseguição. Resumindo, após sua morte, em 1.618, os remonstrantes[1], definindo-as em cinco artigos, os quais foram recusados pelos calvinistas que, apresentando-se no Sínodo de Dort[2], expuseram também os cinco pontos do calvinismo. Mas quais são mesmo os cinco artigos do arminianismo[3]? Eles são chamados de FACTS, sigla que significa F [Freed by Grace: Livre pela Graça]; A [Atonement for All: Expiação para Todos]; C [Conditional Election: Eleição Condicional]; T [Total Depravity: Depravação Total]; S [Security in Christ: Segurança em Cristo].  Vejamos agora, resumidamente, cada um deles.
Livre pela Graça - De acordo com a interpretação de Armínio:
·       Deus chama a todos e lhes dá oportunidade de arrependimento por meio do conhecimento da Palavra (Pr 1:24,25; Jr 7:24; Zc 7:11,12; 2ª Tm 3:8,9; Hb 2:1-5).
·       Se existe apelo ao arrependimento, então é sim possível resistir à Graça, ou seja, recusar a vontade de Deus (Mt 22:3; Lc 7:30; Jo 5:40; At 7:51-53; 2ª Co 6:1; Hb 12:15a; 1ª Tm 1:19,20).
·       Cabe ao homem o livre arbítrio de receber ou não a Graça. Assim sendo responsável por sua salvação ou condenação (Sl 81:11-16; Ez 24:13; Mt 23:37,38; Hb 6:7,8; 2ª Pe 2:20-22).

Expiação para Todos - Também conhecida como Expiação Ilimitada, na visão arminiana:
·       Por seu amor, Ele deseja a salvação de todos e assim entregou seu filho à morte para sacrificar-se concedendo perdão aos que crerem (Tt 2:11; 1ª Tm 2:4-6; 4:10; At 17:30; 2ª Co 5:14,15; 1ª Jo 2:2; 4:14; 2Pe 3.9);
·       E se arrependerem (Rm 5:6,18).
·       A palavra “mundo” confirma que a salvação pode alcançar a todos e não apenas alguns privilegiados (Jo 3:16,17).

Eleição Condicional - Conforme os ensinamentos arminianos:
·       A escolha soberana de Deus consiste em salvar aqueles que crerem em Jesus Cristo (Jo 3:16; 6:40; Mc 16:16; Rm 1:16; 5:1; 1ª Tm 4:10; 2ª Ts 2:13-15).
·       Por sua onisciência, Ele sabe quem será salvo, mas não determinou isso (1ª Pe 1:2).
·       No que se refere à eleição, ele elegeu a Igreja como corpo e não cada crente como indivíduo (Rm 8:29,30; Ef 1:4,5).

Depravação Total - O arminianismo ensina que:
·       Mesmo tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, o homem caiu em pecado (Gn 6:5; 8:21; 1º Rs 8:46; Sl 14:1-3; 5:12; 7:19; 1ª Jo 1:8);
·       Fazendo-se merecedor da condenação (Sl 51:1-5; Jo 3:19-21; Rm 3:10-12,23[4]):
·       Por essa natureza pecaminosa, ele não é capaz por si próprio de praticar o bem ou ter condições de se salvar (Ef 2:1-7);
·       pois isso é obra de Deus mediante sua fé e obediência (Ef 2:8-10; Cl 2:13,14; Tt 2:14).

Segurança em Cristo - Pela linha de raciocínio de Armínio:
·       Sendo a salvação mediante a fé em Cristo, a segurança da vida eterna está nEle (Jo 15:5,6; Rm 11:17-24[5] [6]; Cl 1:22,23).


    Como vimos mediante a exposição bíblica, a salvação - como também a condenação - não é uma predeterminação divina, mas sim uma escolha feita pelo próprio ser humano. Negar isso é negar nossa própria responsabilidade diante dos atos que cometemos e também a incontestável benignidade imanente do caráter de Deus, o qual é Santo e não comete injustiça. Haveria injustiça maior do que criar um ser e condená-lo ao inferno sem chance ou oportunidade alguma de defesa? Esse não é o Deus que a Bíblia revela. Diante disso, muitos indagam o porquê de tantas pessoas viverem em lugares não alcançados pelo cristianismo e não serem alcançados pelo cristianismo, as quais morrem em pecado e certamente são condenadas; a resposta à esse questionamento está em nossa responsabilidade evangelística, a qual o Senhor Jesus nos entregou dizendo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”.
    Concluindo, o objetivo desse breve estudo não é promover o arminianismo e nem condenar o calvinismo, mas apenas expor a diferença entre ambos visando levar o cristão a examinar as Escrituras cuidadosamente não diminuindo ou acrescentando nada baseado em argumentos humanos; argumentos esses que muitas vezes não alteram apenas o que está escrito concernente à salvação, mas também em relação a outros assuntos como, por exemplo, a atualidade dós dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo. Vale ressaltar ainda que nem todos os arminianos são pentecostais[7], assim como também nem todos os calvinistas são cessacionistas; porém o que se deve enfatizar é que a Bíblia fala sobre a distribuição desses dons, mas não menciona seu “prazo de validade” para antes do arrebatamento da Igreja (1ª Co 13:8-10). Assim sendo, tanto quanto à doutrina salvífica[8] como sobre os demais pontos de grande relevância no Evangelho, o que vale é a antiga regra: texto e contexto sem pretexto, ou seja, análise sincera da Bíblia sem a intenção de defender essa ou aquela ideologia.


[1]Remonstrante: A Remonstrância - ou Igreja Remonstrante -, fundada em 1.617, na Holanda, é uma resposta dos arminianos à ideologia calvinista, apresentada ao Sínodo de Dort como "Os Cinco Artigos da Remonstrância".
[2]Sínodo de Dort: Realizado na Holanda de 1.618 à 1.619, o Sínodo de Dordrecht, com participantes de oito países, teve como objetivo discutir as interpretações bíblicas apresentadas pelos remonstrantes (defensores da Teologia de Jacob Armínio). Depois de seis meses de reuniões (de 13 de novembro de 1.618 à 09 de maio de 1.619), os calvinistas conseguiram atingir seu objetivo de rejeitar oficialmente os cinco pontos do arminianismo.
[3]Arminianismo: Também chamado tradição reformada arminiana, a fé reformada arminiana, ou teologia reformada arminiana, é uma escola de pensamento soterológica de dentro do cristianismo protestante, baseada sobre ideias do teólogo reformado holandês Jacobus Arminius (1560 - 1609). Seu conceito básico de interpretação bíblica é que o homem tem livre-arbítrio para aceitar ou não a Graça, assim sendo responsável por sua salvação ou condenação.
[4]Destituído: Afastado; tirado; impedido; privado; separado.
[5]Seiva: Solução aquosa de substâncias nutritivas que as raízes absorvem do seio da terra e que circula através do sistema vascular do vegetal; a parte líquida de uma planta.
[6]Zambujeiro: Oliveira-brava, popularmente também conhecida como oliveira-da-rocha. Arbusto ou pequena árvore de até 2,5 metros de altura, ramoso, glabro com folhas opostas, oblongas a linear-lanceoladas, de 1 a 10 centímetros de comprimento, coriáceas, subsésseis de cor verde-acinzentadas. Apresenta flores pequenas, de corola branca, com cerca de 4 milímetros de diâmetro, reunidas em panículas axilares de 2 a 4 centímetros. O fruto apresenta-se como uma drupa, pouco carnudo, elipsóide e preto.
[7]Pentecostal: Relativo a Pentecostes. Termo que se refere à igrejas, ou a membros de igrejas, que professam a fé na atualidade de manifestações espirituais como, por exemplo: cura, batismo com o Espírito Santo, profecias, etc. Termo normalmente aplicado em relação aos crentes emocionalmente mais exaltados.
[8]Salvífico:  O que salva; o que oferece salvação.

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