Até que ponto nossas palavras podem influenciar espiritualmente na vida de alguém? Independentemente de nossas palavras surtirem efeito ou não, a intenção do nosso coração em relação ao nosso próximo já basta para sermos justificados ou condenados diante de Deus. |
Antes
de dar respostas à todas essas perguntas, vamos analisar biblicamente
observando em que tipos de situação tais palavras surtiram efeito. Nossa grande
preocupação em estudar tal assunto à luz das Escrituras Sagradas é o fato de
que essas práticas têm dado origem à verdadeiras doutrinas em muitas igrejas,
entre elas a conhecida “confissão positiva”. Como bem sabemos, toda forma de
ensinamento apresentada como Evangelho deve ser devidamente julgada dentro dos
parâmetros bíblicos, e se não houver base comprovada de acordo com a Palavra de
Deus, deve ser rejeitada, combatida e retirada de nosso meio, não importa quem
a esteja pregando (Gl 1:7-9[1]).
Números 22:6 -
“Vem,
pois, agora, rogo-te, amaldiçoa-me este povo, pois mais poderoso é do que eu;
talvez o poderei ferir e lançar fora da terra; porque eu sei que, a quem tu
abençoares será abençoado, e a quem tu amaldiçoares será amaldiçoado”.
Do capítulo 22 ao 24 do livro de números,
um acontecimento em especial nos chama muito a atenção. A Bíblia não
fornece muitas informações sobre a origem de Balaão, mas, ao que parece, ele
não era um profeta escolhido por Deus e sim um pagão[2]
ou talvez um profeta israelita que tivesse se desviado do verdadeiro caminho do
Senhor; suas atitudes ambiciosas nos levam a pensar assim. O fato de ele ter
sido procurado por Balaque, um rei moabita e inimigo de Israel, mostra que ele
tinha uma certa moral no exercício profético. O pedido desse rei era que o
profeta amaldiçoasse os israelitas, pois o mesmo sabia de seus êxitos em
batalhas contra outros povos e temia ter o mesmo fim que eles. Então ofereceu
recompensas financeiras para que por meio de palavras de maldição viesse a
impedir o avanço do povo de Deus. Porém, o Senhor de fato falava com Balaão e o
ordenou que abençoasse a Israel. Diante de tais ocorrências, se nota que a
autoridade nas palavras proferidas por homens tidos como “instrumentos de Deus”
era reconhecidamente aceita entre os povos, e a questão era tão séria que ele
foi divinamente impedido de amaldiçoar; mas teria Jeová feito isso por que as
palavras desse homem teriam realmente validade? A resposta mais pertinente aqui
é que Ele quis mostrar seu soberano poder sobre o homem, assim provando que o
povo de Israel estava sob sua proteção e bênção, pois independentemente de um
profeta - ou suposto profeta - amaldiçoar ou abençoar alguém, o ser
humano jamais terá autoridade acima da vontade ou propósitos divinos. Balaão
ainda é citado negativamente no Novo Testamento em situações que se referem a
pecados ligados a ganância (2ª Pe 2:15; Jd 1:11; Ap 2:14).
2º Samuel 12:7,10,11 -
“Então
disse Natã[3] a Davi: Tu és este homem. Assim diz o Senhor Deus de
Israel: Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul; 10Agora,
pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e
tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. 11Assim diz
o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas
mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com
tuas mulheres perante este sol. 12Porque tu o fizeste em oculto, mas
eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol.”.
Muito comum, até mesmo nos dias atuais, é as pessoas atribuírem as profecias
aos profetas, como se os mesmos profetizassem por vontade própria. No entanto,
observando por toda a Bíblia, vemos que aqueles que têm o dom de profecia nada
mais fazem do que dizer o que Deus os ordenou e, as vezes, para cumprir essa
missão, enfrentam até situações difíceis como, por exemplo, no caso de Natã.
Ele tinha uma grande amizade com o rei Davi, porém Davi havia pecado gravemente
- tinha cometido adultério e homicídio - e o Senhor mandou Natã
repreendê-lo; então, com muita sabedoria, ele fez uso de uma parábola[4]
e assim conseguiu entrar abertamente naquele embaraçoso assunto (2º Sm 12:1-6).
Uma das consequências dos pecados de Davi seria a violência e a constante
desarmonia em sua família. Então isso significa que o profeta o amaldiçoou
proferindo o castigo divino? De maneira nenhuma! O que ele fez foi avisar o que
a desobediência gerou para os seus descendentes, e tudo realmente se cumpriu
posteriormente (2º Sm 12:15,19; 13:28[5] [6]; 16:21,22[7] [8]; 18:14,15[9]);
porém, Davi reconheceu que, de fato, havia errado terrivelmente (2º Sm 12:13,14).
Marcos 11:14 -
“E
Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus
discípulos ouviram isto”. Essa lição de Jesus sobre os
que vivem de aparência com suas “belas folhas”, mas, na verdade, não estão
produzindo fruto algum, nos dão uma real visão sobre o poder das palavras para
amaldiçoar. Não quero aqui enfatizar o motivo da maldição sobre a figueira, mas
sim seu resultado imediato (Mc 11:20,21[10]);
em seguida, Ele ensina que há autoridade nas palavras do homem, na mesma forma
que para amaldiçoar, como também para abençoar (Mc 11:23,24);
porém, a condição para isso é a fé (Mc 11:22), e a fé consiste na obediência
e intimidade com o Senhor, e implica ainda em ser justo naquilo que diz, pois
Deus não atenderá palavras lançadas por mera banalidade (Tg 4:3).
Atos 5:9 -
“Então
Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o
Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e
também te levarão a ti”. Teria Pedro amaldiçoado
Ananias e Safira no momento em que descobriu sua mentira? Analisando todo o
texto, podemos ver que o que lhes aconteceu foi simplesmente consequência por
terem tentado enganar os homens de Deus, pois, a partir do momento que se faz
algo contra a Igreja, a briga do indivíduo não é contra os irmãos e sim contra
o próprio Deus (At 5:4; 9:4; 5:38,39).
Pedro nada mais fez do que relatar o que
o Senhor o havia revelado e proferir a sentença que veio do Alto; pode-se dizer
que foi uma legítima demonstração de discernimento espiritual seguida de um
espantoso milagre que causou morte instantânea em ambos os pecadores; o fruto
disso para a Igreja não foi o prazer da vingança contra quem mentia para eles,
mas sim o grande temor que certamente lhes fortaleceu a fé e mostrou aos
perseguidores que o Deus de Israel estava com os cristãos.
1ª Coríntios 5:5 -
“Seja,
este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja
salvo no dia do Senhor Jesus”. O que Paulo quis dizer com
isso? Ele amaldiçoou esse jovem que estava em adultério? Interpretando o texto
de forma racional conseguimos entender que tal afirmação nada tem a ver com
maldição, pois o que ele fez foi simplesmente deixa-lo ir viver a ilusão do pecado,
na esperança de que o mesmo, após enfrentar as consequências de seus erros,
futuramente se arrependesse e voltasse ao caminho do Senhor. A maior
preocupação dele, nessa situação, era em corrigir a Igreja que parecia
consentir com o erro não repreendendo o pecador; dessa forma, ele nos ensina a
importância da disciplina (1ª Tm 5:19,20; Mt 18:15-18)
para não sermos coniventes com o pecado e nem vítimas passivas de injustiça
entre os irmãos.
1ª Timóteo 1:20 -
“E
entre esses foram Himeneu e Alexandre[11], os quais entreguei a
Satanás, para que aprendam a não blasfemar”.
Da mesma forma aqui, ele ensina que não se deve tolerar o pecado, nem que isso
esteja sendo praticado por obreiros ou líderes da Igreja. Ao tomar a atitude de
deixar de lado dois irmãos que além de pecar causavam dissensão (2ª Tm 2:14-18[12]),
estava ele poupando todos os demais de conviverem com situações ilícitas e
correndo o risco de serem por esses contaminados e não amaldiçoando num momento
de ira como pode parecer sem uma análise mais profunda. Contendas ministeriais
são bastante comuns nos dias atuais e até inevitáveis; porém, devemos cuidar
que as mesmas não nos tornem hereges e inimigos da cruz de Cristo (Fp 3:18-21).
De
acordo com o que vimos nas Escrituras Sagradas nem tudo é maldição, pois muitas
das declarações de homens cheios de autoridade espiritual, nada mais foram do
que afirmações de sentenças dadas pelo próprio Deus sobre o pecado humano. Poderíamos
ainda mencionar casos bem conhecidos como a maldição de Noé sobre Canaã ou de
Eliseu sobre Geazi, mas nada diferente acrescentaríamos ao que já tem sido
falado. De fato, existe sim poder dado ao homem para amaldiçoar e abençoar (Tg 3:5-10),
mas é preciso lembrarmos sempre duas coisas: a primeira é que para se ter
autoridade nas palavras é preciso muita comunhão com Deus e a segunda é que Ele
está no controle de tudo e nada acontecerá sem a sua permissão.
Como vimos na Bíblia, cada fato teve sua razão específica diante de cada resultado. Assim, concluímos então que boa parte da crença atual no poder das palavras é, na realidade, mera superstição: crédito à fantasias e mitos. Medo de que palavras negativas atraiam coisas ruins, e esperança de que palavras positivas atraiam coisas boas não representam prudência e nem fé, ou seja, repreender o que te desagrada e “profetizar” o que te convém não surte efeito algum, porque o que de fato faz a diferença em nossa vida é a obediência, a qual também pode ser definida como santificação (Hb 12:14). Resumindo, o que de fato faz diferença são atitudes negativas ou positivas e, principalmente, a comunhão com Deus fazendo a vontade dEle; e fazer a vontade dEle consiste em amar, perdoar e desejar o bem mesmo daqueles que querem o nosso mal (Rm 12:14).
[1]Anátema: Maldição, reprovação: lançar o anátema sobre alguém. Pessoa anatematizada,
excomungada.
[2]Pagão: Relativo ao paganismo ou politeísmo. Adepto do paganismo. Diz-se
de toda religião ou pessoa que não seja cristã nem judaica. Maometano,
em relação aos cristãos, e herético, em relação aos católicos. Animal
xucro, ainda não montado, ou nos primeiros galopes da doma. O que segue
uma religião nativa, não cristã nem judaica, caracterizada pelo politeísmo e
pela superstição. Pessoa não batizada.
[3]Natã: Em hebraico significa
"Presente". Filho de Atai; foi um profeta que viveu durante o período
do reinado de Davi e de Salomão em Israel.
[4]Parábola: Origináda do grego parabole, significa narrativa curta
ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida também como fábula.
Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir sempre uma
razão moral que pode ser tanto implícita como explícita. Ao longo dos tempos
vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por vias simbólicas ou
indiretas. Narração figurativa na qual, por meio de comparação, o conjunto
dos elementos evoca outras realidades, tanto fantásticas, quando reais. Eram as
histórias geralmente extraídas da vida cotidiana utilizadas por Jesus
Cristo para ensinar aos seus discípulos. Segundo Marcos 4:11-12, eram
utilizadas por Jesus para que somente seus discípulos as entendessem
plenamente. Este gênero já era utilizado por muitos dos antigos profetas.
Na Bíblia, encontramos 50 parábolas; dessas, 40 foram contadas por Jesus.
[5]Absalão: Significa
“Pai de Paz”. Terceiro filho de Davi. Tornou-se inimigo do pai tentando se
apossar de seu trono. Foi morto por Joabe (2º Sm 13:1-18:33).
[6]Amnom: Significa
“Fiel”. Filho primogênito de Davi. Praticou incesto e foi morto por Absalão (2º
Sm 13:1-39).
[7]Aitofel: Foi
conselheiro pessoal do rei Davi. O Talmude, supõe que ele seja o traidor
mencionado por Davi no Salmo 55.
[8]Concubina: Na era dos patriarcas não é
muito clara a diferença entre esposa e concubina, porque era comum a poligamia.
Na verdade, a concubina, geralmente, era uma escrava.
[9]Joabe: Significa "Javé É
Pai". Filho de Zeruia, meia-irmã de Davi (2º Sm 2:18). Foi comandante do
exército de Davi (1º Cr 11:4-9) e conseguiu muitas vitórias (2º Sm cap. 10;
12:26). Tramou o assassinato de Urias (2º Sm cap. 11) e matou Absalão (2º Sm
18:9-15). Quando Davi já era velho, Joabe aliou-se com Adonias e foi morto por
ordem de Salomão (1º Rs 1:1-8; 2:28-34).
[10]Pedro: Significa "Pedra".
Apóstolo (Mc 3:13-19), também chamado de Simão e Cefas (Jo 1:42). Era pescador
(Mc 1:16). Episódios de sua vida são mencionados em (Mc 1:16-18; Lc 5:1-11;
8:40-56; Mt 8:14-15; 14:28-33; 16:13-23; 17:1-13; 26:36-46,69-75; Lc 24:34; Jo
18:10-18,25-27; 21:1-23; At 1:13-5:42; 8:14-25; 10:1-11:18; 12:1-19; 15:1-11;
1ª Co 9:5; Gl 1:18; 2:6-14). Segundo a tradição, foi morto entre 64 e 67 dC.,
no tempo do imperador Nero. Foi autor de duas epístolas no Novo Testamento.
[11]Alexandre e
Himeneu: A Bíblia não dá detalhes sobre ele, mas,
segundo a história, ele teria se esforçado para prejudicar o apóstolo Paulo
perante a justiça romana na cidade de Éfeso. Em 1ª Timóteo 1:19,29 ele é citado
junto com Himeneu como alguém que rejeitou a fé e foi entregue a Satanás pelo
apóstolo para aprender a não blasfemar. Em 2ª Timóteo 4:14,15, Paulo novamente
menciona-o afirmando que ele lhe causou muitos males e aconselha Timóteo a ter
cuidado com ele. Latoeiro é o nome da profissão de quem trabalha com metais: é
o mesmo que funileiro; devido a sua função e a idolatria aos deuses pagãos
existentes em Éfeso, certamente ele fazia imagens de escultura e, por essa
razão, combateu os pregadores do Evangelho.
[12]Fileto: Significa "O Amado".
Mencionado em 2ª Timóteo 2:17 juntamente com Himeneu, Paulo declara que o
menciona como sendo um dos causadores de contenda e propagação de heresia na
Igreja.
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